Jump to ratings and reviews
Rate this book

Homens Imprudentemente Poéticos

Rate this book
Num Japão antigo o artesão Itaro e o oleiro Saburo vivem uma vizinhança inimiga que, em avanços e recuos, lhes muda as prioridades e, sobretudo, a capacidade de se manterem boa gente.
A inimizade, contudo, é coisa pequena diante da miséria comum e do destino.
Conscientes da exuberância da natureza e da falha da sorte, o homem que faz leques e o homem que faz taças medem a sensatez e, sobretudo, os modos incondicionais de amarem suas distintas mulheres.
Valter Hugo Mãe prossegue a sua poética ímpar. Uma humaníssima visão do mundo.

216 pages, Paperback

First published October 3, 2016

126 people are currently reading
1970 people want to read

About the author

Valter Hugo Mãe

68 books2,290 followers
valter hugo mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor.
Nasceu em Saurimo, Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, vive em Vila do Conde.
É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Vencedor do Prémio José Saramago no ano de 2007
É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação, (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004).
Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
759 (29%)
4 stars
1,116 (42%)
3 stars
587 (22%)
2 stars
113 (4%)
1 star
26 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 241 reviews
Profile Image for Guille.
1,006 reviews3,279 followers
December 29, 2023
Hugo Mãe nos habla aquí de un mundo antiguo en el que las cosas no son solo cosas, en la que los vivos deben mostrar respeto por los muertos y complacerles, de igual forma que al destino o a la naturaleza, pues todos pueden revolverse y caer sobre la cabeza del que así no se condujera. Crea así el autor una distancia de fábula, más intensa por cuanto la historia está enmarcada en un legendario Japón, del cual toma sus formas para elaborar un lenguaje propio, preciso y precioso, en el que no tiene cabida el adverbio “no” (parece ser que en Japón se evita en lo posible su uso).

Aunque la historia es atractiva —dos vecinos y enemigos íntimos que se desean mutuamente la muerte—, aunque el lugar es provocador —un bosque real, cerca del monte Fuji, donde cada año decenas de hombres y mujeres se internan con la intención de suicidarse tras atar una cuerda en la linde del bosque al objeto de poder encontrar el camino de vuelta si tras meditarlo deciden no llevar a cabo su acto—, lo más llamativo de la novela es sin lugar a dudas el lenguaje. Más allá de la ausencia del “no”, que ya lo condiciona y lo trastoca, hay un intenso lirismo que convierte en poesía cada capítulo, cortos en su gran mayoría, y que tiene que ver con esa fascinación que el autor confiesa por “la capacidad creativa de las palabras, es decir, como si las palabras pudieran ser la génesis de otra conciencia, pero también de otra forma de vida; como si pudieran ser la génesis de otra humanidad, de otro mundo”.
“Escogía palabras como si cambiase la realidad según su modo de hablar. Si lo contase con cuidado, pasaría más cerca de la solución. Las palabras lo cambian todo.”
Los dos enemigos, Itaro el artesano y Saburo el alfarero, también dos formas de entender el arte, seguirán caminos opuestos y llegará a metas distintas. Itaro lo recorrerá de forma ascendente: desde la ansiedad y el deseo de muerte que le provoca el poder que tiene desde niño de descubrir el futuro, siempre infausto, en los restos de los seres vivos que él mismo se encarga de aplastar, proceso que empezará a partir de su episodio en un pozo, posiblemente el capítulo más bello del libro. Saburo, por su parte, lo transitará en sentido descendente: desde un estado de amor feliz al lado de su mujer Fuyo, su vida se irá tornando más sombría y asesina a partir de la muerte de esta, vaticinada por su vecino Itaro.
"Qué humillante la soledad del amante… qué humillante el corazón que queda de sobra. El amor dejado solo es una condición enferma."
La ceguera es el otro gran personaje de la novela. Será el destino iluminador de uno de los personajes y el estado de Matsu, la hermana pequeña de Itaro que también profetizó así su nacimiento. Esa oscuridad en la que vive desde niña le permitirá un mejor acceso a su interior, mirar al otro de una forma más verdadera, crear, a través de las palabras, un mundo propio por el que se siente agradecida pues “El sufrimiento nunca podría impedir a alguien ser feliz”.
“Mis juguetes son las palabras. Persigo el encantamiento de que son capaces.”
Profile Image for João Barradas.
275 reviews31 followers
April 21, 2020
a certeza da finitude é o único condão com que, cada um de nós, é brindado à nascença. Por muito progresso científico alcançado, a descoberta da pedra filosofal tem vindo a ser postergada e, assim, a imortalidade. Permanece, então, vincado o apanágio de quem “todos vamos morrer”. Mas, sendo algo natural e antecipado, a morte continua a ser, por muitas culturas, confinada a uma afastada redoma de tabu, enclausurada num silêncio ensurdecedor, como se a sua expressão lhe encurtasse o tempo de espera para colocar as vestes de usurpadora. No entanto, outras há que celebram os mortos, com festividades coloridas, e se vestem das cores mais puras para a honrar, vangloriando inclusivamente aquela que é considerada, segundo a perspectiva cristã, a pior das maldições: o suicídio.

situado num Japão ancestral, encontra-se uma floresta cujas árvores, ao invés de frutos, dão corpos sem vida, vítimas de um embotamento da vida. Contrastando com este jardim tanatológico, há vida nas suas imediações. Numa aldeia condenada a uma visão fatalista, destacam-se dois artistas: um oleiro, que sofre pela morte perpetuando a vida; um artesão de leques, que vê a vida na morte. Balanceando estes pratos místicos, num equilíbrio sustentável, circundam outras duas aldeãs: Matsu, a menina cega, liberta na sua escuridão que lhe oferta um mundo de possibilidades; e Kame, a criada detentora dos mais leais e protectores sentimentos. Neste losango – pois há lados mais próximos -, arquitecta-se um alçapão para um mundo metafísico, onde palavras florescem.

