A vida do Grande Nivelli, o mágico judeu que encanta Praga, muda quando os nazis invadem a Checoslováquia. A Segunda Guerra Mundial começa e ele é deportado com a família. O seu destino é o de milhões de judeus. Auschwitz. O português Francisco Latino sempre foi considerado um bruto na Legião Estrangeira. Mas o seu coração amolece durante o cerco de Leninegrado, onde integra a Divisão Azul espanhola e se apaixona por uma russa. Até que as SS o levam... O mágico judeu e o soldado português unem os seus destinos em Auschwitz-Birkenau. A magia do Grande Nivelli será chamada a desempenhar um papel central num evento largamente desconhecido, mas que se revelou a maior conspiração levada a cabo pelas vítimas contra o Holocausto.
A revolta de Auschwitz.
O Mágico de Auschwitz revela-nos a Shoah como nunca foi mostrada. Baseando-se em acontecimentos verídicos e em personagens reais, José Rodrigues dos Santos transporta-nos ao coração do maior dos campos da morte nazis e revela-nos episódios desconhecidos do Holocausto, incluindo o papel que o misticismo e o esoterismo desempenharam na Solução Final. Uma das mais importantes obras da literatura portuguesa contemporânea.
José Rodrigues dos Santos is the bestselling novelist in Portugal. He is the author of five essays and eight novels, including Portuguese blockbusters Codex 632, which sold 192 000 copies, The Einstein Enigma, 178 000 copies, The Seventh Seal, 190 000 copies, and The Wrath of God, 176 000 copies. His overall sales are above one million books, astonishing figures considering Portugal’s tiny market.
José’s fiction is published or is about to be published in 17 languages. His novel The Wrath of God won the 2009 Porto Literary Club Award and his other novel Codex 632 was longlisted for the 2010 IMPAC Dublin Literary Award.
His first novel, The Island of Darkness, is in the process of being adapted for cinema by one of Portugal’s leading film directors, Leonel Vieira.
José is also a journalist and a university lecturer. He works for Portuguese public television, where he presents RTP’s Evening News. As a reporter he has covered wars around the globe, including Angola, East Timor, South Africa, the Israeli-Palestinian conflict, Iraq, Bosnia, Serbia, Lebanon and Georgia. He has been awarded three times by CNN for his reporting and twice by the Portuguese Press Club.
José teaches journalism at Lisbon’s New University and has a Ph. D. on war reporting.
Lamento profundamente ter desistido, comprei o livro numa altura em que pondero bem os meus gastos com literatura, e sabia que não gosto da escrita do autor, mas pensei que talvez o tema conseguisse cativar-me de algum modo. Até nisso o livro falha redondamente, pelo menos para quem gosta de História e já leu bastante não-ficção sobre o assunto.
O documentário da Netflix Hitler's Circle of Evil introduziu-me às personagens mais influentes que serviam como tentáculos do Führer em territórios ocupados e na própria Alemanha nazi. Ouvir falar de Göring, Goebbels, Heydrich, Himmler, Hess e tantos outros não me foi novidade, e tenho inclusive em mente os rostos e as motivações de cada um, o seu papel no Reich e as atrocidades com que mancharam as mãos. Posto isto aconselho-vos a que, em vez de perderem tempo e dinheiro com este livro, assinem um mês de Netflix e vejam antes o documentário. Isto se procurarem conhecimento: se procurarem investigação jornalística por escrito, podem avançar para O Mágico de Auschwitz sem receio de uma desilusão.
Neste romance, como em quase todos os outros que li do autor, JRS tem uma fórmula infalível para nos despejar o conteúdo da sua pesquisa sobre um tema: interpõe diálogos entre burros e sabichões, em que o burro vai puxando pelo sabichão, e assim descobrimos o que significa a suástica, a caveira nos bonés das SS, e tantos outros detalhes académicos do nacional-socialismo. Aqui surgem dois problemas: 1 é que se trata de infodump e, atenção, não é que os temas não sejam interessantes, e sim, de facto foi a primeira vez que li sobre o significado da caveira dos SS, mas esse significado surge conspurcado pelas teorias de ocultismo de que o livro está pejado. Mas também podia ter ido à Wikipédia ou pegado num livro tipo "iconografia nazi" e estaria lá o significado à mesma, quem sabe limpo da veia tendenciosa do ocultismo. O segundo problema é que que todos os diálogos servem, de caras, o propósito de de nos contar uma história, de aprofundar simbolismos e dar a conhecer as várias frentes do teatro de guerra. Um bom autor conseguiria coser tudo isso às vivências das suas personagens, emprestar-lhes emoção, insuflá-las de medo e de expectativa de futuro. Mas JRS continua a apostar nesta fórmula em que cada encontro no livro serve o simples propósito de palestra. Ao longo das 120 páginas que li, levei a palestra do sabichão Frabatto vs o burro Nivelli (Frabatto explica-nos tudo o que há a saber sobre a suposta ideologia dos nazis, que pressupõe que descenderam de atlantes e que isso justifica a sua superioridade), seguida da palestra do voluntário sabichão falangista Juanito vs o burro português Francisco, em que o primeiro explica ao segundo aquilo que demos no 12º ano de História, isto é, que a Espanha de Franco auxiliou a sua irmã ideológica como pôde, não juntando-se ao conflito nem ao Eixo, mas enviando voluntários mais ou menos forçados para a frente. A esta palestra segue-se a do burro mágico Nivelli vs o sabichão SS Heydrich, em que o segundo dispõe do seu precioso tempo a explicar ao judeu o significado da suástica (o outro já sabia porque o sabichão Frabatto tinha-lho explicado), e da caveira das SS, e ainda conta a este mágico, de vez em quando sabe tanto doutros mágicos, que quem desenhou esse símbolo foi um magus, uma espécie de mágico superior, mas isto o burro Nivelli não sabia. A somar a estas palestras surgem as da rádio, as dos jornais, as trocadas entre donos de cafés e seus visitantes, onde descobrimos como vai a guerra, como vão as restrições aos judeus, etc., etc.
