O novo romance de Possidónio Cachapa é um olhar contemporâneo sobre o papel da mulher, a expressão da sua sexualidade e a visão que a família e a sociedade mantêm sobre ela à medida que o tempo passa.
Escritor português, Possidónio Cachapa nasceu em em Évora. Após 15 anos de vivência em terras alentejanas, foi para os Açores onde concluiu o ensino liceal. Regressou a Lisboa e licenciou-se em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Partiu para a Suíça, onde viveu durante 6 anos, e aí, paralelamente com a docência da disciplina de Literatura Portuguesa, foi trabalhando as sementes que germinariam nas suas primeiras obras literárias: "O Nylon da Minha Aldeia" e "A Voz Terrível" (não publicado por decisão do autor)
De regresso a Portugal, empenha-se na escrita de argumentos e na realização, sendo-lhe atribuída, em 1996, uma bolsa do Ministério da Cultura. Escreve, então, em 1998, o romance "A Materna Doçura", obra dividida em três partes como forma de sugerir as etapas da vida de uma criança (a personagem principal) que ficou órfã de mãe muito cedo. Como assistente de realização, assina um documentário intitulado Sete Mares que o levou a percorrer vários países, nomeadamente o Egipto, Israel e a Jordânia. Com um curso da Escola Técnica de Imagem e Comunicação (ETIC), Possidónio Cachapa concretizou, assim, outro dos seus sonhos, enquanto homem que gosta de olhar o mundo por trás das câmaras. Exerceu a docência da disciplina de Português no Colégio Moderno, tendo depois enveredado pelas aulas de formação para formadores. Publicou "Viagem ao Coração dos Pássaros", "O Mar por Cima", "Rio da Glória", "O Mundo Branco do Rapaz-Coelho" e o livro de contos "Segura-te ao Meu Peito em Chamas", além de diversos contos publicados em Portugal e no estrangeiro e do livro de crónicas "O Meu Querido Titanic". No teatro é autor das peças "Shalom", "Hipnotizando Helena" e "A Cibernética" (que co-encenou em 2005). Argumentista de curtas e longas metragens, trabalhou ainda como realizador em vários filmes, com destaque para o documentário "Adeus à Brisa", sobre a vida e obra do escritor Urbano Tavares Rodrigues. A sua obra foi adaptada ao teatro, ao cinema e está traduzida em vários países.
Obras NYLON DA MINHA ALDEIA (novela) 1997 MATERNA DOÇURA (romance)1998VIAGEM AO CORAÇÃO DOS PÁSSAROS (romance) 2000 HALOM (teatro) 2001 O MAR POR CIMA (romance) 2002 SEGURA-TE AO MEU PEITO EM CHAMAS (contos) 2004 O MEU QUERIDO TITANIC (crónicas) 2005 RIO DA GLÓRIA (2007) O MUNDO BRANCO DO RAPAZ-COELHO (romance) 2009 EU SOU A ÁRVORE (romance) 2016
Estive de pé atrás com este livro desde as primeiras páginas, mas Possidónio Cachapa já me deu contos intensos em “Segura-te ao meu Peito em Chamas”, um belo realismo mágico com “Viagem ao Coração dos Pássaros” e pura bizarria através de “Materna Doçura”, pelo que só perdi a esperança de que as coisas se endireitassem quando “A Vida Sonhada das Boas Esposas” seguiu realmente o rumo que ameaçava parodiar desde o início: os romances de Corín Tellado. No final de um livro, passo sempre os olhos pela parte dos agradecimentos, já que pode lançar luzes tanto sobre a obra como sobre o carácter e as circunstâncias de vida do autor, como tal, acho que faz todo o sentido que Cachapa agradeça às participantes seniores do seu workshop de escrita, porque “A Vida Sonhada das Boas Esposas” parece um pastiche de várias experiências de vida, mas a tresandar a amadorismo e a clichés. O que detesto mais do que uma paródia que não sabe refrear-se? Isso, clichés. Eu, que nem acredito na necessidade do "lugar de fala" para tornar uma história válida, que creio que um heterossexual pode escrever sobre a experiência gay, que um latino-americano pode escrever sobre um sueco, que um homem pode escrever do ponto de vista de uma mulher, diria que se querem ler sobre a sexualidade e a vida amorosa das mulheres entradotas, optem pela voz da experiência: “A Carne” de Rosa Montero ou “Mulheres da Minha Alma” de Isabel Allende, por exemplo, ou até mesmo por um homem que escrevia sobre mulheres com um bisturi, Tennessee Williams em “A Última Primavera” (“The Roman Spring of Mrs. Stone”).
