Custódio é um camponês beirão que decide vir para Lisboa estudar. Lurdes, uma lisboeta da Mouraria que sempre conseguiu recompor-se dos duros golpes da vida. Quando o caminho dos dois se cruza, a vida de ambos mudará para sempre. A sua história inicia-se em Portugal e estende-se, depois, a uma Espanha mergulhada na Guerra Civil. É aí que Custódio e Lurdes vão entrelaçar os seus destinos com três outros personagens: o violento Zanelli, o tenente fascista para quem o brado ¡Viva la Muerte! é um lema de vida; a corajosa Maria del Carmen, uma madrilena das classes altas que se guia por princípios de humanidade num tempo em que a moderação desapareceu; e o sagaz Vorobiov, coronel soviético profundamente desiludido com os rumos da revolução bolchevique. Vento de Espanha é um romance sobre amor e coragem, arrependimento e expiação. É também uma impressionante viagem à década de 1930. Seja nos bairros populares de Lisboa, seja na Espanha rasgada em dois, o leitor visitará as ilusões e desilusões políticas daqueles anos de ferro. E irá ver, acima de tudo, os encontros e desencontros das pessoas num mundo em profunda convulsão.
JOÃO PEDRO MARQUES nasceu em Lisboa, em 1949. É desde 1987 investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e foi Presidente do Conselho Científico desse Instituto em 2007-2008. Doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou a cadeira de História de África durante a década de 1990, é autor de dezenas de artigos sobre temas de história colonial, e de vários livros, dois dos quais publicados em Nova Iorque e Oxford (The Sounds of Silence, 2006, e Who Abolished Slavery? A debate with João Pedro Marques, 2010).
Imaginem que um simpático senhor do vosso quotidiano, não propriamente amigo ou família mas alguém por quem se nutre elevada estima distante, decide abordar-vos para que leiam um seu manuscrito, fruto típico da serena galhardia de aposentado com inclinação para a história, a leitura e a escrita.
Lêem o manuscrito, e sentem a designada fremdschämen enquanto vencem o torpor intelectual de virar pouco mais de trezentas páginas de um texto eivado de amadorismo, sem alma e/ou voz, onde pululam elementos de pesquisa carreados com a elegância de um elefante em loja de porcelanas. No final devolvem o manuscrito a seu dono e, tentando não dinamitar as vossas boas relações, lançam um «depois de um par de anos de boa edição, com alguns cortes (talvez mesmo de personagens), tem aí coisa para enviar a uma editora, Sr. Indivíduo!»
Agora imaginem que esse tal «manuscrito» é livro editado pela Porto Editora e que o Autor publicou quatro romances históricos antes deste.
Li os cinco romances históricos de João Pedro Marques, sendo que nos quatro primeiros a ação decorre durante o século XIX, tendo como pano de fundo Portugal, África e Brasil, e este último "Vento de Espanha", passa-se em Portugal (Lisboa e uma aldeia na Serra da Estrela, do distrito da Guarda, completamente isolada do mundo, durante os anos 30 do século XX e no período da ditadura salazarista) e em Espanha, no decurso da Guerra Civil travada por republicanos e fascistas comandados pelo temível General Franco entre 1936 e 1939.
Como nos seus outros livros, o escritor João Pedro Marques mostra as suas capacidades e trabalho de pesquisa, descrevendo-nos com rigor como era a vida em Lisboa e no interior de Portugal nos anos trinta, com as iniquidades entre pobres e ricos, entre o interior e a capital, entre homens e mulheres, o nascimento e crescimento dos ideais comunistas como um mundo ideal e justo de igualdade e como se a U.R.S.S. fosse o melhor dos países para se viver.
O autor consegue também descrever com rigor e num registo quase cinematográfico o início e a progressão da Guerra Civil espanhola, dando-nos a conhecer a origem do conflito, os motivos do lado republicano e da fação fascista, as principais batalhas pela conquista das cidades, os fuzilamentos e atrocidades cometidos por uns e outros, o cerco a Madrid pelos fascistas e a resistência nesta cidade pelos combatentes e habitantes da mesma, a participação das brigadas internacionais constituídas por jovens idealistas e mal preparados do lado republicano, o apoio organizado e eficaz dos fascistas alemães e italianos às forças de Franco, bem como a intervenção dos portugueses nesta guerra fratricida.
