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Tudo que você não soube

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Neste romance, Fernanda Young troca o humor ácido por um tom amargurado para contar, em primeira pessoa, a história de uma mulher sem nome que escreve ao pai moribundo, com quem não fala há anos. Tudo que você não soube traz o conteúdo dessa longa carta, na qual a personagem faz um resumo detalhado da sua vida, dividida entre o desejo de chamar a atenção do homem que a colocou no mundo e a vontade de chocá-lo com suas revelações.

Em uma narrativa sem ordem cronológica, a protagonista traça um parâmetro entre seus traumas de infância e a mulher que se tornou: sóbria, dissimulada e imersa em um poço de desamparo e solidão, embora as aparências mostrem alguém que leva uma vida normal. Na maior parte do tempo, ela tem uma rotina de luxo ao lado do marido e dos filhos, mas, durante as madrugadas, se dedica a examinar o passado e mexer em feridas ainda abertas.

No fundo, a protagonista é carente como qualquer pessoa, sempre em busca da aprovação do outro. Ao exteriorizar sua raiva, ela mostra de que forma reagiu à dor e encontra uma maneira de não ceder à hipocrisia que a cerca. Embora cada frustração seja única e impossível de ser compartilhada, os leitores percebem que ninguém está sozinho na dor, mesmo que o sofrimento seja uma experiência individual.

130 pages, Kindle Edition

First published January 1, 2007

23 people are currently reading
468 people want to read

About the author

Fernanda Young

18 books84 followers
Fernanda Maria Young de Carvalho Machado foi uma escritora, roteirista, apresentadora de tv e atriz brasileira.

O primeiro trabalho de Fernanda escrevendo para a televisão foi em 1995, na série A comédia da vida privada. O texto original era de Luis Fernando Verissimo, no entanto, Fernanda e o seu marido (Alexandre Machado) adaptaram o clássico para a televisão.
Em parceria com o marido, ela também escreveu para a rede Globo as seguintes produções: Os Normais (2001-2003), Os Aspones (2004), Super Sincero (2005), Minha Nada Mole Vida (2006), O Sistema (2007), Nada Fofa (2008), Separação?! (2010), Macho-Man (2011), Como Aproveitar o Fim do Mundo (2012).


Em 1996, Fernanda Young lançou o seu primeiro livro intitulado Vergonha dos pés.

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5 stars
151 (35%)
4 stars
144 (33%)
3 stars
109 (25%)
2 stars
21 (4%)
1 star
2 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 71 reviews
Profile Image for Mariana.
91 reviews6 followers
July 12, 2023
Fernanda Young é um nome que sempre ouvi falar.

Soube que ela foi a roteirista de Os Normais e apresentou o programa Saia Justa. Tive vontade de me aprofundar um pouco mais porque assisti a um trecho em que Rita Lee (amada Rita) lê a abertura de What it feels like for a girl, música de Madonna, no tal programa Saia Justa. Ato continuo, Fernanda Young cai no choro. Ali senti muita empatia por ela, porque também amo Madonna e adoro a letra dessa música.

De repente, minha curiosidade por Fernanda se intensificou. Assisti à entrevista dela no Provocações e simpatizei com sua honestidade. Achei-a autêntica. Por isso fui atrás de sua obra de ficção. O título e sinopse desse livro em questão, Tudo que você não sabe, me chamou a atenção e lá fui eu.

Bom, Fernanda foi uma mulher interessante, inteligente, (por vezes) azeda, também engraçada, assertiva. Gosto de vozes imperfeitas porque me conecto com a humanidade de também ser tudo e nada.

Dito isso, fiquei com uma certa preguiça dessa voz narrativa em particular. A autora, no começo do livro, informa que tudo é ficção, mas o tom do discurso é tão semelhante ao de Fernanda que não senti qualquer tentativa de afastamento do inconsciente de sua narradora ficcional.

Aqui e ali encontramos reflexões interessantes, mas logo tropeçamos num raciocínio mais bobo e um tanto juvenil. Essas narrativas de mulheres brancas da classe média/alta com seus traumas e suas melancolias existenciais funcionam com poucas literaturas, como acontece no caso de uma Clarice, Lygia Fagundes Telles, até com Lya Luft. Esse é um vespeiro que só as mais hábeis apicultoras conseguem mexer. No caso desse livro, não achei que Fernanda soube realizar esse movimento com maestria.

