Um escritor decadente enfrenta uma crise financeira e emocional enquanto o Rio de Janeiro colapsa à sua volta. Tragicomédia urgente, o novo romance de Chico Buarque, o primeiro depois da atribuição do Prémio Camões, encara de frente o Brasil do agora.
Autor de um romance histórico que fez furor nos anos 1990, o escritor Manuel Duarte passa por um deserto criativo e sentimental. Dividido entre várias ex-mulheres, espartilhado por pesadas dívidas, surpreendido por um filho de quem vai aprendendo a ser pai, Manuel Duarte bate perna nas ruas do Leblon no intervalo das horas em frente ao teclado, desesperando por um novo livro. O pano de fundo é um Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo de feridas sociais a cada dia mais ostensivas; cenário maior onde se desenrolam as feridas individuais das personagens, que juntas compõem um diário em que se procura fazer sentido do tumulto do presente.
Ao seu melhor estilo, Chico Buarque esfuma as fronteiras entre vida, imaginação, sonho e delírio, e constrói uma narrativa engenhosa, tão divertida quanto trágica, em cujas entrelinhas se descortinam as contradições de um país ameaçando despedaçar-se, assim como as deliciosas incoerências e ilusões da gente como nós.
Francisco Buarque de Hollanda is popularly known as Chico Buarque, is a singer, guitarist, composer, dramatist, writer and poet. He is best known for his music, which often includes social, economic and cultural commentary on Brazil and Rio de Janeiro in particular.
Son of the academic Sérgio Buarque de Hollanda, Buarque lived in several locations throughout his childhood, though mostly in Rio de Janeiro, São Paulo and Italy. He wrote and studied literature as a child and came to music through the bossa nova compositions of João Gilberto. He performed music throughout the 1960s as well as writing a play that was deemed dangerous by the Brazilian military dictatorship of the time. Buarque, along with several of his fellow musicians, were threatened by the government and eventually left Brazil in 1970. He moved to Italy again. However, he came back to Brazil in 1971, one year before the others, and continued to record albums, perform, and write, though much of his material was not allowed by government censors. He released several more albums in the 1980s and published three novels in the 1990s and 2000s, all of which were acclaimed critically.
Buarque came from a privileged intellectual family background—his father Sérgio Buarque de Holanda was a well-known historian, sociologist and journalist and his mother Maria Amélia Cesário Alvim was a painter and pianist. He is also brother of the singer Miucha. As a child, he was impressed by the musical style of bossa nova, specifically the work of Tom Jobim and João Gilberto. He was also interested in writing, composing his first short story at 18 years old[1] and studying European literature, also at a young age.[2] One of his most consuming interests, however, was playing soccer, beginning at age four, which he still does today.[2] Though he was born in Rio de Janeiro, Buarque spent much of his childhood in Rio de Janeiro, São Paulo and Italy.
Before becoming a musician, Buarque decided at one point to study architecture at the University of São Paulo, but this choice did not lead to a career in that field; for Buarque often skipped classes.
He made his public debut as musician and composer in 1964, rapidly building his reputation at music festivals and television variety shows when bossa nova rhythm came to light and Nara Leão recorded three of his songs.[3] His eponymous debut album exemplified his future work, with catchy sambas characterized by inventive wordplay and an undercurrent of nostalgic tragedy. Buarque had his first hit with "A Banda" in 1966, written about a marching band, and soon released several more singles. Although playing bossa nova, during his career, samba and Música Popular Brasileira would also be widely explored. Despite that, Buarque was criticized by two of the leading musicians at the time,Caetano Veloso and Gilberto Gil as they believed his musical style was overly conservative.[3] However, an existentially themed play that Buarque wrote and composed in 1968, Roda Viva ("Live Cycle"), was frowned upon by the military government and Buarque served a short prison sentence because of it.[3] He left Brazil for Italy for 18 months in 1970, returning to write his first novel in 1972, which was not targeted by censors.
Continuo a gostar mais de Chico Buarque como músico (e gosto mesmo muito) do que como escritor. Essa Gente é sobre um escritor em crise (um clichê), sua decadência e suas mulheres. Lê-se bem e aborda temas interessantes e atuais do Brasil de hoje, como o racismo, a violência doméstica, a caça à esquerda e a fuga dos intelectuais para Portugal. Como gostava que estes temas tivessem sido mais explorados!
