O terceiro e aguardado livro de uma das principais vozes da poesia brasileira.
Oito anos depois da publicação do já célebre Um útero é do tamanho de um punho ― lançado em 2012 pela Cosac Naify e reeditado em 2017 pela Companhia das Letras ―, Canções de atormentar traz o olhar afiado de uma poeta que, com inteligência e ironia, observa a si e ao mundo. Os poemas rememoram a infância no Sul, com o pé de araçá plantado pela avó, relatam o esforço inútil de tentar compreender o Brasil de hoje e discutem a injustiça, o machismo e a nostalgia de uma nação que não passou de projeto.
Em “porto alegre, 2016”, que trata da migração e dos protestos nas ruas, violentamente refreados pela ordem pública, a poeta escreve: “agora a colher cai da boca/ e o barulho de bomba é ali fora/ e a polícia vai pra cima dos teus afetos/ munida de espadas, sobre cavalos”. Canções de atormentar reúne poemas ora ferozes, ora desiludidos, sem nunca perder de vista a urgência, a vivacidade, o humor e o tom incisivo que consagraram Angélica como um dos nomes mais originais da literatura contemporânea.
Nasceu em 8 de abril de 1973, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Estudou jornalismo em Porto Alegre, na UFRGS. Trabalhou como repórter no O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje, em São Paulo. Atualmente dedica-se à tradução de poesia e ao segundo livro, com pequenos poemas de viagem pela Bolívia. Publicou em diversas revistas como Inimigo Rumor, Diário de Poesía (Argentina) e aguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil (Buenos Aires, 2006). Rilke shake é seu primeiro livro (coleção Ás de Colete) e está na lista dos 51 títulos que foram aprovados pela comissão do Prêmio Portugal Telecom 2008. Por anos manteve o blog tome uma xícara de chá.
Claro que se você está esperando uma obra-prima à altura de Um Útero é do Tamanho de um Punho (que é um dos meus livros favoritos da última década) você irá se decepcionar, aqui o grau de excelência é mais condizente com o de Rilke Shake e que todos sabemos não ser nenhuma tragédia e por si já coloca Freitas entre as poetas mais interessantes da poesia contemporânea brasileira.
o primeiro livro de poesia desse perfil eh especial; finalmente consegui ler o aguardadíssimo “canções de atormentar”, da angélica freitas. publicado oito anos depois do “um útero é do tamanho de um punho” e fruto de 11 anos de escritos, o livro é, segundo a própria poeta, uma síntese do que foi publicado anteriormente.
o livro, que parece um pouco uma coletânea, trata do amor entre mulheres, acontecimentos rotineiros, política e memórias da infância. os meus poemas favoritos são os que tratam de episódios cotidianos (como “louisa, por que não me googlas?”) e os que dialogam com outros artistas.
a angélica consegue trazer força para as palavras, que chegam a atravessar os ouvidos e talvez soem como canções de atormentar, como aquelas que saem das sereias sem rabo de peixe.
quem não pode ser marinheiro/ por força das circunstâncias/ quem não pode viajar o mundo/ dentro de embarcações/ deve imediatamente/ contemplar a ideia/ de virar sereia
Existe muita força na poesia jovem contemporânea que se faz no nosso país, e um exemplo sério está contido neste livro. Abordando diversos assuntos, Angélica domina com maestria e ironia a sua arte (mesmo, às vezes, tratando sobre assuntos passíveis de seriedade).
Menções honrosas aos poemas "aviões? estetoscópios?", "Cruzeiro", "a história mais velha do rock n' roll" e "Porto Alegre". __ Porto Alegre
quando você viu na tv /aquelas pessoas em fila na chuva / à noite numa estrada / na fronteira de um país que não as deseja / e quando você viu as bombas / caírem sobre as cidades distantes / com aquelas casas e ruas / tão sujas e tão diferentes / e quando você viu a polícia / na rosca do país estrangeiro / partir para cima dos manifestantes / com bombas de gás lacrimogênio / não pensou duas vezes / nem trocou o canal / e foi pegar comida / na geladeira / não reparou o que vinha / que era só uma questão de tempo / não interpretou como sinal a notícia / não precisou estocar mantimentos / agora a colher cai da boca / e o barulho de bomba é ali fora / e a polícia vai para cima dos teus afetos / munida de espadas, sobre cavalos. __ A história velha do rock n' roll (...) * quem não pode ser marinheiro / por força das circunstâncias / quem não pode viajar o mundo dentro de embarcações / deve imediatamente / contemplar a ideia / de virar sereia * (...)
