Fabrício Queiroz, Adriano da Nóbrega, Ronnie Lessa. Os três foram protagonistas de uma forma violenta de gestão de território que tomou corpo nos últimos vinte anos e ganha neste livro um retrato por inteiro: as milícias. Dos esquadrões da morte formados nos anos 1960 ao domínio do tráfico nos anos 1980 e 1990, dos porões da ditadura militar às máfias de caça-níquel, da ascensão do modelo de negócios miliciano ao assassinato de Marielle Franco, este livro joga luz sobre uma face sombria da experiência nacional que passou ao centro do palco com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2018.
Bruno Paes Manso holds a PhD in Political Science from the University of Sao Paulo (2012), an MA in Political Science from the University of Sao Paulo (2003), a BA in economics from the Faculty of Economics and Business of the University of Sao Paulo (1993), and a BA in journalism from the Pontifical Catholic University (1996).
Livros que deveriam ser leitura obrigatória para qualquer brasileiro. Uma reportagem perfeita, fazendo um raio x preciso sobre a origem, ascensão e consolidação dos grupos paramilitares no Rio e governo Bolsonaro. Não é um estudo aprofundado sobre as milícias, mas uma retirada do véu, a partir de um olhar historiográfico, para algo que está bem diante dos nossos olhos. Excelente trabalho do Bruno Paes Manso!
Terminei agora, com a sensação de um soco no estômago. Ler esse livro te da a exata noção de quanto vai ser difícil sairmos do buraco em que nos metemos. Eles estão no poder.
Por que as milícias imperam desde 2000 até hoje? Quem lhes deu aval e campo de atuação? Por que homens acreditam que matar é certo, mesmo sendo moral e tipicamente ilegal? Qual a visão desses milicianos frente a sociedade? A quais grupos pertencem? Essas e diversas outras indagações são basilares para uma visão ampla daquilo que o Estado tem tolerado a décadas, de modo que a obra de Paes Manso nos leva a adentrar um pouco no universo miliciano.
Entrevistando participantes das milícias, como Lobo e Pescador, o autor busca esclarecer a lógica da atuação desses no estado do Rio de Janeiro. Convictos de que violência produz ordem, que entre viver entre o tráfico e a milícia, esta última oferta melhores benefícios, somos postos a um emaranhado de informações acerca da sistemática das milícias, desde os supostos serviços ofertados, como gás e gatonet, até as práticas mais brutais de assassinatos e torturas realizadas por eles.
Rememorando e reconstituindo sua formação, estamos a par desde o nascimento das milícias, da a criação de grupos de extermínio, de sua influência no período do Golpe Militar, das descrições de torturas brutais e assassinatos cruéis, do nascimento da principal milícia de Rio das Pedras e sua organização exemplar às demais, da revenda e desvio de armamento, até a ligação destas com organizações também criminosas como o Comando Vermelho, Terceiro Comando, Amigos dos Amigos, e claro, não muito chocante, com a família Bolsonaro.
Desta forma, o autor expõe uma elucidativa, mas não exatamente profunda, análise das milícias que imperam no Rio, além de questões cotidianas que marcaram o país, como a tomada do Morro do Alemão e o assassinato de Marielle e Anderson. Ademais, o autor traça as relações de força que elegeram o atual presidente, assim como seu discurso truculento, semelhante a dos milicianos. Além, é claro, dos discursos pró milícia que a família Bolsonaro expunha no plenário, como a exemplo, quando em 2007 Flávio Bolsonaro diz que não se pode estigmatizar as milícias, que há uma série de benefícios em sua presença. Desta forma fica a recomendação de uma boa obra.
Lamentavelmente mais um trabalho vítima da pressa editorial. O livro entrelaça o processo de pesquisa do próprio autor e uma historiografia um tanto recortada e confusa da evolução do crime organizado no RJ. Acredito que o trabalho acadêmico do autor seja uma análise mais coerente do fenômeno social, ao contrário do livro que, apesar do conteúdo interessante que motiva uma leitura rápida, vai e vem na sequência de eventos históricos de uma forma que não favorece o argumento central do livro. Tudo é feito para que o leitor reconheça um certo evento, o correlacione com uma manchete vista em época e monte o contexto com base na análise do autor. O resultado é decepcionante do ponto de vista argumentativo...
