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Alegria para o fim do mundo

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«O trabalho de Andreia C. Faria está entre os mais urgentes, magníficos, da poesia contemporânea. A sua profundidade, uma contenção que não a impede da frontalidade, o enunciado terrivelmente irónico, o rasgo inesperado de cada verso, fazem do seu texto uma novidade por classificar, demarcando-a inclusive do colectivo de mulheres poetas que hoje escrevem também em força e bastante esplendor.

Admiro a sua atmosfera desarmante construindo grande intimidade, sem se tornar obscena e sem fazer cedências. Há uma bravura férrea que nos parece sugerir que a intimidade está posta no poema como matéria responsável, animal ciente que se analisa numa medicina rica, eficaz. São poemas da “difícil cria”, pessoa improvável, consciência improvável, como desigual, desajustada, que profere para saber de si mas, sobretudo, para desmascarar. O poema está para a perplexidade mas está igualmente para a constatação de que adiantará muito pouco perante o estrago elementar existencial.»

Valter Hugo Mãe

210 pages, Paperback

Published February 1, 2019

4 people are currently reading
60 people want to read

About the author

Andreia C. Faria

16 books29 followers
Andreia C. Faria nasceu no Porto, em 1984. Publicou em 2008 o seu primeiro livro de poemas, De haver relento (Cosmorama Edições). Seguiram-se Flúor (Textura Edições, 2013), Um pouco acima do lugar onde melhor se escuta o coração (Edições Artefacto, 2015) e Tão Bela Como Qualquer Rapaz (Língua Morta, 2017), que recebeu o Prémio SPA 2017 para Melhor Livro de Poesia.

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Displaying 1 - 11 of 11 reviews
Profile Image for la poesie a fleur de peau.
508 reviews63 followers
July 20, 2021
"A primeira vez que a fotografaram ela teve a impressão de assistir ao disparo, ao preciso instante em que a bala entra na carne. O seu rosto papoila desfeita, atingida nas pétalas por um golpe de vento, magoada e expansiva como boca suja de baton. Achou-se frágil. Tocada, como se diz na fruta ainda viva, imprópria para comer. Achou-se bela e diminuída pela evidência. E com o tempo uma mulher chega a apreciar a serena violência que lhe habita o rosto. A mancha provocada pela obturação da lente assinala para cada um dos seus empreendimentos, para cada gesto e alegria, um pequeno luto."

Excerto de "Sais de Prata"

***

"Diz-se: há fantasmas na máquina,
gente sem sombra, mas graus profundos
de obscuridade. Diz-se:
é a mais pura solidão,

boas horas de açúcar e vinho derramado,
e que se acorda com a boca
em sangue como guelra
sabiamente dedilhada.

Diz-se: é um fogo que se anima
contra a áspera superfície do teu corpo -
um caule que sustém a tua fronte
entre os cabelos longos das flores
que quando morrem deixam
o ar velado
de uma só combustão.

O filme, um florescer de muitas águas
onde o polvo é uma imagem
parada que medita. Uma mulher
floresce em muitas águas onde
a carne aniquilada vem pensar e remexer baixios."

Excerto de "O filme, um florescer de muitas águas"