Só vou rabiscar uma leve resenha pois é o último livro de poesia que eu li da autora, e o meu espírito se põe um tanto quanto congruente em relação a todos: gostei e desgostei aqui do mesmo tipo de poemas que gostei e desgostei nos outros dois.
O humor tão elogiado me escapa, talvez? Sempre me atinge como trivial e indeciso. Os poemas de cunho político são infantiloides na mobilização meio farsesca de muitas imagens que nada de relevante dizem, estruturam, significam. Curiosamente, o mais direto e incisivo ("Porto Alegre, 2016") me parece o mais exitoso em ser um bom poema político. Nas pequenas estórias e narrativas condensadas em versos estão os melhores momentos. De resto, há um mal-acabamento, um laxismo formal, um autobiografismo maçante, apoiados em um certo impressionismo - quando parece que algo vai acontecer, um arco de métaforas e imagens vai se desenhar, a sacada virá (o que eu sinto que acontece com maior frequência em "Rilke Shake", seu melhor livro), o poema acaba.
E assim eles vão acabando, em pelo menos 40% do livro, e se tornam esquecíveis e anódinos. Os poemas que compensam os sucessivamente ruins não são lá extraordinários, restando um travo de que nada de muito impactante foi lido, afinal.
penso nos cadernos de angélica freitas, cada um aberto sobre sua própria mesa. a alternância dos lápis. penso sobre as coisas mínimas, as micro-cenas do dia-a-dia, a ação microscópica. penso no frescor da infância. penso na mitologia dos autores. no prazer da literatura, na escolha de amá-la, fundamentalmente. penso nos habitats do escritor. na geografia dos versos. penso nas sereias. penso nos gatos, nos gatinhos. penso no temor dos anos prévios. quando aparecem por acaso diante de mim, penso nesse livro.
Alguns muito bons, outros apenas oquei e uma quantidade considerável de poemas que reagi com: ????? Reli quase todos, leituras lentas e mais atentas, mas mesmo assim: não me desceu. O verso livre e a excessiva descontração me deu a sensação de que não tá sendo dito nada que faça sentido numa forma que faça sentido. Bom ler poesia vezenquando, mas nossa. Me fez lembrar do porque leio tão pouca poesia.
Contemplar a ideia de virar sereia <3. O que mais me pegou é como que de "quem leva a sereia à sério", lá em Rilke Shake, chegamos na sereia que canta para os males atormentar, que impõe a voz de criaturas (que anne carson bem pontua em "gender of sound"). Baita livro, muito para pensar.
a poetisa chega à alfândega e o funcionário da polícia federal logo desconfia. pede-lhe que abra as palavras. “isso pode demorar”, pensa a poetisa. as palavras estão carregadas de significado até o máximo grau possível. o funcionário pergunta-lhe se ela sabe quanto significado pode trazer nas palavras. a poetisa diz que sim. o funcionário da polícia federal balança a cabeça e diz que infelizmente vai ter de registrar a infração.
A poetisa/poeta tem voz firme que descasca os motins que nos pregam peças em nossos cotidianos. A poesia dela é como facas que voam desde a mão da atiradora até a tábua onde giramos nós ao redor das palavras. É tão áspero que as vezes parece língua de gato antes da mordida. No entanto, me parecem poemas ainda buscando motivos, que não encontram uns nas companhias dos outros neste livro. Tudo parece uma capa de gelo que esconde a perigo, mas nem há tanta corrente assim por debaixo do que congela. As canções de Angélica atormentam a si mesmas. Ao leitor, cabe as vezes não entrar nessa briga, porque não é sua. Se entrar, não há lado, apenas lodo.
Angélica provocou boas gargalhadas poéticas, ao mesmo tempo que aqueceu o coração com homenagens singelas ali presentes. Admiro demais seu talento refinado de escolher e arrumar palavras para contar histórias e dizer verdades através de poemas.
Overview:It was the author's first book I read, and I wouldn't say I have a good impression after reading it. There is no direct relation to the poems themselves, but I have a hard time engaging with modern poets. The experience has hurt my sentiments about reading this particular subgenre of literature, so that I will be honest about it. As I am not an academic specialist in this field, an analytical review is out of the question. There is a sense of urgency in certain poems, while in others, there is a sense of sorrow. Around 34% of the book, I was sure I liked four of the 22 poems I've read so far, and I wouldn't say I liked one. On the other hand, I didn't find any of them particularly inspiring. But it was my state of mind because, as I said before, poetry takes me out of my comfort zone. In general, I'm not a fan of modern poetry. I prefer the classic ones, but I'm open to new ideas. The great majority of them bored me, regardless of whether they made sense to others or not. Of the remainder, I loved six; I would say I liked just one, and the others were indifferent to me.
