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Seminário dos ratos

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O livro reúne 14 contos que nasceram, de um árduo trabalho de pesquisa em que a autora desejava expressar-se, em cada conto, de uma maneira diferente e queria encontrar a forma mais adequada para dizer o que precisava. No conto que dá título ao livro, ratos entram pela cozinha fazendo um barulho esquisito. Só quem tem ouvido bem apurado é que pode perceber que algo estava acontecendo naquela casa de campo onde várias autoridades iriam realizar o VII Seminário dos Roedores. O seminário não se realiza e a casa é ocupada pelos ratos que devoram os homens deixando um único sobrevivente.

173 pages, Kindle Edition

First published January 1, 1977

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1458 people want to read

About the author

Lygia Fagundes Telles

91 books559 followers
Lygia Fagundes Telles (born April 19, 1923) is a Brazilian novelist and short-story writer. She was born in São Paulo and is one of Brazil's most important living writers.

Her first book of short stories, Praia Viva (Living Beach), was published in 1944. In 1949 got the Afonso Arinos award for her short stories book O Cacto Vermelho (Red Cactus). Among her most successful books are Ciranda de Pedra (The Marble Dance) (1954), Verão no Aquário (1963), Antes do Baile Verde (1970), Seminário dos Ratos (1977) and As Horas Nuas, (1989). The book Antes do Baile Verde won the Best Foreign Women Writers Grand Prix in Cannes (France) in 1969.

Her most famous novel is As Meninas (The Girl in the Photograph), which tells the story of three young women in the early 1970s, a hard time in the political history of Brazil due to the repression by the military dictatorship. In 2005 she won the Camões Prize, the greatest literary award in the Portuguese language.[1]

She is one of the three female members of the Brazilian Academy of Letters.

From Wikipedia

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5 stars
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4 stars
460 (39%)
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188 (16%)
2 stars
39 (3%)
1 star
4 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 142 reviews
Profile Image for Pedro Pacifico Book.ster.
391 reviews5,527 followers
November 4, 2021
Quando me perguntam quais os meus autores nacionais favoritos, Lygia Fagundes Telles com certeza está no topo da lista. Apesar de ter escrito uma extensa variedade de contos, até esse ano eu só havia lido seus romances. E não porque são mais bem recomendados, mas talvez porque não sou uma pessoa tão fã desse gênero literário (acho que prefiro histórias mais longas, em que tenho tempo para me apegar aos personagens e à narrativa).

Apesar disso, de tempos em tempos eu me esforço para ler alguma coletânea de contos e Seminário dos ratos já estava na minha lista faz tempo. Que leitura!! Em grande parte dos contos, Lygia conseguiu me envolver na narrativa de uma forma que muitos romances nunca conseguiram. O seu dom de escrever sobre o ser humano, seus sentimentos e seu comportamento ficam muito evidentes nessa coletânea, assim como a sua capacidade de tratar de temas que estavam muito a frente do seu tempo (o livro foi publicado em 1977).

E é muito interessante perceber como os enredos contidos nas páginas de Seminário dos ratos são distintos entre si, sendo que a autora se vale muito da fantasia para transportar o leitor para outras realidades e do fluxo de consciência para permitir uma imersão maior no interior dos personagens. Temos, por exemplo, uma situação de mistério em que coisas começam a desaparecer de um quarto, e apenas formigas são vistas lá; a história de uma mulher que mantém uma tigresa em seu apartamento; e uma cidade que é invadida por ratos que passam a devorar tudo que veem pela frente.

É uma verdadeira viagem para a essência dos personagens nos mais diversos – e criativos – ambientes. Dentre os treze contos que compõem a coletânea, posso dizer que os meus favoritos foram “As formigas”, “Tigrela” e “Seminário dos ratos”.

