Uma análise sóbria, cristalina e quente do terremoto político que tomou conta do Brasil.
Nos últimos anos, Marcos Nobre se consolidou como um dos analistas políticos mais agudos do país. Seus artigos e entrevistas, publicados de forma regular em diversos veículos da imprensa, iluminam a realidade brasileira com doses generosas de clareza e complexidade. Neste livro, essas qualidades saltam à vista. A pandemia, segundo o autor, acentuou o traço decisivo do governo Bolsonaro: a política de guerra, em que o adversário político se torna um inimigo a ser exterminado. Em sua cruzada autoritária, o atual governante visa nada menos que a destruição da democracia. Como foi possível a eleição de um líder assim? Que tipo de governo ele conduziu até a chegada da Covid-19? O que a pandemia significou para a maneira de fazer política que ele instaurou? Com lucidez e sobriedade, Nobre responde a essas e outras questões. Seu texto é um chamado ao diálogo. "A raiva desmensurada que desperta o escárnio presidencial pela vida precisa encontrar a sua devida canalização institucional democrática", lembra o autor. É preciso encontrar um modo de sair do impasse. Insistir na intolerância contra seus apoiadores é aceitar o desejo de morte que fundamenta o discurso do presidente. E isso apenas fortalece a cultura bolsonarista.
Marcos Nobre é professor do Departamento de Filosofia da Unicamp além de presidente do Cebrap. Autor de livros como “Como nasce o novo” e “Imobilismo em movimento” entre outros, assumiu desde o início da projeção de Jair Bolsonaro em nível nacional, uma posição extremamente crítica em relação ao que se convencionou chamar de “bolsonarismo”. Outros tantos também fazem críticas ao “bolsonarismo” só que nem todos conseguem romper o véu de perplexidade que cerca o fenômeno. Marcos Nobre, com sua lucidez, é um dos poucos que se habilitam a analisar o “bolsonarismo” de forma a fugir do simplismo e da conveniência de taxar Bolsonaro de “louco” ou de “burro” ou ainda de “fantoche dos militares”. Para o professor da Unicamp o “bolsonarismo” é expressão de um projeto bem delineado pelo seu criador que sabe exatamente o que quer e o que fazer para concretizar o seu projeto autoritário (totalitário?). A essência desse “Ponto final” já havia sido esboçada pelo professor num excelente artigo por ele escrito na revista “Piauí” (“O caos como método”, edição de abril de 2019). Em “Ponto final” Marcos Nobre estende seu raciocínio e aprimora suas argumentações. Para Marcos Nobre Bolsonaro tem como projeto básico a corrosão das instituições. Seria de caso pensado o caos por ele instalado na educação, no meio ambiente, na saúde, na articulação política etc. O colapso das instituições, por ele perpetrado, seria a “deixa” para Bolsonaro, com o apoio de seu “núcleo duro”, das Forças Armadas e de seu eleitorado mais fiel ( e mais radical) e contando com o imobilismo da classe política, consolidar o seu projeto autoritário posando de “protetor das instituições” mas, na verdade, destruindo-as. Os elementos comprobatórios desse projeto, demonstrados por marcos Nobre com precisão, são por demais convincentes ( e assustadores). Outra afirmação polêmica de Marcos Nobre sustenta que Bolsonaro não se interessa em governar e que seu desgoverno não é expressão de incompetência e sim de intenções nefastas: solapar a democracia, destruir os valores republicanos (tão frágeis neste nosso Brasil) e rasgar a constituição de 1988. Governar para Bolsonaro é se render à “velha política”, isso para consumo externo, mas esse discurso, na verdade, encobre o plano de Bolsonaro de se mostrar como um anti-político ou como um político “anti-establishment” quando, na verdade, ele se interessaria em reforçar o establishment destruindo as instituições e a democracia. No entanto esse projeto autoritário não contava com a eclosão da pandemia do coronavírus e o “bolsonarismo” se desgastou na administração de uma situação com a qual esse projeto não tem afinidade. Mas mesmo fazendo concessões ( como o auxílio emergencial por exemplo que se choca frontalmente com o liberalismo do “posto Ipiranga” Paulo Guedes) Bolsonaro não deixou de lado o seu projeto autoritário. Deixou de lado a chance de angariar popularidade, confrontou governadores e prefeitos, minimizou a doença, desdenhou milhares de mortes, liderou uma reunião ministerial em que absurdos foram proferidos, desrespeitou o isolamento social, promoveu aglomerações, afrontou o legislativo e o judiciário. Tudo isso para reforçar o seu desgoverno e – seu sonho de consumo – tentar provocar a abertura de um processo de impeachment do qual, Bolsonaro está convicto, escaparia facilmente além de humilhar a classe política e reforçar o seu prestígio além dos seus nichos tradicionais. Falando em impeachment Marcos Nobre crê que ele é possível diante dos absurdos perpetrados pelo presidente e sua “gang”, mas a classe política teria que construir um entendimento que está muito longe de ser viabilizado nas condições atuais. Leitura obrigatória diante do conturbado contexto em que vivemos.