Ainda sim, um livro necessário para os tempos atuais. Espero que futuras edições corrijam a estrutura do trabalho e que implementem o uso de organogramas, mapas e registros fotográficos históricos típicos de livros de grandes reportagens. Da forma como está, serve apenas a cariocas e outros brasileiros que já estão familiarizados as cores locais.
Livro excelente, o autor dá uma perspectiva histórica tanto das milícias quanto das facções de drogas. Leitura muito interessante para compreender melhor esses dois fenômenos, além de escancarar a promiscuidade das instituições policiais do Rio.
A ligação da família Bolsonaro com as milícias é algo perturbador, mas creio que o autor peca em não trazer algo de novo sobre isso. Minha impressão é que faltou uma ponte entre os capítulos de conclusão e o restante do livro, como se o autor estivesse apressado para terminar de escrevê-lo.
Excelente livro! Leitura obrigatória e fundamental para compreensão do momento social e político do Brasil. Com uma narrativa bem escrita, Bruno Paes Manso contextualiza historicamente a dinâmica da disputa por poder entre bicheiros, traficantes e milicianos. "A República das Milícias" é uma investigação densa e detalhista, e não duvido que fundamente futuras pesquisas acadêmicas, especialmente sobre o período sombrio que estamos vivendo
“De 1990 a 2019, mais de 200 mil pessoas foram assassinadas no Rio de Janeiro – a maioria negros, homens, com menos de trinta anos, moradores de bairros pobres”. Esse trecho, lá pelo meio do livro ajuda a explicar um pouco o caos que é o Rio de Janeiro e de como a cidade e o estado são uma espécie de microcosmos do que o Brasil. Se até o início dos anos 1960, o Rio era a cidade maravilhosa, centro inequívoco da vida cultural do Brasil, símbolo de uma certa imagem do país – tropical, leve, feliz –, foi aos poucos se tornando imagem de um outro Brasil – bruto, violento, criminoso, assassino. O crescimento acelerado das grandes cidades, criou bairros e favelas gigantescos, deixados ao léu pelo poder público, que pouco a pouco foram sendo dominados pelo crime e, em especial, pelo tráfico de drogas, ali por meados dos anos 1970. O livro tenta fazer uma descrição de como nesse processo de degradação do tecido social no Rio foi acompanhado pelo surgimento das milícias, grupos paramilitares oriundos das fatias corrompidas da polícia, herdeiros daqueles primeiros grupos de matadores, assassinos pagos para proteger pessoas contra o crime, ainda nos anos 1960. A milícia ganha força aos poucos, oferecendo a miragem da tranquilidade diante do tráfico, a grande fonte de terror para as favelas durante décadas. Nascidas do caos social, o alimentam ao conviver com bicheiros, diversas facções criminais, políticos corruptos ou populistas. Ora se aliam ao alguns grupos, ora com outros, ora se metem em lutas fratricidas ou se envolvem mais diretamente com a política. Além disso, como complicador, grupos evangélicos surgem como atores políticos relevantes na política a partir da década de 1990. Há, por exemplo, caso de traficante que se anunciava como “bandido de Cristo”... O livro, porém, peca ao tentar amarrar pontas demais. É muita coisa que acontece durante as décadas de apodrecimento da sociedade fluminense. Em alguns momentos, a descrição dos fatos ou dos personagens fica um pouco confusa. Talvez, ele precisasse de mais umas 300 páginas. Isso não tira, porém, a importância do livro para se compreender o Brasil que entra na terceira década do século XXI. Posto isso, o apodrecimento da sociedade fluminense vai se agravar com a conexão com políticos como o então deputado Jair Bolsonaro, figura da política brasileira dos anos 1990 e 2000. Mas, ao mesmo tempo em que ele se sustentava como um deputado federal folclórico, foi criando vínculos com pessoas das milícias, caso, por exemplo, do falecido capitão da PM, Adriano da Nóbrega. O livro termina com uma conclusão bastante sombria. Segundo ele, “Bolsonaro e sua família são representantes ideológicos de uma cultura miliciana que se fortaleceu no Rio e chegou à presidência do Brasil. Defender extermínios, seu pensamento dizia, era lutar como um patriota pela missão de livrar o Brasil do mal”.... Enfim, pelo menos por ora, a milícia (e a sua cultura de morte) venceu no Rio, basta ver a situação em que a cidade e o estado se encontram quando escrevo (final de 2020). Resta saber se o Brasil conseguirá sobreviver a expansão dos negócios milicianos para além das divisas estaduais. É possível que não.
