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Já Não me Deito em Pose de Morrer: Poemas Escolhidos

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«Penso na poesia de Cláudia R. Sampaio como no discurso furioso que apenas alguém de profunda ternura poderia fazer. Sua tragédia, explícita, frontal, é a da saber a delicadeza quando tudo em seu redor propende para o grotesco e sua cabeça desafia para duvidar continuamente. Magnífica poeta, seu impasse é constante: "Quem sabe se não é agora que / possuo toda a loucura / e me faço mulher // Eu que da cintura para cima sou triste / e daí para baixo uma praia / a quem explodiram o mar / para depois o transformarem em / homem e em assombro também".

A expressão de Cláudia R. Sampaio é das mais contundentes da contemporaneidade. Não se ergue panfletária, ergue-se numa urgência íntima que não teme expôr, usando sua vulnerabilidade para força, como alguém que mapeia as feridas procurando cicatrizá-las, e também glorificá-las, com o verso. Toda a poesia abeira a terapêutica, e aqui a terapêutica é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria.

Que maravilha o desabrido desta poesia. Que maravilha que não seja demasiado limpa, demasiado educada, e se coloque sobretudo enquanto necessidade além da razão e de qualquer etiqueta. Uma poesia que redime tanta coisa mas que também gratamente infecta: "desta vida à outra / castigaram-nos com abraços / afogando o adeus corcunda / adiantado pelas colisões das / palavras / veneno abençoado / do nosso lar.".»
Valter Hugo Mãe

164 pages, Paperback

Published January 1, 2020

19 people are currently reading
257 people want to read

About the author

Cláudia R. Sampaio

13 books105 followers
Cláudia R. Sampaio é uma poeta e artista plástica nascida em Lisboa (1981). Estudou escrita de argumento na escola Superior de Teatro e Cinema, escreveu para cinema, televisão e teatro. Publicou os livros de poesia: Os dias da Corja, A primeira urina da manhã, Ver no escuro, 1025mg, Outro nome para a solidão, a antologia Já não me deito em pose de morrer e Uma mulher aparentemente viva. Está também publicada no Brasil com a trilogia Inteira como um coice do Universo (Edições Macondo). Tem desenvolvido, em parceria, um trabalho musical a partir dos seus poemas e já integrou vários grupos como diseuse. Em 2019 juntou-se ao colectivo artístico MANICÓMIO. No âmbito do trabalho desenvolvido neste projeto, integrou em Janeiro de 2020 a primeira delegação portuguesa a ser convidada pela Outsider Art Fair, a maior feira de arte informal do mundo, em Nova Iorque, para expor a sua obra. Vive em Lisboa com as suas duas gatas: Polly Jean e Aurora.

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Displaying 1 - 30 of 37 reviews
Profile Image for Cláudia Azevedo.
395 reviews218 followers
April 8, 2023
Que livro maravilhoso! Entrou diretamente para a lista dos meus preferidos do ano. Cláudia R. Sampaio é genuína, frontal, corrosiva, brilhante!
Profile Image for Ana.
101 reviews24 followers
December 25, 2023
Gostei bastante mas não me deslumbrou. Comprei este livro por causa do título (já não me deito em pose de morrer), queria encontrar mais frases assim: coisas em forma de. Mas o estilo é um pouco diferente do que eu estava à espera (bastante mais intimo/visceral) Não deixa de ser poesia que eu considero bastante boa. Há aqui muito desassombro e pouco artifício.
Profile Image for la poesie a fleur de peau.
508 reviews63 followers
December 19, 2020
"Estamos aqui e eu quero dizer-te
que é de ti que vêm as casas
é de ti que vêm os ossos
E se quiseres podemos ser
como as pontes:
eu num lado, tu no outro
e no meio a distância que
quisermos dar."

Cláudia R. Sampaio

***
Tenho o hábito (antigo, muito antigo) de fazer pequenas anotações a lápis, mas vários são os critérios a que obedeço: os livros têm de ser meus, as marcas não podem danificar o papel, e têm uma função de mapeamento - é uma noção quase geográfica, assinalam o aqui e o agora, o momento de leitura e de contacto. Podem ser passagens inteiras, frases, termos, páginas, o importante é que as assinale porque sei que vou querer regressar: como mapear o coração, de certa forma, são geografias dos afectos. Ora, com este livro da Cláudia R. Sampaio (o primeiro que li da autora, e que me foi recomendado por uma pessoa que conheci recentemente) aconteceu um fenómeno interessante e que suscitou uma reflexão: eram poucos os poemas que conhecia da sua autoria, ou melhor, nem chegando a essa escala talvez, o que conhecia eram excertos, frases, ideias isoladas... e se essas informações chegaram até mim, chegaram porque outras pessoas também as tinham seleccionado porque viram ali algo de especial, algo que se destacava do resto do corpo do texto, algo que, de certa forma, transcendia a língua e a linguagem. Pensei que é interessante a forma como alguns poemas (ou excertos de poemas, inícios de poemas) se tornam tão sonantes, até "populares", ao ponto de se destacarem do todo... como se contivessem em si um grau de veracidade, algo que escapa ao próprio poeta, ao próprio escritor, à poesia, e que se ergue e se traduz em sensação (uma espécie de ferida que é subjectiva, mas também objectiva pela forma como parece tocar várias pessoas, ao mesmo tempo e do mesmo modo).