Possidónio Cachapa. Este nome não se esquece. E os romances que dele li também não. Gosto muito! Mais ainda, depois de ler este romance.
Escrita fluída, irónica e bem humorada, que capta a alma lusa sem que nada passe despercebido, numa linguagem requintada e prolífera, em que conta uma história incrível de uma mulher apagada que fica viúva de um déspota. Depois... a vida acontece.
Neste romance pinta um quadro muito realista da vida de muitas famílias, na relação com os filhos adultos, no papel secundário da esposa ou na frugal existência para todos os caprichos satisfazer aos filhos. Toca o leitor pela proximidade, em que a empatia e o repúdio pelas personagens é garantia de sucesso. O realismo mágico surge nos sonhos que refletem os medos.
A capa é fantástica e está a par com história que é uma lição para todos nós.
“A vida sonhada das boas esposas” de Possidónio Cachapa encontrava-se nas estantes das novidades da Biblioteca José Saramago, e foi o nome do autor que me chamou logo à atenção. Não fazia ideia que história era, e nem sequer a sinopse li. Lancei-me à leitura às cegas, e acabei por ser surpreendida.
"Chegara aos sessenta e cinco anos, em breve sessenta e seis, profundamente isolada. Sabia que deveria ter criado algum espaço para isso, ao longo dos anos, ter feito coisas sozinha, dar-se com gente que tivesse mais a ver com ela, procurar pessoas mais ao seu jeito. Mas deixara passar os dias, deixara esmorecer a vontade, enquanto os anos se sumiam, bolo de aniversário atrás de bolo de aniversário. Fora educada para acreditar que o marido e os filhos, bons ou maus, teriam de lhe bastar até ao fim."
Cachapa fez, neste livro, o exato retrato de vida de toda uma geração de mulheres que se anularam enquanto seres, para benefício da família. Nesse sentido, é um livro muito empolgante. Contudo, para mim, a metamorfose de Madalena não deveria ter estado tão interligada a terceiros.
Este livro foi uma desilusão. Apesar de ter retratos bem desenhados, cansou-me tanta mediocridade. Talvez seja o problema de quem escreve um Materna Doçura. Que me perdoe o Possidónio Cachapa, mas fico à espera de melhor.
Entre duas a três estrelas. Arredonda-se porque os primeiros capítulos são muito bons, porque a mensagem é positiva e inspiradora. Mas, começa tão bem que depois deixa alguma desilusão, tanto no conteúdo como na forma. Quase parece aqueles livros em que autores diferentes escrevem diferentes capítulos!
Leitura leve e bem humorada, focando os temas da mulher, a familia e a sexualidade. Dado recorrer a muitos clichês não será do agrado de todos, julgo eu, mas eu gostei, achei inteligente, divertido e simultaneamente inverosimil e realista. E constatei a grande versatilidade deste escritor, pois este livro é bastante diferente do outro que li do mesmo (o Mar por Cima) mas ao qual dei a mesma classificação, o que é bom sinal.
É quando se vê a braços com uma viuvez não antecipada, que Madalena percebe que o defunto marido não seria merecedor, sequer, de uma milésima parte daquilo que ela lhe foi dando ao longo da vida. Os filhos, caprichosos e superficiais, subtraíram-lhe tempo e esperanças à medida que foram crescendo e, mais do que nunca, mostram-se agora indisponíveis para abdicar desta verdadeira “criada para todo o serviço”. Aos 66 anos, portanto, a mulher olha friamente para trás, percebendo que há muito pouco de seu num tempo que é já passado. Como um punhado de areia numa mão fechada, a vida escapa-se rapidamente e não há um minuto a perder se quiser ainda viver a verdadeira felicidade.
Depois de um primeiro contacto com Possidónio Cachapa, através desse extraordinário exercício de escrita que é “Eu Sou A Árvore”, sou de novo convidado a mergulhar no mais profundo da condição humana através de uma fábula dos tempos modernos onde os sonhos se tornam reais e as vidas, libertas das amarras cruéis do dever e das convenções, se entregam, em toda a liberdade, à plena fruição. Acompanhando uma linha narrativa apenas simples na aparência, o leitor mergulha na história de Madalena para descobrir que nunca é tarde para, nas asas de um sonho tornado real pela força do querer e pela coragem do ser, saborear um pôr-do-sol glorioso com alguém que nos estima ao nosso lado.