Há alguns anos faço resenhas de livros, os mais diferentes, por puro prazer em comentar as coisas que leio. Quem me conhece sabe que eu rarissimamente repasso um texto que não seja meu. Não gosto. E o que eu escrevo, não espero que venha a ser lido por milhões, mas achei por bem deixar uns pontos marcados.
O livro ‘Ponto Final’ é, para mim, uma oportunidade de comentar um livro, coisa que faço de vez em quando, juntando com um assunto que acho muito importante pensar sobre. Marcos Nobre escreveu um livro bem pequeno - opúsculo, talvez diriam os mais antigos - com algumas ideias sobre Bolsonaro e o seu projeto autoritário, que caminha para o naufrágio. Não que eu acredite que ele não vá terminar lutando, mas aí a minha capacidade de análise é menor do que a de muitas outras pessoas que conheço. Nobre usa o que ficou conhecido como ‘jornadas de 2013’, aquelas manifestações pelo Brasil contra o governo e que precipitaram o impeachment de Dilma Roussef para mostrar como seus efeitos são sentidos até hoje. E Bolsonaro é um deles. Uma coisa boa do livro, então, é colocar Bolsonaro e seu movimento na história. Não tem ‘mito’ coisa nenhuma, o homem é produto dessa vontade de mandar a política e seus praticantes às favas (pra não falar outra coisa) e eleger o sujeito que vai fazer tudo do zero. Na minha percepção de cidadão, isso ele está conseguindo, isto é, muita coisa foi ‘zerada’ durante o governo, como a imagem internacional do país e, algo mais próximo de mim, as políticas e projetos de educação. Pouca coisa sobrou disso, olha aí! De volta ao livro, Nobre pretende mostrar que uma das ilusões que o próprio bolsonarismo vende é a de que o presidente pode, arrependido ou bem orientado, passar a governar. E mostra que isso não vai acontecer, em parte porque ele não quer, em parte porque ele não sabe como se faz isso.
A short book about a theory on the logic and ideology that the Brazilian presidenti Jair Bolsonaro is using in his politics.
The books main theses is that Bolsonaro is i not a fascist, but a new kind of authoritarian leader that wants to destroy the democratic institutions, by making his governance chaotic and fragmented. When the democratic institutions stop working correctly and people start to become frustrate, he can concentrate his power as a "rescuing" measure. The institutions are so broken that the opposition is too weak to resist this consolidation. The inadequate handling of the pandemic is part of this project.
This is a interesting theory, still it makes Bolsonaro look insane. How can he guarantee that the destruction of democratic checks and balances will not result in erosion of his popularity? The book explains how Bolsonaro is preventing this, but still it seems like Russian Roulette. A high risk action for high reward.
"A raiva desmesurada que desperta o escárnio presidencial pela vida precisa encontrar a sua devida canalização institucional democrática, não pode transbordar no desejo de morte que seria, no fundo, uma confirmação da cultura bolsonarista. Como disse João Cabral de Melo Neto: " é difícil defender, / só com palavras, a vida". É exatamente para isso que temos a política. Tomara que saibamos fazer com uso dela".
O livro é bem curtinho, mas de todo interessante, por ter sido escrito bem no decorrer da pandemia nos entrega um panorama atual para discussões urgentes. O foco principal está no projeto de governo de bolsonaro, seus principais planos de ação e diferentes grupos de apoiadores, com um enfoque especial em como estes grupos diferem entre si. Também pincela a crise democrática e as questões que levaram a ascensão do atual presidente; recomendo pra todo mundo.
Nasce datado, como toda a série que a Todavia criou durante a pandemia de Covid-19 para refletir sobre o estado da sociedade brasileira no momento da pandemia. Mas nobre, professor da Unicamp e um analista político rigoroso, ajuda muito a entender o estado pregresso (os últimos 10 anos, aproximadamente) de involução da estrutura política federal, a soldo de interesses não-republicanos, e as formas como isso facilita a movimentação dos bolsonaros e sua chegada ao poder. Um livro que será necessário como elemento de construção de uma História da corrosão da democracia brasileira, que alguém poderá escrever daqui a vinte ou trinta anos.
Sempre se faz importante observar os diversos ângulos e concepções que envolvem determinado fato, e eis o que o artigo de Marcos Nobre propõe. Buscando, portanto, analisar a conduta do atual governo perante e antes da pandemia, podemos compreender o porquê da inépcia governamental, assim como o negacionismo frente a dados, estudos e ciência, além de discernir o que move o sistema político atual, assim, a obra ainda que breve, se faz clara e essencial, uma vez que o caos impera.
O autor amplia e sistematiza aqui as a análises que já tinha adiantado em artigos de imprensa. O resultado é uma análise muito bem feita dos movimentos e do significado do governo Bolsonaro.
Tenho algumas ressalvas à análise do autor, mas é um ponto de vista mais complexo do que visto no senso comum antibolsonarista. Vale a pena a leitura, simples, gostosa e interessante.
bem, bem bom! Marcos Nobre é um nome essencial no debate político brasileiro atual, de uma lucidez impressionante. comentários interessantíssimos sobre a natureza do bolsonarismo e sua organização. uma das minhas leituras mais importantes nesse ano, com certeza. o anexo é para ser lido e relido (principalmente porque é complicado de entender de primeira hehe)