A narradora, em um momento do livro, diz se sentir tocada pela miséria e fome no Brasil, para logo a seguir, na seção "coisas que odeio", colocar "PT" entre vírgulas, ali jogado. Ora ora, meus senhores. Joguei no Google algumas coisas e achei um artigo de 2018 da autora falando sobre o "carisma etílico" de Lula. Esse é um ponto que denota a pouca distância entre criatura e criadora, entre ficção e real.

(O que me deixa triste, de certa forma, é perceber que o abismo social pós-2018 do Brasil não apenas foi sedimentado pelo conservadorismo e pela ode à burrice reacionária, como também contou com a complacência de muitos intelectuais, escritores, artistas, etc, que se achavam bem intencionados nesse discurso "contra corrupção" abstrato e mirado num partido muito específico. Enfim, fim do desabafo).

Não sou contra narradora ou personagens odiosos (na verdade, gosto bastante deles), mas não acho que foi a intenção de Fernanda que sua narradora fosse analisada em suas camadas sem que não sejamos direcionados para uma certa compaixão. Parece que, não obstante a alienação um tanto burguesa da narradora, é esperada uma empatia por essa mulher ficcional. Porém, a narradora não é tão complexa e interessante no ponto de vista literário para que esse movimento seja feito sem, no mínimo, muita boa vontade (que não tenho para literatura mediana).

Leitura curta que se lê em duas sentadas. Fiquei presa no começo e metade e um pouco entediada no final.

Nota: 2,5.
Profile Image for Ana.
148 reviews
August 28, 2019
Este é mais um livro da minha lista sobre mulheres que foram traidas e/ou abandonadas na meia-idade. Embora a personagem tenha sido abandonada e traida, nao é o tema central deste livo, pois as camadas sao mais profundas.
Foi escrito em formato epistolar, a filha escreve cartas perversas ao pai que estava no leito de morte, explicando o rumo que a vida dela tomou depois que saiu de casa. A mae era uma narcisista perversa, o pai estava presente de corpo, mas ausente de tudo o que acontecia na casa. A filha leva uma double vie, ao mesmo tempo que é uma esposa, mae, do lar, dedicada, também tem um lado muito sombrio e psicopata. Lembra um pouco a protagonista da série Gypsy (nao conheço ninguém que gostou deste série, so eu mesma). Se você nao gosta de thriller psicologico, provavelmente você nao va gostar deste livro.
Apesar das perturbaçoes da mulher, ela tem otimos momentos lucidos em que fala de filmes (fez a melhor resenha do filme Atraçao Fatal), musicas, filosofia, psicologia, feminismo, etc.
Fazia mais de uma década que nao lia a Young e coincidiu de lê-la na semana em que ela veio falecer (R.IP. my dear).
Fragmentos:
Ser menina é um problema. Mais um. Principalmente, para as meninas que nascem aqui no Brasil, um país onde a mulher, além da obrigação de ser bonita, tem a obrigação de ser a dona da alegria. Aqui, mulher tem que fazer comida e fazer charme. Tem que ter coragem e bunda. Tem que saber sambar e saber o seu lugar. Uma barbárie.

O Brasil é macho, muito macho. É o pau-brasil, o bumba meu boi, o saci-pererê, o berimbau, o futebol e o caralho a quatro. E as meninas brasileiras são criadas para seguirem em frente sem perceber o quanto são ridicularizadas. Aqui é pior que na China, na Índia, países onde as mulheres são oficialmente inferiorizadas. Aqui, se disfarça. Somos enganadas, levadas a crer que ser menina é isso mesmo: tomar na bunda sorrindo. Metáfora forte demais? Não, nem é metáfora.

Os homens envelhecem e ficam mais maduros, as mulheres envelhecem e ficam desesperadas. Temos essa fraqueza, e uma mãe deve ensinar a filha a lidar com isso.
Profile Image for Laura Jamal.
38 reviews7 followers
September 11, 2021
Eu comecei com expectativas de que fosse bom mas não achei que seria tanto.