Nossa, realmente não entendi o hype que esse livro gerou quando foi lançado... Vi muitos comentários falando que era um retrato do Brasil atual, mas o aspecto social e político não passa de um comentário marginal, quase como uma marca de tempo, como o seria o uso de uma gíria ou de uma piada ou referência claramente datada. O livro pra mim fala apenas dos white people's problems de um homem carioca de classe média alta que age como um adolescente apesar de ter 66 anos. E esse perfil de personagem está longe de ser capaz de fornecer um retrato de fato representativo e significativo do momento que enfrentamos. Preguiça.
Escrito na forma de missivas, com o peculiar estilo que mescla ficção e realidade, Essa Gente é um leitura agradável e rápida (li tudo de uma vez, num voo de pouco mais 3h de duração).
Chico consegue trazer de tudo em seu novo romance: Milícia, porte de armas, dependência em opioides, falta de segurança, menções a terraplanismo, e até aumento do movimento monárquico.
Tem de tudo e mais um pouco - algo escrito, algo insinuado. Por vezes passando a impressão de um velho desolado e até confuso ao ver as páginas de notícias, e o mundo ao seu redor.
O que transparece é uma essência ora de velho amargo (remoendo as intrigas e infelicidades da política do Brasil), ora de velho faceiro (com suas alusões genitais e sexuais).
Mas, o tempo todo, Chico segue sendo um velho escritor. Mulherengo como Duarte? Não sei - para mim, ele parece continuar em uma estável e duradoura relação com a Poesia.
Cada octubre, cuando está por anunciarse el premio Nobel de Literatura, tuiteo lo mismo: "así como se lo dieron a Bob Dylan, dénselo también a Chico Buarque". No hace falta que yo diga que es un genio, autor de unas canciones hermosas, tremendas. Lo mismo con sus libros, no por nada ya recibió el premio Camoes, el Cervantes de la literatura portuguesa.
En fin, este párrafo introductorio lo escribo porque la verdad es que no conecté mucho con este diario de un escritor más o menos parecido al autor. Lo que sí, mientras lo leía podía percibir el estupor con el que la progresía brasileña habrá recibido el triunfo de Bolsonaro en las elecciones. El mismo que sentiríamos los argentinos con Milei, los españoles con Vox y el que sintieron los lectores del New York Times con Trump. Ese estupor es el que tono que recorre todo el libro, lo mismo que los chistes - sobre la posesión de armas, por ejemplo.
Admito que me mandé a leerlo en portugués y creo que entendí todo, pero no es lo mismo. La lectura se me hizo menos fluida y eso complotó contra el disfrute. Algo que no me había pasado con "Mi hermano alemán", que también leí en portugués y me gustó mucho; lo mismo que "Estorbo" y "Leche derramada".
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Nāo consigo criar empatia com um personagem tão mulherengo. Se perguntar se é sonho ou realidade é um dos pontos fortes do romance, assim.como a mudança de pontos de vista e modelos narrativos
No va conmigo ir en plan "hater" y diseccionar todo lo que no me ha gustado de un libro. Si no fuera porque el libro era breve y lo leía para el proyecto de viaje por el mundo este libro no estaría incluido aquí en goodreads porque no lo habría acabado.
El libro empezó de modo intrigante con fragmentos tipo puzzle y pensé que prometía... Pronto empecé a intuir que esos fragmentos no llevaban a ninguna parte y que me daban la impresión de ser simplemente trozos escritos por un autor con buena pluma unidos sin más. Bien podría ser que me falta de contexto y conocimiento, lo cual me haya impedido ver simbología, alusiones veladas, sobre la realidad social de Brasil de Bolsonaro. Confieso que no lo he captado... o no ha sido suficiente.
Si le he puesto dos estrellas ha sido porque de vez en cuando el autor destilaba en alguna frase una ironía tan sutil y tan de mi gusto que me parecía estar leyendo a Petra Delicado. De hecho combinaba la lectura con un libro de esta saga.
Y el otro motivo interesante de la lectura va más allá de la propia novela. En la obra el personaje principal es patético y machista, lo cual generó un gran rechazo entre las personas que seguían la lectura. Y yo, como siempre, sigo con mi teoría de que un personaje de un libro de ficción no tiene por qué estar representando las ideas de un autor, una cuestión que veo mezclar en muchos lectores. Y al indagar un poco se vio claramente que el autor no tenía nada de machista.