Queria que a poesia da C.R.S. tivesse valido por si própria, acho que merecia isso, mas as referências que temos dentro de nós impossibilitam o grau zero da experiência. Pensei muito em A. Pizarnik e em S. Plath, e cheguei a zangar-me comigo mesma porque essa colagem me pareceu preguiçosa e perigosa. Mas não deixa de ter um fundamento (pelas temáticas, pelo nível de exposição, pela sensibilidade) e de ser um elogio que lhe posso tecer.



Profile Image for Vânia Caldeira.
178 reviews3 followers
December 11, 2023
É o meu primeiro encontro com a poesia de CRS. É uma poesia crua e despida que grita emoções e sentimentos. Quase de forma transversal tem presença feminina o que, não sendo habitual, se torna muito agradável. E depois tem também histórias intensas la dentro... de loucura, desejo, amor mas, sobretudo, de descoberta do eu. É porque no final de um livro de poesia fica sempre um vazio, este fecha esse próprio vazio com um brilhante diálogo entre a autora e o magnífico Valter Hugo Mãe. E ficamos aconchegados até à próxima leitura...
Profile Image for misael.
392 reviews33 followers
August 14, 2024
A culpa é tua se dizes sempre o mesmo nome
se tens sempre a mesma idade
e a mesma casa
se quando revelas a tua identidade
é impossível que o céu te expluda
e que te acudas de incertezas
e de novos buracos.
A culpa é tua se ainda não morreste,
se nunca te atrincheiraste à espera
de uma bomba que te mude os olhos
se nasces sempre no mesmo dia.

Não te aflijas.
Estás sempre a tempo de não
dormir na mesma posição
com a mão aberta em esmola

Também me custa sobreviver a estes dias
mas o que ainda não chegou
é infinito.
Profile Image for Sofia.
1,034 reviews129 followers
January 31, 2021
"Ela pensava: que bom é cair
porque normalmente não se pode cair em
nenhum lugar
querem sempre levantar-nos,
não entendem que é preciso cair,
é preciso estar junto ao chão para depois
se subir em verdade e ver tudo"

Cláudia R. Sampaio é uma voz poética inconfundível.
Merecia muito mais destaque nas "letras" nacionais.
3 reviews
July 2, 2020
Leitura nem sempre fácil mas que da um enorme prazer. Jogos de palavras aprimorados e uma beleza rara que dá vontade de ler mais e mais. Recomendo
Profile Image for Rita Moreira.
76 reviews1 follower
November 29, 2025
Não que haja algo de errado ou insuficiente na poesia de Cláudia R. Sampaio. É crua, áspera, contemporânea. Infelizmente não me fez sentir grande coisa.

A melhor parte é talvez a conversa da autora com Valter Hugo Mãe.


“Mas não te preocupes, não desapareço hoje
Quando me conheceste já eu não existia
e tu sabes
que essas saudades que vais tendo
são as minhas.”
Profile Image for Luísa (tolkientoyou).
246 reviews27 followers
March 25, 2022
"sabes o que é uma alma mal lavada?
são as memórias todas arrumadas em
cinzeiros
abraçadas a beatas, sem irem á cremação"

Estes poemas escolhidos da Cláudia R. Sampaio deram cabo de mim. Apetecia-me sublinhar tudo, guardar tudo.
Há passagens incríveis, lindas e íntimas. Melhores do que a passagem que deixei aqui, no entanto, quando li isto, sobre o que é uma alma mal lavada, arrebatou-me de uma maneira obscura.

Para quem não tem hábito de ler poesia e quer começar e não sabe como nem por onde, recomendo vivamente este "Já não me deito em pose de morrer".
Profile Image for Catarina Teles de Menezes.
41 reviews
October 20, 2023
A poesia, quando é boa, é como um tiro. É tal a força com que trespassa que nem temos tempo de sentir a bala que nos atinge. Damos por nós, estamos estendidos no chão, com o coração na boca.
“E se quiseres podemos ser
como as pontes:
eu num lado, tu no outro
e no meio a distância que
quisermos dar.”
[A conversa entre a CRS e o VHM é, também e só por si, um poema.]
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
428 reviews217 followers
May 19, 2023
"Mas não dizia a ninguém que não sabia ser
e não dizia a ninguém que não sabia onde ia
Caminhava, alta como quem não fala
Calava, perfeita como quem não via
Sem que alguém reparasse que ela era ausência,
e que só tinha mundo onde não estava
e que só amava o que não sabia"
(A mulher da cor de um lírio, II)
Profile Image for MT.
201 reviews
February 10, 2021
“Para se falar é preciso estar dentro
da vida,
encontrar uma rua que nos leve ao peito
mas as ruas não andam
e eu nem a casa regresso

