«O Caso Mental Português» é o título de um ensaio, publicado em 1932, que analisa o fenómeno do provincianismo como característica-chave da mentalidade portuguesa. Mas o «caso» dos portugueses vai surgindo nas reflexões de Pessoa ao longo da sua vida de escritor. Este livro reúne textos seus, dois dos quais inéditos, que se debruçam sobre variados aspetos do carácter português - o provincianismo, a falta de cultura enraizada, o excesso de imaginação, a incapacidade de iniciativa e a ausência de civismo, mas também o cosmopolitismo, a adaptabilidade instintiva. O todo constitui um acutilante e decerto discutível retrato da personalidade nacional nos tempos de Pessoa, talvez válido ainda nos dias de hoje.
Fernando António Nogueira Pessoa was a poet and writer.
It is sometimes said that the four greatest Portuguese poets of modern times are Fernando Pessoa. The statement is possible since Pessoa, whose name means ‘person’ in Portuguese, had three alter egos who wrote in styles completely different from his own. In fact Pessoa wrote under dozens of names, but Alberto Caeiro, Ricardo Reis and Álvaro de Campos were – their creator claimed – full-fledged individuals who wrote things that he himself would never or could never write. He dubbed them ‘heteronyms’ rather than pseudonyms, since they were not false names but “other names”, belonging to distinct literary personalities. Not only were their styles different; they thought differently, they had different religious and political views, different aesthetic sensibilities, different social temperaments. And each produced a large body of poetry. Álvaro de Campos and Ricardo Reis also signed dozens of pages of prose.
The critic Harold Bloom referred to him in the book The Western Canon as the most representative poet of the twentieth century, along with Pablo Neruda.
não dei cinco porque senti que faltava algo, uma reflexão mais detalhada do que aquela que Pessoa dá (sendo que não desconsidero o que por ele foi escrito e afirmado). Escreveu e analisou bem a ponto de definir a sociedade portuguesa e o português (que parece em nada, na sua súmula, se ter alterado nos dias de hoje comparativamente com quando Pessoa escreveu), todavia sinto que Pessoa conseguia ter analisado de forma mais profunda e detalhadamente o português se assim o entendesse. É um ótimo livro!
Uma dissecação acutilante e precisa da mentalidade do povo português. Em cada texto, somos brindados com a soberba capacidade analítica e observadora de Fernando Pessoa, que, forçosamente, nos prova o porquê de ser o maior génio que esta nação produziu. Textos estes, demasiado atuais. O Quinto Império não chegou. Não chegará.
"Nunca o português tem uma ação sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo, pensa sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo." - página 17
"Nunca me sinto tão portuguesmente eu como quando me sinto diferente de mim - Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Fernando Pessoa, e quantos mais haja havidos por haver."
“Sendo nós portugueses, convém saber o que é que somos”. Este é um livro sobre Portugal. Todavia, em vez das alusões da praxe ao espírito combativo de Viriato e à resiliência da Padeira de Aljubarrota, Fernando Pessoa explora a psique nacional e faz o diagnóstico “da nossa doença colectiva”.
“O Caso Mental Português” (Assírio & Alvim, 2020) contém textos de índole diversa, onde o fio condutor é o tema do provincianismo. Lançado pela Assírio & Alvim e editado por Richard Zenith e Fernando Cabral Martins, este volume reúne artigos, trechos, fragmentos e entrevistas de Fernando Pessoa. O escopo do livro, que é composto por obra édita e dois textos inéditos, consiste na análise dos traços característicos do temperamento português.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888 e fez a escolaridade na África do Sul. Aos 17 anos já escrevia fluentemente em três línguas, daí a capacidade de distanciamento necessária ao estudo da identidade lusitana. Soberanos do reino do desenrascanço, somos, segundo o autor, uma nação adaptável, inspirada e emotiva, porém acometida pela “inércia e inépcia”. Ao longo dos textos deste livro, o parecer crítico do poeta é maioritariamente produzido na 1ª pessoa do plural, embora os comentários assumam, por vezes, proporções de enxovalho colectivo.
Paradoxal, irónico e amiúde mordaz, o autor observa o zeitgeist político, intelectual e artístico da sua época e pinta o cenário de um meio social decadente, marcado pela “ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter”. Nos textos que “O Caso Mental Português” agrega, Pessoa sustenta o carácter de genial agitador de consciências e oscila entre o pensamento de âmbito anarquista, monárquico e conservador. Num trecho de remodelação do seu ensaio “O Interregno” (1928), o autor nota em António de Oliveira Salazar a “firmeza de propósito e uma continuidade de execução de um plano”, em contraponto com a mentalidade descomprometida e desorientada do resto do país.
O provincianismo, tema-chave deste livro, é o “o mal superior português”. Para o provar, Fernando Pessoa verifica atributos distintos de um povo provinciano, como o nosso “amor às grandes cidades, às novas modas, às «últimas novidades»”. Entretidos a olhar para o palácio do progresso, plagiamos ideais estrangeiros e recorremos ao mimetismo para disfarçar a nossa “falta de desenvolvimento civilizacional”.
“Somos um grande povo de heróis adiados”, uma potência em potência. Partindo dessa premissa, e confirmada “a ausência de consciência superior da nacionalidade” na mentalidade portuguesa, Pessoa aponta para o “Quinto Império” como caminho para fora do nevoeiro. Segundo o autor de “Mensagem”, finda a era das conquistas territoriais, restam-nos a cultura e o misticismo, de modo a regenerar o ego de Portugal e retomar a nossa posição dominante sobre o Atlântico, pois “há sempre Império desde que haja imperador”.