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Cadernos de Bernfried Järvi

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Em CADERNOS DE BERNFRIED JÄRVI Rui Manuel Amaral aventura-se pela primeira vez no romance. Aqui, já com a desenvoltura que uma ficção longa requer, acompanhamos as peripécias quotidianas de uma personagem inverosímil, isto é, plenamente literária. Temos aberto o caderno de Bernfried e aí chegados assistimos aos relatos de dias, de sonhos, de amores e desamores, de cafés e de gente peripatética que anima, em jeito festivaleiro, as páginas deste livro que nos faz recordar esses amarelecidos volumes onde à inteligência narrativa podia andar de mão dada a faceta mais lúdica da criação.

170 pages, Paperback

Published December 1, 2019

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Rui Manuel Amaral

14 books10 followers

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Displaying 1 - 7 of 7 reviews
Profile Image for la poesie a fleur de peau.
508 reviews63 followers
April 25, 2020
"Uma vez por outra lá vem uma onda súbita e generosa: umas linhas preciosas. A máquina a arfar do trabalho, como um animal. Mas no dia seguinte tudo volta ao mesmo: duas ou três frases muito bonitas, mas de uma beleza estéril. Duas ou três ideias luminosas, mas com a azulada melancolia de um tom menor."

"Altas vão as horas. A noite profunda é um olho imenso a observar-me por cima dos telhados. No silêncio, apenas o relógio insiste no seu incansável e monótono tiquetaquear. Deitado de costas, observo a minha insónia a flutuar no escuro."

Excertos de "Cadernos de Bernfried Järvi".

***

A minha relação com este livro teve um início algo curioso: foi um dos livros que decidi comprar quando as livrarias começaram a fechar porque o seu nome ressoava-me na memória — alguém (uma pessoa que mal conheço) se tinha dedicado a recomendar-me este livro de forma veemente e apaixonada, e essa recomendação surtiu efeito. Embora o tenha lido de forma espaçada no tempo, creio que se trata de um livro que se lê rapidamente; as suas passagens oscilam entre o devaneio onírico do protagonista, os seus diálogos interiores, a excentricidade de algumas personagens (e talvez excentricidade nem sequer seja o termo apropriado... unicidade, singularidade, talvez seja mais por aí. Não obstante, este aspecto agradou-me muito, ganhei uma simpatia especial por Pagreus) e o nascimento/morte de um amor. E no meio de tudo isso fui ainda surpreendida por um detalhe belíssimo, que funciona incrivelmente bem na estrutura do livro: de quando em vez, entre parêntesis rectos, estruturados em forma de pergunta - resposta, são destrinçados fenómenos, são explicados conceitos, com um nível de rigor crítico e científico que parece contrastar com a restante narrativa... mas que faz o contrário, dá-lhe um aspecto de coesão interna, de objectividade, de direcção...

De entre os vários detalhes que me agradaram neste livro, um deles encontra-se na exposição do amor, os pensamentos românticos, as cartas e afins; há uma tentativa constante de Bernfried se expressar e um constante movimento de auto-censura, de encontro com as limitações da linguagem e as expressões escritas e orais que parecem ficar aquém dos sentimentos. Adoro as cartas/inícios de cartas rasuradas... e não pude deixar de sorrir, pensando inevitavelmente em Álvaro de Campos...
"Todas as cartas de amor são
Ridiculas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridiculas."
Profile Image for josé almeida.
358 reviews18 followers
April 1, 2020
Quem escreve (n)o caderno pretende concretizar um sonho: gerar um livro, um livro especial, o livro que é todos os livros, o livro-Babel — e, no fundo, o livro que é nada. O seu autor tem nome ("chamo-me Bernfried Järvi como toda a gente", mesmo Erik Satie o teria afirmado), habita a cidade de Aachen e encontra-se com os seus amigos Milo, Marcus, Pagreus, Benjamin, Helmut e alguns mais (todos com algo de Kafka) nos mesmos cafés de sempre — e que, curiosamente, são o Ceuta, o Aviz e o Piolho. Sim, a verdade intuída é confirmada no final: das quatro estradas que saem de Aachen, uma atravessa a Europa inteira e acaba numa cidade ribeirinha no norte do país. Assim, o caderno conta-nos a vida de um empregado de escritório que tem sonhos, muitos sonhos, e os anota, numa deambulação pela cidade que é uma espécie de peregrinação interior, evocando um Bloom que poderia ter abandonado a Dublin do Ulisses de Joyce para chegar ao Porto e perder-se no labirinto de ruas de um desassossego que é também o de um outro livro tão nosso. À semelhança de outros cadernos (como aquele das memórias, pensamentos e meditações parisienses do jovem Brigge segundo Rilke), a narrativa não é sequer interrompida por capítulos, desenrola-se como uma reflexão sob a forma de um longo poema em prosa, onde se vão sucedendo as histórias banais e quotidianas de amizades e amores — e o livro sobre o livro-a-haver vai assim nascendo sob o nosso mais desprevenido olhar. Ocorre-me ainda que o processo remete igualmente para Sterne e a vida e opiniões do seu Tristram Shandy, onde o que parece real (no Porto ou em Aachen) é entrecortado por sonhos, anotações, aforismos, citações - e tudo nos lembra que a literatura é afinal isto: o esculpir de um texto incomum a partir de palavras comuns, e nos faz recordar a célebre frase de Mallarmé: o mundo existe para chegar a um livro. Até mesmo ao livro que é nada.
Profile Image for Jorge Palinhos.
Author 22 books8 followers
March 7, 2020
O Rui Manuel Amaral é dos escritores mais generosos que conheço. Generoso com os outros e também para com a própria literatura, em que vive e respira como poucos.
Cadernos de Bernfried Järvi é o seu primeiro alegado romance. Seria melhor chamar-lhe prosa longa, eventualmente narrativa, mas mais apropriado ainda dizê-lo um delírio literário. Dos prodigiosos.
É que o Rui é dos grandes sabotadores da narrativa do nosso país. Há quem conte histórias, há quem lavre poemas e há outros - uns poucos - que se dedicam a dinamitar as histórias em que nos escondemos. E por isso esta sua obra está cheia de curvas inesperadas, travagens bruscas, lombas existenciais que desconcertam o leitor e o desarmam para todas as maldades que o livro lhe tenta infligir. E não são poucas, nem inocentes.
Nesta maravilhosa obra navegamos pelas ondulações de um café banal que podiam ser dois, que podia ser no Porto ou em Aachen; atravessamos uma  história de amor que parece não interessar aos próprios amantes. Em suma: sentimos na pele o unto da banalidade e espantamo-nos como ele pode ser imprevisto, fascinante, espantoso até.
A ficção normal promete-nos o engodo do escapismo, de horas despidas de realidade e vida. Pelo contrário, o Rui liberta-nos da tirania da ficção, dos seus logros e seduções, e mostra-nos que não há sítio mais bizarro do que a vida inundada da literatura que o Rui devora.
Bem-dito seja.
Profile Image for José Pereira.
385 reviews21 followers
October 17, 2025
A história do módico escritor-narrador que vive num mundo vago de personagens charmosamente inverosímeis e que nos chega por clínicas vinhetas já foi feita demasiadas vezes. Além disso, é um projeto algo preguiçoso.
Mas a verdade é que RM Amaral sabe construir uma frase e escreve sem pretensões. A prosa delicada e levemente trocista é suficiente para tornar o livro uma leitura prazerosa.
Melhor livro português pós-015 que já li.
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