Nota 9/10

Leia mais resenhas em https://www.instagram.com/book.ster/
Profile Image for Camila.
86 reviews5 followers
December 25, 2017
Gosto muito da Lygia Fagundes Telles na vertente fantástica e gótica. Acho que a autora tem uma mistura incrível de leveza e profundidade, de lirismo e morbidade. Não posso dizer que todos os contos me prendem da mesma forma, mas a maioria deles me interessa muito. Recomendo este livro para quem estiver buscando uma narrativa rápida e de qualidade que foge de temáticas previsíveis.
Profile Image for Bells.
119 reviews
April 28, 2018
3.5

Livros de contos sempre são complicados porque é bem difícil a pessoa gostar de todos - na minha experiência, eu acabo detestando a maior parte. Com Seminário dos Ratos foi o contrário: adorei praticamente todos os contos e, mesmo os que não me apaixonei, gostei consideravelmente. Meu maior problema com esse livro foi mais a forma como alguns contos parecem se arrastar por páginas e mais páginas mesmo sendo curtinhos.
Profile Image for Lóri.
28 reviews2 followers
October 15, 2023
LYGIA FAGUNDES TELLES É A MAIOR CONTISTA QUE JÁ EXISTIU NO MUNDO
Foi tão legal ler cada conto com meu amor, ir compartilhando os nossos pensamentos e emoções ao ler as histórias mais malucas e lindas que já li. Em especial alguns me marcaram muito: Tigrela, A Sauna, WM, A Consulta e Seminário dos Ratos.
A Lygia é impressionante! acho que ela é a autora que eu indico pra qualquer um porque sei que é impossível não se apaixonar pelas suas histórias misteriosas e fantásticas (mas mantendo o assombro surpreendentemente atrelado a situações pequenas do cotidiano ou se revelando como algo muito maior ao final), ela é demais!!!!!!!
LYGIA LYGIA LYGIA LYGIA LYGIA LYGIA LYGIA LYGIA
Profile Image for Gabriele.
175 reviews
September 20, 2021
Eu já escrevi em outras resenha que a leitura para mim é um encontro. E infelizmente eu não consegui me envolver muito com esse livro. O famoso 'não é você, sou eu' agora versão literatura haha

A narrativa da Lygia Fagundes Telles é incrível, sem dúvida nenhuma, a construção dos contos é genial e ela consegue aprofundar histórias e personagens em poucas páginas, o que eu considero algo bem difícil. Nesses contos, diferentemente do Antes do Baile Verde, ela coloca alguns elementos da literatura fantástica de uma forma que eu curti bastante, tornando as histórias fora do esperado e trazendo um elemento de surpresa interessante pro leitor. Em diversos contos eu senti que tinha diversas camadas de narrativa ali e que o que ela quis entregar era mais complexo do que aparecia de primeira vista.

Seguirei na minha missão de ler a obra da autora porque realmente são contos que são construídos de forma interessante e que eu gosto, mas esse livro não funcionou tão bem para mim não.
Profile Image for Isabella C..
37 reviews13 followers
October 15, 2023
Lygia é fantástica em tudo que se propõe. Essa é a segunda coletânea de contos que leio dela, sempre uma literatura tão rica… aqui há um aspecto político fortíssimo contracenando com um humor sagaz e também a descrição delicada de tantas dores de viver… é sempre muito especial lê-la!!! Também não tem preço a euforia de encontrar referências a Hilda Hilst, Drummond, lugares de São Paulo por onde passo, e até a música Gota d’água do Chico Buarque, que provavelmente vai ser a minha mais ouvida desse ano.
Meus contos favoritos foram: Senhor Diretor (que até acabou rendendo um artigo de 13 páginas pra uma disciplina da faculdade), Tigrela, Herbarium, A Sauna, WM, A Consulta e Seminário dos Ratos