Fiquei meio em cima do muro enquanto lia esse livro. Alguns capítulos eu adorei, outros eu fiquei me perguntando porque ainda estava lendo. No fim, a curiosidade venceu. O autor fez o trabalho investigativo muito bem, e é fascinante ler sobre como o crime é comandado no Rio de Janeiro, como o território é dividido entre facções e diferentes negócios, quais os "esquemas" que eles têm e com quem. No entanto, o autor fica pulando na linha do tempo durante o livro todo, o que acabou me confundindo na maior parte do tempo já que até ler esse livro o meu conhecimento nesse assunto era relativamente 0. Quando terminei de ler o livro, senti falta de uma resposta coesa para a promessa do título: apesar de conter toda a história de como o Rio veio a funcionar como uma "república das mílicas", senti que não houve uma linha coesa ligando os esquadrões da morte e a era Bolsonaro. Os últimos dois capítulos, se não me engano, tocam nesse ponto, mas me parece pouco para um livro inteiro dedicado a isso.
o autor não só fez um trabalho incrível (e corajoso) para explicar como surgiram e se fortaleceram as milícias no rio de janeiro, como também trouxe uma análise muito precisa de como o país se permitiu ser tomado pelos pensamentos doentios e equivocados que nos trouxeram à situação atual. infelizmente, conhecer a verdade muitas vezes também vem acompanhado de uma sensação inevitável de desânimo, que é o que estou sentindo depois dessa leitura e diante de tudo que estamos vivendo.
"Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?"
Leitura essencial para compreender o Brasil da atualidade, especialmente na complicadíssima área de segurança pública, A República das Milícias, de Bruno Paes Manso, é o resultado de uma pesquisa primorosa e extensa acerca das milícias do Rio de Janeiro: das suas origens obscuras na ditadura militar até a sua alçada ao centro do debate público com a eleição de um presidente que passou sua carreira legislativa em conluio com essas organizações, condecorando e defendendo milicianos.
Manso escreve de maneira intrigante, fisgando o leitor com um estilo de quem conta uma história, quase uma fofoca, com os nomes e os personagens entrando e saindo, pintando aos poucos um quadro complexo, estranho e sobretudo multifacetado: as milícias não surgiram do nada, nem do dia para a noite. São fruto de um longo processo, que reflete não só o fracasso do poder estatal, o colapso da sociedade, a ascensão do crime organizado e a corrupção generalizada das forças de segurança mas também a faceta de extrema violência que parece inerente à ideia de Brasil e que permeia tantos aspectos da nossa vida em sociedade.
Infelizmente, difícil não terminar a leitura com um sentimento pessimista. É o Brasil, afinal de contas. Agora estou curioso para ler seu outro livro, dessa vez sobre o PCC.
Vou começar a minha análise dizendo que levei mais tempo neste livro do que eu previa, isso faz com que eu tenha tido um olhar mais detalhista sobre as informações contidas nele.
Pois bem, o livro trata de um assunto que até o ano passado ainda não fazia sentido na cabeça de muita gente (então por isso, considero que ele veio em boa hora), o qual é: Por que diabos, em 2021, uma figura como a de Bolsonaro conseguiu se eleger como presidente máximo do executivo do Brasil?
Entender as origens dos grupos paramilitares, suas alianças com os traficantes e os grupos de extermínio na região a qual foi o território de base eleitoral para esta figura, é primordial.