E contrariamente a outros livros que li sobre este tema, João Pedro Marques foi quem descreveu de uma forma mais isenta este conflito, não poupando nenhuma das fações desta guerra que dividiu amigos, vizinhos e famílias, os quais se colocaram em lados opostos, pois referiu tanto as atrocidades cometidas por fascistas, como por comunistas, anarquistas e membros de partidos e sindicatos, apesar de os primeiros terem sido bem mais cruéis.
Foi uma época de posições extremadas, onde, como algumas personagens referem, os instintos e as emoções mais básicas se sobrepuseram à razão e à moderação.
Além disso, o escritor, a par com os acontecimentos históricos, soube criar personagens extraordinárias e complexas, com valores e objetivos de vida muito diferentes, e cujos ideais vacilavam perante a realidade crua dos factos com que eram confrontados: Custódio, o camponês beirão que veio para Lisboa com o objetivo de estudar e de ter uma vida melhor que a da sua família, mas que, por desentendimentos amorosos, se viu enredado na Guerra Civil espanhola, do lado dos fascistas; Lurdes, uma lisboeta que por sofrer de discriminação enquanto mulher e costureira pobre, abraça os ideais comunistas, e vai para Madrid ser condutora de ambulâncias e enfermeira do lado republicano; Carmen, uma madrilena rica, de direita, mas moderada, que, por a família ser fascista, sofre perseguições por parte dos radicais republicanos; e o Coronel russo, Vorobiov, enviado por Estaline para Espanha para auxiliar as forças republicanas que, após ter participado na revolução de 1917 na Rússia junto de Lenine, acreditando nos ideais comunistas, após os excessos do primeiro e depois de Estaline, com a execução de tantos camaradas seus, e de ver que os camponeses e operários soviéticos não melhoraram assim tanto as suas condições de vida, se torna num homem cético quanto ao regime comunista.
Gostei também muito das reflexões das personagens acerca do indivíduo ser colocado numa posição de inferioridade face ao coletivo e às massas de acordo com os ideais comunistas, o que leva ao desrespeito dos direitos humanos.
Romance histórico com personagens portuguesas na guerra civil espanhola. Descrições deliciosas da época das cidades de Lisboa e de Madrid. Escrita fluida e muito eloquente.
O autor sabe como contar uma história. Mas a politização da narrativa é enjoativa. Não há paciência para tanta inculcação de valores políticos, a demonização de uns a par da absolvição de outros, o mundo a preto e branco. Os bons e os maus. Sendo que no mundo real, os bons são os piores. Viva a União Soviética! Viva o Comunismo! Ao ler pensei que estava a esfolhear o Pravda, apesar das tímidas tentativas do autor de isentar a narrativa.
Um óptimo livro, muito bem bem documentado e muito bem escrito. Esclarecedor sobre alguns terríveis aspectos da guerra civil espanhola, assunto que tem sido pouco abordado pelos nossos escritores. A fundamentação histórica, muito bem alicerçada, é garantida pelo curriculum académico do autor, o que nem sempre acontece no género romance histórico.
Este livro aborda muitos temas interessantes e muitas vidas reais. O interior do nosso país esquecido. Lisboa nos anos 30. A guerra civil espanhola e a esperança na mudança de uma sociedade. A perseverança de uma mulher que quer lutar por essa mudança. Vou procurar mais livros do autor pois gostei da sua escrita fluída.
Adorei!! Muito bem escrito, num estilo rápido e envolvente. Fornece um bom retrato do que foi a guerra civil em Espanha ilustrando com rigor e com cor as razões, visões e ações de ambos os lados da contenda. Muito bom. Recomendo vivamente a leitura.
Mais um excelente romance com um retrato bastante marcante de uma fase negra da História de Espanha. Como sempre o autor relata-nos os factos com grandes profundidades e sentimento. Vamos esperar pelo próximo romance histórico.
O livro está maravilhosamente escrito e demonstra muito bem o que foi a Guerra Civil Espanhola…li a maior parte do livro de férias em Espanha (mas longe de Madrid) no entanto sendo uma história baseada em fatos reais algumas partes tornaram-se algo penosas e por isso demorei tanto a acabar de ler.
The book is full of unexpected and brutal life changes of the characters, but they seem to deal with those easily which sometimes is strange.
On the other hand, it's a great book for those who love history: rich in details about Salazar and Fraco's dictatorships; very good description of Lisbon and Madrid on 30's and 40's decades.