Há um mérito enorme neste livro de Possidónio Cachapa e que se prende com a própria noção de literatura. Ao mesmo tempo que torna reais, aos olhos do leitor, sonhos eternamente adiados, o autor acrescenta um conjunto de pinceladas negras a uma tela onde parecia imperar o cor-de-rosa. As águas sobre as quais desliza o barco de todos os sonhos apenas se mostram calmas à superfície, os redemoinhos negros e densos sempre presentes e prontos para arrastar para o fundo os mais incautos. “A Vida Sonhada das Boas Esposas” não é, de modo algum, um livro simples, daqueles que não obrigam a pensar, antes se mostra extraordinariamente profundo na mensagem que pretende transmitir e que encontra eco, se não no todo pelo menos em parte, no viver e no sentir de cada um de nós.
Estreia na leitura de Possidónio Cachapa que se revelou um autor agradável de conhecer. Escrita fluida e leve, com a narrativa organizada em capítulos curtos que ajudam à experiência da leitura. O primeiro capítulo começa com um sarcasmo que aumentou a expectativa sobre a representação das mulheres, no entanto, o desenrolar do livro acaba por não me transmitir essa sensação sarcástica, mas uma narrativa bastante previsível. O capítulo “Para lá desse caminho” revela-se uma grande surpresa porque traz uma lufada de humor absurdo que torna a leitura muito divertida e nos faz chegar ao final do livro a rir.
Excerto «Nada se faz sem um preço. Estou alegre e triste ao mesmo tempo. Percebo que as coisas são assim, mas…», tocou de novo no mesmo lugar. «Doí.» (…) «Olhe, querida, o que dói mesmo é ter pedras nos rins. O resto, a menina respira um bocadinho, faz cara bonita e passa para o balcão seguinte.»
Há livros que nos surpreendem quando menos esperamos. Este foi assim. Comecei sem grandes planos… e li tudo num dia.
“A Vida Sonhada das Boas Esposas” fala de tempo perdido, de identidade adormecida — e da possibilidade de, mesmo tarde, voltar a escolher. É um livro sobre mulheres que se moldaram para caber na vida dos outros — e que um dia se permitem querer mais.
No centro da história está Madalena: mulher, esposa, mãe — durante anos, tudo o que se esperava dela. Agora, viúva, confronta-se com o vazio… e com um segredo que muda tudo. Em busca de algum sentido, embarca numa viagem que a leva para longe — e a obriga, também, a olhar para dentro.
Um livro simples. Sentido. Sem peso a mais. O primeiro que li de Possidónio Cachapa. Há autores que nos ganham assim — com uma história só.
Esta foi a minha estreia com o escritor português Possidonio Cachapa e gostei muito da escrita irónica e bem humorada. O livro relata a história da Madalena que até à morte do marido, viveu para o agradar, e para criar os filhos caprichosos e superficiais, quase se anulando como pessoa. A vida de Madalena mudou radicalmente e renasceu para a vida no momento em que ficou viúva. Resolveu aproveitar a vida, começou a pensar mais nela e menos nos outros e sentiu a liberdade que nunca tinha sentido enquanto foi casada. A historia faz-nos refletir sobre valores familiares, amizades e ao que devemos dar, ou não importância no decorrer dos nossos dias.
💡 Hoje partilho a minha opinião de "A vida sonhada das boas esposas" 📚 de Possidónio Cachapa
❇️"Só no momento em que, já no cemitério, fecharam a urna e percebera que seria a última vez que veria o copo do marido sentira que o pranto que lhe saía era realmente sincero. Chorava, não tanto por ele, mas mais por ver desaparecer uma coisa a que se habituara."
👉 Posso adiantar que é um livro pequeno, simples, fluido mas que a sua mensagem mexeu muito comigo 🤔
Uma história bastante peculiar, com o seu lado e enredo entre o fantasioso e praticamente impossível de acontecer em alguns momentos. Ainda assim, rendeu umas boas gargalhadas. Grande Madalena! 🤣
A chamada comédia romântica, sem grande narrativa, personagens light e uma Madalena viúva, renascida das cinzas e da prisão de ter sido sempre aquilo que os outros queriam. Se é para envelhecer que seja como a Teresinha, a Emília e a Madalena a enviar selfies de Marbella.
Um início interessant e promissor. Infelizmente transformar-se num pastiche infeliz de romances de cordel e não passa disso. A quantidade de generalizações também é incrivelmente irritante. Pena.