Atenção, eu não digo que seja fácil escrever sobre a II Guerra Mundial, muito menos a partir deste palco específico onde as luzes seguem os judeus e os nazis, e a conhecida Solução Final arquitectada por Himmler. Mas para despejar conteúdo jornalístico em 450 páginas de suposta ficção... Para quê? No contexto de uma catástrofe humanitária, de um horror inigualável, não seria de maior valor dar vida, vontade, sentimentos às personagens? Nesta narrativa torna-se evidente, desde muito cedo, que estas personagens poderiam ser outras quaisquer: JRS quer despejar tudo o que pesquisou sobre o Holocausto neste livro, e para isso escolheu pessoas aleatórias em locais estratégicos, deixou-as unidimensionais e capazes apenas de ouvir e falar, nada mais. Tudo bem, ainda estou longe de Auschwitz, mas como poderá isto melhorar? Já sabemos que Francisco se alistou na Legião para fugir a um problema qualquer em Portugal, que se voluntariou para a frente oriental porque o seu comandante deu a entender que quem não o fizesse era maricón, e sabemos, pelas entrevistas, que Francisco se há-de tornar SS por outro acaso que tal, sem vontade que o leve. Resumindo: continuará burro e a gaguejar pelo livro afora, confrontando-se com sabichões que lhe hão de explicar o que se passa no mundo, porque ele não compreende e pouca parte tem nele, excepto o chamado "corpo presente".
A somar a isto (personagens vazias e infodump) juntam-se mais dois factores que matam a narrativa. 1) A escrita e sobretudo os diálogos, 2) a tentativa nada dissimulada de reescrever a história dos nazis, insinuando a cada duas páginas que tudo o que fizeram foi movidos por ilusões místicas e balelas sobre descenderem de atlantes e desejarem criar o "Super-homem" por via da eliminação de raças inferiores.
Quanto ao 1), somei expressões como: ouvidos de mercador, Estás a reinar comigo?, lambão de primeira, real gana, graçola e de chofre. Tudo isto em diálogos com intervenientes de língua-mãe alemã ou espanhola, ou mesmo portuguesa, mata a seriedade do assunto e tira-me de uma oficina de Praga nas vésperas do Holocausto para uma tasca na Verdizela (já o repeti duas vezes mas é mesmo o que senti).
Quanto ao 2), acho uma assunção falaciosa dar a entender que os nazis eram todos uns iludidos, lunáticos, que acreditavam realmente que tudo o que faziam era para o bem da Humanidade (a qual, evidentemente, encabeçavam). Creio estar certa quanto a tudo o que estudei, li e assisti a respeito deste período negro da História. Os nazis tinham motivações práticas, motivações materialistas, motivações ideológicas- estamos no séc. XX, o século em que ideologias tão opostas quanto o fascismo e o comunismo se consolidam em sociedade e colidem inevitavelmente -, tinham motivações imperialistas, expansionistas, antissemitas, e tanta outra coisa que moveu a máquina nacional-socialista como um rolo compressor sobre todos os poderiam atrapalhar-lhes os objetivos... Em Hitler's Circle of Evil há inclusive uma cena em que fica claro que um funcionário de Himmler, ao entrar na sua sala e deparar com o chefe a tentar fazer levitar uma cadeira apenas com o poder da mente, o considera prestes a perder o juízo. O ocultismo que um ou outro nazi professasse, numa tentativa, quem sabe, de aliviar um pouco a consciência dos horrores que causavam (para se convencerem de que o faziam por um bem maior), não era abraçado por todos, não era visto como verdade absoluta nem era o verdadeiro motivo que erigiu as paredes de Auschwitz. Para uma ideia do que era a Alemanha nazi, leiam Morrer Sozinho em Berlim, contado por um alemão que o viveu.
Posto tudo isto, e volvidas 120 páginas, não tenho interesse em seguir Nivelli para Auschwitz. Não quero ler sobre uma Auschwitz de bordéis e em que não se passava assim tão mal. Gostaria, talvez, de explorar a humanidade a debater-se com essas condições, mas isso JRS não tem sensibilidade (nem capacidade) para fazer. Quem sabe eu deva antes ler Se Isto é um Homem? Ou rever Campos de Concentração Nazis, também disponível na Netflix, onde as verdadeiras imagens captadas pelos americanos que libertaram aqueles campos mostram uma realidade que a mente dificilmente alcança. São as imagens mais abomináveis que hei de ver na vida, mas valem por mil palavras.
O Mágico de Auschwitz, de José Rodrigues dos Santos, é daqueles livros que prendem logo pela dureza da história e pela forma como mistura personagens ficcionais com factos históricos. No início, confesso que algumas partes me pareceram mais “palha” — sobretudo as longas descrições sobre o misticismo nazi mas quando a narrativa entra a fundo no Holocausto, o impacto é brutal.
Rodrigues dos Santos não poupa nos detalhes: o frio, a fome, a sujidade, o cheiro, a degradação física e psicológica dos prisioneiros. Tudo é descrito de forma crua, quase documental, o que torna a leitura desconfortável mas muito realista. E até no meio do horror há espaço para momentos inesperados, como a personagem do brasileiro SS, que acrescenta um tom insólito à narrativa.
