Ela era bela, divorciada, escandinava, culta. Chegara a Lisboa em princípios dos anos 60 e Portugal era para ela o país mais arcaico da Europa. Ele era português, casado, político, primeiro-ministro. Apaixonaram-se e amaram-se intensamente, contrariando códigos políticos e sociais. Morreram ambos, abraçados, na explosão de uma avioneta em viagem para o Porto.
Ficção, O Último Minuto na Vida de S. é a história do último grande amor português, o de Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro.
Cruzando um estilo ora satírico-jocoso, ora realista e apoiando-se na realidade portuguesa entre as décadas de 60 e 70 em três ou quatro factos verdadeiros, visa retratar um Portugal que já não existe, o Portugal desaparecido nas décadas seguintes pela voragem dos costumes europeus.
MIGUEL REAL nasceu em Lisboa em 1953. Fez a licenciatura em Filosofia na Universidade de Lisboa e, mais tarde, um mestrado em Estudos Portugueses, na Universidade Aberta, com uma tese sobre Eduardo Lourenço. Estreou-se no romance, em 1979, com O Outro e o Mesmo, com o qual viria a ganhar o Prémio Revelação de Ficção da APE/IPLB. Em 1995, voltou a ser distinguido com um Prémio Revelação APE/IPLB, desta vez na área de Ensaio Literário, graças à obra Portugal - Ser e Representação. Outra distinção importante surgiu em 2000, o Prémio LER/Círculo de Leitores, com o ensaio A Visão de Túndalo por Eça de Queirós. Em 2001, recebeu uma bolsa do programa Criar Lusofonia, do Centro Nacional de Cultura, que lhe permitiu percorrer o itinerário do Padre António Vieira pelo Brasil. A esse propósito escreveu um diário, editado em 2004, intitulado Atlântico, a Viagem e os Escravos. A partir de 2003, com a novela Memórias de Branca Dias, passou a escrever simultaneamente um ensaio e um romance para evitar incluir teoria (filosófica, principalmente) na ficção. Em 2005, Miguel Real lançou o romance histórico A Voz da Terra, cuja a ação decorre na época do terramoto de 1755, que viria a ter grande reconhecimento por parte da crítica e do público. A Voz da Terra proporcionou ao autor a conquista da edição de 2006 do Prémio Literário Fernando Namora, um dos mais prestigiantes galardões literários a nível nacional. Simultaneamente ao romance A Voz da Terra foi publicado o ensaio O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa, situado na mesma época. Já em finais de 2006 foi lançado o romance O Último Negreiro, sobre o traficante de escravos Francisco de Félix de Sousa, que viveu em São Salvador da Baía e Ajudá, no Benim. Paralelamente ao romance e ao ensaio, Miguel Real dedicou-se, regularmente, à escrita de manuais escolares e de adaptações de teatro, estas em colaboração com Filomena Oliveira. Começou a colaborar regularmente no jornal literário Jornal de Letras a partir de 2000.
This exciting and curious work is written in the first person, and it is through the voice of S. that we learn some of the reality of Portugal in the 1960s and 1970s.
P. 43 - "Cabe aos ingénuos endireitar o mundo que os espertos têm entortado."
Relato inspirado na vida de Snu Abecassis, com um cunho mais político do que biográfico.
A forma como o texto está escrito levar-nos-á a uma associação com a escrita de Saramago (é um discurso com poucos pontos finais, composto essencialmente por vírgulas). Eu quero acreditar que não é por aí, mas sim pela ideia comum de que na eminência, no momento antecedente à morte, a vida de cada um passa fast foward diante dos olhos (apesar dos pormenores descritos no livro), num último minuto...
Memórias de uma vida no último minuto desta. Inspirado numa grande história de amor portuguesa, com uma escrita bem diferente do que estou habituada, mas fascinante. Um retrato de um país dos anos 60/70 que ainda é bastante actual.
A grande interrogação que surge quando lemos o título deste livro é: mas afinal, que significará aquele "ésse ponto"? O que será, ou melhor, quem será, a pessoa a que se refere aquela letra?
Ainda demoramos algum tempo a perceber quem será "ésse ponto" mas após as primeiras pistas, não restam dúvidas. Para não estragar a surpresa a futuros leitores (porque julgo que um dos méritos do livro é precisamente fazer-nos descobrir que personagem é), só posso dizer que é surpreendente a revelação da pessoa que é e que nunca será nomeada no texto (nem ela, nem as pessoas mais próximas que a acompanham), mas de que todos já ouvimos falar quase de certeza, por esta ser uma história sobejamente conhecida.