En resumen, me da igual que el protagonista fuera patético y machista y que su autor piense lo que piense... Lo malo como experiencia lectora es que el libro en sí me ha interesado bien poquito.
Num romance ousado e coberto de uma inteligência admirável, Chico Buarque costura, com uma linha resistente, a decadência de Manuel Duarte, um escritor famoso que, no passado, ficou conhecido por alguns romances que tiveram muito sucesso e a decadência que atravessa toda a sociedade do Rio de Janeiro. Posso até afirmar, de todo um Brasil, se quiser alargar os horizontes. Com uma escrita simples mas, ao mesmo tempo, repleta de complexidade, visto que aborda temas como a pobreza, a violência, a negligência da classe política, que marginaliza os mais carenciados, e outros, “Essa Gente”, é construído com entradas de diário, que nos fazem navegar nos últimos anos de uma realidade urgente, que jamais pode ser esquecida e enterrada, e que nos devolve, em tom de alerta, o Brasil de agora.
Nas 200 páginas da edição portuguesa de “Essa Gente”, o romancista conta-nos a história de um autor que atravessa um período menos glorioso da sua produção literária que, no passado, já conheceu dias bastante mais animadores. Diria que este protagonista possui um traço curioso e, de certa forma, autobiográfico. Se analisarmos o seu nome, Manuel Duarte, desvendamos que há uma semelhança na sonoridade que conversa com o nome do seu próprio criador, Chico Buarque.
Estruturado em forma de diário, a narrativa passeia, de forma alternada, pelos últimos anos da realidade que se vive no Rio de Janeiro, onde este escritor reside, criando uma espécie de puzzle que. cabe ao leitor, montar, uma vez que não há uma linha cronológica definida, à partida. No entanto, o período da narrativa, está compreendido entre dezembro de 2016 e setembro de 2019.
Como devem calcular, a falta de novos romances, nos últimos anos, assinados pelo célebre escritor, têm originado diversos problemas na sua vida, a começar, desde logo, pelos financeiros. Por esse motivo, não é de estranhar que o desespero o leve a pedir mais um adiantamento dos direitos de autor e, ao mesmo, ele peça desculpas ao editor pela imensa demora para enviar os originais:
“Não pense que me esqueci das minhas obrigações, muito me aflige estar em dívida com você. Fiquei de lhe entregar os originais até o fim de 2015, e lá se vão três anos. (...) Não bastassem os perrengues pessoais, ficou difícil me dedicar a devaneios literários sem ser afetado pelos acontecimentos recentes no nosso país. Já gastei o advance que você generosamente me concedeu, e ainda me falta paz de espírito para alinhavar os escritos em que tenho trabalhado sem trégua. (...) Estou ciente das severas condições do mercado editorial, mas se o amigo puder me adiantar mais uma parcela dos meus royalties, tratarei de me isolar por uns meses nas montanhas, a fim de o regalar com um romance que haverá de lhe dar grandes alegrias.”
Com este esforço, de proporções grandiosas, Duarte refugia-se em casa e, desce à rua, “sempre que as letras endurecem no papel, comprimidas entre si como as pequenas pedras em preto e branco do calçamento que piso”.
Num jogo entre a comédia e a tragédia, vamos conhecer, de forma ainda mais profunda, os dilemas de Manuel Duarte, as relações que ele vai construindo, quer com o seu filho que é adolescente, de quem ele se tenta aproximar; quer com as suas ex-mulheres, a Maria Clara, que desempenhou, há alguns anos, um papel vital na fama que ele adquiriu enquanto romancista; com a Rosane, que percorre as luzes da ribalta e se enreda na alta sociedade carioca; com a Denise, que está prestes a tornar-se, igualmente, uma ex-namorada, com o seu amigo Fúlvio Castello Branco, com o Agenor, um nadador salva-vidas possessivo, que tem Rebekkah, uma bela mulher holandesa, como esposa e, por último, com a sua própria mãe, que o abandonou em troca de mil e uma aventuras.
