Uma discussão sobre a Teoria do Empoderamento, a partir de diversas matrizes teóricas que hoje se dedicam ao tema. São pensadores que entendem empoderamento como aliança entre conscientizar-se criticamente e transformar na prática, algo contestador e revolucionário na sua essência. Muito mais do que a tradução literal de um termo estrangeiro, é uma prática cotidiana para a igualdade.
Joice Berth é arquiteta e urbanista formada pela Universidade Nove de Julho e pós-graduada em direito urbanístico pela PUC de Minas Gerais. Desde o início, sua trajetória profissional na arquitetura se relaciona com o interesse pela atuação política e, hoje, Joice trabalha como assessora parlamentar. Também desenvolve pesquisas sobre questões raciais e de gênero e, em 2018, lançou o livro “O que é empoderamento?” pela editora Letramento.
Na introdução desta obra a autora delineia os diversos sentidos e fontes do que veia a se designar empoderamento, especialmente porque muitos o significam erroneamente como uma espécie de autoestima, quando seu sentido sociológico original seria uma reivindicação social de poder por grupos de minorias. Na parte seguinte temos Berth nos explicitando que o empoderamento além de coletivo deve ser antirracista, anticapitalista e antissexista, que os neoliberais vão querer cooptar o movimento negro através de empreendedorismo e black money, mas que sempre terão uma retórica assistencialista e não de verdadeiro empoderamento, este que deve mexer nas estruturas da sociedade racista e sexista e não fazer uso de métodos paliativos. Na terceira parte a autora pontua o quando a resistência das mulheres já assumia a noção de empoderamento antes mesmo do termo ser cunhado sociologicamente, através de autoras como Angela Davis e bell hooks é exemplificada a necessidade de unificação entre as lutas por raça, gênero e classe. Na última parte Berth trata da questão estética do empoderamento, a partir do momento que o mesmo não é sinônimo de autoestima, mas certamente a questão do belo da negritude é uma questão da coletividade em quebrar paradigmas estéticos do que o branco julgou ser belo por séculos, esse empoderar-se umas às outras das mulheres negras ao assumirem a própria beleza, não num sentido narcisista mas sim coletivo da raça negra é certamente um gesto de empoderamento.
Boa leitura para entender a Teoria do Empoderamento, um termo que acabou se popularizando e teve o seu sentido original distorcido. A partir do ponto de vista de diversos estudiosos, especialmente Paulo Freire, esse livro mostra que o empoderamento é um processo ativo, que nasce do indivíduo, a partir da conscientização do que lhe atinge para enfim lutar contra o sistema de opressão.
- O livro trouxe um entendimento mais aprofundado sobre o termo Empoderamento, trazendo referências bem necessárias e que ajudam a reconstruir o entendimento do termo que é usado de forma tão superficial atualmente.
O tema do empoderamento já há algum tempo passa circundando discursos sob uma diversidade de aplicações. Algumas que inclusive podem tirar sua essência e radicalidade.
Esse é o primeiro livro que de fato eu li que se dedica ao tema. E considero que Joyce Berth conseguiu trazer uma série de elementos de ordem epistemológica, histórica e política que mostram o desenvolvimento do empoderamento, sua articulação com as políticas públicas, sua relação com a afetividade e a estética, e, o que muito me chamou a atenção, suas raízes com o feminismo negro. E com uma linguagem deveras acessível.
O empoderamento no sentido que ela constrói é um conceito vivenciado na história de mulheres negras. Para pelo que eu entendi, fez parte de sua história como resistência e ação individual e coletiva.
Nesse sentido, lembrei daquele filme “The Help” (Histórias Cruzadas). E fez-me, como homem, sentir de forma mais intensa uma empatia por aquelas mulheres negras do filme e das que circundam nosso cotidiano em sua incessante luta por autoafirmação, autonomia e reconhecimento.
Um conceito que vem sendo apropriado pelo mercado ou ainda por movimentos reacionários, e que deve ser estudado e reivindicado para que não perca suas raízes e desenvolvimento na ação prática revolucionária: “[...] partimos daqueles e daquelas que entendem empoderamento como a aliança entre conscientizar-se criticamente e transformar na prática, algo contestador e revolucionário na sua essência". (p. 125). Ou seja, transformar o estado atual de coisas em seu conteúdo explorador e ceifador de individualidades e de coletividades historicamente silenciadas.
O amor, a afetividade, dentre outras grandezas humanas, fazem parte desse processo de construção do empoderamento e são demasiado explorados por Joyce.
Uma leitura recomendada para quem mesmo não sendo das Ciências Sociais, mas que sente ou suspeita sentir empatia às diversas lutas necessárias para o reconhecimento efetivo das humanidades que estão em cada ser humano. O que se torna cada vez mais necessário na luta contrahegemônica nesses tempos obscuros, nos quais o louvor ampliado da ignorância travestida de “autenticidade” é lançada mão para reificar o exercício do poder político, econômico e cultural por grupos historicamente privilegiados.