Uma martelada esse livro (discordando de young de que so caras fazem péssimos trocadilhos...)

Essa coisa de ter a oportunidade de passear pelos pensamentos conturbados de alguém é muito provocador. Eu fiquei o tempo inteiro "é isso!!! entendo tanto". É uma obra de arte um autor que consegue chegar nessa complexidade toda de uma personagem nada ideal e taaaao real. Chega a ser meio terapêutico.

Adorei esse livro.

"Sou masoquista, não sei se deixei isso claro para você. Foi uma descoberta bem recente. Que fiz num outro livro que li, e explicou o fato de eu ser tao grata ao outro, quando ele repara em mim. Fazendo com que eu aceite qualquer abuso vindo desse "sujeito amoroso" como um ato de afeto. É que quando me sinto amada, parece que, enfim, posso viver algum tipo de calma, em ser essa que sou."
Profile Image for Andreia.
32 reviews
October 20, 2020
Como disse minha amiga Rebeca: “virei o clichê que leu Fernanda Young pela primeira vez depois que ela faleceu”. Pois bem, sou o clichê. Já conhecia a obra dela e a admiro muito como roteirista e apresentadora (amava o Irritando Fernanda Young). Amei a Fernanda escritora! Que livro, meus amigos. É curto mais foi difícil de ler....difícil porque é tão cru, tão intenso, tão direto que me peguei lendo de pouquinho em pouquinho pra conseguir processar tudo. Mal posso esperar para ler o restante das obras dessa artista que partiu cedo demais.
Profile Image for Daniele Cubinhetz.
4 reviews1 follower
July 29, 2021
Fernanda, capaz de me fazer gargalhar em algumas passagens e refletir sobre minha vida em outras. Me arrependo de não ter ido te conhecer no lançamento de seu último livro 🖤
Profile Image for Marcella.
96 reviews2 followers
March 20, 2021


"Dá pra acreditar? assim, na maior cara de pau. Gente, eu dei umas marteladinhas de nada na minha mãe e fiquei detida três anos. E esse homem joga um piano em minha cabeça impunemente?"

"Ora, ela estava no direito materno dela, de me traumatizar"


3.5/5 ⭐

O livro é tão bizarro, a história é tão única que chega a ser engraçado em muitos pontos. Você ainda vai acabar rindo do jeito que a narradora conta sobre sua trágica vida.

Personagens:
Narradora inominada: Alguém que vive uma outra vida após sair da prisão, sem contar para ninguém presente na sua vida sobre seu passado. Narcisista e convencida são os adjetivos mais carinhosos que consigo pensar.

Pai moribundo: o pai da narradora, para quem ela escreve sua vida, mas sem contar absolutamente nada. Eu achava que ela iria contar altas atrocidades, o que fez na adolescência, o que fez na prisão. Pensei que ela fosse esnobar na cara do pai que ela odeia o como ela está melhor e bem sucedida agora. Pensei até que ela fosse contar uma história para fazer ele se arrepender, mas não, ela fala sobre seu dia-a-dia cotidiano, que levou os filhos na escola ou que passou o fim de semana em sua casa de praia. Talvez seja isso, talvez seja sobre exibir para alguém em seu leito de morte que a vida continuará após ele ir, com todas suas frivolidades que, para quem vive parecem tolas, para quem está quase indo, seria tudo.

História:

É a história de uma filha que queria matar a mãe, por fatores não muito claros durante a narrativa, e o usou o martelo como sua arma de escolha, mas a mãe não morreu, nas palavras da narradora: "Eu achei que ela tivesse morrido, ou não teria parado de bater". Na história ela conta sobre sua vida cotidiana para seu pai acamado, que ela também não suporta já que ele nunca interviu e fez parar as maldades da mãe para com sua filha, mas só ficava a ouvir música clássica.

