DOS QUATRO AUTORES reunidos neste livro, pode-se dizer que são todos estranhos, ainda que cada um à sua maneira. Considere os personagens que se encontram nas páginas a seguir: um sujeito que compra um apito para controlar o trânsito dos pedestres debaixo da sua janela, uma senhora atropelada que estoura “como papo de anjo”, um coelho que vira homem e um homem que vira um arquivo de metal.
Pondo logo de saída as cartas na mesa, cabe a advertência: não se espante, leitor, se essas histórias fugirem aos bons costumes da verossimilhança, da medida justa da expressão ou da sequência certeira de episódios que costumamos atribuir às histórias “bem-amarradas”.
Melhor aqui pensar naquele parafuso meio solto que leva algumas histórias à vizinhança do absurdo e do disparate, aos detalhes extravagantes e tipos bizarros, aos silogismos em que premissas e conclusões estão sempre fora de lugar.
Murilo Rubião was a Brazilian writer. His entire work consists of short stories, all of them dealing with fantastic themes, which is uncommon among Brazilian writers. He was very obsessive about his work, revising it at every new edition, always changing a few details, like characters names and so on.
O livro em si é uma boa coletânea para se conhecer um pouco do trabalho dos quatro autores porém devo dizer que definitivamente conto é uma forma narrativa que não funciona muito bem para mim. E especificamente os autores também não, os contos do Murilo Rubião apresentam uma estranheza que para mim é incômoda e alguma falta de continuidade, Jose J Veiga por outro lado tem uma escrita agradável e de um modo geral gostei de seus contos. Campos de Carvalho foi dos quatro o autor que me deu repulsa, o machismo de sua escrita que beira a misoginia é extremamente desagradável, o primeiro conto foi um fluxo de consciência que eu não via a hora de terminar e me pareceu sem pé nem cabeça, o segundo demorou um pouco para fazer sentido, mas quando fez, por mais fofinho que o autor talvez achasse a cena eu só conseguia pensar em como o protagonista era imbecil em achar que sua atitude era uma boa ideia. Por fim os contos do Victor Giudice são bons, ajudaram a tirar o gosto amargo do outro autor, com algum destaque para O Hotel, mas longe de me deixarem uma impressão muito profunda. Em resumo é um bom livro, mas que para mim não funcionou muito bem.
Uma das melhores maneiras de conhecer escritores brasileiros é através de coletâneas ou antologias. Os contos do livro Quarteto Fantástico, organizado por Miguel Conde, traz Murilo Rubião, José J. Veiga, Campos de Carvalho e Victor Giudice em plena forma. Vale a pena ler cada trecho desses autores invisíveis ao público em geral.
“Quarteto Mágico” é um bom livro de contos para quem deseja descobrir um pouco da obra de quatro escritores brasileiros desconhecidos do grande público, a saber: Murilo Rubião, José J. Veiga, Campos de Carvalho e Victor Giudice.
Como qualquer antologia de contos, o livro é bastante desigual. O projeto da Editora Autêntica até que é interessante, pois tenta levar ao leitor comum bons escritores (todos falecidos) que não têm muito espaço nas mídias hoje em dia. O organizador do livro, Miguel Conde, procura encontrar, por meio do universo “fantástico”, uma cola que una os quatro autores em uma mesma base literária.
O lado positivo deste esforço é notório: reunir uma amostra do que há de melhor na literatura brasileira posta em segundo plano. Porém, ficamos diante de uma colcha de retalhos de escritores com estilos completamente diferentes uns dos outros. O termo “mágico” do título faz alusão ao realismo mágico, corrente literária muito forte na América Latina no século XX, mas que não encontrou tantos adeptos relevantes no Brasil, ao contrário do que pudemos perceber em países como Argentina, México, Colômbia entre outros.
Este é um grande problema. Apesar de bons escritores, os quatro representantes desta antologia nasceram em épocas e locais diferentes e não compartilham entre si nenhum traço estilístico que faça merecer colocá-los em um mesmo balaio. Nem mesmo o famigerado rótulo “mágico” cabe plenamente aos autores. Talvez Rubião tenha sido o que mais se aproximou, mesmo sem deliberada intenção, do estilo de nomes como Borges, Cortázar, Rulfo ou García Márquez.
E por falar em Rubião, digo que fiquei um pouco decepcionado com a escolha do organizador. Os três contos do autor mineiro não são os melhores exemplos de sua enxuta obra literária. Não que a opção por “O pirotécnico Zacarias”, “O ex-mágico da Taberna Minhota” e “Teleco, o coelhinho” tenha sido equivocada. Longe disto! Mas outros textos de Rubião seriam mais adequados a esta coletânea como, por exemplo, o conto “O edifício”, muito mais instigante e “mágico” como sugere o título da coletânea.
Após Rubião, temos três contos do goiano José J. Veiga: “Os cavalinhos de Platiplanto”, “A usina atrás do morro” e “Acidente em Sumaúma”. Os textos de Veiga possuem finais mais bem resolvidos do que os contos de Rubião e têm um toque mais poético e nostálgico que dão uma característica bem marcante no livro. Talvez sejam os contos mais palatáveis de toda a antologia.
Em seguida chegamos a parte polêmica do livro: os contos de Campos de Carvalho. O autor também é, provavelmente, o mais desconhecido dos quatro. O conto “Os trilhos” é uma viagem estilística que mais se aproxima de um fluxo de consciência. Mais chato, impossível. Eu passava as páginas na esperança de terminá-lo o mais rápido possível. Logo após um outro texto do autor: “Espantalho habitado de pássaros”. Apesar de bem mais fácil de compreender, não diz muito a que veio. A estética de Campos de Carvalho me parece mais ligada ao surrealismo do que ao realismo mágico sul-americano.
Por fim, nos deparamos com quatro textos do niteroiense Victor Giudice. O primeiro conto é uma pequena obra-prima, o relativamente famoso “O arquivo”, crítica mordaz ao estrangulamento sistemático que boa parte dos brasileiros passa em diversos (sub)empregos desumanos. Rápido, claro e profundo! “A peregrinação da velha Auridéa” vem em seguida e mantém o bom nível do autor. O terceiro texto, “Narrativa do Número Um” me pareceu uma escolha equivocada. Como Giudice publicou muitos contos em vida, não me soa lógico colocar um excerto de um romance ao invés de um conto. O texto em questão faz parte do romance “Bolero”, que o autor lançou em 1985.
Fechando a coletânea, temos “O hotel”, um trabalho primoroso de Giudice que por meio de uma alegoria faz o leitor se assustar e refletir a respeito da ditadura militar brasileira. Não à toa o conto foi censurado à época de sua escrita em 1972.
Em termos gerais “Quarteto Mágico” vale a leitura. É irregular, mas não deixa de dar um bom panorama da obra destes grandes contistas. Para quem se interessar pelo tema, o melhor seria procurar os livros individuais de cada um dos autores. Alguns estão fora de catálogo, porém não são difíceis de serem achados.