Para além desta sua falta de produção literária, a existência do protagonista, a par da solidão que está bastante presente, sobretudo, nos momentos em que lida com a pressão de terminar um romance que carrega, com ele, a sensação de que nunca vai ser finalizado, ela acaba por acompanhar, ainda que o faça, numa perspectiva de um mero espectador, a degradação de toda uma sociedade, em primeiro plano, no Rio de Janeiro, mas, se quisermos alargar os horizontes, é algo que contamina todo um país. É uma realidade em que as pinceladas da escrita simples de Buarque ganham corpo e um urgente sentido de alerta, devido aos temas que ele nos devolve:
“Há manhãs em que desço as persianas para não ver a cidade, tal como outrora recusava encarar minha mãe doente. Sei que às vezes o mar acorda manchado de preto ou de um marrom espumoso, umas sombras que se alastram do pé da montanha até a praia. Sei dos meninos da favela que mergulham e se esbaldam no esgoto do canal que liga o mar à lagoa. Sei que na lagoa os peixes morrem asfixiados e seus miasmas penetram nos clubes exclusivos, nos palácios suspensos e nas narinas do prefeito. Não preciso ver para saber que pessoas se jogam de viadutos, que urubus estão à espreita, que no morro a polícia atira para matar. Apesar de tudo, assim como venero a mulher incauta que me deu à luz, estarei condenado a amar e cantar a cidade onde nasci.”
É importante salientar que todo este mundo que nos dilacera a alma e que nos faz mergulhar neste quadro pessimista que continua a pairar sobre a cidade, acontece durante as caminhadas de Duarte pelo Leblon e a favela do Vidigal. No entanto é algo transversal e demonstra um outro traço preocupante. Na minha opinião, há uma crescente banalização da violência.
É assustador pensar que para além da violência psicológica e física, a violência discriminatória, na forma do racismo, o abuso de poder, por parte de pessoas que deviam servir de exemplo ao Povo, como acontece, nomeadamente, com um pastor de igreja, acentue, ainda mais, a decadência que se vive, diariamente.
Primeiro romance que leio do Chico e estou muito feliz com a experiência. 200 páginas lidas quase em uma sentada, prosa fácil e prazerosa, uma conversa intimista com o autor-narrador em uma obra epistolar.
O livro apresenta um escritor decadente tentando viver e sobreviver em um Rio de Janeiro nem um pouco distópico. A crítica social nunca está escancarada, mas permeia todas as linhas do escrito. Um retrato mordaz da sociedade brasileira nos últimos anos.
Gostei do formato do livro, com datas, às vezes cartas, outras vezes como partes de diário, reportagens. Os temas, misturados na vida de um escritor em decadência, não poderiam ser mais atuais.
Adoro a metalinguagem nos livros do Chico. Em algumas partes, há diversas camadas, a meta da metalinguagem.
Um escritor aclamado por obras publicadas no passado se encontra em um momento decadente de sua vida e sem conseguir finalizar um novo manuscrito já encomendado por uma editora. Para tentar encontrar alívio das incontáveis frustrações, busca alento em relações do passado ou em novas aventuras. O livro se vale de uma narrativa que intercala entre uma narração tradicional, cartas, telefonemas, sonhos e outros relatos que intercalam entre si. O resultado é uma narrativa única, que se vale dos muito pontos de vista para revelar coisas importantes sobre o protagonista e a trama melancólica em que se encontra. O livro também é um retrato do Brasil do final de 2018 até o final do ano de 2019, que ´o primeiro ano de um governo despreparado e fascista. Duarte é um protagonista decadente que reflete um país decadente. A experiência de leitura é muito válida e o ponto forte é justamente a já citada narrativa intercalada.
Ok, ok, esperava mais, confesso, talvez pelos tempos difíceis dos últimos anos, tempos que merecem (e, para mim, exigem) um olhar mais crítico, questionador, já que vindo deste nome significativo do meio artístico/intelectual brasileiro, do que essa história de Essa gente. A leitura rola bem e poderia passar bem como uma novela da globo, com seus passeios no leblon, um grande apartamento de uns personagens ricos, umas cenas na favela, as amantes, a arma etc. Isto é: aponta temas significativos, mas só de paisagem. Isto é: entretém um tiquinho, mas não transforma. Leitura que não demanda nem entrega.
Há algo de muito lírico na prosa de Chico Buarque que me atrai sobremaneira. Quase como se tudo o que ele escreve pudesse vir a dar canção, e só por mero acaso tivesse ido parar às páginas de um livro.
Neste seu novo romance senti falta desse lirismo, aqui não tão evidente como noutros romances anteriores. Também a crítica política e social, que aqui se encontra velada no meio da narrativa, está quase demasiado subtil, aflorando os problemas que se impõem na actualidade do Brasil no mundo sem chegar a imergir neles, de facto.
