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Feminismos Plurais

Racismo estrutural

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Nos anos 1970, Kwame Turu e Charles Hamilton, no livro "Black Power", apresentaram pela primeira vez o conceito de racismo institucional: muito mais do que a ação de indivíduos com motivações pessoais, o racismo está infiltrado nas instituições e na cultura, gerando condições deficitárias a priori para boa parte da população. É a partir desse conceito que o autor Silvio Almeida apresenta dados estatísticos e discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.

264 pages, Paperback

First published January 1, 2018

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About the author

Silvio Almeida

9 books69 followers
Doutor e Pós-doutor pelo departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito Político e Econômico e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Professor do Curso de Graduação em Direito e Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Professor de Filosofia e Ética e de Compliance, Governança Corporativa e Implementação de Práticas Antidiscriminatórias na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Professor de Filosofia do Direito e Introdução ao Estudo do Direito da Universidade São Judas Tadeu (SP). Presidente do Instituto Luiz Gama (SP). Consultor especializado na implantação de políticas de diversidade. Advogado em São Paulo.

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10 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 115 reviews
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,734 reviews
November 28, 2018
Essa coleção Feminismos Plurais é uma das melhores coisas que aconteceram no mercado editorial brasileiro nos últimos anos, venho comprando todos os volumes e devorando-os com sede de um conhecimento que não abarca os lugares comuns do status-quo e realmente se aprofunda no viés racial que deveria sempre estar indissociável na análise de nossas relações afetivas, econômicas e políticas.
Especificamente este trabalho de Sivio Almeida é primoroso, com grande erudição ele vai destrinchando todo aspecto econômico e político do racismo que é lido como estrutural, apesar do autor fazer toda uma introdução do dito racismo individual e institucional.
Profile Image for Ariela.
56 reviews17 followers
June 13, 2020
O livro de Silvio Almeida estava há algum tempo na minha estante. Já havia lido o livro sobre lugar de fala, de Djamila Ribeiro, e sabia que o estilo da coleção, apesar do objetivo introdutório, não é compatível com uma leitura casual. Os autores de Feminismos Plurais são intelectuais públicos que, apesar de também dominarem a linguagem das redes sociais, em seus livros não fazem muitas concessões ao leitor. Os livros são didáticos e curtos porém densos, que exigem uma leitura atenta, do tipo de se tomar notas, retomar capítulos anteriores, fazer conexões - enfim, pedem um esforço de compreensão.

A obra primeiro aborda os conceitos de raça e racismo, e depois analisa 4 fatores que compõe a manifestação estrutural do racismo: ideologia, política, direito e economia. Minha primeira leitura foi, naturalmente, na ordem proposta pelo autor. Numa 2a leitura, e de forma compatível o materialismo histórico que o autor parece adotar, achei mais produtivo seguir uma ordem diferente, hierarquicamente implícita no texto: fatores econômicos e políticos primeiro, seguidos por ideologia e direito.

O argumento central do livro é que o racismo não é uma anomalia, e sim um elemento constitutivo (estrutural) da sociedade capitalista. O racismo fornece a justificativa para desigualdades, opressões e violências que são típicas do nosso sistema econômico.

Embora não haja embasamento biológico para a classificação dos seres humanos em raças, a ideia de raça começou a ser usada para se referir a pessoas no século XVI, justamente no período de expansão colonial. Raça, assim, é um conceito social e não biológico - carrega, portanto, uma história que é política e econômica. No contexto do mercantilismo e da acumulação primitiva de capital, o racismo naturalizou a destruição e dominação dos povos das Américas, África, Ásia e Oceania, tidos como primitivos, selvagens.

Ao longo da História, o racismo naturalizou e autorizou a exploração de um “outro” que precisava ser instrumentalizado pela economia capitalista. Em linhas gerais, pode-se pensar o racismo que naturaliza e autoriza a colonização do século XVI, a escravidão negra, o imperialismo do século XIX e o sub-desenvolvimento de inúmeras nações africanas, asiáticas e latino-americanas. O racismo tem uma história entrelaçada à economia, e suas manifestações são específicas de cada formação social - o racismo dos EUA, Brasil e África do Sul, por exemplo, possuem semelhanças, mas se expressam de maneira singular.