O que não é sobejamente conhecido é o amor que vemos retratado ao longo das páginas deste livro, um amor fortíssimo, mas condenado a não sobreviver. Num espaço de 60 segundos, a vida de "ésse ponto" passa-lhe à frente dos olhos, misturando passado com presente, até ao momento derradeiro. Este é um livro para ler com atenção, não fosse ele também o retrato de um Portugal que, após de mergulhado durante tantos anos numa ditadura, é incapaz de se modernizar (europeízar).
A forma de escrever de Miguel Real é surpreendente, assim como os temas que ele escolhe para as suas novelas e romances.
Este livro é um romance sobre a amante de Sá Carneiro que morreu no atentado. A história revela bem a época da ditadura, o pensamento da época e das condições das mulheres na altura.
O que mais gostei neste livro foi a forma encadeada como está escrito. É difícil deixar a leitura, acredito mesmo que se possa ler todo num dia. A história está muito bem contada e apesar de ser triste, nos envolve e não conseguimos deixar de ler nem de gostar dos personagens. É o primeiro livro que leio deste autor, mas fiquei fascinada.
Pode ser interessante para quem souber bem a história do atentado e os políticos em questão, mas eu pouco sei e gostei de ler na mesma. Se calhar até torna a história mais interessante por essa razão. A linguagem utilizada é de fácil leitura, mas precisa de atenção graças aos seus longos parágrafos que ocupam páginas inteiras, que como já disse, a torna viciante. É um livro muito interessante, recomendo a quem gosta de romances históricos.
Nas palavras de Snu, mulher vinda dos países do norte da Europa, desfila Portugal no seu multicolorido legado étnico, de traços fisionómicos marcadamente berbere, culturalmente atrasado, acriticamente obediente quando deve ser responsável e crente onde deve confiar no conhecimento. Uma ligeira ironia liga emocionalmente esta mulher a esse povo, não é com desprezo que o encara, mas com o forte desejo de agitar as águas e tornar real a parte possível da ilusão.
Uma escrita brilhante sobre um Portugal dos anos 60-70 "visto" por uma sueca (Snu Abecassis) e o que foi a vida dela em Portugal, o antes e o durante com Sá Carneiro. Escrita romanceada de grande qualidade.
Género de escrita á Saramago. Parágrafos enormes e muitas vírgulas. Gostei da história em si. O final era de esperar sabendo quem são as personagens mas gostei de “ver” pelo ponto de vista da S. MM
Gostei muito de conhecer esta história. Um amor impossível faz sempre uma grande história, sem dúvida. Há um retomar do amor trágico com requintes de malvadez como na história de D. Inês e D. Pedro. O povo é o dark side deste amor.
A escrita de Miguel Real neste livro é a de um José Saramago sem pontos finais. E eu comecei a ler e nem reparei. Eu que não entro assim de qualquer maneira dentro de um livro. Sou como aquelas pessoas que estão à beira da água por tempo indeterminado a ver se querem ou não entrar. Eu nem reparei que onda era esta. E já estava a nadar, até sem pontos finais :)
"eu lembrava-me, judeus não comem peixe sem escamas"
"(...) insisti, vamos na TAP, é mais seguro"
"os adultos eram assim, desinteressantes, uns mais tristes, outros mais desembaraçados, uns mais resignados, outros abafando uma revolta oculta, mas todos insatisfeitos, cheios de problemas"
"este pais não vale uma missa, quanto mais uma vida"
O estilo é presunçosamente atroz. A pontuação é desregrada e não faz sentido. Tenta alcançar o estilo característico de pontuação de Saramago, mas falha redondamente. Em vez de criar intimidade, irrita. Recorre frequentemente à repetição de estruturas de frase como "nome a verbo, nome a verbo..." ou "nome adjectivo, nome adjectivo..." que acabam por não acrescentar nada, levando-me a perguntar se o objectivo não seria aumentar o número de palavras. O enredo, em si, é pobre. Centra-se, basicamente, na história de amor, por mais que finja que o tema é o contexto cultural e social português dos anos 60 e 70. Surgem, de facto, vários vislumbres desta sociedade, um tema muito mais interessante, mas encontra-se mal apresentado e mal tratado. Não vale os 2€ que paguei na promoção da note!.
Esperava mais, talvez por isso esteja um bocado forreta na classificação. Mas a história é boa: uma verdadeira história de amor, que ainda por cima foi real.
Inspirado no romance de Sá Carneiro e Snu Abecassis, esta obra de Miguel Real fala-nos deste grande amor que contraria os códigos da sociedade portuguesa.