Já a narrativa apresentou-se-me bastante inteligente, numa construção conseguida através de cartas e fictícias (?) inscrições de diário, que obriga o leitor a ter inclusivamente de a procurar nalguns momentos.
Um escritor a arrastar os dias sem escrever pode bem ser um clichê literário, mas o que Chico Buarque consegue dizer sob esse pano de fundo e, sobretudo, a forma como o faz, constroem aqui uma leitura fresca e aprazível.
"Essa gente" é a história de um escritor em bloqueio de inspiração, e da sua vivência e contratempos amorosos no Rio de Janeiro. Ponto. O enredo é tão desinteressante como o resumo que fiz.
Mas tenho pena de não conseguir ir às três ou quatro estrelas, porque Chico Buarque tem uma escrita imaginativa, com algum sentido de humor, e cheia daquela musicalidade do português brasileiro. Acaba a dar um pequeno retrato do Rio de 2019, mas provavelmente não me vou lembrar deste livro daqui por um ano.
Malazo. Crítica social no vi realmente, el 'erotismo' del que leí comentarios de este libro no es más que un hombre siendo viejocerdo fantaseando con mujeres y refiriéndose a ellas de forma repulsiva. Personajes femeninos construidos claramente desde una perspectiva misógina, solo le sirven al protagonista, un viejo insoportable, para su deleite. Me dio asco. Me da pena también porque creo que Chico Buarque es un gran letrista de canciones. Mejor me quedo con su música, se me quitan las ganas de leer otras cosas suyas.
Livro divertido de ler. Daqueles que você fala "vou ler só mais um capítulo" e quando vê já está quase no fim do livro. É o primeiro livro do Chico Buarque que eu leio. Em alguns momentos, pensei ter visto ele no Duarte, ou então a imagem que a sociedade (ou parte dela) tem dele. E, apesar de ser muito diferente do personagem principal, consegui me identificar com ele várias vezes.
Narrada a través de cartas, fragmentos de textos, sueños y no se sabe qué más, esta novela nos transporta al Brasil de Manuel Duarte, un escritor en crisis que desde que abandonó a su mujer hace unos años no encuentra la inspiración para terminar una nueva novela.
Se trata de un Brasil ficticio, aunque con ecos del Brasil actual. A veces parece que el autor juegue con nosotros a que adivinemos qué locura de las que explica es real y cuál no. Hay crítica, toques de humor, juegos de metaliteratura...
Al principio me gustó mucho el personaje de María Clara, su exmujer, toda una fanática del lenguaje, y sentía mucha curiosidad por todo. A medida que avanzaba las páginas, cada vez me decía menos... El protagonista es una especie de antihéroe, uno de esos tantos hombres que no se consideran machistas, "pero"; alguien que está en contra del gobierno, pero se deja llevar completamente por todo...
Y aunque se nota la voluntad del autor de dejarlo en evidencia, creo que la crítica está un poco diluida: me daba la impresión de que el "Duarte" real que leyera la novela, no aprendería nada de ella, sino que se reiría tal cual con ella...
Al final, el tema de la escritura queda relegado en un segundo plano y se centra en sus mujeres (no descarto que haya un simbolismo ahí, pero me falta información para entenderlo) y esa parte del libro me dio bastante pereza... Más que rabia, incluso...
Há algum tempo que tinha curiosidade em ler algo de Chico Buarque, e quando descobri este livro e li a sinopse pareceu-me o ideal para começar. Não é uma leitura muito pesada, mas senti que não me prendeu tanto quanto esperava, tornando a ação um pouco dispersa, por assim dizer; por outro lado, nunca tinha lido nada deste género, pelo que não tenho termo de comparação. O final não foi totalmente inesperado, e no geral considero que foi uma história bem contada e não descarto a hipótese de ler outras obras do autor.