É um livro duro, pesado, mas que cumpre o seu papel de testemunho e memória. E é impossível não sublinhar: não se deve ler este volume sem ter logo O Manuscrito de Birkenau à mão, porque as histórias encaixam diretamente. Para quem gosta da temática da Segunda Guerra, leitura obrigatória.
Foi o primeiro livro que li de José Rodrigues dos Santos. Como visitei Praga e Auschwitz e nunca tinha lido nada dele, decidi arriscar. Não encontrei surpresas... Um livro de leitura fácil (easy-reading), que tanto pode ter sido escrito por ele como por uma estagiária da RTP. Tendo eu visitado os locais e lido tanta coisa sobre a II GG em geral, fico com a ideia que dizer que o livro se baseia em factos e personagens reais é apenas uma manobra publicitária, para tentar dar credibilidade ao livro. Zero por cento de obra literária, não me transmitiu nem um bocadinho das emoções que tive ao visitar vários locais de Praga, de Auschwitz, de Birkenau e mesmo de Budapeste. Mesmo não sendo judeu, é impossível ficar indiferente à dimensão da maldade humana ali demonstrada. Vou ler "O manuscrito de Birkenau", apenas porque já o tinha comprado e na esperança que talvez melhore um bocadinho.
Depois de ler algumas críticas a este livro do José Rodrigues dos Santos, fiquei curiosa. Assim que ficou disponível na biblioteca municipal decidi fazer uma requisição.
Em primeiro lugar, este livro é uma leitura extremamente fácil e leve. O meu tempo não foi muito, caso contrário teria demorado apenas 1/2 dias a ler. Em segundo lugar, o livro aborda de forma leviana diversas questões relativas ao período da IIGM e a Auschwitz.
Falar/ escrever sobre Auschwitz implica ter plena consciência que este foi uma das maiores atrocidades da humanidade. Posto isto, dar a entender que se mataram pessoas também por “sentimento humanitário” é impensável! Página 436 - “-Está a insinuar que vocês montaram tudo isto por... por... (...) -Também por sentimento humanitário”. - (Fim do capítulo).
A escrita de José Rodrigues Santos (JRS) tem sempre muito ritmo, o que pode ser positivo para não tornar a leitura aborrecida, mas acaba por poder ter um lado negativo que é a perda de conteúdo na narrativa. JRS arranjou um modelo/molde onde têm encaixado quase todos os seus livros (excepto talvez "A Filha do Capitão" e os 2 volumes "biográficos" de Calouste Gulbenkian) assente em duas personagens amorosas e um tema (pode ser a crise económica, a crise climática, etc.). Na contracapa deste livro surgem as frases "O Mágico de Auschwitz mostra-nos a Shoah como ela jamais foi mostrada" e "Uma das mais importantes obras da literatura portuguesa contemporânea" o que, por si só, nos deixaria já com bastantes reservas que, aliás, se confirmam. O próprio nome do livro acaba por ser publicidade enganosa na medida em que, em nenhum momento do mesmo, a profissão de uma das personagens é relevante no contexto de Auschwitz (poderia chamar-se "O Técnico Oficial de Contas de Auschwitz" que o resultado seria praticamente o mesmo). Falta consistência às personagens, próprioa e na interacção com as outras, num tema que muitas vezes parece ser considerado com alguma leveza.
Esta foi uma leitura bastante pesada, mas que tinha de ser feita. Já tenho a continuação desta história (“O Manuscrito de Birkenau”), mas não vou pegar já nela. Se já ouviram falar sobre este livro, mas ainda estão indecisos sobre se o devem ler ou não, aqui ficam cinco motivos pelos quais devem considerar ler “O Mágico de Auschwitz”:
1. Trata-se se uma história impactante sobre os horrores passados em Auschwitz durante a II Guerra Mundial;
2. É um livro escrito por um dos melhores autores e jornalistas portugueses;
3. Ao longo do livro, o autor utiliza expressões e palavras em alemão (e também em espanhol), expondo sempre a sua traduç��o para o português. Deste modo, acabamos por ficar mais integrados na história;
4. Trata-se de uma história fluída e bem organizada;
5. E, mais que tudo, ser como alerta à sociedade, para que a História não se repita.
Auschwitz vista por dentro e a dois tempos, Levin, o mágico alemão judeu refugiado e Francisco, um português fugido do seu país que por amor se mete em guerras que não são as suas. As histórias de ambos convergem em Birkenau, o mais terrível campo de extermínio de seres "sub-humanos" a fim de purificar a raça Ariana. Uma história bem contada, dura e que não deixa de surpreender, sobre um dos temas mais usados para relembrar - sempre - as atrocidades que os seres humanos são capazes de cometer. Muito boa leitura!
Haja noção. Escrever, ainda que pela boca de um personagem , que a ideia dos campos de concentração é uma solução de princípio humanitário ultrapassa a estupidez que achei que fosse possível ter-se. Fora isso, em termos de narrativa, é só mais um romance sobre a segunda guerra. Vou ler o próximo porque não consigo deixar coisas a meio.
José Rodrigues dos Santos a ser José Rodrigues dos Santos, já ninguém deve ficar desiludido ou surpreendido a esta altura do campeonato. A parte de desenvolvimento de personagens e os diálogos não são excelentes (embora já tenha lido melhor), mas a contextualização histórica e a temática estão bem descritos. Levou-me a pesquisar mais e descobrir coisas novas, o que é sempre o que tiro de melhor destes livros. Agora vamos à sequela :)
Първите 80 страници ми бяха изключително скучни и безинтересни,но след тях действието се забърза и навлязохме в същината на лагерите и потръгна много добре и до края ми беше интересна.