li simultaneamente com meu amor ao longo dos últimos meses e foi muito divertido fazer uma leitura dramática dessas histórias :D
Profile Image for igor.
78 reviews
January 6, 2021
Incrível! Incrível como a Lygia mistura fantasia com realidade em suas obras. O que, muitas vezes, nos parece tão distópico e surreal, acaba se mostrando tão possível e condizente com a realidade e da forma mais crua possível. Por trás de Senhor Diretor e Seminário dos Ratos — este que nomeia o livro — existem críticas duras ao cenário sociopolítico à época, mas que, se lançados na contemporaneidade, cairiam como luva no cenário atual também. Contudo, meu preferido é Herbarium, no qual a protagonista, por razões naturais e místicas, acaba amadurecendo sem perceber: "Encarei-o pela última vez sem remorso, quer mesmo? Entreguei-lhe a folha". Isto é Lygia!
Profile Image for laura.
28 reviews
July 14, 2023
Incrível! Alguns contos cativam muito mais que outros, em alguns eu me perdi um pouco e não achei valer a pena a releitura, quem sabe outro dia, mas os que gostei amei de paixão.
li um comentário dizendo que tem muitos detalhes que não contribuem em nada para a história e isso me irritou profundamente.
há histórias em que a narração é tão importante quanto o plot, e eu acho que é o caso desse! (mas tudo bem também não curtir)
enquanto lia "mão no ombro" pesquisei sobre o falecimento da Lygia e descobri que ela viveu por 103 anos. gigante.
330 reviews98 followers
November 19, 2015
Oh, wow. Talk about surrealism. I love how it's still so ambiguous and open to tons of interpretations.
Profile Image for Mateus C. Bacchini.
73 reviews6 followers
October 21, 2024
Lygia Fagundes Telles - Seminário dos Ratos.
Eu estava aqui na minha casa entediado e sem vontade de ler nenhum dos meus livros físicos, então peguei o meu Kindle velho de guerra e fui procurar a biblioteca o que tinha disponível que eu ainda não tinha lido. Foi assim que comecei a ler o “Seminário dos Ratos”, livro de 14 contos de Lygia Fagundes Telles e publicado em 1977.
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Pra começo de conversa: eu não gosto de contos. Se você gosta, parabéns, mas eu acho difícil, porque gosto de me apegar aos personagens, gosto de livros longos, gosto de conhecer o personagem criancinha, e essas coisas não cabem muito bem em contos.
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A Lygia tem uma escrita muito própria. Por mais que eventualmente a enquadrem em uma literatura fantástica, eu acho que ela cabe mais em uma escritora do cotidiano. Ela vai falando sobre amor, sobre perdas, repressão, escuridão, e várias questões que fazem parte do dia a dia do ser humano, mas de uma forma um pouco poética, um pouco como observadora.
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O conto “Herbarium” foi o que eu mais gostei, e até publiquei uma foto dele aqui na página, no dia 30.09. Aquela uma página falou muito, muito, muito sobre mim.
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Para finalizar, deixarei aqui um pequeno parágrafo escrito pelo Hélio Pólvora sobre o livro: Raros são os contos, em Seminario dos Ratos, nos quais Lygia adota a narração objetiva na terceira pessoa. Prefere a participação direta do testemunho. Narrando na primeira pessoa, ela assume suas personagens e acaba por imprimir-lhes uma criatividade de pronta identificação. A escritora sai de sua oficina de criatividade e passa a andar, a sonhar, a viver com suas criaturas, entranhada no íntimo de cada uma, procurando descer no fundo de suas consciências.
Profile Image for Carolina Azevedo.
2 reviews1 follower
October 15, 2023
é com sutileza estonteante que lygia passa do banal para o fantástico, da realidade para suas surrealidades movidas pelo inconsciente: pela culpa (em noturno amarelo), pelo arrependimento ou a vergonha (em senhor diretor), pelo medo (em a consulta e em a mão no ombro). cada passagem entre mundos em cada um dos curtos contos me deixou olhando para as páginas de boca aberta.

o curioso é que apesar de me encantar pelo universo fantástico dos anões, das formigas, dos ratos e dos tigres de lygia, o conto que mais me encantou foi o mais realista, a sauna. como uma mulher coloca em palavras esse homem terrível que narra sua história coberta do mais insuportável egoísmo intelectual? as imagens dessa burguesia decadente, pelas quais lygia ficou conhecida, passaram por mim como um filme de walter hugo khouri – adicionada toda a ironia que falta no cinema terrivelmente masculino do diretor.

outro preferido, as formigas, vai no caminho oposto. antes de pegar no livro, reli cada frase do conto de abertura umas dez vezes (pode ser lido por completo no pdf de preview da cia. das letras e ouvido pela voz da autora no site do ims!) é encantador como em uma construção tão simples, cria-se uma atmosfera tão sombria e ao mesmo tempo cômica, nos sonhos que se repetem, na formiga que pede socorro abanando os braços no ar… fantástico, tudo fantástico!
Profile Image for paulinha .
71 reviews2 followers
February 25, 2024
Lygia rasga a narrativa do cotidiano com elementos fantásticos e parece, com esse movimento, revelar alguma verdade muito importante, ainda que não se proponha a construir um saber universal. Não sei explicar direito, mas parece que ela é capaz de tocar na verdade particular de cada um de nós que a lemos. Quando eu leio Lygia, por um tempo meu funcionamento habitual parece que é suspendido e eu olho para o meu particular com outros olhos, prestando mais atenção no banal, descobrindo aí o fantástico. Gosto muito do posfácio de José Castello na edição da Companhia das Letras. Ele conta um pouco a história da relação da Lygia com a literatura, amor e morte, medo e paixão: “Desde os primeiros rascunhos, Lygia Fagundes Telles tem consciência dos laços arbitrários e invisíveis que atam a experiência humana. Escrever, para ela, é manipular esses nós, que ali estão não tanto para amarrar, mas para perverter e desestabilizar os rumos da vida comum. […] Se há algo fantástico nas narrativas de Lygia, ele não está em coisas absurdas ou assombrosas, mas na maneira como somos capazes de nos cegar diante dos pequenos eventos da vida”. Que a gente possa permitir-se ser cortado.
Meus contos favoritos: Senhor Diretor, Herbarium, A Sauna, WM, Lua Crescente em Amsterdã, A Mão no Ombro, A consulta.
Profile Image for teresa.
64 reviews1 follower
Read
June 5, 2024
☆ favs
• as formigas
• pomba enamorada ou uma história de amor
• WM
• lua crescente em amsterdã
• noturno amarelo
• a consulta
• seminário dos ratos

