As reflexões de um de nossos maiores pensadores indígenas sobre a pandemia que parou o mundo. Há vários séculos que os povos indígenas do Brasil enfrentam bravamente ameaças que podem levá-los à aniquilação total e, diante de condições extremamente adversas, reinventam seu cotidiano e suas comunidades. Quando a pandemia da Covid-19 obriga o mundo a reconsiderar seu estilo de vida, o pensamento de Ailton Krenak emerge com lucidez e pertinência ainda mais impactantes. Em páginas de impressionante força e beleza, Krenak questiona a ideia de "volta à normalidade", uma "normalidade" em que a humanidade quer se divorciar da natureza, devastar o planeta e cavar um fosso gigantesco de desigualdade entre povos e sociedades. Depois da terrível experiência pela qual o mundo está passando, será preciso trabalhar para que haja mudanças profundas e significativas no modo como vivemos. "Tem muita gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromisso, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado […]. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã."
Ailton Krenak é escritor, roteirista, porta-voz e pensador indígena. Integrante da comunidade dos Krenak, aos dezessete anos migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Posteriormente, tornou-se produtor gráfico e jornalista. Dedica-se ao movimento indígena desde muito jovem. Graças a esforços coletivos e do próprio escritor, o número de indivíduos de sua comunidade voltou a subir, depois de sofrer grande queda em números totais até os anos 1980, e fechou o século 20 com 150 indivíduos. É professor doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Participou da antologia A outra margem do ocidente (Minc-Funarte/ Companhia das Letras, 1999), e publicou a entrevista Ailton Krenak (Azougue, 2015) e O lugar onde a Terra descansa (ECO-Rio, 2000).
Ailton traz uma reflexão essencial para esse momento de isolamento, medo e insegurança: não dá pra continuar como estava e como vai ser depois. É uma leitura muito rápida, feita pra mexer com você e tentar te acordar pra uma perspectiva que talvez ainda não tenha passado pela sua cabeça. Por favor, leia!
Reflexões importantíssimas sobre a forma como nós, humanidade, lidamos com o espaço em que vivemos e sobre como, mesmo passando por um período como esse, não paramos de pensar roboticamente sobre as nossas necessidades acima de tudo.
O Brasil tem sorte de ter alguém como o Ailton Krenak vivo e ativo em tempos de coronavírus. É incrível a síntese de conhecimento e sabedoria concentradas numa pessoa só, escrita de forma acessível, e de uma maneira tão sincera. É a lucidez que precisamos.
Reflexões do Ailton Krenak sobre/durante o período de pandemia. Triste pensar que tão pouco tempo depois de tudo já voltamos ao mesmo ritmo de sempre, sem nem um pingo de mudança em nenhuma direção. Mesmo a possibilidade de home-office para diminuir trânsito/poluição nas cidades e o tempo perdido indo e vindo de escritório, e para aumentar tempo de qualidade com a família, aquele papo todo que você provavelmente também ouviu, já voltou a ser atacada e o modelo considerado ineficiente. Sem entrar em questões mais urgentes como relação homem-natureza, política de acesso a saúde, etc.
Adorei as ideias contidas aqui, mas tinha acabado de ler Ideias para adiar o fim do mundo, e daí tinha parágrafos inteiros iguais, com acréscimos sobre a Covid e tal.
“O que estamos vivendo pode ser a obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho calar a boca pelo menos por um instante. Não porque não goste dele, mas por querer lhe ensinar alguma coisa. “Filho, silêncio.” A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é tão maravilhosa que não dá uma ordem. Ela simplesmente está pedindo: “Silêncio”. Esse é também o significado do recolhimento.”
"Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade e nos alienamos desse organismo de que somos parte, a Terra, passando a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo que exista algo que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza."
"O que estamos vivendo pode ser a obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho calar a boca pelo menos por um instante. Não porque não goste dele, mas por querer lhe ensinar alguma coisa. 'Filho, silêncio.' A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é tão maravilhosa que não dá uma ordem. Ela simplesmente está pedindo: 'Silêncio'. Esse é também o significado do recolhimento."