Mais uma grande obra de José Rodrigues dos Santos...
O Mágico de Auschwitz descreve perfeitamente a opressão de que os judeus foram alvo e leva-mos a uma viagem que começa em Praga, passando pelo cerco a Leninegrado e fica em suspenso na parte mais obscura da história da humanidade... o concretizar da solução final em Auschwitz/Birkenau...
Um livro com uma viagem eletrizante pelo momento mais negro da história da humanidade, é apresentado por personagens que tentam camuflar a realidade. Uma é Levin ou o grande mágico Nivelli, mestre da ilusão outro é Francisco um soldado alocado ao exército espanhol e que o amor o leva a viver por dentro este horror...
Ficamos à espera da segunda e última parte para perceber se estes livros saltam para a prateleira dos melhores de José Rodrigues dos Santos.
Este livro está divido em 3 partes e foi uma tortura para mim conseguir ler as duas primeiras.. o autor despeja informação como se tivesse a dar uma palestra o que torna a leitura muito aborrecida. A terceira parte já conseguiu cativar o meu interesse mas ainda assim ficou muito aquém das expectativas. Senti que muitas cenas eram forçadas, as personagens de repente eram demasiado burras e não viam o que estava à frente dos seus olhos, tudo isto para que viesse alguém explicar-lhes tudinho num novo débito de informação... Pelo que já percebi esta é a fórmula de todos os livros do autor, mas este foi o primeiro que li dele e este estilo de narrativa não me cativou, fez com que tudo parecesse pouco natural. Ainda assim, a terceira parte teve cenas duras de ler e consegui sentir os horrores a que as personagens eram sujeitas, o que já foi um ponto a favor do livro. Tenho a continuação por ler, espero que seja melhor que este.
É uma historia que nos prende embora não traga nada de novo sobre Auschwitz. O facto de deixar a historia a maio e nos obrigar a comprar o 2º volume é uma menos-valia. Devia ser 3.5*
Разочарована съм от финалът. През цялото време действието се луташе от застой до препускане, после пак застой и пак всичко се случваше бързо. Историята остана някак незавършена.
A realidade histórica cai sobre nós com relembrar devastadoramente opressivo. Duro como um murro no estômago. O autor, sempre no seu melhor, não sabe fazer as coisas de outra maneira. Uma boa história é muito bem contada. Obrigado, JRS.
Continuo a achar que o autor não põe na boca das personagens o vocabulário adequado à época e à pessoa. Houve uma grande polémica acerca das palavras de José Rodrigues dos Santos numa entrevista, mas nada neste livro parece apoucar a tragédia que foi o Holocausto.
Um autor Português que provoca em alguns (poucos felizmente) dos seus conterrâneos uma repulsa pelas suas obras, só mesmo motivada por uma qualquer "dor de cotovelo" incompreensível. Quem não gosta, não leia, quem não aprecia, que leia outro qualquer autor. Obra sobre uma temática muito explorada, mas que nos motiva sempre uma nova vontade de ler e reler, porque em cada livro, descobre-se sempre algo de novo. A sua leitura prende-nos, penso que pela alternância de histórias, primeiro o mágico, depois o nosso "conhecido" Francisco, novo capítulo com o mágico e logo a seguir um outro sobre o "nosso" Francisco....e isso leva-nos a querer ler mais um pouco...e mais um pouco, para podermos acompanhar a "vida" destes personagens. Deixou no ar a vontade de ler o segundo livro.
Comparando com o seu livro anterior… tenho que dizer que "assim está bem melhor". Não noto a baralhada no excesso de boa informação mas repetida vezes sem conta. Aqui a narrativa é boa e fluida. Não é massudo e o interesse mantêm-se. Sendo que perto do final do livro os acontecimentos se conjugam muito bem. De maneira a querermos mais.
Durante todo o livro fiquei à espera do tal mágico anunciado na capa… pois parece que afinal o vamos ter a 100% nas ações a tomar no segundo livro.
Gosto dos livros do autor porque costuma aprofundar muito o tema central do livro. Neste caso não aconteceu. É mais um livro sobre o Holocausto. Não traz nada de novo. E para quem quer ler sobre o tema há no mercado livros bem mais impactantes
Acabei de ler o livro “O Mágico de Auswitch”, escrito pelo José Rodrigues dos Santos. Já li um outro livro deste autor, “O Codex 632”, que achei muito aborrecido, mas encontrei “O Mágico de Auswitch” no Continente (obviamente o melhor lugar para encontrar obras de literatura) e não notei que o autor era o mesmo. No entanto, tenho de dizer que acho a narrativa deste livro bastante mais cativante do que o “O Codex 632”.
O livro conta a história de duas pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. Primeiro, temos o mágico: um júdeu alemão com raízes sefarditas que fugiu da Alemanha para a República Checa por causa de perseguição na sua pátria. Além do mágico, também seguimos um guerreiro português que é parte da Legião Estrangeira da Espanha. Ele alistou-se neste ramo da Legião depois de ter cometido um crime em Portugal e tinha que fugir. Na Guerra, uma parte desta Legião foi recrutada pelos Nazis para combater na Frente Russa, como a chamada Divisão Azul. Assim, o protagonista português acaba no infame cerco do Leningrado. Ao longo do livro, as duas personagens aproximam-se devido a circunstâncias fortuitas.O que gosto sobre deste livro, sendo baseado em factos reais, é que me ensina coisas novas sobre a Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, nunca ouvi falar sobre a Divisão Azul e o seu papel na guerra. Ter duas histórias em simultâneo – que, afinal, se juntam – mantém o livro excitante. Não há, contudo, muito desenvolvimento das personagens. Além disso, uma das personagens principais, o guerreiro português, é muito antipático.