O autor salienta que o racismo se manifesta não apenas em ações com clara intencionalidade, mas também através de um processo de invisibilização. A modernidade trouxe a igualdade formal das pessoas perante a lei, o que de certa forma baliza o uso de políticas públicas colorblind, que não consideram as desigualdades sociais, e portanto as reproduzem e aprofundam. Um exemplo apontado no texto é o sistema tributário brasileiro, altamente regressivo. Um sistema que prioriza a tributação de consumo e salário penaliza mais pesadamente os grupos menos privilegiados, o que na prática significa aumentar o poder de uma elite majoritariamente branca e detentora de propriedades e de capital, e diminuir o poder aquisitivo da população negra, majoritariamente assalariada.

O racismo é a ideologia que permite a exploração econômica, a desumanização. Ele molda o inconsciente a ponto de muitos não estranharem a hegemonia/supremacia branca nas posições de poder. A ideologia do racismo também se renova todos os dias - em sociedades racistas, quando olhamos ao lado e não encontramos um negro sentado à mesa, mas sim servindo-a, naturaliza-se ainda mais a ideia no negro como subalterno. As condições materiais, assim, retro-alimentam o ideário racista.

Baseando-se em Michel Foucault e Achille Mbembe, Silvio Almeida também apresenta o racismo como forma de exercício de poder. De acordo com Foucault, o Estado moderno, através do controle do saneamento básico e segurança pública, entre outros, detém um biopoder - a capacidade de fazer viver e de deixar morrer. O racismo é a condição de aceitabilidade para se deixar um grupo de pessoas, um “outro” inferior, morrer. Mbembe faz o salto do Estado que deixa morrer para o Estado assassino - um necropoder. O necropoder instala-se em estados de exceção e é o direito de matar um “outro” tido como inimigo. Nesse ponto, Silvio Almeida traz a dissertação de mestrado de Marielle Franco e as condições das favelas no Rio de Janeiro. A ação do Estado carioca nas favelas se manifesta primordialmente através da ocupação ou incursões militarizadas, nas quais as chamadas políticas de segurança pública fazem das comunidades das favelas um inimigo generalizado e autorizam a invasão de casas sem mandado judicial, a morte por “balas perdidas” ou o puro e simples extermínio.

O livro não tem propriamente um capítulo de conclusão - fica a cargo do leitor articular uma resposta para “o que é racismo estrutural?”. Entendido racismo como discriminação sistemática, o racismo é por definição estrutural. Caracteristicamente do pensamento negro, essa é uma conclusão que se pretende um convite à ação, e não apenas uma formulação teórica. A consequência do racismo ser estrutural é que a arena de combate não é apenas o comportamento individual e a conscientização. Tampouco, a luta se trava apenas nas instituições, que são as “regras do jogo” do Estado capitalista. A consequência lógica, que o autor parece enunciar de maneira discreta no último parágrafo do livro, é que a superação do racismo se dá com a superação do capitalismo. Essa conclusão é compatível com o pensamento negro contemporâneo de Angela Davis, por exemplo, que alia a antirracismo a anticapitalismo.

O livro de Silvio Almeida é uma excelente obra introdutória, que ensina sem ser paternalista com o leitor, e que indica caminhos para futuras leituras e aprendizados. É um livro que você termina sabendo mais do que quando começou, mas também um pouco mais confusa - as condições ideais para não se criar uma ilusão de conhecimento, e sim buscar aprofundá-lo.