Conclusão:

Recomendaria para quem gosta de leituras sem história, sem enredo, somente pela escrita e pelas reflexões metafísicas que podem surgir do tipo de introspecção que é escrever sobre si mesmo.
Profile Image for Milena.
21 reviews
January 31, 2022
nao recomendo para pessoas com problemas de pai ausente porque acho que pode despertar a tristeza.

num geral, gostei e gostei muito do final quando ela fala sobre ser mulher no brasil, a questão da filha dela.
foram muitos pensamentos e grifei muitas partes porque realmente tem muita coisa interessante, por mais que seja um livro curto.
Profile Image for Rebeca Stiago.
12 reviews3 followers
September 5, 2020
Esse livro é forte e delicado ao mesmo tempo. Com uma pesada sutileza pra falar sobre relacionamento de pai mãe e filha. Muito bom, amei demais! Estou encantada com a escrita da Fernanda. Uma pena eu ter caído no clichê de só conhecer a obra dela depois que ela se foi.
Profile Image for Larissa Granato.
559 reviews38 followers
September 11, 2020
Um pouco pretensioso em alguns capítulos mas lindíssimo na maior parte do tempo; devo ter marcado uns 30% do livro.
Profile Image for laura.
35 reviews6 followers
October 21, 2021
4.5 ⭐️

“não há como ter, ou manter, sonhos, quando o melhor que pode acontecer com você é não piorar.”

cru, visceral, transparente, cômico, trágico. “tudo que você não soube” me emocionou em diversas partes, me revirou o estômago em outras e me fez sorrir em mais algumas.
Profile Image for Samuel Martins.
64 reviews
April 13, 2022
Que a Fernanda é foda pra carai todo mundo sabe, mas nesse livro eu me surpreendi.

Acho que é isso por hoje. Ainda tô digerindo
Profile Image for maria de fátima.
52 reviews1 follower
May 7, 2024
como pode a fernanda young realmente ter existido... absurda!

por mais distante que a história esteja da minha realidade, é impressionante como sempre tem algo que a gente se identifica quando se fala de paiskkkkkk ai, ai... enfim.

queria falar uma coisa aqui. esse é o meu primeiro livro da fernanda, o primeiro que li. quero muito ler os outros. descobri fernanda por acaso, não lembro exatamente o contexto, mas fiquei maravilhada. após uma breve "googleada" descobri que ela foi roteirista de um monte de coisa que eu gosto e tudo fez muito sentido na minha cabeça. é CLARO que ela foi! saí olhando tudo e pesquisando tudo, e assistindo tudo, fiquei completamente fascinada pela pessoa, pela artista. afinal, como que pode alguém ser dessa forma, desse jeito e eu me identificar tanto? sinto muito, mas me identifico. fiquei triste quando soube da morte dela, mas isso só me deixou mais fascinada e louca em querer consumir e absorver tudo que ela tinha deixado por ai. nos últimos tempos consegui finalmente voltar a ler e coloquei como meta os livros dela, acho que vai dar certo. não sabia por qual começar então escolhi aleatoriamente e só fui lendo. achei bom demais e espero só coisas boas da obra dela.
Profile Image for J.souza.
218 reviews11 followers
October 21, 2020
Eu sempre gostei muito da Fernanda Young. Seja pelo Os Normais (até hoje a única comédia brasileira que realmente me faz rir), seja pelas entrevistas dela, ou mesmo pelo simples fato de ser uma mulher toda tatuada, fora dos padrões, sempre em evidência na Globo destoando dos demais.

Essa foi a primeira vez que li algo dela. E o livro tem muito da comédia ácida, tragicômica pela qual ela é conhecida. O livro é escrito por uma mulher contando sobre a sua vida, nua e crua, para o pai que odeia em seu leito de morte.

Me peguei rindo várias vezes dos absurdos escritos. Sabe aquele tipo de leitura feita para chocar?Bukowski da vida?Então, nela funciona. Enquanto Bukowski morre na tosquice de um homem falando sobre seus excessos, Fernanda o faz de forma bem inteligente. Ela escreve muito bem.