Se quiseres ler “O Mágico de Auswitch”, ficarias a saber que este é a prequela de um outro livro, “O Manuscrito de Birkenau”. Para teres a história cabal, tens de ler ambos os livros. “O Mágico de Auswitch” não tem um desfecho satisfátorio e não constitui uma conta em si própria. Recomendo o livro às pessoas que se interessam na história, especificamente esta página negra do século XX. Nunca podemos lembrar-nos demais do que a humanidade é capaz. No entanto, se estiveres à procura de uma obra-prima da literatura portuguesa, pode-se evitar este livro.
Confesso que nunca fui grande fã da escrita de José Rodrigues dos Santos, mas com tanto burburinho acerca desta obra, a minha curiosidade foi espicaçada e resolvi avançar na leitura. A primeira parte do livro não me despertou grande interesse e até se tornou ligeiramente monótona, mas a partir do momento em que o mágico Levin ruma a Auschwitz com a sua família, a narrativa torna-se muito mais fluída e interessante e no final a minha opinião sobre a obra foi bastante positiva. Confesso que estou ansiosa por ler a continuação...
Um livro que me surpreendeu (e muito) pela positiva! Apesar do início lento, com uma abordagem minuciosa da história e talvez demasiado extensa, oferece ao leitor conhecimentos históricos interessantes e um pouco do miticismo e esoterismo que esteve por detrás dos horrores da guerra (e que pelo menos eu, desconhecia!). Uma leitura cativante! Quero já iniciar o segundo livro!!
Desde que li há bastantes anos o livro “Treblinka” que fiquei um pouco avesso a mais leituras acerca do drama judaico-nazi. Mas porque era um livro de JRS lá embarquei nesta nova aventura. Esperava algo bastante diferente e o que li foi uma estória vulgar que volta a pegar, sem génio mas muito pormenor, na cansada história da perseguição dos nazis aos judeus.
Confesso que é a primeira vez que leio algo de JRS e correspondeu perfeitamente quer às minhas expectativas quer à “fama” que o mesmo tem de ser um “peso pesado das letras lusófonas”. Os diálogos são para mim talvez o ponto mais fraco do livro, ainda que interessantes e cheios de informação necessária (quer para o desenvolvimento da história quer a nível histórico sobre a 2.ºGuerra Mundial). O autor usa demasiados maneirismos o que a meu ver empobrece o texto (por exemplo, no início do livro o filho da personagem principal sendo ainda criança fala “à bebé” com expressões como “Eu que’o joga’ à boua”). Contudo, JRS ganha em muito pelas descrições. São vividas e cruas, ao ponto de por vezes nos sentirmos enjoados com as mesmas, de tão chocantes que são. O único livro que alguma vez li que se assemelhou com estas descrições tão “vivas” foi o “Nós, os afogados” e só por isto o livro de JRS já é extraordinário. Por último, JRS é também ótimo a manter o ritmo do livro, nunca é aborrecido e nunca temos vontade de o largar, queremos sempre sempre virar a página, ainda que já sejam 3 da manhã e o trabalho nos espere dentro de algumas horas.
Depois de tanta critica à volta destes dois livros, admito que a vontade os ler foi enorme e tenho que admitir que acabei por ficar admirado com algumas das criticas negativas que li. Acabei de ler o primeiro e vou agora para o segundo, pois afinal de contas, através do seu processo simples de escrita, o escritor consegue mesmo assim, fazer-nos descrições incómodas sobre um dos piores períodos da humanidade através de personagens ficionadas, mas, de alguma maneira "reais". Apesar de já se ter escrito muito sobre a IIGM e o holocausto, nunca é demais relembrar e até ter outro ponto de vista e olhar sobre este período negro da história e, na minha opinião JRS consegue fazê-lo através do olhar das diversas personagens. Vou então partir agora para o segundo livro, até já...
Envolto em polémica, este romance de José Rodrigues dos Santos suscitou-me imensa curiosidade pela temática e a sua premissa.
Herbert Levin é um judeu alemão de origem sefardita portuguesa. Tinha tez clara e olhos azuis, o que o tornava indistinguível dos arianos. Com a subida de Hitler ao poder, fora despedido da Bolsa de Berlim e viera para Praga. Que melhor sítio haveria para um mágico viver, visto ser uma das cidades mais místicas da Europa, com as suas alegorias ao Golem, Mefistófeles, Kafka...? Casado com Gerda tinham filho chamado Peter. Seguira a carreira de corrector na Bolsa de Berlim, mas quando se vira sem emprego decidira fazer da paixão uma profissão e assim se tornara mágico. Adoptara o nome Nivelli, o seu nome de forma invertida.
Em paralelo e alternando a narrativa, acompanhamos dois legionários, um espanhol Juan Escoso conhecido por Juanito, e um português, Francisco Latino que, por ter cometido um crime na sua pátria (matou um caseiro chamado Tino em Castelo de Paiva), se viu obrigado a partir para Espanha, onde acabou por se juntar aos legionários espanhóis do lado de Francisco Franco.
Assim, Herbert Levin e Francisco Na primeira parte desta obra, o autor oferece uma contextualização dos avanços dos nazis, mas também da vida na Checoslováquia onde viviam os Levin.