***

Há uns meses decidi comprar alguns livros da colecção "elogio da sombra": mesmo que soubesse pouco ou muito pouco sobre os autores, na altura guiei-me pelas pesquisas que fiz. Recordo-me nitidamente que no caso da Andreia C. Faria, mais do que poemas dispersos que fui encontrando, o que me marcou foi uma entrevista que li e que me deixou intrigada e muito curiosa em relação à sua poesia. A leitura deste livro, no entanto, foi pontuada por alguns dissabores: comecei a perceber que algumas pessoas - que até têm gostos semelhantes aos meus - adoravam a escrita desta poeta mas, dentro de mim, pouco ou nada se agitava no decorrer da leitura. E é evidente que, por mais que os meus gostos sejam compatíveis com os de outros leitores, há, e haverá sempre, espaço para divergências, mas não conseguia mesmo entender os elogios que lhe teciam... e confesso que os primeiros livros me deixaram na mais pura indiferença, raros foram os poemas que me interessaram: a mudança - vertiginosa, posso afiançar - deu-se quando pisei o "Tão Bela Como Qualquer Rapaz"... fiquei deliciada com a poesia dela e passei a recomendar vivamente este livro em particular (embora tenha adorado, também, "As Ervas Altas e os Pulsos").
Profile Image for Paula  Abreu Silva.
387 reviews115 followers
November 13, 2019
"Estou entre a idade de Cristo
e a idade com que Simone Weil morreu.
Tendo, como eles, a ampliar fenómenos,
os mitos ou o próprio mar encabeçado por um touro,
a minha roupa ao fim de um dia de uso
arrastando a areia de um qualquer abismo.
Mas se resisto às tentações é porque não as sinto.
Não as conto entre os tentáculos do dia,
a registadora máquina, a trituradora de papel.
Seriam anestésico de prazos ou da dor ciática -
logo eu que acredito em anjos, suas asas
de veludo esconjurado pelo vinho, logo eu
que não separo o coração da violência
couraçada de um tambor, não sinto.

O pecado, o fogo astral, a aliança entre vizinhos -
nada disto em mim figura, nenhum gatilho primordial.
Gostaria de ingressar nesse negro domínio, o entreunhas,
a carne grega, romana ou raiana dos homens,
o lugarejo, o logro
que colora à nascença e destrói o amor.

Quase-trinta-e-quatro, corpo-luva em ecléctico quarto,
e não sinto.
A baia espúria da fé tanto não cobre
as frias veias da razão como aparta
a visão do esterco, o sono fixo
de cavalos, operários ou amantes."
Profile Image for Raquel Lopes.
62 reviews13 followers
April 25, 2021
"pela noite
fazer do corpo raso
prato vazio de onde se come

o dia tem planuras
mas só curvada
no íntimo
se esclarece a fome"
Profile Image for MT.
201 reviews
March 25, 2021
“Com que destreza crescem na pele
as arestas, nódoas negras
como lagos em tardia superfície
Com que cadência a paisagem fere -
a altitude do sono
a dobra do lençol intacta
e na boca a fina lâmina do pó
desabitando-te

Com que saber a pele se quebra
com que constância
as linhas recuam como se amar
interrompesse
como se fosse indistinto desastre
ou criação
e avançasse em metonímia -
da água corrente a presença
da mordedura o animal
da vertigem a carne que floresce
para a morte”
Profile Image for Ritorres.
8 reviews2 followers
May 2, 2020
Do que de mais vivaz e belo já li em muito tempo.
Profile Image for Tomás Silva.
Author 1 book3 followers
February 23, 2021
Uma das vozes contemporâneas mais originais, honestas e belas. O meu livro de poesia de 2020.
Profile Image for Carmo.
130 reviews6 followers
March 15, 2024
"
(...)
Deita-se a meus pés no horizonte raso
Sua alegria sem fôlego
derruba-me"

Poeta a acompanhar, de perto.
Profile Image for Andreia Morais.
449 reviews33 followers
Read
July 9, 2023
TW: Referência a Morte

Estava com saudades de ler poesia e a da Andreia C. Faria chegou no momento certo. Neste exemplar, que compila as suas obras anteriores, temos acesso direto a planos dicotómicos, porque há poemas de extrema felicidade e outros de pura melancolia; há sedução, medo, memórias e uma viagem encantadora de metamorfose. Sinto que, à medida que fui avançando, fui descobrindo uma voz menos metafórica, como se se fosse libertando do pudor de se mostrar vulnerável e se apresentasse mais confiante para nos mostrar as suas vivências e as suas inseguranças. Além disso, há uma noção de finitude e uma vontade imensa de continuar a explorar o mundo
Profile Image for Felix.
23 reviews
May 2, 2023
Uns furos abaixo da sua outra coletânea de poesia "Já não me deito em pose de morrer".
Displaying 1 - 11 of 11 reviews

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