com um tom de parábola, o autor veste-se de ourives para fabricar uma corrente de elos trabalhados enredados numa trama fina, que reluzem perante temas atemporais e familiares nas suas obras: sentimentos, vida e morte, o transcendente. Este adentrar na espiritualidade é adensado por uma linguagem lírica, intricada, flexível e inovadora – como uma ladainha que abrisse uma porta mágica. Repleto de conceitos complexos e herméticos, a lufada de ar fresco é garantida pela naturalidade com que os mesmos são apresentados, sem negativismo nem preconcepções, deixando o leitor meio hipnotizado. vhm é, pois, um maestro das palavras, criando melodias de encantar, ao manobrar, de forma exemplar, dimensões antagónicas, garantido uma polifonia vital.

em busca da complementaridade perfeita, o taoísmo defende o princípio do “Yin-Yang”, segundo o qual, cada ser encerra em si uma dualidade de forças, opostas, que se complementam, no sentido de uma plenitude inalcançável. Adaptada à cultura ocidental sob diversas perspectivas (o pólo norte e o pólo sul, sem esquecer o “lado solar” e o “lado lunar”), esta filosofia aponta para o equilíbrio, reivindicado e pretendido, para que a vida possa prosseguir e a morte não caia em nenhuma intermitência. Balizados por estes conceitos, o ser humano vai caminhando no limbo, a aguardar qualquer purga em vida. E é da vida que nasce a poesia e das suas imprudências o Homem!
Profile Image for Rita.
163 reviews
November 4, 2016
"Homens Imprudentemente Poéticos" é a mais recente obra de Valter Hugo Mãe, para mim um dos melhores escritores portugueses da actualidade. Os temas abordados neste livro são transversais às várias obras do autor: a morte, o medo e o sentido e importância que cada um de nós atribui à vida.

"Esperaram pelo sono para se mudarem para o dia seguinte. Havia sempre esperança na travessia nocturna. Cada deus revia a criação no quieto da noite. Acender os dias era sempre a possibilidade de uma nova criação. Era importante dormir com esperança."

Acho curioso que à quarta obra, ainda me deixe surpreender pela escrita poética de Valter Hugo Mãe, não sei onde é que o senhor vai buscar imaginação para reinventar a escrita, sei é que resulta sempre tão bem!

Se no seu último romance, "A Desumanização", o autor nos leva a conhecer a Islândia, em "Homens Imprudentemente Poéticos" viajamos até ao Japão. É na floresta Aokigahara, conhecida como a floresta do silêncio, que todos os anos várias pessoas entram para nunca mais sair. Levam com elas uma corda que lhes abre dois caminhos: o da vida e o da morte. É na floresta do silêncio que todos os anos, vários homens e mulheres decidem pôr termo à vida.

Nota-se uma evolução na escrita comparativamente aos últimos romances, este é provavelmente o mais lírico e profundo, e talvez por isso esta não seja uma leitura fácil. "Homens Imprudentemente Poéticos" é daqueles livros que queremos muito ler, saborear a escrita e devorar páginas, só que essas duas vontades não são compatíveis. Não esperem um livro fácil, muito menos fluidez, para mim foi necessária alguma paciência extra.

Ainda que possa não ser justo comparar este romance aos anteriormente publicados, tenho de o fazer e confessar que continuo a preferir "A Máquina de Fazer Espanhóis", não é fácil destronar essa maravilha. Para quem nunca leu Valter Hugo Mãe e não sabe por onde começar, sugiro "A Máquina de Fazer Espanhóis" ou "O Filho de Mil Homens", estão extraordinariamente bem escritos e proporcionam leituras mais acessíveis.

Opinião no blog:
http://clarocomoaagua.blogs.sapo.pt/o...
Profile Image for Maria João (A Biblioteca da João).
1,385 reviews248 followers
October 2, 2016
9 de 10*

“Homens Imprudentemente Poéticos” marcou a minha estreia na leitura de livros escritos pela mão de Valter Hugo Mãe.
Marcou-me, principalmente, a forma bela como faz uso do nosso português. Não sendo uma leitura fácil ou ligeira, é contudo bela e poética e cada frase diz muito mais do que aquilo que está escrito.