confesso que tenho dificuldade em ler lygia. em alguns momentos (ocorreu com As Meninas também), não consigo acompanhar a linha de raciocínio e fico dois parágrafos com a mente em branco. sou apaixonada por contos e tenho que dizer foi um desafio ler a mão no ombro, onde a minha mente não conseguia ficar no mesmo plano do livro. mas mesmo assim, só cresce minha vontade de ler mais e mais livros de lygia ♡
Profile Image for lorena.
37 reviews
December 9, 2025
As folhas persistentes duravam até mesmo três anos mas as cadentes amareleciam e se despregavam ao sopro do primeiro vento. Assim a mentira, folha cadente que podia parecer tão brilhante mas de vida breve. Quando o mentiroso olhava para trás, via no final de tudo uma árvore nua. Seca. Mas o ser verdadeiro, esse teria uma árvore farfalhante, cheia de passarinhos — e abriu as mãos para imitar o bater de folhas e asas. Fechei as minhas. Fechei a boca em brasa agora que os tocos das unhas (já crescidas) eram tentação e punição maior. Podia dizer-lhe que justamente por me achar assim apagada é que precisava me cobrir de mentira como se veste um manto fulgurante. Dizer-lhe que diante dele, mais do que diante dos outros, tinha de inventar e fantasiar para obrigá-lo a se demorar em mim como se demorava agora na verbena — será que não percebia essa coisa tão simples?
Profile Image for saymon Ribeiro .
70 reviews
May 2, 2021
3,5/4.

Adorei!!!!
Não sou fã de livros de contos mas esse eu amei demais, até os contos que eu menos gostei,eu gostei.


Meus favoritos:
- Noturno amarelo
- A sauna
- Tigrela
- Seminário
- Sr diretor
94 reviews1 follower
September 19, 2024
Gosto muito da Lygia Fagundes Telles, mas esse livro de contos não foi meu favorito
Demorei para ler, pois toda vez que começava a ler, depois de 6 a 8 páginas já estava cochilando 🤭
Os contos que mais gostei foram As Formigas, Senhor Diretor, Pomba Enamorada e Seminário dos Ratos
O que menos gostei foi A Sauna, não conseguia ler quase nem 2 páginas e já estava cochilando e sem interesse no enredo
Mas, isso não me fez gostar menos da Lygia, continuo gostando e continuarei a ler suas obras com certeza 😁
Profile Image for Aldo Aube.
8 reviews1 follower
January 10, 2025
* 4,5 ⭐️

É impressionante como Lygia tem essa capacidade de fazer contos que perduram na sua mente e te deixam se questionando o que realmente está sendo contado. Às portas da obviedade e da abstração, Lygia escreve como se pintasse um quadro por cima de uma foto (o exemplo mais claro disso é o conto Tigrela). O quadro é bonito, mas o sentido da foto é o que faz da Lygia contista um acontecimento.

Por enquanto, esse é o meu livro favorito de contos da autora. Todos os contos são bons, mas a supremacia de alguns faz com que os outros sejam diminuídos.


Meus contos favoritos: Tigrela, A Sauna, WM e A mão no ombro.