As eleições de 2018 vão ficar pra história como um dos maiores deslizes (se não o maior) do povo Brasileiro desde sua origem como sociedade civil, espero que as coisas melhorem a partir de então.
Bruno conecta os fios soltos dessa trama sobre um país que elevou milicianos ao mais alto degrau da República. Fazendo uma reflexão sobre como chegamos até aqui, o autor descreve e analisa as relações entre traficantes, milicianos e as polícias, emaranhado que resulta num caldeirão de violência do qual temos pouca chance de escapar nos próximos anos...
Livro bem escrito, onde o autor entrevista várias pessoas com histórico de participação em altos cargos da milícia (muitos ex-condenados pela justiça) e nos demonstra como funciona o sistema de milícias, o tráfico de drogas e suas relações e como isso evoluiu durante os últimos 30 anos até ao ponto de assumirem cargos importantes no estado do RJ chegando até à presidência da República.
Um excelente livro. Feito para limpar as lentes daqueles que buscam entender os caminhos perversos que a cidade mais encantadora do Brasil tomou. De inicio, é comum o choque e o espanto, mas com certeza a incredulidade dos fatos narrados te fará querer mergulhar profundamente nos assuntos tratados nesta obra necessária e complexa, de Bruno Paes Manso
Um suco do Rio de Janeiro, se transformando em suco de Brasil. A obsessão pelo confronto, justificada pelo pensamento de Guerra no qual se sobressaem os extremos. O autor reúne a boa investigação com a narrativa histórica.
Esperava encontrar neste livro um relato imparcial e aderente aos fatos. Minha esperança foi atendida em 80%, daí minhas quatro estrelas de avaliação. O relato é muito bom, mostra um submundo que a gente mal consegue imaginar que seja assim, tão duro e perigoso. No final, episódio 6 em diante, começam as parcialidades e o desvio do bom relato. Vale a escuta, sem dúvida. Mas, ativem o botão de crítica para passarem pelo final sem contaminação.
Uma profunda e excelente análise do fenômeno e a história das milícias, principalmente as do Rio de Janeiro. Gostei bastante como o autor aborda a interligação de diversos assuntos como bolsonarismo, jogo do bicho e tráfico de drogas. O livro é repleto de biografias das instituições e indivíduos envolvido. Com certeza é um livro recomendado para aquele que gostam do tema segurança pública e máfia.
Leitura obrigatória pra entender sobretudo o Rio de Janeiro atual e, em parte, a situação política do Brasil. O autor descreve as complexas conexões entre política, segurança pública, violência, tráfico, milícia, contravenção, e até mesmo religião, que tomam conta do contexto político do RJ, e que se expandiram pro Brasil mais recentemente. Grande trabalho combinando jornalismo e pesquisa, com uma boa escrita que te faz querer terminar o livro rapidamente. A obra demonstra como vai ser difícil sair do buraco em que estamos, mas desperta urgência ainda maior em combater a violência como ferramenta política.
Livro essencial para entender o processo de formação e expansão das milícias no Rio de Janeiro e como aquele estado chegou ao nível deplorável de segurança pública que está hoje.
Chama atenção como o projeto das UPPs estava fadado ao fracasso por não envolver o saneamento institucional das forças de segurança corruptas e com ligações milicianas cariocas.
Sem resolver esse mesmo problema, o atual governador do Rio de Janeiro anunciou recentemente mais um projeto inspirado na ocupação dos morros e comunidades da cidade. A iniciativa, de caráter claramente eleitoral, obviamente vai fracassar.
Outro ponto é que, além do problema das forças de segurança, o projeto das UPPs não se sustentou por causa do colapso fiscal do Rio de Janeiro e da falta de legitimidade dos atores políticos do Estado, já que diversos governadores foram presos pela Operação Lava-Jato.
O livro é um bom complemento à outra obra do autor "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil", porque foca também no modus operandi do Comando Vermelho e seus embates com outras facções cariocas. As diferenças entre o CV e o PCC ficam claras.