Pros:The poems illustrate the author's youth in southern Brazil, family life with grandparents, and an effort to comprehend the country's recent dubious course. This book is filled with nostalgia, injustice, and memories.
Cons:Most of the poems are incoherent to me and do not make any sense at all. They did not strike a chord with me, except a couple that evoked everyday life.
“Canções de Atormentar” de Angélica Freitas foi publicado no Brasil pela @companhiadasletras que me enviou um exemplar de cortesia. Esse foi meu primeiro contato com a autora, que muitos de vocês haviam me recomendado a leitura. Os poemas foram escritos entre 2008 e 2020 e abarca diversos temas como corpo feminino, política, lembranças da infância, mescla de idiomas e outros. A série que dá título ao livro nasceu de uma performance em parceria com Juliana Perdigão em 2017. Em alguns poemas, senti uma certa urgência nas palavras, uma vivacidade. Outros tinham um tom de humor ácido, irônico que gostei bastante. Os que se tratavam do corpo me pareceram ferozes e por vezes incisivos. Esses foram os que mais me agradaram. Talvez minhas expectativas estivessem altas demais e isso tenha atrapalhado um pouco minha experiência de leitura, gostei muito das poesias de Angélica Freitas, mas não amei como achei que aconteceria. Ainda assim, quero ler “O útero é do tamanho de um punho” e continuar acompanhando a produção da autora. “quantas vezes pode uma mulher deixar a casa e o trabalho virar corpo e o corpo virar casa e entender que volta não existe”
Terminei a leitura deste pequeno livro essa manhã, eu preferi ler devagar, dois ou três poemas por dia para não me perder, achei melhor tirar uns minutos para refletir. De qualquer modo eu acho muito difícil fazer resenha de poemas, é subjetivo demais, só posso dizer que o que percebo nesses poemas, o assunto por assim dizer é tirado da memória, memórias de infância, de viagens, experiência, amores, do quotidiano, o corpo feminino, a realidade nua e crua, o consumismo. Há uma homenagem (não sei se é referência ou homenagem, mas vou chamar assim) a Ana Cristina César, Ana C.
Esse foi meu primeiro livro da autora, Angélica Freitas que nasceu em 1973, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, é formada em jornalismo e, além desse livro Canções de Atormentar, já publicou Rilke shake e Um útero é do tamanho de um punho, reeditados pela Companhia das Letras.
Tiro meu chapéu para a Angélica há exatos 26 anos no próximo 20 de março. Sou suspeito? Sou. Inclusive devo ser um dos três Marcelos da universidade, da universidade e da universidade que ela evoca num dos últimos poemas da obra. Mas o livro é bom? Ô. A Angélica se coloca inteira nos poemas. Lê-los é como tomar um café com ela, dá pra ouvir todo o jeitão dela de falar e inclusive tá ali o sorriso e a preocupação com o mundo que a cerca. Grande poeta. Grande ser humano.
Uma miscelânia de poemas, alguns pendendo para o relato pessoal, alguns de humor e sarcasmo, outros engajados socialmente, alguns mais líricos. Pode ser uma leitura divertida e interessante se você entrar no clima dos versos 'aparentemente' fáceis sobre situações cotidianas. O último poema, que dá título ao livro, é muito bom. Também gostei de "para as minhas calças"; "traíra"; "ana c."; "le cahiers du bois de pins".
Não sei se a inspiração de Angelica Freitas terminou em Um útero é do tamanho de um punho ou se o Walter que leu Um útero é do tamanho de um punho em 2018 é um Walter radicalmente diferente do Walter de 2025 e por isso Canções de atormentar, de Angélica Freitas, a mesma autora de Um útero é do tamanho de um punho, livro de poemas que tanto gostei quando o li em 2018, me pareceu tão fraco, carente, forçado, quase como uma obra poética escrita por encomenda. Não sei e talvez nunca o saiba.
não é ruim só é extrema e essencialmente subjetivo e abstrato. o que exige uma concentração e capacidade compreensiva que meus três neurônios de fim de curso nn me permitem ter no momento .mas foi uma boa indicação e acho que existem livros da autora que posso gostar mais. até pq os temas escolhidos e a falta de linearidade me atraem muito! quem sabe no futuro..
Adoro como nosso mundo antipoético entra na poesia de Angélica Freitas, mundo de hoje, da poluição, do apelo ao consumo, dos automóveis assassinos e tanto mais. Ela transforma essa matéria tão avessa nessas canções de atormentar.
Adorei muito das poesias. Pra mim foi como ler uma coletânea de poemas, embora não seja usada esse nome. Isso porque tem uma variedade grande de assuntos e estilos.