P.S. Demorei para entender a lógica do conto Seminário dos Ratos (Lygia é fantástica mesmo) e UAU!
Profile Image for G.
797 reviews21 followers
April 29, 2020
As nuances da natureza humana em foco. Muito bom.
Profile Image for Camila.
12 reviews
February 4, 2023
esse livro foi chatíssimo e eu terminei na marra, o único conto que salva é o que dá nome ao livro.
Profile Image for izzy.
284 reviews10 followers
March 29, 2024
meus contos favoritos:
– tigrela
– herbarium
– pomba enamorada ou uma história de amor
– WM
– noturno amarelo
– a consulta

um prazer começar a ler lygia por esse livro!
Profile Image for eládja .
91 reviews5 followers
February 1, 2025
contos favoritos:

as formigas
tigrela
lua crescente em amsterdã
seminário dos ratos
Profile Image for Isabella Ferraz.
327 reviews1 follower
August 5, 2024
até os contos ruins dela são bons! achei que pra ser 5 estrelas faltou alguma coisa mas amei no geral. meus favoritos foram herbarium e wm, mas uma menção honrosa pra as formigas e tigrela :)
Profile Image for clara.
81 reviews4 followers
January 3, 2024
meu conto fav foi noturno amarelo <3 com menções honrosas para a presença, a mão no ombro, a sauna e herbarium!!
Profile Image for Gabriel.
15 reviews
July 30, 2025
Minha introdução à Lygia.

Reflexões:

primeiro conto: achei que faltou um final mais desenvolvido

senhor diretor: (muito bom! falando sobre puritanismo e superioridade moral)
“como é que estão se defendendo os que têm vocação para a santidade?” 21
“os gritos, os risos, a raiva - tudo uma coisa só. no fim do ano, se despediam chorando, me davam flores. todos me esqueceram. a marca ficou só em mim, nesse meu jeito de olhar as pessoas, vigilante, desconfiada. a verdade é que eu tinha medo delas como elas tinham medo de mim, mas seu medo era curto. o meu foi tão longo, senhor diretor. tão longo” 25 sobre as alunas da escola que eram mais livres “excitadas, úmidas, explodiam” e todas as outras pessoas depravadas que essa personagem teme (e que no fundo parece querer ser)
“filme nacional? nacional, claro, se tem cama, mulher com cara de gozo e homem em trajes menores, só pode ser cinema brasileiro, uma verdadeira afronta” 26 visão do brasil como peito e bunda
“esse gozo, essa alegria úmida nos corpos” 29
“Que eu sei desse desejo que ferve desde a bíblia, todos conhecendo e gerando e conhecendo e gerando, homens, plantas, bichos” 29
“Eu tinha inveja da sua vida inquieta, imprevista, rica de acontecimentos, rica de paixão - era então inveja?” 30

tigrela - interessante mas bem críptico. conversa de bar sobre essa tigreza que cria em casa
“só eu notei que está ocupando mais lugar embora continue do mesmo tamanho” 35

herbarium:
“Deixei de roer as unhas e deixei de mentir. Ou passei a mentir menos, mais de uma vez ele me falou no horror que tinha por tudo quanto cheirava a falsidade, escamoteação” 42

“Precisaria agora perguntar à Tia Clotilde em que linha do destino aconteciam os reencontros” 48

muito bonito e detalhado… também com códigos interessantes sobre mentira e guardar um amor dentro de si. a personagem acaba vendo o homem botânico ficar com outra pessoa e no fim entrega-lhe uma folha sozinha e rara, que escondeu até o último minuto. talvez a entrega dela mesma? ou uma persistência na mentira de que o ama, e resolve “florear” com uma folha?

A Sauna
“No inferno deve ter um círculo a mais, o dos perguntadores fazendo suas perguntinhas, seu nome? sua idade? massagem ou ducha? fogueira ou forca? - sem parar. Sem parar. Marina também já fez muita pergunta mas agora deu de ficar me olhando. Tempo de perguntar e tempo de olhar e esse olhar soma, subtrai e soma de novo, ela é excelente em contas” 50

“Ela acendeu um cigarro, sinal de que estava disposta a conversar, acho que o que fica mesmo de um longo casamento é a gente saber quando o outro quer falar ou ficar quieto” 51

“Os olhos eram duas folhinhas de eucalipto - foi como desenhei no retrato, só descobri que eram bonitos quando comecei a pintá-los” 55

“ela achava que os perfumes deviam dormir algum tempo, como os vinhos” 55

"— Eu tomaria uns três litros d’água. Fácil — murmura o homem levantando a cabeça e olhando o teto. Tem olhos de peixe com saudade do mar. — Um litro atrás do outro"