Empoderamento, é certo que ultimamente, está nas bocas e nos becos das pessoas. Mas garanto que a maioria não sabe exatamente do que está falando quando fala em empoderamento. Eu mesmo não tinha certeza e por isso fui recorrer a quem sabe. Por isso comprei esse livro de Joice Berth, que faz parte de uma linda coleção que também contém "O Que é Lugar de Fala?", de Djamila Ribeiro. Como eu desconfiava, aprendi muito com esse livro. Três lições principais e importantes: 1) Ninguém dá empoderamento a ninguém, principalmente o grupo opressor para o oprimido, como uma atitude partenalista. O empoderamento deve ser conquistado pelo oprimido e, pelo mesmo, deve ser espalhado pela sua comunidade. O opressor nunca pode falar pelo oprimido (daí o lugar de fala). 2) Existem ações de empoderamento puramente comerciais, que não visam o bem da comunidade, mas sim a perpetuação do poder e dos meios para obtê-lo para os mesmos possuidores do poder sociocultural. Por esse tipo de ações é que a palavra empoderamento se tornou banalizada e foi apropriada como xingamento por partes dos detratores das minorias sociais. 3) Por fim, como toda coisa "trans", que significa processo, e no caso do empoderamento, trancultura é uma mudança, que deve ser exercida constantemente e não deve acabar. É uma mudança que deve acontecer da comunidade das minorias sociais para dentro e, a partir daí, para fora. O empoderamento não é um fim, é um meio. E esse empoderamento pode e deve ser feito através das representações na mídia, por exemplo, que dedica pouco espaço para as minorias sociais, em especial para as mulheres negras, que são o foco deste livro. Esse é um livro muitíssimo esclarecedor e agora quero muito ler o O Que é Lugar de Fala, da Djamila Ribeiro e entender melhor também essa expressão e esse movimento. Fiquei bem feliz com a inciativa. =)
A palavra "empoderamento" é, assim como "lugar de fala", uma expressão que se popularizou bastante na internet nos últimos anos e cujo significado se dispersou, a ponto de a palavra ser usada em frases que não significam nada. Perceber isso foi o que despertou minha curiosidade para ler esse livro, assim como aconteceu com o seu antecessor, o "Lugar de Fala", de Djamila Ribeiro. E que leitura enriquecedora! Joice Berth começa trazendo as origens da palavra inglesa que passou a ser traduzida para o Português como "empoderamento", nos apresentando os significados atribuídos a essa palavra com o passar do tempo e como ela foi utilizada por diferentes grupos em vários contextos, até chegar à forma que compreendemos hoje: a transformação de determinado grupo social com características em comum a partir da tomada de consciência sobre si e a respeito de seu lugar na sociedade. A autora nos oferece uma extensa bibliografia, analisando um a um os significados apresentados e respondendo a algumas interpretações equivocadas a palavra. Um ponto bastante interessante é quando ela fala sobre a importância do empoderamento no contexto do feminismo negro e de como o empoderamento traz novas perspectivas para pessoas negras. Ela destaca o empoderamento estético como uma ferramenta importante para o processo de tomada de consciência dos indivíduos, mas sempre ressalta a importância de que o empoderamento seja coletivo, pois não causa mudanças sociais quando permanece no campo individual. Foi uma leitura bastante enriquecedora e eu já quero ler todos os outros livros da série.
É um excelente livro, de facto. No entanto, é demasiado baseado na curadoria de citações de outras autoras e não tanto na introdução dos contributos de Berth sobre a temática. Ainda outro problema é que os dois últimos capítulos deixam perder de vista o conceito de “empoderamento”, centrando-se em discussões relacionadas com feminismo negro, onde fica difícil fazer a ponte conceptual para aquele que deveria ser o argumento de base do livro. Diria que a primeira metade do livro é incrivelmente boa, mesmo 5 estrelas. A segunda é ótima mas diverge da temática que lhe dá título.
Não é fresco o suficiente pra alguém que já tem bastante leitura no feminismo, mas também não é acessível o suficiente pra alguém que não teve muito contato.
Ganhei esse livro uns 2 ou 3 anos atrás, e além da ressaca literária eu tinha um certo pré conceito sobre ele. Achei que ia ser mais um livro falando sobre como as mulheres têm que se empoderar (tudo de uma maneira muito rasa), mas acontece que fui muito surpreendida. O livro trás tantos pontos importantes e vistas diferentes, é um ótimo livro pra quem tá começando os estudos e cumpre perfeitamente bem a função para que foi desenvolvido: conhecimento de qualidade em custos baixos. Recomendo muito.
Ce terme longtemps vidé de son sens, retrouve toute sa force et sa raison d’être sous la plume et les explications de cette femme de talent. Tout est limpide parce que factuel, je n’ai pas dit facile mais largement compréhensible et digeste. C’est la toute la beauté et la force de ce petit bijou de 149 pages. Pas de digressions, on va à l’essentiel sans précipitation et avec une pédagogie déconcertante. Bref faites vous plaisir.