Comentário completo em:
http://abibliotecadajoao.blogspot.pt/...
Profile Image for Márcia Balsas.
Author 5 books107 followers
November 27, 2016
Foi como ser abrigada pelo silêncio. E eu gosto do silêncio. Tanto que o procuro sempre, e abrigo-me nele como quem se aconchega debaixo de uma asa cálida.
Este livro trouxe-me silêncio. Porque quando entrei nas suas páginas o mundo calou-se. Não havia mais nada além das palavras. Que não foram serenas. Nem me trouxeram paz. Nem mesmo o amado silêncio. Estas palavras são mágicas. Rodearam tudo de silêncio para, só elas, serem escutadas.
Avançar nas páginas foi como submergir, como se a leitura fosse criando uma bolha que isola quem lê, como se o livro passasse a ser dono do espaço, do tempo, e até do ritmo. Ler Homens Imprudentemente Poéticos é obedecer. É ler ao compasso imposto, lento, por vezes arduamente lento, como se uma página pudesse durar dias e a releitura fosse uma urgência, uma imposição que, de cada vez, oferecia novas descobertas.
A delicadeza habitual da escrita de Valter Hugo Mãe funde-se de modo perfeito na serenidade do Japão, país que mesmo para a guerra se apoia na concentração, em que a violência é pensada, meditativa, mas não menos mortal. Das artes marciais ao Ikebana os mesmos princípios, mas objectivos tão díspares quanto a morte e a beleza contemplativa.
A simplicidade, quase infantil, é um engodo hábil em que me enredei sem resistência, cedendo com prazer à narrativa poética que, ardilosa e bastante mais complexa do que se suspeita à partida, me foi surpreendendo com ocasionais socos no estômago, dos quais não me queixo. Ao contrário, agradeço. Ou não fossem as leituras dolorosas as que mais marcam, e as que guardo de forma definitiva nas minhas memórias mais singulares.
A viagem é longa. Mas apesar do Japão ser distante as premissas de Homens Imprudentemente Poéticos são comuns a todas as geografias. Há o ódio que, não se sabendo bem porque surge, é alimentado de picardias e provocações numa sucessão de dias que lhe dão uma dimensão irracional. Tão longe pode ir a aversão ao próximo que a morte se afigura como uma possibilidade lógica. A violência é apenas mais um passo. O medo é inexplicável, mas todos o sabemos sentir. Na relação de dois vizinhos que se atormentam de ódios, e vivem entre a defesa e o ataque como num campo de batalha, o medo é inevitável. É como uma corda que num dia é puxada com mais afinco por um, e no outro dá mais metros ao seu inimigo. O receio da corda quebrada é palpável e a espera consome por dentro.
Ítaro e Saburo são os vizinhos que se perseguem e controlam. Com as mesmas mãos com que criam beleza, Ítaro pinta leques muito belos e Saburo produz peças de olaria, procuram concretizar vinganças. As mesmas mentes que pensam beleza planeiam maldades, numa constante dualidade. Ou não fossem eles humanos.
É curioso como um livro que, geograficamente, leva o leitor para longe e lhe apresenta uma floresta feita de silêncios, pode transmitir uma sensação de tão forte proximidade. As diferenças culturais são evidentes, mas nem mesmo os distintos modos de encarar a morte trazem maior ou menor poder sobre o que se teme. Ou sobre aquilo de que se sente falta. E é, por vezes, no escuro que melhor se vê o caminho, escutando os sentimentos ao mesmo tempo que se tapam os olhos.
“A cegueira era, a cada instante, uma expansão”. Citação. Página 205.
Como o próprio Ítaro que, no seu confronto forçado com as sombras, encontra no fundo de um buraco escuro a pessoa que ainda não tinha descoberto na superfície. Há um renascimento no enfrentar do medo, não o subestimando, mantendo o temor e até mesmo criando dependência daquilo que se receia. A viagem do auto-conhecimento é solitária.
Homens Imprudentemente Poéticos descobre-se aos poucos. Exige a entrega que já referi. Espanta pela linguagem destemida, diferente, a que parecem faltar palavras que afinal não fazem falta. Tem a originalidade de quem escreve sem medo do risco. De quem escreve como quer. De quem escreve como sente.
Sublinho e faço anotações nos meus livros. Coloco marcas com a ideia do regresso. Neste caso refreei o impulso, por recear sublinhar o livro todo.
Homens Imprudentemente Poéticos não se esgota nas vezes que se relê. É uma leitura que termina nunca.
(Texto lido na apresentação de Homens Imprudentemente Poéticos, na Livraria A das Artes)
http://planetamarcia.blogs.sapo.pt/ap...
Profile Image for Antonio.
123 reviews58 followers
July 24, 2017
"It was just like defining a pain as a gratitude."

Beautifully sad. In this lovely and tragic story, Valter Hugo tells us about two neighbors: Itaro and Saburo. An artisan and a potter who live in a village near Aokigahar, also known as the Suicide Forest right by Mount Fuji. These two men, however, plan to kill each other.

"We are rational. It keeps the sadness but takes care of the dignity"

Not only hate is shared by Saburo and Itaro, they also share their loneliness after the losses of women to whom they dedicated their lives. Lonelier than before, both must learn how to live with solitude and with themselves.

"Thing which looked lonelier than others. Said her, talking about the corpses of the hanged."

It seems as a simple-not-simple story. Despite that, what makes it so incredible and outstanding is Valter Hugo's writing. He masterfully writes this story using tears and sadness as ink on the paper, without losing its beauty anytime. Yet, some excerpts are harsh; I had to put the book down a few moments to get through its pages. In spite of the pain staged on his words, it was worth it. A magnificent book which I'd recommend to anyone!

"He reminded himself, the beggars were theatrical. They were far from lying. They depicted despair with talent."
Profile Image for Tiago Germano.
Author 21 books124 followers
December 23, 2018
Incomoda-me o fato de a experiência linguística, em Valter Hugo Mãe, estar sempre se sobrepondo à experiência narrativa, como se uma pudesse se sustentar sem (ou não ter nada a ver com) a outra - como se a linguagem fosse o truque de um ilusionista, no fundo apenas distraindo o público para um número que, sem os movimentos performáticos da mão, sem a dança das assistentes de palco, não passaria de um grande engodo. Página a página, me sentia meio enganado com a história da rivalidade entre o artesão e o oleiro como mero pretexto para contorcionismos sintáticos e malabarismos metafóricos. Ao fim, pouco guardei da narrativa: o que ademais já havia acontecido antes com "A Desumanização", que não chegou a me incomodar tanto porque ao menos eu conseguia enxergar os fiordes islandeses ali. Procurar o Japão Antigo aqui, porém, é uma busca tão vã como procurar o sentido nesta ambição de Mãe de desautomatizar a língua portuguesa a cada frase, de forma tão incansável para ele e tão exaustiva para o leitor.
Profile Image for Ana.
746 reviews113 followers
April 2, 2017
Decididamente, gosto dos livros deste rapaz. Embora por vezes exagere no escangalhar do português, tudo acaba por fazer sentido, e a prosa flui sem esforço e quase sempre muito bonita. Embora não tenha gostado tanto deste livro como d' O Filho de Mil Homens, gostei bastante desta história de amor, perda, ódio e reconciliação.
Profile Image for Silvéria.
498 reviews238 followers
February 5, 2018
Sou fã do valter hugo mãe, como qualquer pessoa que me conhece literária e minimamente sabe. Mas este livro não me tocou de igual forma que os outros que li dele. Embora tenha ali uma parte que dá bem que pensar (todos os livros dele dão), a verdade é que houve alturas em que me senti pouco envolvida na história...
Profile Image for Joao Baptista.
58 reviews33 followers
August 24, 2022
Esta foi a primeira vez que li uma obra de Valter Hugo Mãe e confesso que não me agradou.
A obra, que nos remete para um Japão ancestral e místico, apresenta-se como uma espécie de parábola, polarizada entre dois artistas vizinhos que encarnam visões do mundo e formas de ser opostas, mas unidas numa dimensão trágica, em que a vida e a morte, a memória e a realidade, a contingência e a transcendência, o medo e a esperança, o amor e a violência, se vão entrecruzando.
Não foi propriamente a temática o aspecto que me desagradou no livro – embora esteja longe de ser original – mas a forma como VHM o trata literariamente. Aquele que é um traço tão marcante na obra de VHM e que, na opinião de muitos, constitui um dos elementos mais atractivos do seu estilo – uma prosa de índole poética e lírica, uma tendência para a escrita quase aforística e a invenção linguística – foi precisamente o que me entusiasmou menos e que, na realidade, mais me entediou.
Na minha opinião, mais do que poética, a escrita aqui empregada por VHM é artificiosa. Mais do que servir a obra, serve-se da obra, impõe-se ao leitor como uma construção deliberada que nunca permite a naturalidade e a inteligibilidade do discurso, tornando-se cansativa por uma omnipresença que nunca cessa de clamar por atenção. Ao contrário, por exemplo, de um Mia Couto, cuja invenção linguística é de uma genuinidade e de uma naturalidade irresistíveis pelas imagens que cria e pela capacidade de captar numa única (nova) palavra realidades antes apenas descritíveis em extensão, as soluções que VHM vai engendrando (pelo menos nesta obra) não acrescentam nada à língua, dado que se limitam a tentar fazer passar por inovações aquilo que, na minha visão, não são senão exercícios dotados de alguma esterilidade, artificialismos sintácticos através dos quais o autor procura obter certos efeitos que o conteúdo literário não comporta. A impressão com que fiquei foi que a suposta densidade poética do livro é mais fruto dos truques de linguagem do que do seu conteúdo intrínseco.
No final, acho que pouco retirei do livro e creio ser pouco provável que retorne ao autor.
Naturalmente que esta apreciação não pretende ser uma avaliação e os juízos que formulo radicam mais no meu gosto e na forma como o livro ressoou em mim do que numa crítica de índole mais objectiva. É também essa a lógica mediante a qual atribuo 1,5*, que arredondo para 2*.
Profile Image for Carla.
184 reviews25 followers
April 30, 2017
O início da história é interessante e parecia prometedor, pois há, de facto, alguma poesia nas personagens principais: dois vizinhos, um artesão fabricante de leques, e um oleiro, ambos residentes numa aldeia japonesa, perto de Quioto, num tempo imaginário. O primeiro vive com a irmã cega e uma criada, tendo a capacidade de adivinhar o futuro em animais mortos, mas o que prevê são sempre acontecimentos trágicos. O segundo vive com a sua mulher, por quem sente um amor desmesurado, e que tudo faz para a proteger, inclusive plantar um imenso jardim até ao sopé das montanhas, de forma a afastar todos os animais selvagens, sobretudo depois do seu vizinho artesão antever a morte da sua esposa por um destes animais.