"Posso ser calculista. Mas ninguém é só cálculo. Ninguém é só interesse."
"Acho que nunca me entreguei totalmente, isso não, sempre ficava uma parte — menor ou maior? — de mim mesmo quevolhava com lucidez a outra parte possuída"

"Tentei refazer o retrato e ficou uma imitação pobre: apenas uma moça na janela
segurando uma laranja e não a Rosa segurando o meu mundo, foi o meu mundo
que ela segurou quando lhe dei a laranja,"

A Sauna: gostei de várias partes, mas num todo achei muita informação, talvez meio prolixo. É difícil focar em todos os detalhes, mas talvez seja a intenção para descrever Rosa e Marina nas mais puras minúcias conforme ele se lembra em meio ao vapor da sauna.

Pomba Enamorada ou Uma História de Amor
sobre uma stalker eterna de um babaca que não dá a minima pra ela. no final, mesmo velha e já com netas, uma cartomante lê suas cartas e diz que ela ainda tem chance. ela fala "que está velha demais" mas decide ir mesmo assim ver se as cartas se concretizam. um conto leve e gostoso de ler, com uma pitada de frustração pela submissão da mulher.

WM
"rezo muito, mas não aos santos limpos, rezo aos outros, aqueles rasgados por espinhos, por
demônios"
"Por esse W ela foi subindo ágil com seu passo elástico, atingiu a ponta aguda da letra e ficou equilibrada lá no alto, bailarina de malha cor-de-rosa se apurando no seu exercício mais raro, as sapatilhas de cetim num prolongamento do ângulo. Desequilibrou-se e rolou pela encosta da letra até ficar comprimida no fundo, nesse segundo vértice que toca o chão. No escuro, presa entre as duas paredes, ela continua até agora."
"Levei-a para um hotel. Por dois dias esqueci Wanda, mamãe, esqueci aquele eme andando de cabeça para baixo, plantado nas mãos — esqueci tudo em meio ao gozo, eu estava precisado desse gozo feito de pausas amenas, Wing só falava amenidades com sua voz mais leve do que a asa de uma
borboleta."
" A noite estava gelada, mas era quente o hálito de Wanda me contando como lhe fazia bem a análise. Contei-lhe o quanto me fazia bem o amor"
WM: Conto interessante. Sempre me atrai a ideia de loucura de uma maneira onde enxergamos a realidade pela ótica do "louco". Ele é quem fazia a análise, mas enxergava como se fosse outra. Só sabia se ver de fora, maneiras de dessensibilização.

Lua crescente em amsterdã
"Os cabelos lhe caíam em abandono pela cara, mas através dos cabelos e da folhagem podia ver o céu."
"Se você me amasse mesmo, faria agora um ensopado com seu fígado, com seu coração. Meus cachorros gostavam de coração de boi, eram enormes. Não vai me fazer um ensopado com seu coração, não vai?— Meu coração é de isopor e isopor não dá nenhum ensopado."
"De onde vinha esse peso?
Das lembranças? Pior do que a ausência do amor, a memória do amor."

Mão no ombro - conto hermético pra caralho. revisitar algum dia. Sonho sobre morte, a morte tocando no ombro.

A presença
"Por mais tolos que esses velhos pudessem parecer, guardavam o segredo de uma sabedoria que se afiava na pedra da morte."
Sobre: acaba com os velhos, supostamente, matando o único hóspede jovem do hotel por envenenamento.
é um conto mais leve e ao mesmo tempo interessante de pensar sobre as coisas que mantemos e como nutrimos vínculos de posse. o hotel hospedava praticamente só idosos. ao chegar um jovem, isso põe em cheque uma rotina, familiaridades preestabelecidas e para alguns, isso é inaceitável. talvez um paralelo com o conservadorismo que também é brevemente citado no texto e as impunidades de quem comete atrocidades para defender esses ideais.

Noturno Amarelo
"aventura medíocre de gozo breve e convivência comprida."
"me vi a mim mesma, tão mais velha e ainda guardando uma ambígua inocência"
"estava tão jovem e de cabelos soltos e cara lavada que me perturbei: era como se me visse vir vindo ao meu próprio encontro num flagrante de juventude"
"seu riso era tão confiante que achei injusto que o tempo continuasse e quis correr e agarrar o pêndulo do relógio, para!"
"logo nos primeiros encontros descobri que a traição faz apodrecer o amor. Na rua, no restaurante, no cinema, na cama e em toda parte, Eduarda, você esteve presente. Cheguei um dia a sentir sua respiração"
"Não estava gostando nada dessa ideia de avião, por que os jovens têm mania de avião? Tão melhor um vapor, ih, as deliciosas viagens por mar"
Um dos meus favoritos. Desde o início a ideia de memória é retratada de uma maneira muito visual. É possível perceber em meio às palavras como aquilo tudo era uma alucinação de uma história que passa diante dos nossos olhos ao ver alguém. Uma família, amigos.