A minha linguagem é mais seca que
um deserto e mais incompreensível
que estes loucos que trago pendurados
na boca
Falar provoca doenças
Há que ter cuidado para não morrermos
de palavras
por isso nem sou eu que escrevo,
é a mão da minha infra-consciência

Mas quero dizer-te que estamos aqui,
não duvides, perante os carros mal
estacionados,
perante os braços exemplares dos
nossos amigos — e as suas ausências
perante o modo como atinges o ar
com a graça do que te eleva,
e o desembarque da tua exclamação divina

Estamos aqui e eu quero dizer-te
que é de ti que vêm as casas
é de ti que vêm os ossos
E se quiseres podemos ser
como as pontes:
eu num lado, tu no noutro
e no meio a distância que
quisermos dar.”
Profile Image for Sónia Santos.
182 reviews32 followers
April 4, 2024
Uma voz franca e frontal. Genuinamente crua. Poesia contemporânea como há muito não descobria.
E no final, para nos prender ainda mais, somos convidados para uma extraordinária conversa entre a autora e o Valter Hugo Mãe.
Que bela descoberta esta!

Uma vez quiseram-me louca, a arder
e eu ardi com a discrição de
um fogo posto
porque a cura vai na mesma direcção
que a nossa febre

Ateei-me como um relâmpago inesperado
à luz do dia
Eu parecia uma basílica em chamas
de altar por estrear, a arder sozinha

Sempre me recusei a arder como os outros

Ardam-se mais à esquerda ou mais à direita
mais ao vento de sul ou de norte,
mas labaredem-se, sejam fogos que ardem!

Porque a pior que a desdita loucura
é toda a gente andar em brasa
mas ninguém chega a incêndio

E no fim são todos cinza
Profile Image for Andreia Morais.
449 reviews33 followers
Read
July 21, 2023
Uma escrita crua, visceral, sem receio de espelhar todas as emoções que lhe fervilham no peito. Além disso, estes poemas carregam um traço de absurdo, de loucura, mostrando bem a dualidade que habita em todos nós. E, depois, o silêncio que fica no vazio, no que não se compreende, nas angústias e nos traumas que fazem morada desde a infância. Achei fascinante a maneira como o livro termina, porque acredito que acrescenta uma essência ainda mais pessoal.
Profile Image for Carmo.
130 reviews6 followers
January 6, 2024
Poeta portuguesa contemporânea (das melhores na minha opinião pessoal). Este é um livro quase-quase-perfeito. Livro quase-quase-perfeito cheio de palavras, poesia, única como só a Cláudia sabe.

---

" (...)
Continuarei sempre a espantar-me com a
solidão a rachar-me o rosto.
(...) "

**

" (...)
Também me custa sobreviver a estes dias
mas o que ainda não chegou
é infinito. "

**

" (...)
e sempre que pisares o passado
limpa os pés."

****
Profile Image for Leonel Menaia.
23 reviews
December 8, 2023
"É claro que é necessária a mais obscena das resistências. Estamos inevitavelmente predispostos ao encosto do que nos é oferecido, a descoberta é sempre um abalo, mas não paremos de procurar. Há tanto indecifrável em cada gesto. Mesmo nos que se repetem para lá do tempo. Vejamos a imagem do meu avô a descascar uma maçã com a navalha. É assim todos os dias. Absolutamente todos. "
Profile Image for Susana Pacheco.
34 reviews24 followers
April 16, 2022
"há que abençoar este sacrifício
de não mandarmos nada
de nascermos em surpresa

as surpresas caem sempre da
boca, como a poesia
os poetas andam pendurados nos
dentes"

Absolutamente magnífica a poesia de Cláudia R. Sampaio.
Super recomendo!
Profile Image for Susana.
27 reviews1 follower
May 15, 2024
Não sendo a poesia um estilo literário que tenho por hábito ler, a escolha deste livro revelou-se ser um feliz acaso e uma maravilhosa surpresa. Textos fluidos, de fácil compreensão e com um estilo muito próprio. Fiquei fã da autora e recomendo a sua leitura ao público feminino.
Profile Image for Roxana.
19 reviews1 follower
March 9, 2025
A Cláudia R. Sampaio é uma espécie de alquimista que converte dor em poesia. Não sei se apreciei a coletânea na íntegra, mas há muitas pepitas de ouro nestas páginas.

"Talvez possa dizer que tentar ver no escuro tem sido o meu ofício."
Profile Image for Inês Hermenegildo.
36 reviews4 followers
February 21, 2021
4.5 ⭐️

“Não faças nada que não te caiba
Proporcionalmente em corpo e espírito
E sempre que pisares o passado
Limpa os pés”
Profile Image for Leonor Mendonça.
4 reviews1 follower
August 8, 2021
Um livro cheio de histórias intensas e mensagens fortes, com uma grande presença feminina
Displaying 1 - 30 of 37 reviews

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