Mas com o desenrolar da história, os dois homens e as suas vidas deixam de ser poéticas para passarem a ser cruéis e insanas, pois, após o artesão decidir entregar a irmã a um comerciante rico sem esta o saber, depois de adivinhar que ele próprio iria ficar cego e, consequentemente, deixar de conseguir prover ao sustento da família, e a mulher do oleiro ser morta por um animal selvagem dentro da sua própria casa, os dois homens decidem destruir-se um ao outro por motivos e sucessivas provocações fúteis. E a partir daqui, a história torna-se cada vez mais violenta.

Parece que estamos a assistir ao declínio moral e mental de dois homens, cuja maldade e loucura se apoderam das suas mentes e dos seus corações.

E eu tenho uma interpretação da poesia como uma forma de beleza que anda de mãos dadas com o amor e a bondade e não com o ódio e a maldade. Esteja certa ou errada, é a minha forma de pensar e de sentir, obviamente muito subjetiva.

Outra situação que no livro se mostra ser muito angustiante é a peregrinação de pessoas para a montanha junto da aldeia, as quais vêm de todo o Japão para aí cometerem suicídio, o que realmente acontece, perante a passividade dos aldeões, que me parece fazer parte da cultura do Japão, pelo menos de acordo com a ideia que o autor nos transmite. E isso é para mim muito, muito triste, e muito, muito fatalista.

O próximo livro que vou ler tem de ser menos deprimente do que este. Afinal, estamos na Primavera, altura em que a Natureza traz-nos a vida, o nascimento, o crescimento e a esperança.
Profile Image for Isabel.
313 reviews46 followers
May 25, 2017
2,5*

Quando li "O remorso de Baltazar Serapião", estabeleceu-se entre mim e Valter Hugo Mãe uma certa desarmonia. Depois, quando li "A desumanização", a desarmonia existente adensou-se. Agora, com "Homens imprudentemente poéticos" a desarmonia não se dissipou. Por isso, eu e o Valter Hugo Mãe estamos conversados!
Profile Image for sónia.
226 reviews87 followers
March 8, 2021
Uma escrita que merece ser saboreada e que não deve ser mastigada com pressa. Uma história sobre a solidão e a morte, mas também sobre o amor.

Não gostei tanto como "O Filho de Mil Homens", obra que estreou a minha aventura pela escrita de Valter Hugo Mãe, mas um romance que vale, ainda assim, muito a pena. ❤️
Profile Image for Javier.
222 reviews82 followers
May 4, 2023
Un libro sobre la belleza, desde la belleza, por y para la belleza. No conocía a Valter Hugo Mãe, y a decir verdad las cosas que me atrajeron de este libro fueron su editorial, el título y que estuviera ambientado en Japón. Me parece una obra colosal de un tipo de literatura de la que yo no soy lector, de ahí que "sólo" le ponga tres estrellas. De hecho, creo que si no fuera por la clave nipona, jamás me habría acercado al libro. Por suerte lo hice, y lo que puedo decir es que Hombres imprudentemente poéticos se lee, en realidad, como un extenso poema. Una historia legendaria sobre dos hombres enfrentados por sus maneras radicalmente opuestas de ver el mundo, en la que cada frase encierra un significado y cuya construcción es perfecta. Probablemente, el corpus del texto se puede sintetizar en el hecho de que en él jamás aparece la palabra "no". Como ya digo, a mí es un tema —la Belleza— del que me gusta mucho leer cuando está escrito en forma de ensayo, memorias... aquí confieso que me cuesta más. Con todo, lo recomendaría sin dudar a cualquiera, pues se trata de una obra muy regalable.
Profile Image for Ana Cruz.
49 reviews16 followers
February 4, 2017
"O que se opõe ao amor se afeiçoa à morte".


