Um homem traumatizado pela II Guerra Mundial almeja se vingar do Brasil. E a derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo jogada em casa é o golpe perfeito para sua desforra. Assim é apresentado o protagonista de Empate, livro do autor Vinícius Neves Mariano, publicado em 2015 e reeditado em 2018.
O romance histórico tem início quando o protagonista, sem resistir à superlotação do Maracanã naquela tarde de 1950, cai dentro do fosso que separa as arquibancadas do campo. Com ele cai também outro homem, de personalidade completamente oposta. Juntos eles terão que imaginar o momento histórico que está acontecendo a poucos metros de suas cabeças contando apenas com o barulho que vem das arquibancadas.
"Fantástico!" Maria Valéria Rezende, vencedora do Prêmio Jabuti e Prêmio São Paulo de Literatura
"Em sua estreia, o autor consegue um belo gol." Sérgio Tavares, escritor e jornalista, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura
"Um pequeno grande romance." Vilto Reis, editor do blog Homoliteratus
Embora precise de edições e retoques literários, o autor realmente apresenta ter potencial. O fio condutor da história é excelente, cobrindo dois aspectos pouco tratados na literatura brasileira: a participação dos pracinhas em 45 e a derrota do Brasil na Copa de 50.
Destaco especialmente o capítulo 5 e seu uso rico de alegorias e metáforas envolvendo futebol e religião, demonstrando domínio bastante preciso do campo semântico que abarca os dois universos. Outras características do estilo do autor são a narrativa episódica, os flashbacks e o passeio por diversos gêneros. Ora somos apresentados a uma narrativa, ora a uma carta, ora a um convite, um diálogo etc.
Ressalto, ainda, a consciência do autor sobre o momento histórico retratado na obra. A descrição do cenário e personagens, sua cosmovisão e hábitos, bem como suas aspirações e vocabulários são bastante realistas.
No entanto, não poderia deixar de destacar o motivo do meu principal descontentamento para com a narrativa. Há um descompasso enorme entre a idade real do personagem e suas reflexões filosóficas e culturais. Mesmo considerando a experiência traumática da guerra, Aureliano parece muito mais velho do que deveria ser. A sensação que temos, por vezes, é que a narrativa foi inspirada na vida de veteranos de guerra americanos, o que torna o enredo, em alguns momentos, inverossímil, alienígena.
Enfim, como romance de estreia, e considerando o padrão da contemporaneidade, Empate vai além das expectativas. Recomendo a todos. Espero ainda poder ler outras obras do mesmo autor.