A Consulta: um dos mais fáceis de ler e uma ótima ideia. Deixar um paciente mental encarregado de cuidar de um espaço porque se acredita que ele está já melhor, quando ele não está, e isso acarretar na possibilidade dele fornecer conselhos perigosíssimos a um outro paciente (mas que, no fim, de fato, eu senti que faziam sentido seus conselhos de enfrentar a morte com morte, viver o medo para vencê-lo...) mostra como a terapia exige uma navegação complexa e estudo para lidar com pessoas. Um passo em falso pode causar uma tragédia.

Seminário dos Ratos: interessantíssima a ideia e conceito dos ratos assumirem e realizarem um seminário quando a ideia do seminário dos humanos era justamente exterminá-los e, devido à sua finitude e às suas limitações, desorganizações, perdem o controle. Os ratos se mostravam mais organizados e estratégicos do que os próprios humanos.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Jamyle Dionisio.
18 reviews1 follower
February 7, 2022
Lygia arrepia. Sabe-se lá como faz isso, a bruxinha. Parece mesmo que as palavras saem do livro e nos cercam com um exclusivo leitmotiv. Por vezes, elas diminuem também a temperatura do ambiente. Em alguns trechos dá vontade até de rir, mas no fundo sabemos que “Melhor não”, porque pressentimos que algo de terrível acontecerá em seguida.

Lygia Fagundes Telles, para mim, é a Rainha Absoluta dos contos. “Dominar com maestria” é expressão pequena para dar conta. Vou chamá-la de Mistress Lygia, porque a danada controla cada uma das historietas e nos controla por extensão: nos prende ali, na frente do livro, respiração quase suspensa, boca aberta em expectativa. O lírico, o cotidiano e o atroz se combinam de tal forma que mergulhamos nos fantasmagóricos possíveis de contos como As Formigas, Tigrela, Sauna. Mistress Lygia sabe onde acarinhar, onde fazer cócegas, onde beliscar. E os títulos? Coisa mais difícil é dar título a um conto, a um livro… não para ela. O título instiga, dá pistas, destaca, merece análise própria, enfim.

Ah, e os finais? Tão difícil quanto dar nome a um conto é terminar um conto. Não para ela, mais uma vez. Ali, na última linha, o fechamento é sempre de um Fantástico tão cortante e vivo que dói no Real, arde vermelho como ferida recém-aberta. Tem vez que é preciso fechar o livro, segurar o grito e respirar, respirar, pra sair devagar daquele conto antes de entrar no próximo. Nem sempre é possível: sabe quando a gente não consegue se mexer nem sair do sonho? Pois é.
(Pode ser paralisia noturna. Pode ser Lilith. Pode ser Lygia)

O Seminário dos Ratos foi publicado em 1977 e traz 13 (!) contos. Meu livro, da @companhiadasletras , traz todos os contos da escritora em uma edição preciosa que dá gosto de ver e manusear. Capa dura, papel pólen levemente amarelado, fotos da Lygia em preto e branco, detalhes em verde mentolado e azul-marinho.

(Para acompanhar, o já mencionado Blood Orange, mistura de chá preto com essência cítrica e flor de açafrão. Acho, aliás, que esse chá vai me acompanhar pelo livro inteiro.)


@chadepalavra
Profile Image for vitória.
22 reviews50 followers
January 25, 2020
costumo não gostar tanto de livros de contos e ter dificuldade para entender as metáforas, o que não foi diferente nesse livro, mas confesso que gostei mais do pretendia! por ser leitura obrigatória da unicamp já esperava críticas políticas e reflexões existenciais, que foram muito boas por sinal. o último texto faz perfeito jus ao nome da obra, uma grande representação sociopolítica da ditadura militar. por ser uma romântica brega, meu conto favorito ficou sendo “lua crescente em amsterdã” (“quando acaba o amor, sopra o vento e a gente vira outra coisa”).
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