A "Farsa da Boa Preguiça" compõe a trindade das peças mais representativas da dramaturgia de Ariano Suassuna, junto com o "Auto da Compadecida" e "A Pena e a Lei", e, como elas, bebe na fonte do universo mítico e poético do Romanceiro Popular Nordestino. Montada pela primeira vez em 1961, a peça foi inteiramente escrita em versos, e traz, como um dos seus protagonistas, o poeta popular Joaquim Simão, escritor de cordel, cantador e adepto do ócio criativo — a boa preguiça de Deus, contrária à preguiça do Diabo. Peça preferida do próprio autor, a "Farsa" conserva o tom irônico e bem-humorado das comédias de Ariano e é considerada por parte da crítica como "a súmula de todo o seu teatro".
Ariano Suassuna (born João Pessoa, 1927) is a Brazilian playwright and author. He is in the "Movemento Amorial". He founded the Student Theater at Federal University of Pernambuco. Four of his plays have been filmed and he is considered one of Brazil's greatest living playwrights. He is also an important regional writer doing various novels set in the Northeast of Brazil. He received an honorary doctorate at a ceremony performed at a circus. He is the author of, among other works, the "Auto da Compadecida" and "A Pedra do Reino". He is a staunch defender of the culture of the Northeast, and his works deal with the popular culture of the Northeast.
SIMÃO PEDRO: Que brincadeira mais besta! Essa história do galo já está enchendo! Neguei a Cristo mesmo, e daí? A situação estava apertada, eu caí fora! Mas depois, quando chegou a minha vez, eu não venci o medo e não estava lá, na hora?"
Talvez seja a peça de Suassuna com crítica social mais forte que eu tenha lido. Dou 3,5/5 e arredondo para baixo pois não gostei tanto assim do final. Porém é mais uma peça engraçadíssima de Ariano Suassuna.
O cenário é o conhecido de todas as peças do autor: o sertão nordestino. Temos o poeta preguiçoso Simão e a sua mulher Nevinha. Simão é um poeta preguiçoso, o que leva Nevinha ao desespero, uma vez que o sustento da casa sempre fica por um fio. Temos também o "burguês" endinheirado Aderaldo e a sua mulher, Dona Clarabela, que é muito mais interessada nas aparências do que em qualquer outra coisa. As linhas de moralidade das personagens são bem tênues. Na linha das peças de Suassuna, temos três santos "apresentadores" da peça que além de contextualizarem cada início de ato, de vez em quando aparecem como personagens secundários e fazem comentários sobre o quarteto principal.
A peça é divida em três atos, "O Peru do Cão Coxo", "A Cabra do Cão Caolho" e "O Rico Avarento". Em todos os atos vamos ver o conflito ócio/trabalho, pobreza/riqueza, generosidade/avareza. Muito bom humor nos três, com tiradas muito engraçadas dos personagens (principalmente do poeta Simão).
No texto de apresentação da peça, Suassuna é bem assertivo, chegando até a comentar sobre geopolítica. Um texto politicamente muito engajado. Aqui alguns dos comentários tecidos pelo autor:
Ora, na minha arbitrária e talvez torcida opinião de brasileiro que nunca saiu de sua terra, esses Povos nórdicos são a raça com mais vocação para burro de carga que conheço. Nós, Povos castanhos do mundo, sabemos, ao contrário, que o único verdadeiro objetivo do Trabalho é a Preguiça que ele proporciona depois, e na qual podemos nos entregar à alegria do único trabalho verdadeiramente digno, o trabalho criador, livre e gratuito.
Atualmente, a nossa situação é esta: de um lado, uma minoria de privilegiados, com direito ao ócio, quase sempre mal aproveitado, danoso e danado; do outro, o Povo, colocado entre duas cruzes: a cruz do trabalho escravo, intenso e mal remunerado, e a cruz pior de todas, a do ócio forçado, a do lazer a pulso do desemprego.
Curiosamente, aparece uma reflexão que é bastante atual nos dias de hoje com a inteligência artifical em voga:
De qualquer forma, depois que escrevi a Farsa da Boa Preguiça, comecei a tomar conhecimento de artigos nos quais os sociólogos nos alertavam para os problemas que poderiam advir, para a humanidade, do ócio a ser brevemente criado pela automação.
A moralidade não fica clara na peça e é melhor explicada na introdução q no texto. Me incomodou a propaganda da submissão feminina como significado de boa esposa. As 3⭐ são porque gargalhei lendo e por causa das ilustrações.
A farsa da boa preguiça, do nosso querido Ariano Suassuna, demostra de uma maneira divertida a cultura do povo do sertão nordestino com criticas sociais.
"Minha gente, adeus! Dê lembranças aos capitalistas, aos reacionários, aos entreguistas, aos que não querem a grandeza nacional nem a justiça social! Diga que eu estou esperando por todos eles no Poço do Pau-com-Pau que é o terceiro círculo de fogo do Caldeirão infernal!"