Vou terminar essa resenha com um dos melhores quotes do livro:

"Mas não detecto um pinguinho de medo percorrendo as minhas veias. Não digo isso com orgulho, quase pelo contrário. Temo essa realidade"
Profile Image for manu.
109 reviews6 followers
September 26, 2020
3,5⭐️ fiquei um pouco assustada por ter me relacionado com tantas passagens!! e meu deus, ela dissecando fatal attraction, analisando fantasia no. 4 em c menor de mozart... e sendo ela mesma, né, deixando claríssimo em tudo que escreve quem escreve. deveria ter sido mais longo. eu queria saber mais da vida dela na prisão, do romance dela com uma criminosa, de como ela conheceu o alemão, quais são os nomes dos seus filhos. a nota meio baixa é pelo comprimento que deixou a desejar. queria uma abundância de páginas, como em a sombra das vossas asas, e talvez algo menos memoir e mais narrador personagem. mas mesmo assim, ela sempre me agrada, nunca me decepciona. saudade saudade saudade
Profile Image for naja.
44 reviews
July 20, 2023
"um dia, pai, eu poderei explicar para meus filhos, porque terei entendido qual é o segredo para sobreviver o abandono. e que, por mais incrível que pareça, todos têm o direito de partir."
60 reviews
July 13, 2025
Acho que eu já sabia que esse livro iria se tornar um dos meus favoritos desde o momento em que o escolhi para ler. Ou — vou ser clichê — quando ele me escolheu para ser lido.

Fernanda Young é uma mulher e um ser humano espetacular, curiosa e fodona. Me identifico com ela em muitas partes, e me identifiquei em tantas outras aqui, nesse livro, que ele acabou me influenciando profundamente a torná-lo um dos meus favoritos.

Quero guardá-lo no melhor da memória — me ajudou muito. Viva Fernanda Young!

Inclusive, é o primeiro livro dela que eu leio — e já amei.

" A inveja talvez seja, ao lado do amor que sinto, um dos poucos sentimentos não destrutivos em mim. Já que não a alimento, mas a reconheço e a torno útil. Não aguento essa hipocrisia da negação sistemática da inveja. Por que as pessoas são assim? Por que não admitem que mentem, que fingem e às vezes morrem de raiva da felicidade alheia. Eu fujo de gente que afirma não se irritar com nada. São, sem dúvida nenhuma, os mais perigosos. Porque não pensam naquilo que sentem e, sem pensar, agem. São como crianças, acreditam que um pensamento errado já é algo criminoso, então abafam suas mentes numa vaga letargia disfarçada de cuca fresca. Dizem-se calmos. Na verdade, estão atrapalhando o mundo e a natureza com seus comportamentos antinaturais. Não existe o bem-estar completo, e isso definiu o ser humano. Gente que não se incomoda com nada é o atraso da humanidade. Assim como gente que diz não sentir ciúmes é o viés do amor. Prefiro arder. Prefiro sentir a ser. Sinto inveja, mas não sou invejosa. Sei que as sensações antecedem as ações, e é a ação que vale. Sendo essa consciência a única forma de nos frear antes do abuso. "

"Gente que diz que perdoou não-sei-quem, mesmo depois de tudo que não-sei-quem fez, só diz isso pra se gabar."

"Eu não sou uma babaca. Um babaca é um sonso. Um babaca é traiçoeiro. Um babaca se sobressai pela caretice. Nem digo caretice do setor sexo, drogas e rock ’n’ roll – careta porque tem preconceito daquilo que não entende. Para perder o meu amor, um filho meu teria que ser um babaca assim, caretão sete-cruzes. Daqueles que trapaceiam, vilipendiam e transformam as suas invejas, naturais, em sentimentos inumanos. Precisaria ser um político desses nossos, que roubam dos hospitais públicos, que patrocinam a miséria com descaramento e deboche. Mas aí não seria apenas um babaca, seria um filho da puta."

"Acho que nem assim – não deixaria de amar um filho se ele fosse um crítico de jornal. Não, eu buscaria em mim os erros que cometi em sua educação. Acho que só deixaria de amar um filho homofóbico. Só. Continuaria amando a minha filha se ela virasse uma dançarina da garrafa. Acho medonho, mas não é um ápice de babaquice. Amaria um bandido? Quem sou eu para não amar? Amei uma ladra, fui presa por tentar matar a mãe. Isso me faz uma babaca? Não. Você acha que sim, tudo bem."

"Senti vontade de chorar e chorei. Porque, de repente, quis desistir."
Profile Image for Paulo.
18 reviews
September 2, 2024
Algumas narrativas contemporâneas que possuem um tom mais despojado de contar a história, essa maneira crua na seleção das palavras, sempre me causou algo estranho. Não sei, sinto que o excesso de informalidade num livro parece desencaixado, muita forçação de uma contracultura, quase como uma rebeldia sem causa. Apesar disso, sempre acabo me acostumando com o andar das coisas e me pego entretido, por diversas vezes, com aquela ex-estranheza.