Esta é uma história essencialmente sobre morte e sobre amor. É uma parábola sobre opostos.
Encantou-me desde a primeira frase ou o primeiro parágrafo o irresistível estilo do autor. De traços contemporâneos, a que a época deve obrigar, é incrivelmente belo. Devo até dizer incrivelmente fresco, de matar a sede, como a menina Matsu diria dos leques do irmão... Matou-me a sede, mesmo tendo lido esta obra no seguimento de louvadas obras clássicas de autores premiados (foram eles Kafka e Hesse) e senti que era possível aprender com cada palavra sobre a Língua Portuguesa e como esta deve ser manipulada, de modo a sublinhar todo o brilho das palavras. Estas palavras juntavam-se em metáforas, convocando ideias que simultaneamente eram colocadas num ponto fulcral da própria narração. Li com um gosto imenso antes de saber o que estava propriamente a ler. Bebi o que se tornou numa preferência pessoal que me conseguiu matar uma sede que nem me apercebi que tinha.
Interessei-me por este livro não só pelo autor que o escreveu, mas também por ter tido conhecimento que tratava uma história passada no Japão. Chegando assim, finalmente, à história em si, esta é magistralmente equilibrada no ambiente em que adquire forma. Sinto que preciso de ler mais livros do mesmo autor para poder ganhar força quanto a esta observação, mas creio que a espiritualidade inerente à cultura japonesa transcende no ambiente criado nesta obra e não só na história em si. Este ambiente sabe igualmente bem tornar-se intenso quando a narração assim o pede, acompanhando o leitor não só pelo meio da aldeia, mas também o espaço interior das personagens.
Nota-se o cuidado em como a história foi construída, pois leva por exemplo muito tempo para dar a conhecer as suas personagens, o qual nunca achei demasiado, mas sim necessário e agradável. Esta precisa também desta base sólida uma vez que é densa no que transmite, colocando-nos perante vários opostos: morte e amor, sensatez e infantilidade, realidade e fantasia, luz e escuridão, solidão e companhia, útil e fútil, belo e feio, novo e velho, próximo e longínquo, felicidade e tristeza... e são igualmente abordadas várias formas de lidar com todos estes aspectos, as quais divergem entre si, consoante as personagens em que nos focamos. Este estudo de antónimos, entre os quais muitas vezes se encontram semelhanças, é feito de forma incrivelmente bela e interessante. Contudo é aqui também que reside a razão de dar a este livro quatro em vez de cinco estrelas. Apesar de me ter imergido neste mundo e especialmente nestas palavras com tanto gosto, não me consegui identificar com muitas das questões levantadas. Senti que olhava maravilhada um obra de arte, mas apenas de forma distante. O estilo chegou a remexer-me as entranhas, como se pretende com a "boa arte", mas a história não. Apesar disso esteve perto, muito perto das cinco estrelas e com certeza reservo esse lugar para uma outra obra do mesmo autor ou até a esta mesma obra noutra fase da minha vida.
Concluindo, Valter Hugo Mãe cria um mundo incrivelmente belo, fantástico desde o modo como é apresentado, até a como é desenrolado nas nossas mentes, chegando a roçar a perfeição. Não é de leitura inteiramente fácil, o que pode contribuir para um gosto acrescido na intelectualidade que requer. Recomendo a toda a gente que se interessar por este aspecto, por literatura em geral e pelos temas abordados, especialmente a dicotomia amor/morte.

Termino com uma citação preferida:

"A felicidade está na atenção a um detalhe. Como se o resto se ausentasse para admitir a força de um instante perfeito."
Profile Image for Ricardo Silvestre.
205 reviews36 followers
February 29, 2024
“(…) do fundo de um cesto tombado, saiu o leque que pintara havia tanto, guardando a imagem das violetas desfeitas. Dissera que era um bocado de sol que aprendera a nadar. Considerou que errara por pintar para si uma ideia morta de Matsu. Tomou o leque e a criada se chegou e lembrou também. A criada declarou: mais me parece o resultado do mundo se as nuvens houvessem de cair para o esmagar.”

Já havia tentado ler este livro no passado, numa altura em que muito ouvi falar acerca da sensibilidade poética inerente à escrita de Valter Hugo Mãe (motivo que me fez comprar logo dois livros do autor) e sobre a grandeza da sua obra. Porém, a trama não me cativou na altura e voltou a não me cativar agora.

O que mais me desagradou foi o facto de achar que o estilo poético aqui usado acabou por se sobrepor à obra, em vez de complementá-la. A meu ver, o floreado utilizado tornou a linguagem pouco natural e até um pouco cansativa, como se a trama continuasse em frente mas sem um rumo concreto.
Também achei que ficaram pontas soltas e por responder ao longo da história: o que aconteceu aos pais do artesão e que animal matou a mulher do oleiro e como conseguiu ele entrar dentro da casa deste?

Por outro lado, gostei bastante da parte dedicada ao artesão quando este é colocado dentro do poço, em total escuridão e onde deverá permanecer durante sete sóis e sete luas. Uma autêntica prova de superação.
Gostei também de aprender mais sobre a Floresta dos Suicídios, local de meditação e morte no sopé do Monte Fuji, no Japão, onde há muitas décadas se refugiam aqueles que ponderam cometer suicídio (o Japão continua a ser um dos países do mundo com a taxa de suicídio mais alta).

Existem autores com os quais não conseguimos criar afinidade e no meu caso, e com muita pena minha, Valter Hugo Mãe é um deles.
Profile Image for Rita (the_bookthiefgirl).
354 reviews84 followers
May 8, 2021
3,5⭐️