O autor descreve um Rio de Janeiro cheio de vícios e caricato, a partir da ótica de um homem em decadência, que encara o mundo e suas injustiças com uma indiferença que conquista tudo, menos a simpatia do leitor. Histórias atuais, como violência policial, corrupção, racismo e violência contra a mulher passam despercebidas, sendo anedotas para chocar o leitor, mas que diversas vezes se mostraram mais interessante do que a própria história do protagonista, que está deprimido demais com sua vida sexual e a perspectiva de envelhecer sem o prestígio de seus anos de glória como autor para se sentir minimamente comovido pela conjuntura. É um livro frio e sarcástico, mas que ao tentar ser ácido, mostra-se anestesiado demais para comover o público. Talvez essa seja a intenção mesmo, ilustrar o quanto somos impotentes perante os infinitos problemas do Brasil e como todas as situações absurdas que aqui reinam não mais nos afetam ou causam indignação como poderiam. É uma maneira bem áspera e cheia de nuances de se retratar o país, mas sendo Chico Buarque isso já era de se esperar. Ademais, a construção da história em dias, podendo acompanhar a evolução dos acontecimentos conforme os meses passam, e tendo em mente todos os acontecimentos políticos dos últimos anos, o livro pode conquistar muitos leitores da mesma maneira que desagrada outros. Tudo depende da maneira em que você está disposto a receber a narrativa construída, no meu caso foi uma experiência mista.
Eu adorei que o livro é extremamente atual, inclusive sendo tragicômico em muitas passagens. É o retrato do homem branco classe média decadente, analisando a sociedade ao redor dele, ou seja, a zona sul fascista carioca.
Amo as ironias finas que o Chico solta (inclusive, é um livro muito plural em termos de narrativa, com várias formas e vozes contando a história). É uma leitura que flui, mas nada excepcional. Eu gostei mas não amei
Chico utiliza um recurso narrativo interessante para traçar a história de um escritor decadente, ao passo que faz um panorama das mudanças recentes no cenário político do Brasil. O mesmo recurso, contudo, torna o livro algo confuso, especialmente no começo.
Este é daqueles livros que se lê muito rápido, mas não necessariamente por ser uma boa história. Na verdade, é pela estrutura com capítulos curtos e pela escrita simples. Já queria ler Chico Buarque há algum tempo e, no geral, ouvi sempre boas reviews dos livros que escreveu, mas o entusiasmo com que comecei esta leitura rapidamente desvaneceu. Não tive o click com a história ou as personagens. Conhecemos Manuel Duarte, um escritor de um romance muito reconhecido nos anos 90, que passa por uma fase difícil - sem criatividade, sem vontade, sem sentimentos. Para além dele, descobrimos as relações que tem com várias (ex-)mulheres, os problemas com dinheiro e o filho que o ensina a ser pai. Honestamente? Foi uma personagem que me deu asco. Não simpatizei com ele e fiquei sempre incomodada com as suas atitudes. Simultaneamente, temos como pano de fundo um Rio de Janeiro repleto de problemas desde falta de segurança ao uso de drogas. Um país pintado com as piores cores, como se estivesse no limite da autodestruição. Acho que tão cedo não vou ler mais nada do autor, mas continuarei a ouvir as suas músicas com o maior respeito e admiração. Talvez daqui a uns tempos volte a tentar com outra obra.
duarte e buarque se misturam nesse cotidiano que, sutilmente, vomita as hipocrisias que o personagem vive e tem de lidar nas suas relações e no seu processo criativo.
Alguns romances já foram escritos tentando dar sentido à convulsão política que o país vive desde 2013 e o atual momento de ascensão da ultradireita nacional e do pensamento que ela representa. Nenhum deles foi muito feliz na apreensão do tema porque, escritos por autores perceptivos e com uma bagagem intelectual respeitável, entregavam-se ao exercício da análise aprofundada – que terminava, muitas vezes, com a recusa final da análise, classificando o Brasil do presente com um fenômeno por ora inapreensível. Pois Chico Buarque, em seu sexto romance, Essa Gente, consegue ser mais agudo escolhendo uma forma que dialoga de modo certeiro com o Brasil de hoje: uma narrativa fragmentada com um protagonista que assiste impassível à desagregação do Rio ao seu redor. (“Há manhãs em que desço a persiana para não ver a cidade, tal como outrora recusava encarar minha mãe doente”, escreve ele a certa altura).
Essa Gente é o primeiro romance publicado por Chico Buarque após receber o Prêmio Camões, a maior honraria concedida a um escritor em Língua Portuguesa. Apoiador irrestrito do PT, Chico é visto pelo bolsonarismo hoje no poder como inimigo direto: já foi acossado por transeuntes ao andar na rua e o presidente Jair Bolsonaro até hoje não confirmou se vai ou não assinar o diploma do Camões, concedido em conjunto pelos governos do Brasil e de Portugal.