Profile Image for Julia Landgraf.
156 reviews82 followers
September 2, 2020
Leitura incrível! Mega didático e profundo ao mesmo tempo, faz um recorrido histórico essencial para compreensão do racismo, além de tornar mais nítidas as concepções de racismo individual, institucional e estrutural. Dá muita vontade de ler, o que se estende também às suas referências: tudo que ele cita parece importante e interessante (minha lista de "want to read" aqui no GR cresceu muito depois dessa leitura). Recomendaria pra todo mundo.
Profile Image for Kells.
28 reviews12 followers
April 20, 2020
Livro fundamental e acessível para entender o conceito de racismo estrutural.
Profile Image for Letícia R.
49 reviews5 followers
July 21, 2021
Todo mundo devia tirar um tempo para ler. É muito bem escrito, fácil de compreender e 100% necessário. É um tapa de lógica, de racionalidade e tem muitas referências boas.
Profile Image for Kelvin Dias.
101 reviews3 followers
June 12, 2023
Muito completo e didático. Leitura bem acessível, inclusive para quem não tem familiaridade com conceitos da ciência política.
Profile Image for Leticia.
203 reviews8 followers
October 8, 2020
Este livro já é um clássico nos estudos de relações étnico-raciais do Brasil. Silvio Almeida demonstra como o racismo é um tema incontornável, que estrutura e estruturante da sociedade brasileira.
O conceito de racismo estrutural está sendo muito deturpado pela branquitude - como forma de justificar o desconhecimento sobre o tema e eximir seu papel no racismo-, mas como o próprio Silvio diz "especialista em racismo é racista, o que eu faço é estudar profundamente a sociedade''.
Neste trabalho fica nítido o compromisso do Silvio com a perspectiva de totalidade e suas mediações.
Profile Image for Mariana .
15 reviews
November 5, 2020
Esse livro foi como uma aula para mim, pois a cada capítulo e cada virada de página tratou de um assunto pertinente e com riquíssimo conteúdo. Sem dúvidas, é uma leitura obrigatória para toda a sociedade.
Profile Image for Lorrany.
445 reviews60 followers
March 27, 2023
Eu fico muito feliz com o fato que estamos vivenciando Silvio Almeida como Ministro dos Direitos Humanos no governo brasileiro. Este livro traz um apanhado de informações para conceituar e contextualizar o racismo estrutural com referências e exemplos que nos colocam em reflexão sobre como esse sistema foi alimentado desde o período colonial fazendo com que, até hoje, pessoas não-brancas sejam prejudicadas por uma estrutura social que não foi pensada para que pessoas de diferentes etnias/raças e classes sociais ascendessem de forma equilibrada. Além de criar uma série de desigualdades que são reproduzidas por indivíduos e grupos no poder, essa estrutura beneficia o capitalismo e vai criando um ciclo em que fica cada vez mais difícil de ascender socialmente e economicamente. Alguns textos do livro eu já tinha lido aleatoriamente, mas foi ótimo fazer a leitura na sequência pensada pelo autor. No geral, este livro permite uma leitura tranquila, com excessão da última parte em que se fez necessária uma linguagem mais técnica de direito e economia e, por isso, achei mais arrastada que as outras duas. Racismo Estrutural é para ser lido e relido várias vezes, sendo uma ótima referência no assunto.
Profile Image for David Ayrolla.
26 reviews
March 30, 2023
"RACISMO ESTRUTURAL" é uma obra indispensável para compreender a complexidade do racismo no Brasil. O filósofo, jurista e agora Ministro dos Direitos Humanos, analisa o racismo como um fenômeno estrutural e mostra como ele se manifesta em diversas esferas da sociedade, desde a política até a cultura popular. Ele está presente na história do país, da sua colonização até hoje, entranhado profundamente nas estruturas mais básicas da sociedade: na educação, na religião, na mídia, no mercado de trabalho e no sistema jurídico. Almeida explica que o racismo não é apenas um problema moral, mas também político e econômico, sendo perpetuado por meio de instituições e normas que o tornam invisível e naturalizado. Se já não bastasse esviscerar as entranhas do racismo no brasil, o autor ainda demonstra as incontestes relações entre o capitalismo e o racismo, observando que não existe "consciência de classe" genuína que não compreenda também a consciência racial.
Brilhante!

"A população negra constitui mais da metade da população brasileira. Diante de tal demografia, é difícil conceber a possibilidade de um projeto nacional de desenvolvimento que não enfrente o racismo no campo simbólico e prático. O silêncio dos desenvolvimentistas brasileiros diante da questão racial chega a ser constrangedor, pois tudo se passa como se a questão nacional/racial não fosse medular no pensamento social brasileiro. Talvez essa presença ausente da questão racial seja a prova mais contundente de que o racismo pode obstruir a capacidade de compreensão de aspectos decisivos da realidade, mesmo daqueles que querem sinceramente transformá-la."
- Almeida, Silvio. Racismo Estrutural (Feminismos Plurais). São Paulo: Editora Jandaíra, 2019.
Profile Image for Ana Paula.
59 reviews2 followers
May 30, 2021
Profundo e perturbador. Super relevante ao momento atual.
Profile Image for Beatriz Oliveira.
1 review3 followers
Read
August 15, 2021
Excelente leitura. O melhor livro da coleção Feminismos Plurais orquestrada pela filósofa Djamila Ribeiro. Silvio Almeida articula a compreensão do racismo enquanto estrutura que se apresenta em diferentes instâncias, como na história, na política, na economia e na sociedade brasileira, se servindo de uma escrita sóbria, didática mas que não perde a elegância. Texto claro, crítico, elucidativo e fundamental para compreender o racismo no Brasil
Profile Image for Zé.
100 reviews7 followers
August 1, 2023
vo reler um dia
Profile Image for Matheus Gomes.
153 reviews1 follower
February 11, 2022
Livro 3 de 2022

