Certamente um dos grandes acertos do livro foi, dentro do possível, manter ao máximo as características da fala de Madame Satã. É como se estivéssemos ouvindo o próprio abrir-se diante de nós numa mesa de bar da Lapa. Comenta a infância sofrida em Pernambuco, a chegada ao Rio de Janeiro, o desejo de viver como artista, a homossexualidade, dentre muitas outras coisas - sobretudo as suas incontáveis brigas e prisões, que lhe deram a fama de "valente". Ao ser indagado sobre o porquê de uma vida tão atribulada, Madame apenas responde que sente muita raiva, uma raiva que não consegue explicar, mas que traz sempre consigo. Não parece difícil saber de onde vem tanta raiva quando aceitamos escutar Madame Satã com atenção. É uma bofetada de esquerda atrás da outra.