Nada disso está diretamente no livro, mas, organizado na forma de um diário com inserções de várias outras fontes, como mensagens pessoais, diálogos telefônicos, notícias de jornal e sonhos confusos, Essa Gente é uma sátira não apenas à direita que fez de Chico um símbolo do que despreza, mas à elite financeira e intelectual do país como um todo, inclusive à classe artística mais à esquerda da qual o próprio autor faz parte.
A trama acompanha o escritor Manuel Duarte ao longo, principalmente, de nove meses deste ano de 2019 (algumas entradas, no início do livro, são mais antigas, mas o fato de Chico estar publicando em novembro um livro cujo último acontecimento é datado de 29 de setembro é uma amostra da urgência epidérmica com que o compositor/escritor decidiu abordar o atual momento). Duarte registra como em um diário seus dias enquanto patina em um momento de estagnação pessoal e profissional. Autor de um best-seller histórico chamado O Eunuco do Paço Real, publicado em 2000, Duarte agora amarga um melancólico fim de carreira, sem inspiração, sem dinheiro e duas vezes divorciado.
É uma vida naufragada da qual Duarte não consegue se libertar. Volta e meia ele engana a si mesmo de que está trabalhando em um novo grande romance. Enganando a si mesmo, tenta enganar também a seu editor, a quem acossa com pedidos de adiantamentos para não ser despejado enquanto prevê a conclusão do novo livro “para daqui a três meses”, prazo que nunca se abrevia.
Duarte também está encalhado no plano sentimental, já que gravita ao redor das duas ex-mulheres, a tradutora Maria Clara e a artista Rosane. A primeira cria sozinha o filho de 12 anos com o qual Duarte teve pouco contato e com quem não consegue trocar nenhuma palavra. A segunda, embora tenha largado o escritor para estabelecer um caso com um milionário barão do agronegócio, vez por outra aceita Duarte em seu apartamento para uma sessão de recaída.
O romance é sobre isso, mas não só. Outras linhas narrativas se desdobram a partir de outros fragmentos: Duarte quase se afoga na praia e é resgatado por um salva-vidas bonachão com quem faz amizade. Não demora para o incauto escritor espichar o olho também para a mulher do homem, uma holandesa que vive com o sargento em Vigário Geral, para onde Duarte se vê levado algumas vezes para encontrar um Brasil que para ele é só abstração.
“Essa gente” é o bordão preconceituoso da classe burguesa destinado aos pobres com quem é forçada a conviver em raras ocasiões, na maioria das vezes com os segundos na condição de subalternos. O que há de inteligente no uso da expressão por Chico é que o romance é e ao mesmo tempo não é sobre “essa gente”. À primeira vista, a “gente” é a fauna pernóstica e afetada à volta de Duarte, ele incluso. Mas nas frestas da narrativa se insinua, como na vida, essa outra gente largamente ignorada e muitas vezes brutalizada em episódios a que o narrador assiste impassível: um amigo do escritor, após uns goles, espanca brutalmente um mendigo que dormia encostado no muro de seu clube para grã-finos. Durante um assalto com refém, o criminoso é fuzilado pela polícia com 80 tiros. Os policiais são aplaudidos pelo público ávido por selfies.
O acúmulo desses absurdos bastante plausíveis se combina a fatos reais do noticiário recente para que a sátira tenha um efeito demolidor: Duarte e seus livros e suas mulheres parecem não o centro de um drama, mas um teatro afetado e vazio, inclusive na linguagem que o autor maneja com maestria.
Um personagem que quase sempre soa anacrônico. O interessante é a escolha formal, mas mesmo essa - do meio para o final do livro- se desgasta e não se esforça mais em manter o entrelaçamento errático que criou uma atmosfera instigante no início da narrativa.
Li "Essa gente" de Chico Buarque num ápice. Através do relato de um escritor em decadência e de mulheres de alguma forma a ele ligadas, é feito um retrato do actual Brasil, da violência, das perseguições políticas, do racismo. Tudo temas bem pesados, mas abordados com a sensibilidade e o humor que caracterizam o Chico Buarque.
Começa bom, segue bom mas a partir da metade, é só ladeira a baixo. Várias promessas não cumpridas, -isso de "primeiro romance a retratar o Brasil atual", que? Só foi finalista do jabuti pela linguagem e pelo nome do autor, porque enredo... mesmo habilidoso, parece que Chico sempre roda os mesmos temas, mesmos elementos, mesmos White old leblon people problems. O que mais vai ficar na minha cabeça é esse final -e o simbolismo assombroso dele.