Infelizmente é curto! Ailton Krenak, autor ativista e defensor dos direitos indígenas do Brasil, faz uma reflexão muito interessante nessas poucas páginas sobre o momento de pandemia que o mundo está passando. Conta de um ponto de vista diferente, de quem está isolado socialmente mas em contato com a natureza, e abre os olhos dos leitores para outras perspectivas da realidade. Quero ler mais coisas do autor.
Mais uma coletânea de colunas e ensaios curtos disponibilizada gratuitamente no início da pandemia, dessa vez, de autoria de Ailton Krenak. Lê-la passados alguns meses de sua publicação — que mais pareceram anos — permite ver o que se sustenta do argumento.
Com o quê não concordo? Com a ideia de que essa pandemia seja uma forma de a natureza punir a espécie humana, como se a Terra houvesse ativado seu sistema imunológico contra nós. Verdade: eu respeito e até partilho algumas ideias contidas nas crenças religiosas do autor. Mas não consigo crer, para além da metáfora, que essa Terra-Gaia seja dotada de consciência e de vontade próprias. Mais que isso, acho contraditório o autor postular tais ideias e, em seguida, dizer que a espécie humana não é tão importante para o planeta (com o que concordo inteiramente!). Se não somos importantes, porque “merecemos” tanta atenção? Nas palavras do próprio Ailton Krenak: “Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a Covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos.”
Mesmo assim, achei uma forma diversa de colocar muitas ideias e argumentos com os quais concordo. Para o engenheiro que sou, chamou-me atenção: “Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi: ‘A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida’. Então um deles me disse: ‘Mas isso é impossível. O mundo não pode parar’. E o mundo parou.
De dentro de nossas ocas de aço, sobre nossas tabas de asfalto, do alto de nossos jiraus de concreto, rezando para os deuses do mercado: até quando iremos achar que ditamos a marcha do mundo?
Por ser uma leitura rápida, e ter poucas coisas a se avaliar, dou nota máxima. Autor brasileiro e indígena, Ailton dá voz e luta pelo direito de seu povo há muitos anos. Nesse livro, ele fala sobre a pandemia do Covid-19 e traz questionamentos sobre a humanidade, a importância da não separação do homem da natureza, dos cuidados com o meio ambiente, da conscientização em relação a tudo isso para podermos avançar para um mundo melhor ou do contrário ficaremos estagnados na mesma situação ou entraremos num retrocesso. Será que saimos da pandemia iguais éramos antes dela? Será que o vírus nos ensinou algo? A morte de todas aquelas pessoas nos trouxe alguma reflexão? Mudamos para melhor ou continuaremos os mesmos? Gostei muito da escrita do autor, de conhecer um pouco mais de sua história. Vale muito a pena tirar um tempo para ler esse livro curtinho, absorver, de fato, as palavras do autor e refletir um pouco sobre a veracidade de suas falas. Me deixou muito pensativa. Recomendo.
Neste ensaio, Ailton Krenak fala sobre o início da pandemia e quando todos estavam em isolamento, na expectativa de dias melhores.
Minha maior crítica é que este deveria ter sido um post num blog, não editado como um livro. É um ensaio, um artigo. Mas claro, Krenak escreve bem e sabe o que está falando. Lamentavelmente, a obra ficou datada, pois funcionaria melhor se lida durante o isolamento pré-vacinação em que foi escrita. Mas ainda vale conferir, embora alerto de que é desolador ver as propostas do autor de que nada seria igual serem jogadas fora, já que tudo permanece igual e a Humanidade continua gananciosa e capitalista.
"Eu não percebo que exista algo que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza."
Reflexões importantes para um momento tão difícil como esse. A lição que tiro das palavras de Ailton Krenak é que o mundo já mudou, o futuro será diferente e precisamos lidar com isso e não é voltando a "normalidade" como bem destaca o líder indígena, que sairemos mais fortes dessa crise. Compreender o momento, fazer do hoje um caminho e seguir respeitando o isolamento social!
"Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro."