O tema é importante, pertinente e denso. Mas a abordagem do livro dá saltos lógicos em muitos momentos. Isso foi algo que me incomodou em determinados momentos. As conclusões não derivam totalmente das premissas que as originaram; e muitos dados são jogados de forma superficial.
Eu esperava mais.
124 reviews
July 14, 2020
Provavelmente o melhor livro que li esse ano. Faz uma revisão geral sobre teoria geral do direito e do Estado, bem como aspectos econômicos, sociais e culturais, mostrando como o racismo é um elemento não apenas integrante do nosso atual modo de vida, mas está intrínseco a ele. Leitura incrível e que merece ser refeita muitas vezes.
Profile Image for Raphael Donaire.
Author 2 books36 followers
December 21, 2020
O professor Silvio Almeida é um dos grandes intelectuais quando o assunto é racismo e nesta obra ele nos presenteia com uma sistematização sobre as bases do racismo estrutural.
Diante de um conceito que engloba visões da economia, do direito, da história, de ideologia e da política, o autor define o racismo como uma tecnologia de poder que opera por meio do controle havendo, por conseguinte, a discriminação sistêmica de grupos étnico-raciais subalternizados. Diante de tal perspectiva sobre o racismo, não é possível sustentar o argumento de racismo reverso, já que não há opressão sistêmica em relação ao grupo dominante.
Ao longo da obra, o professor Silvio esclarece a diferença entre racismo, preconceito e discriminação. Se o primeiro é um fenômeno sistêmico, o segundo externaliza-se como um julgamento prévio, enquanto que a discriminação é um tratamento diferenciado.
Uma obra clássica que nos mostra que "não basta diversidade, devemos lutar por equidade".
Profile Image for Lucas de Souza Oliveira.
7 reviews2 followers
July 21, 2024
A maior qualidade deste livro é ser um norteador preciso de conceitos. Aqui podemos nos debruçar sobre o estudo de raça e racismo com farta bibliografia indicada (há um verdadeiro tesouro também nas notas de rodapé). Muito bom o trabalho do ministro-professor Silvio Almeida.
3 reviews1 follower
August 24, 2020
Uma explicação incrível de como o racismo está profundamente ligado com a construção da nossa sociedade e ainda hoje tem uma função intencional de manutenção dos privilégios
Profile Image for Patrick.
115 reviews17 followers
July 29, 2021
Tenho nem palavras. Importante. Um marco. Obrigado, Silvio Almeida.
Profile Image for Daniela Carvalho Dias de Souza.
107 reviews14 followers
November 2, 2022
O Professor, Advogado, Filosofo e Doutor Silvio Almeida esclarece ao leitor como o racismo estrutural está intrínseco na sociedade capitalista e como esse sistema, juntamente com o Estado corrobora o racismo. Principalmente nos países colonizados e explorados.

Seu livro não é de leitura fácil, pois exige do leitor muita pesquisa e momentos de reflexão e conexão das ideias principalmente aos leigos, como eu.

De qualquer maneira, sua linha raciocínio segue uma linha do tempo colonial, pós-colonial e o que o direito, a cultura, a estrutura do que entendemos como sociedade alimenta o racismo estrutural.

Todos devem ler, estudar e debater. Somente assim, conseguiremos o antirracismo e quiçá a criação de um novo conceito de economia/sociedade menos exploradora e mais inclusiva.
Profile Image for DeboraS..
62 reviews
August 26, 2021
Faltavam 10 páginas p terminar e eu demorei uma vida. O livro trata de forma muito breve e elucidativa as nuances do racismo estrutural e como opera em diferentes época, instituição e sociedade, o demonstra também como sintoma de crise e como há uma dinamicidade em reaproveitar o racismo como estruturante de privilégios de uma maioria.

Achei uma leitura muito fácil e didática, indico demais.
Profile Image for Gabriela Freire.
130 reviews
July 14, 2021
Impossível não amar um livro tão preciso e necessário. Eu só queria ter lido essa obra antes, quando eu vivia presa dentro da minha bolha social. Ao olhar para todos os lados vemos como a sociedade é cheia de preconceito, e eu precisava entender isso. O livro é ótimo, linguagem fácil e a explicação é maravilhosa. Agora resta continuar o estudo dos feminismos plurais.
Profile Image for Deborah Morais.
48 reviews
June 14, 2021
Acompanho o Silvio Almeida nas redes e fazia tempo que estava pra ler esse livro. Muito bom, recomendo.