Como consequência dos Acordos de Munique, os alemães tinham começado a desmembrar o país dos checos e dos eslovacos e nesse momento os alemães completavam o trabalho. Áustria, Sudetas, Boémia e Morávia conquistadas e agora marchavam sobre o que restava da terra dos checos.
Nesta altura, já os judeus tinham uma vasta série de restrições e isso também afectara a família Levin. Ainda assim, Levin ainda tinha a sua Hokus-Pokus, a loja de ilusionismo. O autor introduz Franz Bardon, conhecido por Frabato, um mágico de renome na Alemanha e na Checoslováquia que ganhara reputação como perito em Cabala, hermetismo e magia evocatória, a magia que não era arte mas ciência, a do oculto. Através dos seus diálogos com Levin o autor procura demonstrar que a ideologia nazi assentava no ocultismo e teorias em que os alemães seriam a raça humana superior. Também através desta conversa ficamos a perceber um pouco dos contributos para a arte oculta de Crowley, fundador da seita de Thelema; um esotérico português chamado Ferdinand Pessoa; a famosa magus russo-americana Helena Andreyevna Blavatsky (considerada por muitos uma charlatã) que escrevera sobre a origem dos seres humanos. Estes descenderiam de sete raças originais, uma das quais os atlantes, seres espiritualmente muito avançados que tinham feito grandes invenções e construído templos e pirâmides gigantescas. Quando a Atlântida desaparecera num cataclismo, os sobreviventes haviam escapado para os Himalaias e refugiaram-se no reino perdido de Shambhala, onde transmitiram a sua sabedoria aos arianos, uma raça que teria emigrado depois para o Norte da Europa. Esta teoria tivera um enorme impacto no Ocidente, e em particular na Alemanha e na Áustria, onde fora acolhida quase como se de ciência se tratasse, e inspirara uma série de sucedâneos. Tanto que o oculto tinha interesse para os nazis que criaram a Hexen-Sonderauftrages, a unidade das SS para estudar bruxaria e feitiçaria germânica. Levin, no entanto, mostrava ser céptico em relação a estas teorias: “Essa conversa de Thule só mesmo para thulinhos!” (seria um trocadilho perfeito se ele falasse português, em checo não sei se teria o mesmo efeito...) Segundo estas interpretações, civilizações como a egípcia, a árabe, a chinesa, a maia e a asteca também seriam descendentes desses seres atlantes... Segundo madame Blavatsky, foi a sabedoria ariana dos tibetanos que permitiu a evolução dos chineses e dos indianos... Alegadamente as SS estariam à procura da arca da aliança, bem como do Santo Graal. Isto porque os nazis acreditavam que Jesus era ariano, loiro e de olhos azuis. Na verdade o Novo Testamento descreve-o como rabino. Chamava-se Yehoshua e era conhecido pelo diminutivo Yeshu. Jesus nasceu judeu, viveu judeu e morreu judeu.
Em, a 1941 a Alemanha invadira a União Soviética. A entrada da Espanha na guerra assegurava o futuro da Legião Estrangeira. A Legião misturava homens de nacionalidades diferentes. Além disso, a eventual vitória da Rússia poderia assegurar a Espanha ficar com os despojos, como Argélia, Gibraltar e até Portugal fazia parte da equação espanhola... Em 1942 surge a Divisão Azul, novo nome da força de voluntários que combatia na Rússia ao lado dos alemães. A Espanha não entrou em guerra com a Rússia, mas enviava voluntários de modo a manter as aparências para com a Inglaterra e a América, pois poderiam fazer um bloqueio naval e cortar o abastecimento de cereais e combustíveis, pelo que assim o país não sobreviveria. Francisco e Juanito passaram a fazer parte e deslocados para a Rússia. Aí frequentaram um bordel, onde Francisco se apaixonou por Tanya, ou Tanusha, a irmã mais nova que não se envolvia com os soldados por ter ficado traumatizada por um episódio atroz. Aos poucos, ambos foram ganhando a afinidade um do outro.
Levin fez um espectáculo de magia, envolvendo a levitação da “princesa Karnac”, representada pela sua esposa Gerda. Heydrich, o Carniceiro de Praga, também estava na plateia e queria falar com Levin, o que o deixou e à esposa à beira de um ataque de nervos. O SS explicou a Levin que a Totenkopfring é uma caveira, um símbolo da morte e foi um magus que a desenhou, Karl Maria Wiligut, um dos ocultistas que mais haviam influenciado a ideologia nazi. Alegadamente estas foram produzidas pelos artesãos da Atlântida teriam propriedades mágicas que poderiam tornar imensamente poderoso quem as dominasse. Heydrich perguntou a Levin se queria fazer parte da Ahnenerbe, mas para isso teria que fazer parte das SS. Ao perguntar sobre se teria antepassados judeus, Levin gaguejou o SS percebeu: depressa Levin passou de Bestial a Besta. Ele e a sua família tiveram que morar no ghetto, na zona velha de Praga. Entretanto, os judeus começaram a ser deportados para Terezín, uma cidade a que os alemães chamavam Theresienstadt e que fora transformada num ghetto. Desde então que os judeus estavam a ser periodicamente enviados de toda a Boémia e da Morávia para esse novo destino. Os Levin também.
A mãe de Levin foi educada segundo a tradição da sinagoga portuguesa de Amesterdão, e para a perpetuar, ensinou uma música ao seu filho, em ladino (língua ibérica semelhante ao castelhano falada por comunidades judaicas originárias da penísula Ibérica) chamada "Amores en el mar". "Era en un bodre de mar Ke yo empesi a amar Una ninya kon ojos pretos Sin puederme deklarar Eya m’izo muncho sufrir Noche ‘ntera sin durmir I yo yorando en la kama Sin puederme deskuvrir."