Olha, é uma DÁDIVA este texto estar disponível gratuitamente, porque no momento em que estamos passando, acho que deveria ser obrigatório à qualquer pessoa. Ailton, ativista ambiental e líder de direitos dos indígenas, que já viu as consequências dos impactos antrópicos em sua própria aldeia, traz uma mensagem curta e clara: o mundo não será mais o mesmo, ou pelo menos não deveria ser. É um dedo na ferida de pessoas que ignoram ou desrespeitam esse momento tão complicado e não possuem qualquer empatia. Acho que essa seria uma boa definição desse texto, é um exercício de empatia aos brasileiros. Ailton acertou em cheio. LEIAM! É rápido, é gratuito, é importante!
Constantemente pensamos no futuro e nada do presente e isso faz com que a produçao seja a coisa mais importante. Livro curto e fez a reflexão que a correria de hoje em dia acaba com o meio que estamos vivendo e em algum ponto o desaceleramento tinha que acontecer pra respirar e mudar a forma da nossa interação com o meio ambiente.
Não pensei duas vezes antes de baixar este e-book. Já vi e li muitos comentários sobre o livro anterior de Ailton Krenak e saber de sua proposta de uma nova maneira de no enxergamos na vida e no mundo foi o que me deixou tão atenta para este pequeno artigo. Em "O amanhã não está à venda", Krenak faz uma reflexão muito importante sobre a crise humanitária que o coronavírus nos impõe, e reforça uma ideia urgente que, neste momento, se torna ainda mais atual: somos seres vivos, habitamos apenas um planeta, dependemos dele e vivemos como se pudéssemos nos desconectar da natureza, como se ela não fosse essencial para nós. A crítica de Krenak é principalmente em relação a isso e à forma como nossos sistemas econômicos e políticos conduzem as nossas vidas e formas de compreender a vida. Krenak nos lembra de que a humanidade perigosa e frágil na mesma medida. Tão importantes quanto isso são a críticas que o autor faz à indiferença calculada de políticos e outras figuras públicas ao falar sobre as vidas que podem se perder durante a pandemia, ligando esses discursos diretamente ao conceito de necropolítica - um tema que estou cada vez mais interessada em estudar. Este é um texto de leitura rápida e simples, de fácil compreensão, mas que deixa muitas dicas de assuntos e ideias para pensar, pesquisar e praticar daqui em diante. Para mim, foi uma surpresa muito bem-vinda ter acesso a este artigo, e a partir de agora eu e recomendo muito a leitura.
"essa fantástica liberdade que todos adoram reivindicar, mas ninguém pergunta qual o seu preço"
Essa é só uma das frases em que o autor usa de relativismo moral. "A liberdade é importante, mas às vezes depende". É muito mais coerente um relativista que assume seu relativismo do que quem falsamente acredita que defende valores, mas na primeira oportunidade abre mão desses valores por conta de utilitarismo-"um bem maior".
Outro ponto, não tão menos deprimente sobre esse texto é o fato da humanização do covid-19; a ideia de que "o vírus é mais uma punição, um ensinamento para humanidade ser mais humana" por consequência até uma certa desumanização da humanidade.
Há também a falsa dicotomia entre economia X vida, que só existe na cabeça de quem aparentemente não sabe o que é economia ou como funciona a vida de pessoas que são (ou deveriam ser) livres para realizar atos voluntários entre si.
Ailton Krenak nos mostrando mais uma vez que não há futuro possível sem que a humanidade repense seu lugar no mundo. Vindo de uma perspectiva de mundo onde, como ele mesmo diz, não se pensa acima da natureza, mas como parte integrada a ela no seu sentido mais profundo, Ailton chama atenção para uma coisa fundamental: não somos o sal da Terra, ela vive sem nós e apesar de nós.
ter lido esse livro depois de passado o auge da pandemia e período de isolamento diminuiu ainda mais minha perspectiva de "um mundo melhor".
o autor comenta que se as pessoas voltarem ao normal depois de tudo que passamos em 2020 e 2021, é que não valeu de nada a morte de milhares. e a real é que as pessoas estão sim voltando a como era antes, e ATÉ PIOR. antivax continua antivax, as empresas não tão nem aí se você demora 3h pra chegar na firma, eles te querem presencialmente, os milionários continuam usando jatinho particular pra uma viagem de 3 minutos e a lista de absurdos segue imensa.