Highlights:
Embora haja relação entre os conceitos, o racismo difere do preconceito racial e da discriminação racial. O preconceito racial é o juízo baseado em estereótipos acerca de indivíduos que pertençam a um determinado grupo racializado, e que pode ou não resultar em práticas discriminatórias. Considerar negros violentos e inconfiáveis, judeus avarentos ou orientais “naturalmente” preparados para as ciências exatas são exemplos de preconceitos. A discriminação racial, por sua vez, é a atribuição de tratamento diferenciado a membros de grupos racialmente identificados. Portanto, a discriminação tem como requisito fundamental o poder, ou seja, a possibilidade efetiva do uso da força, sem o qual não é possível atribuir vantagens ou desvantagens por conta da raça. Assim, a discriminação pode ser direta ou indireta. A discriminação direta é o repúdio ostensivo a indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial, exemplo do que ocorre em países que proíbem a entrada de negros, judeus, muçulmanos, pessoas de origem árabe ou persa, ou ainda lojas que se recusem a atender clientes de determinada raça.

Em resumo: o racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural.39 Comportamentos individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção. O racismo é parte de um processo social que ocorre “pelas costas dos indivíduos e lhes parece legado pela tradição”.40 Nesse caso, além de medidas que coíbam o racismo individual e institucionalmente, torna-se imperativo refletir sobre mudanças profundas nas relações sociais, políticas e econômicas. A viabilidade da reprodução sistêmica de práticas racistas está na organização política, econômica e jurídica da sociedade. O racismo se expressa concretamente como desigualdade política, econômica e jurídica. Porém o uso do termo “estrutura” não significa dizer que o racismo seja uma condição incontornável e que ações e políticas institucionais antirracistas sejam inúteis; ou, ainda, que indivíduos que cometam atos discriminatórios não devam ser pessoalmente responsabilizados. Dizer isso seria negar os aspectos social, histórico e político do racismo. O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é que o racismo, como processo histórico e político, cria as condições sociais para que, direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados sejam discriminados de forma sistemática. Ainda que os indivíduos que cometam atos racistas sejam responsabilizados, o olhar estrutural sobre as relações raciais nos leva a concluir que a responsabilização jurídica não é suficiente para que a sociedade deixe de ser uma máquina produtora de desigualdade racial.

Racismo como processo político O racismo é processo político. Político porque, como processo sistêmico de discriminação que influencia a organização da sociedade, depende de poder político; caso contrário seria inviável a discriminação sistemática de grupos sociais inteiros. Por isso, é absolutamente sem sentido a ideia de racismo reverso. O racismo reverso seria uma espécie de “racismo ao contrário”, ou seja, um racismo das minorias dirigido às maiorias. Há um grande equívoco nessa ideia porque membros de grupos raciais minoritários podem até ser preconceituosos ou praticar discriminação, mas não podem impor desvantagens sociais a membros de outros grupos majoritários, seja direta, seja indiretamente. Homens brancos não perdem vagas de emprego pelo fato de serem brancos, pessoas brancas não são “suspeitas” de atos criminosos por sua condição racial, tampouco têm sua inteligência ou sua capacidade profissional questionada devido à cor da pele. A própria ideia de racismo reverso é curiosa e nos mostra como muitas vezes nos detalhes moram as grandes questões. O termo “reverso” já indica que há uma inversão, algo fora do lugar, como se houvesse um jeito “certo” ou “normal” de expressão do racismo. Racismo é algo “normal” contra minorias – negros, latinos, judeus, árabes, persas, ciganos etc. – porém, fora destes grupos, é “atípico”, “reverso”. O que fica evidente é que a ideia de racismo reverso serve tão somente para deslegitimar as demandas por igualdade racial. Racismo reverso nada mais é do que um discurso racista, só que pelo “avesso”, em que a vitimização é a tônica daqueles que se sentem prejudicados pela perda de alguns privilégios, ainda que tais privilégios sejam apenas simbólicos e não se traduzam no poder de impor regras ou padrões de comportamento. A politicidade do racismo apresenta-se, basicamente, em duas dimensões:

Por que nos causa a impressão de que as coisas estão “fora do lugar” ou “invertidas” quando avistamos um morador de rua branco, loiro e de olhos azuis ou nos deparamos com um médico negro?