O que quero dizer é que essas narrativas sempre me soaram pretensiosas. Mas a questão sobre a arte é essa mesmo. É, por vezes, imitar o que há de belo na vida, e, por outras, invocar a repulsa, como uma maneira de nos chamar a atenção para aquilo que ignoramos por não ser belo ou bom ou virtuoso.

Não sei se esse é o caso de um romance de formação, mas, pelos que já li, parece uma narrativa muito semelhante. Normalmente, estes livros me remetem a ideias que eu mesmo já tive em algum momento, e me reconfortam por me fazer perceber que não estou sozinho nestas ideias, e que toda a angústia, muitas vezes egoística, não é um traço só meu, que a inadequação e o sentimento do estrangeiro está por aí, amaldiçoando alguns de nós.

É uma pena que eu não tenha lido está história antes, porque, aí, encantando com a nudez com que se revela a trama, a simplicidade das palavras e as referências pouco exageradas, eu sentiria mais ímpeto em publicar a obra que possui as mesmas características que não me agradam de pronto num romance.

Apesar de tudo, a história de Fernanda Young não é bonita, nem muito complexa, nem muito rica em detalhes. Acho que ela evoca bem essa confusão da confissão. A personagem que se senta à janela, com o rádio tocando, refletindo sobre o que se passou e expondo, sem ser uma escritora, tudo o que precisa para esclarecer a verdade. Ela confessa um crime sem estar diante de um tribunal, e, por isso, perde-se nos detalhes, deixa de se aprofundar em pormenores. Ela está cansada de repassar constantemente toda essa história em sua cabeça e o que importa é que ela e o pai já sabem como as coisas se passaram, ambos conhecem todo o cenário externo, eles têm gravados na parede da memória toda a aparência, mas o que eles não têm é algo além dessa concretude, algo que afeta o ser humano em sua essência. É isso que ela tenta trazer a tona e é isso que pode causar estranheza e parecer com que pouco é desenvolvido. Talvez este seja o propósito de tudo.

Às vezes, falar se torna muito exaustivo quando você já disse muito e ninguém pareceu escutar.
Profile Image for elli elli.
273 reviews3 followers
November 10, 2021
Esse livro...ele é definitivamente o livro mais brutalmente real e cru que eu já li. Ele é o tipo de livro que eu vou ler novamente daqui a dez anos, só para ter maturidade o suficiente para conseguir sentir que absorvi tudo que foi lido aqui. Esse não é um livro em preto e branco, não é narrado por uma protagonista boazinha, tranquila, não há nada aqui que não seja cinza e retorcido de certa forma. Assim como não há nada em nós que não seja cinza e retorcido. É muito real e é por isso que muita gente deve fugir desse livro, uma assassina que, no final de contas, não era um monstro, no entanto também não está arrependida ou sente que cometeu um erro. A maternidade envolta por inveja, um casamento sem verdade, ou conhecimento sobre o parceiro...essas não são coisas novas, e ainda assim, são totalmente ignoradas. A mudança do amor ou a falta dele em um casamento...não é algo raro ou incomum. Esse tipo de verdade que as vezes dói, e queima, e por isso é ignorada por tudo e todos. Assim como a mulher que martelou a própria mãe poder ser uma boa mãe. A escrita desse livro...é absolutamente perfeita na minha opinião, os capítulos são curtos, e a rotina e preferências da protagonista são narradas de forma que nos aproxima tanto dela, que ao final, mesmo com todo o peso da narrativa, eu queria mais. Saber mais, da vida dela, dos filhos dela, dos pais dela, de tudo. Uma resenha de atração fatal, uma interpretação de Mozart, uma conversa sobre como é ser mulher no Brasil, ou sobre o amor, cada parte foi interessante e única para mim. Livros não fazem o que esse fez, não tornam um personagem tão "indivíduo" como esse fez. As emoções dela, descritas como foram e tudo mais...eu nunca me senti tão ligada, não dessa forma, a uma personagem, mesmo não sendo como ela, ou não concordando com ela em muitas coisas...foi uma experiência única. Recomendo, porque essa resenha só pode ser entendida por quem leu isso KKKK...juro que vale a pena.
Profile Image for Bianca  Ribeiro Soares.
32 reviews1 follower
November 16, 2019
Meu primeiro livro da Fernanda.
E, com certeza, não o último.