Entretanto, os soviéticos começaram a aniquilar os alemães e Juanito falecera nesses embustes. Tanusha foi ter com Francisco à cidade de Pushkin, e disse que ela e as irmãs viveram três semanas num bosque de Sablino a vinte ou trinta graus negativos para escaparem à fúria do Exercito Vermelho que as poderia acusar de colaboracionismo.
No ghetto de Theresienstadt, Levin apercebeu-se que nem os judeus mais influentes escapavam, como as irmãs de Kafka. Levin falou com um senhor que lia um postal: “Campo de trabalho de Birkenau, Neuberun.” Tratava-se de um postal codificado: Raev significa fome em hebraico. Alegadamente a pessoa estava a dizer que se encontrou com uma tia que já morreu e que ela tem um amigo chamado Fome. Fazia ainda referência a uma Odkolek: tratava-se de uma enorme padaria cujos fornos trabalhavam imenso. Não perceberam a alusão…
Em 1943, no lugar da Divisão Azul surge a A Legião Azul, a Legión Española de Voluntarios... Umas das suas canções favoritas era "Desde Rusia": "Sólo esperamos la orden que nos dé nuestro general, para borrar la frontera de España con Portugal. Y cuando eso consigamos, alegres podremos estar, porque habremos logrado hacer una España imperial."
Entretanto Tanusha e as irmãs estavam nas mãos das SS e detidas por serem judias, por não poderem provar o contrário. Francisco recebeu a proposta de um SS: ele aceitaria uma nova posição como guarda SS num campo de concentração da Polónia, onde estaria Tanusha como prisioneira.
Os Levin foram colocados num vagão de gado juntos com milhares de outras pessoas, onde havia apenas com dois baldes, um para as necessidades e outro cheio de água; e um pão para cada pessoa durante três dias... Começavam a aperceber-se que não vinham momentos fáceis. Chegaram a Oświęcim, em polaco. Em alemão: Auschwitz.
Os Levin foram separados e lavados nos duches; ao vestir-se, Levin reparou nas cuecas de Tallit, um acessório religioso judaico. Também Levin fora tatuado: A-1676.
Francisco conheceu o Unterscharführer Pery Broad, que falava português com sotaque: o seu pai era brasileiro e a mãe alemã. Apesar de proibido, porque Hitler detestava o jazz (dizia que era Negermusik, música degenerada de pretos e modernizada pelos judeus em Nova Iorque...), Pery tocava saxofone. Francisco viu no novo companheiro a oportunidade de voltar a ver Tanusha. Ficou impressionado com o facto da comida abundar no campo de Auschwitz para os SS quando o país estava submetido a racionamentos rigorosos e os SS faziam ali coisas proibidas como embebedar-se, tocar jazz e escutar a rádio inimiga. Ou seja, furavam abertamente as regras. Francisco foi colocado no Stammlager para fiscalizar um Kommando: unidades de trabalho. Um Arbeitskommando: trabalho de prisioneiros. Havia Kommandos para fazer estradas, carregar madeira, tratar das cozinhasm para tudo. Os prisioneiros estavam nos barracões submetidos à autoridade de um prisioneiro-chefe, o Blockälteste, e quando saem num Arbeitskommando estão às ordens de outro prisioneiro-chefe, o Kapo. Francisco iria vigiar um Arbeitskommando e punir o Kapo se ele não punisse os prisioneiros relapsos. Ficou impressionado com o aspecto daquelas pessoas, sobretudo os Muselmann (pessoas que sofriam de fome e exaustão, semelhantes a cadáveres ambulantes...) mas também curioso por serem identificados com cores: os triângulos vermelhos são os presos políticos, os verdes os de delito comum, triângulos pretos os associais e as prostitutas; os cor-de-rosa são os homossexuais, os violeta as testemunhas de Jeová e as estrelas de David amarelas os judeus. As letras identificam o país de origem: P polonês, F francês, B belga... Os verdes foram colocados como Kapos pois, sendo violentos, infernizariam a vida dos outros presos e os mais fracos morreriam. Só sobreviviam os mais fortes, como indica a selecção natural. Indignado com a explicação, ainda mais ficou ao se aperceber que não se viam muitos judeus ali, ao que Broad lhe explicou que em Auschwitz I não tinha muitos, pois eles iam sobretudo para Birkenau, a uns cinco ou seis quilómetros. A maioria só saía pelas chaminés. Francisco estava incrédulo com as explicações do companheiro brasileiro. Esta explicação do funcionamento de Auschwitz é quase uma visita guiada, que nos deixa angustiados por saber o que aconteceu àquelas pessoas.
Surge uma personagem romena que se apercebeu da língua de Francisco e lá vem mais uma lição: O ídiche é o dialeto dos judeus asquenazes da Europa Central e de leste baseado sobretudo no alemão, enquanto o ladino era um dialeto dos judeus sefarditas da Península Ibérica baseado sobretudo no castelhano. Os judeus cultos de Amesterdão eram na sua maioria portugueses e falavam português como primeira língua, mas usavam o castelhano como língua literária. É por isso que o ladino assenta no castelhano, embora também tenha algum português. Ora o castelhano e o português são línguas latinas. Como a raiz do ladino é latina e o romeno também é uma língua latina... Daí que percebesse alguma coisa do que o português dizia...