“(...) a felicidade está na atenção a um detalhe. Como se o resto se ausentasse para admitir a força de um instante perfeito.”
.
.
No posfácio deste livro , Valter Hugo Mãe refere que , quando visitou o Japão , se sentiu enlevado e maravilhado com a magia do local que oferecia laivos de místico , de espíritos encantados , da magia da natureza e das palavras poderosas e incompreensíveis proferidas pelos anciãos.
.
.
Através da água , do sol, das flores e , ainda mais , da luz e sombra , Valter Hugo Mãe apresenta-nos , num estilo absolutamente poético , o Japão antigo , da era dos samurais e com todos os códigos de honra característicos . O artesão Itako e o oleiro Saburo apresentam -nos um olhar humano e imprudente perante a vida pois , se o amor cega, também tem o poder de curar. Duas histórias semelhantes , que se cruzam de uma forma ridícula apenas porque ambos sentem a tragédia e são capazes do mais ridículo . A menina cega, por sua vez, apresenta-nos outra visão humana e bela da vida.
.
.
O seppuku , ou suicídio ritual , é no Japão visto como algo honroso e , apesar de Valter Hugo não fazer alusão direta a isso , os eventuais suicidas que caminham na floresta e se vêem englobados perante a magia da floresta , trazem outra nota poética ao livro .
.
.
Foi o segundo livro que li de Mãe e só gostei do livro pela escrita , que me fez apontar várias passagens no caderno. Mas não foi um favorito , não chega aos calcanhares de “Filho de Mil Homens” que simplesmente amei e cuja leitura recomendo. A história de “Homens imprudentemente poéticos “ não é clara para muitos , cada um retira daí as suas conclusões , até algo se reter. Mas podemos sempre deleitar e divagar com algumas passagens do livro.🎵
Profile Image for Claudia.
345 reviews207 followers
June 7, 2017
Fico tão feliz por não ter desistido deste escritor. Foram quatro livros antes de me apaixonar por ele. "O Filho de Mil Homens"; "Contos de Cães e Maus Lobos"; "A Desumanização" e "A Máquina de Fazer Espanhóis" fizeram parte das minhas leituras ao longo dos anos, mas ainda não estava convencida. Gostei sem amar. Amei sem saber.

Mais aqui:
http://amulherqueamalivros.blogs.sapo...
Profile Image for Gabriel Franklin.
504 reviews29 followers
March 6, 2025
"E ela continha sempre o choro para se sentir perto de alguma coisa ao invés de muito longe de outra."
Profile Image for Helena Romera.
54 reviews16 followers
December 2, 2016
No lançamento do seu novo livro em São Paulo, Valter Hugo Mãe disse por diversas vezes que este é o seu melhor livro. Sou obrigada a concordar. Apesar de a máquina de fazer espanhóis ser sempre o meu livro preferido dele (e da vida toda), esse livro é o melhor do autor, do ponto de vista da escrita. Está impecável. Ainda mais poético e sabendo usar de uma forma única a língua portuguesa. E acho que também por tudo isso, foi o livro mais difícil dele que já li. É daqueles livros para se ler bem devagar, se permitindo a entrar na escrita e na história, que como os demais livros de Valter Hugo Mãe também tem um tanto de fantasia e de sem-sentido em algumas passagens. Gostei muito, muito mesmo e já fiquei com vontade de ler de novo, pois tenho certeza que vou perceber outras nuances da escrita que não tinha me atentado nessa primeira leitura.
Profile Image for Daniela Reis.
97 reviews8 followers
February 11, 2018
Valter Hugo Mãe é o nome artístico do escritor, editor, artista plástico, apresentador e cantor Valter Hugo Lemos. É um português nascido em Angola, na cidade de Saurimo. Já ganhou vários prémios, entre eles o de Melhor Romance do Ano, em 2012.

Homens Imprudentemente Poéticos é o seu último romance, publicado em 2016 pela Porto Editora. Retrata a história de uma pequena aldeia do Japão antigo e gira em torno da inimizade estabelecida entre dois vizinhos.

Ao escrever esta história, o autor visitou o local que mais foca ao longo das suas páginas: Aokigahara, também conhecida como a Floresta dos Suicidas. As estatísticas mostram que neste local se suicidam centenas de pessoas a cada ano, um ato que as autoridades locais tentam desencorajar mas que continua a existir, tornando a floresta no segundo local mais comum no mundo.

Continua em:
http://menteliteraria.blogs.sapo.pt/h...
Profile Image for Alex Pler.
Author 8 books275 followers
May 18, 2018
"El artesano lo único que hace es educar los materiales hacia una vocación que ellos poseen por naturaleza propia, le había escuchado decir a su padre. El artesano era un cómplice de la naturaleza, un cierto intérprete. Como si avivase la memoria antigua de la cosa inerte. Era necesario que el gesto fuese único, sin repetición, para que la obra compareciese con toda la espontaneidad posible. Los crisantemos, explicaba el padre, deben nacer de verdad en el calmado papel de arroz. Más que pintar, los artesanos siembran. Declaraba solemnemente. Siembra las flores en el papel, hijo. Labra."
Profile Image for Ihes.
141 reviews56 followers
December 7, 2018
Lo externo y lo interno, lo propio y lo ajeno.

Hay una creencia bastante popular que ensalza la lectura por ser un gratificante camino hacia el descubrimiento de lo externo, la visita de otros mundos que dirían los más fantasiosos. Si bien no es algo con lo que esté en total desacuerdo, tal afirmación hace que mediante nuestro pensamiento dicotómico obviemos el viaje interior que suponen las mejores lecturas. Hace poco terminé de leer ‘Un artista del mundo flotante’, del genio Ishiguro, y pocos son los escritores que me han seducido tanto mediante convicciones morales ajenas, las cuales hacen que uno también reflexione sobre las propias, o a realizar un repaso doloroso sobre nuestros recuerdos, decidiendo cuales nos sería beneficioso olvidar.

Por lo tanto considero un ejercicio exiguo y torpe el de resumir las lecturas como exploraciones externas o internas, cuando a mi modo de ver una es rasgo inherente de la otra. Así, el Japón antiguo y místico que Mãe construye en ‘Hombres Imprudentemente Poéticos’ es un lugar extraño, bello, trágico y luminoso; un espacio foráneo que también sentimos hogar. Un libro muy especial que se convertirá en recuerdo que no querré olvidar.

El escritor que mentía a los lectores sobre su procedencia.

Este año, emocionado como estoy por mi inminente viaje al país del sol naciente, he leído muchísima literatura japonesa. No ha sido algo autoimpuesto como hice el verano anterior sino una tendencia lectora que nace de mi interés por la cultura nipona; un interés que me va hacer recorrer más de 10.000km.

