Yosa Buson (Osaka, 1716-Quioto, 1783), poeta e pintor japonês, é hoje considerado um dos quatro grandes poetas de poesia haiku do Japão. Nas palavras de Joaquim M. Palma: «Buson é, dos quatro grandes, aquele que tem uma existência adulta que se pode considerar como sendo a mais “normal” e tranquila. Organizou e manteve até ao fim uma vida familiar tradicional, foi pai, em casa havia dinheiro suficiente para o dia-a-dia […], viajou, dispunha de tempo para se dedicar ao estudo, à escrita e à pintura, teve amigos leais, morreu velho […]. E este estado de coisas reflectiu-se muito na sua escrita. Mercê de uma estupenda capacidade de observação da realidade que o rodeia, do conhecimento profundo que tem dos mestres antigos […], nos seus poemas é perfeitamente perceptível a existência de uma atmosfera de desprendimento, de simplicidade, de liberdade e de ternura pelas coisas pequenas do quotidiano.»
Yosa Buson or Yosa no Buson (与謝蕪村) was a Japanese poet and painter from the Edo period. Along with Matsuo Bashō and Kobayashi Issa, Buson is considered among the greatest poets of the Edo Period.
"contemplo a lua e as gotas de carvalho são milhares de pérolas caindo"
Yosa Buson
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Depois de Matuso Bashô e de Issa Kobayashi, a editora Assírio & Alvim apresentou recentemente este livro dedicado a Yosa Buson (1716 - 1784) — estas edições são esteticamente belíssimas, livros de capa dura, adornados de imagens que remetem para o conteúdo dos poemas (respeitando-os e criando expectativas que depois serão agradavelmente corroboradas) e, à semelhança do que acontecia com as duas primeiras obras que citei, também este "Os quatro rostos do mundo" vem munido de um instrumento que me parece crucial para o leitor: uma introdução compreensiva que nos predispõe a conhecer o autor e as conjecturas sociais e políticas do Japão do século XVIII, permitindo-nos um maior e melhor entendimento destes haikus (ou destas versões dos haikus). A personalidade de Yosa Buson, artista que se moveu entre a pintura e a escrita, conquista-nos pela sua humildade e pela sua harmonização com o que o rodeia; "os quatro rostos do mundo" são as quatro estações, e nestas versões vemos espelhadas a forma como transformam paisagens, animais, humanos, percepções de luz e de cor...
Se por um lado é de louvar esta edição em português, por outro deixa muito a desejar. O livro ganhava muito com mais notas sobre questões culturais, algumas bem simples, que poderiam ser aprendidas com qualquer japonês mesmo não sendo especialista em poesia medieval. Por outro tem notas bastante eruditas o que não se entende onde as foram buscar. Além disso o texto original em japonês teria ajudado muito tanto para o leitor versado na língua (não chega a transliteração) e mesmo a nível da estética da obra. É uma pena que uma edição muito bem conseguida a nível da estética física do livro - boa encadernação, formato agradável, papel de boa qualidade, o que é raro nos dias de hoje - depois deixe tanto a desejar na parte da concepção editorial e crítica. Algumas imagens de pinturas ou desenhos de Buson também teriam enriquecido a obra, mas o essencial faltou. A introdução à obra também está cheia de erros que seria demasiado complicado aqui explicar. Dou duas estrelas pela iniciativa.