As vítimas de todos os totalitarismos têm em comum, entre outras coisas, a triste prerrogativa de condenar sem apelo os seus algozes junto com suas ideologias. O tribunal que estamos propondo deveria ser competente para examinar a possibilidade de uma articulação de qualquer teoria filosófica com o crime político e não apenas daquela desenvolvida por Heidegger. Nenhuma filosofia particular deveria ser considerada acima de tal tribunal. Qualquer tentativa de propor tribunais especiais para julgar apenas certas filosofias, poupando outras, feriria o espírito do empreendimento filosófico que sempre se moveu no domínio da generalidade, e equivaleria à instrumentalização ideológica da crítica filosófica. Pelo mesmo argumento, cabe devassar não apenas todo pensamento filosófico mas toda a cultura ocidental.