En esa inmersión literaria ha habido descubrimientos fantásticos como Mori, Issa, Kawakami o Basho. También he profundizado en escritores que adoro como Kawabata, Mishima, Soseki, etc. Además, esa ausencia de restricciones ha permitido que este año también pertenezca a Rodoreda, Nerval o Peixoto entre otros.

Lo que no me esperaba era que una de las novelas más “japonesas” leídas en esta primera mitad de 2018 haya sido escrita por un compatriota del último escritor citado en el párrafo anterior.

Y es que a pesar de que Valter Hugo Mãe sea un poeta y narrador portugués nacido en Angola el 25 de septiembre de 1971, después de leer su ‘Hombres Imprudentemente Poéticos’ el lector tiene todo el derecho a creer que también se trata de la reencarnación de algún ermitaño monje budista del siglo XII.

En ‘Hombres Imprudentemente Poéticos’ se nos narra la enemistad entre Itaro y Saburo, dos vecinos que conviven en una aldea recóndita de un Japón donde reinan los relatos sobrenaturales. Itaro es un artesano de abanicos que vive con su hermana ciega Matsu y con Kame, la mujer que se encarga de las tareas domésticas. El segundo protagonista, Saburo, es un alfarero que quedó viudo tras la lúgubre y misteriosa muerte de su esposa Fuyo.

Es precisamente esa enigmática muerte la semilla de la que nace dicha enemistad, debido a que el fúnebre episodio había sido previsto por Itaro, quien posee el extraño talento de anticipar el futuro cada vez que mata a un animal.

“Saber aceptar a nuestro adversario con gentileza es una lección que extraigo de la cultura japonesa, la lección que mas me conmueve y que me parece urgente para el mundo radicalizado en el que vivimos.



Este libro trata de la educación de los enemigos. La enemistad educada es la lucidez posible entre personas antagónicas.



Un relato sobre miedos y conquistas graduales que sustituyen la furia por la belleza. Que sustituyen la furia por la gracia, agradecida, de tener lo que es posible tener”

La editorial Rata sabe cómo seducir al lector. El texto que rescato de la portada se aleja de superfluas sinopsis para hablarnos del TEMA. En la introducción intuimos sobre qué nos quiere hablar Valter Hugo Mãe, pero para descubrir la magia con la que todo se lleva a cabo debemos entrar en las páginas que se esconden tras la portada.

Y es que para Mãe el propio lenguaje es una herramienta para tratar los temas que subyacen en la narración. Y cuando hablo del lenguaje como herramienta no me refiero al uso de adjetivos y paisajes que nos evoquen ese Japón idílico donde un sutil viento mece las frágiles y efímeras flores de cerezo y la gente se arrodilla con delicadeza sobre suaves tatamis para elevar sus quebradizas tazas de té. Me refiero, por poner un ejemplo, a que no encontraremos un mísero ‘no’ en sus más de 250 páginas, evitando así el concepto indispensable para la confrontación directa, tan denostada en la cultura japonesa.

Además de la enemistad, la muerte también tiene gran presencia en el relato del portugués. No quiero ahondar demasiado, ya que la magia de leer a Mãe reside en descubrir esas temáticas, por lo que solo diré que la forma con la que el autor trabaja la idea de la muerte está claramente influenciada por la filosofía nipona. Cerca de la aldea del alfarero y el artesano existe un bosque de los suicidios cuyo camino es de una belleza radiante, por lo que esa idea de la muerte no es una abstracción que flota sobre los personajes, sino parte física de la ambientación. Ideas tan japonesas como la dimensión honorable del suicidio, la naturaleza como divinidad abstracta y la inquebrantable voluntad de entregarse a ella también ocupan algún lugar en la historia de Itaro y Saburo.

Hay muchos otros temas en los que me gustaría extenderme, pero creo que lo mágico de este libro está en el descubrimiento que el lector hace de ellos. En las reseñas, como en la literatura, lo que uno calla también puede ser virtud. Quizás más adelante escriba otra entrada sobre el libro, el cual me tiene tan fascinado. Eso sí, sólo será apto para los que ya hayan leído la novela.

Victor Hugo Mae, un hombre imprudentemente poético.

Sí… la vía fácil es la de agarrarse al título de la obra para remarcar la profundidad poética en la prosa del autor, pero en este caso también es un ejercicio honesto. Mãe ha cuidado el lenguaje minuciosamente, tanto que al leer la obra uno es consciente de que cada palabra escogida ha sido así decidido por razones sintácticas, semánticas e incluso musicales. Página tras página, uno siente el meticuloso trabajo de Mãe, tan artesanal como el de su protagonista. Y eso se aprecia gracias al fantástico trabajo en la traducción de Martín López Vega, que él mismo reconoce como la traducción más exigente que ha realizado y en la que más escritor se ha sentido. Por mi parte, para él solo tengo palabras de agradecimiento.

‘Hombres Imprudentemente Poéticos’ es una obra de contrastes ya que a pesar de ser un libro trágico en su esencia (soledad, tristeza, miedos íntimos y sufrimientos universales), Mãe encuentra la belleza en los recovecos de dichos dramas resaltando los momentos de dulzura, pasión y luz que allí se esconden. Mi capítulo favorito, ‘La Leyenda del Pozo’ es un claro ejemplo de ello. Un breve relato en el que Itaro y un animal que desconocemos conviven dentro de un pozo. Es un cuento casi de terror, pero tan hermoso y memorable que lo releí nada más terminarlo.

Las revelaciones y epifanías que se narran no hacen más que reforzar el carácter místico y lírico de ‘Hombres Imprudentemente Poéticos’, un libro con el que he conocido a un autor de una gran destreza psicológica e imaginación prodigiosa. La imprudencia (poética) nos lleva a sendas desconocidas, y a veces éstas terminan siendo las más apasionantes.