Trata-se de mais um livro-artigo da série publicada pela Companhia das Letras, praticamente todos disponibilizados gratuitamente, desde o início do surgimento da pandemia da covid-19 no Brasil.
O contexto apresentado no livro me leva a crer que "O amanhã não está à venda" foi um texto produzido por Ailton Krenak ainda no início das práticas para se evitar o alastramento da covid-19 no país, pois tem uma voz de esperança, de que o ser humano possa perceber o mal que o "antropoceno" está a ocasionar no mundo, exaurindo o planeta, onde somos apenas mais um dentre as milhares de espécies existentes, não obstante nós tenhamos nos autodeclarado como "donos" de tudo que está disponível ao domínio e à exploração. Se ainda tratamos muitas vezes nossos iguais (i.e., outros seres humanos) como objetos, igualmente passíveis de domínio, imagina o planeta.
O ser humano elevou a liberdade e a felicidade como os bens maiores a serem alcançados. A vida de um indivíduos vem paulatinamente perdendo o sentido se ela é impeditivo para a liberdade e a felicidade de outro, basta ver como fechamos os olhos para o genocídio e o racismo sofrido pelas pessoas negras e indígenas no país, como queremos que não nos sejam impostas amarras de qualquer tipo, em especial as higiênicas nesse momento. Questiono-me se o vírus da covid-19 tem esse conhecimento, se alguém enviou um "zap" para informá-lo de que não queremos ser limitados.
Também voltamos cerca de um século, estamos cada vez mais dispostos a santificar os eugenistas e suas regras de normalização do corpo social. É interessante observar o exemplo que Krenak dá, de que o veem como um louco quando o encontram abraçado à árvores. O que foge da regra, da norma, não é bem visto. Mas acreditar em mensagens de "zap", isso é o que de mais inteligente há (ironia alta). E aqui, não confundam com regras de higiene, que constituem o mínimo que podemos fazer para evitar o alastramento da pandemia.
Tenho esperança no ser humano tanto quanto tenho medo.
Com linguagem acessível e muita clareza de pensamento, Ailton Krenak traz uma reflexão pessoal sobre a pandemia do COVID-19 e suas consequências à nossa atual forma de viver.
Apesar de uma leitura rápida, o texto traz uma riqueza de perspectiva e ideias que deixam a leitor refletindo longas horas após a virada de sua última página.
Ailton Krenak é jornalista e ativista dos direitos das comunidades indígenas. Sua luta nas décadas de 1970 e 1980 foi fundamental para a redação do “Capítulo dos índios” presente na constituição de 1988. É membro do comitê gestor da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. É comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República e Doutor Honoris Causa da UFJF. Neste breve relato Krenak reforça a denúncia de todas as ameaças que podem levar os povos indígenas á aniquilação assim como enaltece a resiliência a capacidade sobrevivência que marcam o dia-a-dia dos “primeiros habitantes do Brasil”. Mas o tema principal de seu relato é o impacto da pandemia do coronavírus que, segundo ele deixa ainda mais claros o divórcio da humanidade em relação à natureza e a imensa desigualdade que ameaça cavar um intransponível fosso entre os mais abastados e a imensa maioria da população do planeta. Ele ainda alerta: “Tem muita gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromisso, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado. Temos que parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã”. Seu apelo à união que possibilitará o trabalho conjunto para que saiamos da crise talvez seja um pouco ingênuo, mas comove e faz pensar.
Esse texto deveria virar panfleto, folhetim, mensagem de WhatsApp ou qualquer outra coisa que chame a atenção das pessoas hoje em dia. Uma introdução à discussão sobre o COVID-19 para quem pensa no futuro, de um líder indígena que vê a humanidade decaindo. Pena que é curto, mas vale a pena ver também as entrevistas de Krenak disponíveis no YouTube.