Ingresia é, especialmente, um livro de crônicas sobre a província da Bahia lambuzada de dendê e de exclusões. O autor, Franciel Cruz, é um jornalista que é ao mesmo tempo um personagem. Ele representa um certo soteropolitano ideal, que conhece um mundo canônico, os institutos das artes, e concomitantemente tem um olhar que, mais do que respeitoso, é imersivo nas mais marginalizadas manifestações, que passa longe de juízos sectários das nossas atitudes de bom gosto, uma tradição tropicalista em forma de gente. Ingresia é engraçado sem ofender sua inteligência, culto sem ser esnobe, vulgar sem ser sexy, só de sacanagem. Tem uma Salvador que pulsa nesse livro, que você reconhece, que existe em delícias e dissabores.
Uma beleza. São crônicas bem escritas, com um estilo definido e um sotaque bem baiano. Revelam um olhar (ou talvez uma voz) bastante consciente das mazelas da "província" e sensível às sutilezas de certa baianidade. Apesar do estilo parecer leve, há uma visão própria das coisas, articuladas em uma dialética firme que se apoia em referências "eruditas" (por falta de palavra melhor). Vale muito a leitura!