El libro es una obra de tantos pliegues y de texturas tan diferentes que a estas alturas sería estúpido intentar presentarme con la frialdad y el distanciamiento que tantos críticos buscan en sus textos. Estoy completamente enamorado de esta obra, de su envolvente narrativa y de las convivencias tan dispares que retrata: la de lo masculino y lo femenino, la belleza y la fealdad, la ternura y lo cruel, la vida y la muerte. Cuando uno termina la obra quiere creer que Mãe tiene razón y que Sartre estaba equivocado, ya que “el paraíso sí son los otros”.
Profile Image for Beatriz Sertório .
122 reviews60 followers
July 3, 2019
Acabei a leitura de "Homens Imprudentemente Poéticos" com uma tremenda vontade de abandonar (mais uma vez) a minha sempre crescente pilha de livros por ler e devorar a bibliografia inteira deste autor que, mesmo antes de ler, já desconfiava que seria amor à primeira leitura. Ler este livro é como caminhar por um sonho, por vezes delicado e de uma beleza que nos arranca um sorriso, por vezes duro e profundamente triste. Tendo como cenário o Japão antigo e, mais precisamente, os arredores da floresta do monte Fugi (também conhecida como a floresta dos suicidas), o imaginário que se desenvolve a partir da relação dos homens que ali vivem com a natureza selvagem da floresta, e os mitos e superstições que se constroem a partir dessa mesma relação se, por um lado, contribuem para o tom surreal que permeia toda a narrativa, por outro, funcionam como uma alegoria riquíssima de toda a humanidade. Perante a crueldade da vida e a implacabilidade da natureza, todos temos a imprudência poética de Saburo que tenta dominar a floresta ao plantar nela flores ou de Itaro que, enfrentando um futuro mergulhado na escuridão da cegueira, continua a pintar leques que ninguém compra ou da menina Matsu que, por ser cega, procura amansar o mundo a partir das suas palavras, tentando, através da beleza, obrigar a natureza e os outros à gentileza. É também isso que o oleiro Saburo faz quando, no final da narrativa, recita um poema enquanto os inimigos "distraídos pela poesia, adiavam todas as decisões". Nessa passagem, Valter Hugo Mãe descreve a capacidade que a arte e a beleza têm de nos arrancar do torpor ou da azáfama do quotidiano e, coincidentemente, faz a melhor descrição que eu poderia fazer do que senti ao ler este livro: "A vida, subitamente, era sem pressa."
Profile Image for Laryssa.
37 reviews20 followers
May 5, 2018
"distraídos pela poesia, adiavam todas as decisões."
Profile Image for maria vitória .
69 reviews17 followers
May 20, 2020
"Quem os descobrisse consideraria serem homens imprudentemente poéticos."
Profile Image for Manuela Barradas.
39 reviews13 followers
January 14, 2017
"A cegueira era uma lentidão na vida das pessoas." - pág. 39
"Esperaram pelo sono para se mudarem para o dia seguinte. Havia sempre esperança na travessia noturna. Cada Deus revia a criação no quieto da noite. Acender os dias era sempre a possibilidade de uma nova criação. Era importante dormir com esperança." - pág. 40
"ela sabia apenas da beleza das palavras porque era com elas que se explicava o mundo. Chegava a gostar das coisas cujos nomes soassem bonitos. Julgava que os nomes acusavam a propriedade do que queriam significar, ainda que tantas vezes tocasse em coisas más, que a picavam, agrediam, procuravam devorar ou a adoeciam. Ainda assim, guardava da beleza uma ideia sobretudo discursiva." - pág. 174
Profile Image for Raquel Lopes.
62 reviews13 followers
March 14, 2017
Foi lido muito devagarinho para ser bem saboreado, na tentativa inútil de o prolongar para lá das 209 páginas que tem. E foi tão bom.

"O amor, na perda, era tentacular. Uma criatura a expandir, gorda, gorda, gorda. Até tudo em volta ser esse amor sem mais correspondência, sem companhia, sem cura. Que humilhante a solidão do amante. O oleiro disse assim: que humilhante o coração que sobra. O amor deixado sozinho é uma condição doente." (pág.132)
Profile Image for Odair De Luccas Junior.
53 reviews4 followers
October 8, 2020
Demorei, não para prolongar a prazerosa leitura que é o Mãe, mas porque minha cabeça estava barulhenta e não conseguia estar. Não sei se é meu livro preferido dele, mas tenho certeza que é o meu livro mais amado. Obrigado Pitz e Bárbara. Como de costume, nota entre 9,7 e 10,2
Profile Image for sophia.
171 reviews88 followers
May 17, 2025
é difícil explicar o que senti lendo homens imprudentemente poéticos. não é um livro que se deixa resumir. não tem pressa, não tem respostas prontas. é como se cada página fosse um gesto contido, um silêncio, uma espera. e, mesmo assim, me tocou muito.

o que mais me marcou foi o quanto esse livro fala da vida através dos pequenos gestos. é uma leitura que se oferece devagar, sem exigir que entenda tudo de imediato. e foi assim que eu segui: me deixando sentir.

a escrita do valter hugo mãe é de uma beleza difícil de colocar em palavras. é suave, mas intensa. tem um cuidado absurdo com cada frase, com cada imagem. várias vezes me peguei voltando para reler um trecho, só pra sentir de novo. tem algo de sagrado nessa linguagem, como se ele tivesse conseguido traduzir uma dor muito antiga e muito humana em poesia.

mas o que me atravessou de verdade foi a personagem cega. há algo no modo como ela vive, nas ausências que ela carrega, na forma como ela se move pelo mundo mesmo sem ver, que me fez chorar de um jeito quieto, profundo. ela me lembrou que às vezes enxergar não tem nada a ver com os olhos. que tem gente que vê com o toque, com o cheiro, com a escuta. e que há beleza, mesmo na escuridão.

a maneira como ela é cuidada e como cuida, mesmo sem perceber, mesmo sem palavras, é de uma ternura que não encontrei em muitos livros. ela é presença e ausência ao mesmo tempo, um silêncio que pesa e também acolhe. e foi justamente ali, nesse silêncio, que eu me senti mais tocada.

esse não é um livro fácil. ele exige dedicação. exige uma escuta atenta, uma certa suspensão da lógica, da expectativa por sentido imediato. e, se a gente aceita esse convite, acaba recebendo algo muito maior: um jeito mais sensível de perceber o mundo.

homens imprudentemente poéticos me fez desacelerar, respirar fundo, prestar atenção no que eu geralmente ignoro. me fez lembrar que há beleza no que é pequeno, no que é contido, no que não se pode explicar. e que, às vezes, é justamente ali que mora a poesia da vida.
Displaying 1 - 30 of 241 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.