Levin foram para o campo BIIb, conhecido em Birkenau como o Familienlager, o campo das famílias. Percebeu que o seu trabalho em Birkenau era levar pedras de um lado para o outro e depois de novo para o ponto de partida, para a seguir recomeçar tudo. Seria daí em diante o seu grande contributo para a glória e a riqueza do Reich... A esposa Gerda foi colocada a limpar estradas. Ao menos o seu filho Peter estava numa Skola e até era bem alimentado, perante os cânones dos campos.
Na sua busca por Tanusha, Francisco foi ao bordel de Auschwitz, onde constava o nome da noiva. O guarda avisou que a única posição permitida era de missionário; todas as outras são perversões e estão proibidas pelo regulamento e todas as portas tinham um óculo. Francisco descobriu que Tanusha estava em Frauenlager em Birkenau, o campo das mulheres. Aí conheceram a Lagerführerin Mandel, a Besta. Ela e a irmã Olga trocaram de roupa e de nomes. Quando a Blockowa chamou a Tanusha para a transferência para o bordel, quem se apresentou foi a irmã. A outra irmã, Margarita, tinha falecido de tifo.
Os Levin conheceram uma artista famosa no campo de Birkenau: Alma Rosé, uma violinista judia. Também assistiram a um suicídio de uma mulher no arame farpado. O autor menciona que a primeira vez que assistiram a tal coisa fora um choque, mas depois já se teria tornado "hábito". Não sei se alguma vez alguém considerara tal como algo habitual...
Pery Broad explicou a Francisco que Auschwitz I é um Arbeitslager, um campo de trabalho; Birkenau um Vernichtungslager, campo de extermínio. Os nazis perguntavam pelos ofícios e até lhes pediam diplomas e certificados, para enganá-los. Esses judeus iam para os crematórios e eram submetidos ao tratamento especial. Apenas servia para dar a impressão de normalidade, de que havia assistência para os doentes que vinham no comboio, mas na verdade era a ambulância que transportava o gás para o crematório. Também Pery Broad demonstrava a chamada "banalidade do mal" defendida por Hannah Arendt, em que demonstrava ser um capataz que fazia apenas o seu dever, mas entendia as teses nazistas as quais explica: o plano inicial era apenas expulsar os judeus da Alemanha e que para isso tornaram a vida deles um inferno para que eles fossem embora. Mas ninguém os queria receber e quando a guerra começou, as fronteiras fecharam e não souberam o que fazer com eles e então decidiram enviá-los para as zonas conquistadas. Então acharam que os judeus tinham terra a mais e, como ainda eram poucos, pensavam que podiam alocá-los em zonas menores, como nas cidades, mas como já lá estavam os poloneses, acabaram por criar certos bairros próprios: os ghettos. O problema é que havia muita gente e poucas condições. Como resolver isso? Pensaram em levá-los para Madagáscar, mas o plano não deu certo. E os judeus continuavam a chegar aos ghettos. Já não havia espaço nem comida para todos, as doenças proliferavam... Era preciso uma Endlösung der Judenfrage, uma solução final para a questão judaica. Se estavam a morrer, uma morte rápida seria mais humana. Para Pery Broad esta solução foi por sentimento humanitário...
[Muita gente condenou esta interpretação do livro, mas não podemos misturar a narrativa com as eventuais ideologias do autor. Muitos nazis consideravam realmente que os judeus eram o inimigo, outros alegavam que o faziam por dever e outros, como a personagem Pery Broad, faziam por dever e por acreditarem que seria realmente um sentimento humanitário. Claro que é descabido, mas infelizmente o mundo está como está devido a ideias descabidas e maldosas.]
Entretanto ele levou Francisco a Birkenau onde encontrou irreconhecível a sua Tanusha.
As condições desumanas dos campos começavam a fazer-se sentir nas necessidades básicas humanas, como a vida sexual, que tornava os homens impotentes e as mulheres sem desejo. Não havia coisa que mais faltasse em Birkenau que a sensação de amar e ser amado. Levin ao falar com o professor do filho ficou a saber que muitos judeus é que levavam outros judeus para a morte e que ao fim de três meses a servir nos crematórios os alemães matavam esses homens do Sonderkommando e arranjavam outros novos. Um deles contou que os alemães estavam a preparar a morte de todos em Birkenau e era necessário proceder a uma revolta, na qual precisava dos dotes ilusionistas de Levin.
Apesar de ser considerado uma obra de investigação jornalística ao invés de pesquisa histórica, a verdade é que aprendi bastante e relembrei muitas coisas que tinha estudado sobre a época. De um modo geral, gostei bastante desta obra ainda que haja algumas questões que destacaria: José Rodrigues dos Santos segue a típica fórmula do uso de diálogos entre personagens para contextualizar a narrativa e explicar tudo e mais alguma coisa. "Mágico de Auschwitz" é mais um nome associado a este inferno para atrair os leitores. Apesar de realmente Herbert Levin ser um ilusionista, a verdade é que os seus dotes praticamente são irrelevantes ao longo da obra. Li uma edição que foi revista para português do Brasil e achei uma patetada terem adaptado um português ao outro... Não percebi a lógica de tal, visto tratar-se da mesma língua e claro que se nota estas alterações. Ainda que haja um diálogo onde entra um brasileiro, não achei nada necessária essa adaptação.
É absolutamente inacreditável o que o ser humano é capaz de fazer e, por mais que leia sobre o assunto, fico sempre indignada e de coração apertado ao saber o que estes seres humanos foram obrigados a passar devido a teorias fundamentalistas e inconcebíveis. E tudo começou com um homem que levou milhões à morte e a sofrimentos inimagináveis.
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