TENSO, depressivo, hilário e perturbador.
Nas primeiras páginas eu só conseguia pensar: "Caramba, tô lendo o legado dela! Que privilégio". De repente, quem era Fernanda Young? Não sei. Quem sou eu? Também não sei. Só tinha certeza que estava passeando, freneticamente, na cabeça de uma pessoa meio doida e meio doente, meio eu, meio impossível, meio real. Mas totalmente ela, Adriana-Daiane-Carina-Renata-Daniela-Creuza-Fernanda-Anne-Bianca-Francine-Thereza-Reticências 

É universal que os autores brasileiros são únicos: taí Machado, Cecília, Jorge Amado, Lima Barreto e outros. Mas, sinceramente, não acreditava que alguém do nosso agora poderia se equiparar a esses que viveram a tanto tempo.

Agora, tenho certeza: meus descendentes estudarão Young na escola.

Gênia, única e fodástica.
Espero que você esteja bem. 🖤
Com muito amor,

Bianca (uma das).
Profile Image for Tom Cullen.
39 reviews
March 26, 2025
Uma prosa experimental que flerta com uma carta, com um diário, que soa como autoficção imbuída de filosofias próprias. O relato acontece numa busca de sabe-se lá o quê. A narradora navega nessa aventura de retratar passado e presente, esperando o melhor do futuro, culpando e perdoando os pais e a si, refletindo e recusando mais reflexões.
A obra contempla diferentes vertentes dentro de uma mesma narrativa, num escrita sem firulas, como diria Annie Ernaux, onde o que interessa é somente a verdade, como diria Édouard Louis; cito os dois numa ironia, pois a narradora que odeia citações e a faz, é contraditória como todos são. Loba da Estepe.
Profile Image for Nicoly.
2 reviews
December 2, 2021
Sensível, incrível e imperdível. Existe uma gula existencial nesse livro de tirar o fôlego, cada página é uma nova surpresa viciante. As palavras da protagonista ficam presas atras da sua cabeça como sussuros avisos e alertas. Me vi nela. Me vi sendo ela em diversos momentos da história. O abandono do pai, e o perdão. A disputa com a mãe e seu narcisismo. A fuga da realidade. Gostaria de um dia poder perdoar a todos eles também.
Profile Image for Juliane Stephanie.
48 reviews
August 1, 2022
Meu deus que livro forte. É um relato super pessoal da formação da personagem como a pessoa que ela é hoje, é muito íntimo, muito visceral e extremamente verdadeiro. Acredito que todos nós podemos nos relacionar com alguns sentimentos que ela tem, com alguns desabafos e isso nos leva a ter uma enorme empatia pela personagem mesmo ela sendo essa pessoa super controversa. Eu fiquei muito tocada e muito mexida com diversas partes do livro, achei lindo como o tema é tratado.
Profile Image for Lud Oliveira.
467 reviews8 followers
August 13, 2021
Que escrita fantástica a da Fernanda Young! O começo do livro me fez sorrir sozinha e já me ganhou de cara. Mas no decorrer da escrita vão aparecendo assuntos mais sérios, mas pesados, mais reflexivos. Gostei demais. Já cheguei com a expectativa super alta por já admirar a autora pelos trabalhos dela na TV e tal, e não me decepcionei. Vou ler mais livros dela com certeza.
Profile Image for Alice Brondani.
5 reviews5 followers
September 25, 2021
Vou escrever um review do meu ponto de vista, porque não gostei do livro tanto quanto eu esperava gostar por ser um livro da Fernanda. A escrita é ótima, como sempre, mas a narrativa é chata, entediante, a personagem é insuportável (talvez fosse esse o objetivo?)… Enfim, terminei de ler na força do odio mesmo. Mas não gostei do livro.
Displaying 1 - 30 of 71 reviews

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