Todas essas questões só podem ser respondidas se compreendermos que o racismo, enquanto processo político e histórico, é também um processo de constituição de subjetividades, de indivíduos cuja consciência e afetos estão de algum modo conectados com as práticas sociais. Em outras palavras, o racismo só consegue se perpetuar se for capaz de: 1. produzir um sistema de ideias que forneça uma explicação “racional” para a desigualdade racial; 2. constituir sujeitos cujos sentimentos não sejam profundamente abalados diante da discriminação e da violência racial e que considerem “normal” e “natural” que no mundo haja “brancos” e “não brancos”.

O racismo constitui todo um complexo imaginário social que a todo momento é reforçado pelos meios de comunicação, pela indústria cultural e pelo sistema educacional. Após anos vendo telenovelas brasileiras, um indivíduo vai acabar se convencendo de que mulheres negras têm uma vocação natural para o trabalho doméstico, que a personalidade de homens negros oscila invariavelmente entre criminosos e pessoas profundamente ingênuas, ou que homens brancos sempre têm personalidades complexas e são líderes natos, meticulosos e racionais em suas ações. E a escola reforça todas essas percepções ao apresentar um mundo em que negros e negras não têm muitas contribuições importantes para a história, literatura, ciência e afins, resumindo-se a comemorar a própria libertação graças à bondade de brancos conscientes.

Apesar das generalizações e exageros, poder-se-ia dizer que a realidade confirmaria essas representações imaginárias da situação dos negros. De fato, a maioria das domésticas são negras, a maior parte das pessoas encarceradas é negra e as posições de liderança nas empresas e no governo geralmente estão nas mãos de homens brancos. Então, não estariam os programas de televisão, as capas de revistas e os currículos escolares somente retratando o que de fato é a realidade? Na verdade, o que nos é apresentado não é a realidade, mas uma representação do imaginário social acerca de pessoas negras. A ideologia, portanto, não é uma representação da realidade material, das relações concretas, mas a representação da relação que temos com essas relações concretas.

Dizer que nossa visão sobre a sociedade não é um reflexo da realidade social, mas a representação de nossa relação com a realidade, faz toda a diferença. Isso faz da ideologia mais do que um produto do imaginário; a ideologia é, antes de tudo, uma prática. Da mesma forma, o imaginário em torno do negro criminoso representado nas novelas e nos meios de comunicação não poderia se sustentar sem um sistema de justiça seletivo, sem a criminalização da pobreza e sem a chamada “guerra às drogas”, que, na realidade, é uma guerra contra os pobres e, particularmente, contra as populações negras. Não seria exagero dizer que o sistema de justiça é um dos mecanismos mais eficientes na criação e reprodução da raça e de seus múltiplos político e econômico é fundamental para constituir um imaginário racista, pois, assim, sem críticas ou questionamentos, a discriminação racial ocorrida nas relações concretas aparecerá à consciência como algo absolutamente “normal” e corriqueiro.

O racismo é uma ideologia, desde que se considere que toda ideologia só pode subsistir se estiver ancorada em práticas sociais concretas.

50 reviews
June 11, 2021
Já vi algumas entrevistas do Dr. Silvio Almeida e fiquei admirado como ele conseguia explicar os fatores relacionados ao racismo (um assunto extremamente complexo) de forma objetiva e compreensível.
Devido a isso, eu esperava ver uma abordagem mais acadêmica. Por diversas vezes, encontrei-me perante um dicionário de conceitos (bem explicados), mas sem um maior desenvolvimento argumentativo. Por exemplo, quando o professor cita que as leis já foram mecanismos de reafirmação do racismo e argumenta que as leis anti-racistas podem tornar a sociedade mais igualitária, faltou, para uma argumentação mais sólida, dados que fundamentassem isso. Infelizmente, ele por diversas vezes usa por termos gerais, sem utilizar de dados estatísticos (como porcentagem, números relativos, média etc.).
Até mesmo no capítulo sobre economia, não há um melhor desenvolvimento sobre correlação entre imposto, poder de comprar e desigualdade salarial, e racismo (com números).
Por último, faltou ao professor reforçar que o conhecimento científico foi usado de forma equivocada ou deliberada para nutrir interesse pessoais. Hoje a Ciência - de qualidade - é o melhor caminho para descontruir preconceitos e construir sociedades mais justas - onde as pessoas sejam atendidas e respeitadas conforme suas particularidades.
Enfim, quero expressar que fiquei decepcionado. Para quem já possui conhecimento geral sobre assunto, não recomendo!

Displaying 1 - 30 of 115 reviews

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