Uma análise contundente das eleições de 2018, o evento mais impressionante da história eleitoral brasileira, a partir de dados e gráficos estatísticos.
Qual o perfil dos eleitores de Jair Bolsonaro? De que segmento social fazem parte? Qual sua escolaridade, idade, gênero e religião? Em suma: Quem votou em Bolsonaro? Utilizando gráficos e dados comparativos, o cientista político Jairo Nicolau faz uma radiografia do surpreendente desempenho de Jair Bolsonaro e do PSL nas eleições de 2018, que levaram o país a uma radical guinada à direita. Estudioso do processo eleitoral brasileiro, Nicolau apresenta e analisa os números que elegeram um nome até então relativamente inexpressivo no cenário mais amplo da nossa política, esmiuçando pontos centrais como a relação entre tempo de TV, dinheiro e voto; as redes sociais; o voto das mulheres e dos evangélicos; o voto por regiões, estados e cidades. O Brasil dobrou à direita traz uma contribuição decisiva para o debate desapaixonado sobre o fenômeno do bolsonarismo nas urnas e sobre as transformações que mudaram o rumo do Brasil. Um livro fundamental para se entender o que aconteceu e o que pode acontecer nas próximas eleições.
Afinal de contas onde estava a direita brasileira? Quem é de direita? O livro de Jairo Nicolau é daquelas pérolas que trazem dados para tentarmos entender a sociedade e política brasileiras atuais. Dados da última eleição presidencial de 2018 com todos os filtros: por região, por idade, sexo, religião, etnia, nível de escolaridade, raça. Como ele mesmo diz na Introdução do livro, é como ver o Brasil por um caleidoscópio. A sociedade brasileira vem mudando e ficando cada vez mais complexa, mas não estamos conseguindo captar estes nuances. Como não percebemos o fenômeno Jair Bolsonaro? O que vimos em 2013 era a manifestação destas mudanças e com elas, insatisfações que são múltiplas. Como aponta o sociólogo Fraçois Dubet as desigualdades são múltiplas e individualizadas, não mais sendo suficientes os mesmos rótulos de outrora como classe trabalhadora e burguesia. O livro de Jairo Nicolau traz os matizes das experiências de grupos sociais sob diferentes clivagens. Para entender o Brasil de hoje comece por este livro.
O autor faz uma profunda análise estatística das últimas 3 eleições presidenciais. São dados de pesquisa de opinião e voto, de acordo com escolaridade, gênero, religião, idade, região e mais estatísticas secundárias. Pela interpretação do autor (que eu achei por demais isenta e objetiva, faltou mesmo trazer informações de fora), me ficou a seguinte ideia:
Haddad ganhou mais votos entre os que têm escolaridade baixa e moram em cidades com menos de 50 mil habitantes (maioria do nordeste). Nas grandes cidades (com mais de 150 mil hab.), a votação em Bolsonaro foi bem maior, mesmo entre os que têm baixa escolaridade. No caso das pessoas com ensino superior, a tendência desde 1994 se manteve: votar na direita (mais de 60%).
Sim, o PT perdeu nos grandes centros urbanos (com exceção do nordeste), principalmente entre as pessoas que votavam nele antes: aquelas com ensino médio incompleto ou completo (classe média baixa e baixa). Um adendo: entre as mulheres de 16 e 29 anos, mesmo as urbanas, Haddad ganhou disparado.
Com isso, fica claro o seguinte: Bolsonaro ganhou os eleitores de centro das grandes cidades (e que costumavam votar no PT). Isso lhe deu muitos votos. E votaram nele pq? Pq 95% dos que votaram 17 no segundo turno se declaram antipetistas. Se não fosse isso, os eleitores radicais (que sempre existiram) e os da elite com curso superior (que sempre votam na direita), teriam sido insuficientes.
Aí, na minha visão, é que se coloca a grande questão da eleição de 18. Diferentemente do que eu pensava, para esse público urbano de classe baixa e média, a corrupção não é o problema do Brasil. Nem 20% afirmaram ser esse o mal do PT. Para eles, em maioria, o problema estava no desemprego e na saúde. Por isso, não votaram no PT por entenderem que ele era o culpado pelos desempregados (instabilidade social) e pela condição do SUS (sobrecarregado em decorrência do preço dos planos). A corrupção, assim, seria vista como uma das causas para que o Brasil quebrasse e piorasse a oferta de empregos, por exemplo. Uma causa secundária.
O autor não diz isso, mas dá a entender: o anti-petismo raiz é da classe média alta e alta. Nas outras, ele só existiu por conta da frustração econômica causada no governo Dilma. Se não fosse por isso, mesmo com a justiça política da Lava-Jato e do STF, PT permaneceria no poder.
Este é somente mais um dos livros que leio em direção à minha tese com o intuito de entender a eleição de Bolsonaro em 2018 no Brasil. Contudo, de todos que eu li até agora, este livro, de autoria de Jairo Nicolau é que melhor sintetiza todos esses fenômenos analizados através do perfil de votação dos eleitores que participaram do pelito de 2018. Uma das conclusões que vai em direção ao que estudo em minha tese é o fato de que Bolsonaro foi eleito, em sua maioria por homens. O discurso com viéses masculinistas de Bolsonaro atingiu diretamente essa faixa da população brasileira, tanto é que existe pouca variação entre escolaridade e idade desses homens, baseados também em sentimentos antipetistas. A única diferença se encontra nas regiões, em que o Nordeste do Brasil continua sendo um reduto petista. Além em outras pesquisar realizadas em países em que a extrema direita foi vitoriosa nos últimos pleitos, também existe uma considerável fatia de homens que se alinham com esses pensamentos e, por conseguinte, votam em candidatos como Bolsonaro, Trump, Erdogan, no Brexit, Putin, Orbán e tantos outros. Sintomático da acentuação dos discursos da crise de masculinidade que circulam o mundo desde a Roma antiga.
A quem espera uma análise quantitativa, o livro sem dúvida é recomendável e agradará, contudo, quem espera análise qualitativa, terá uma certa decepção, como o meu caso. Mas, evidentemente, nem por isso a obra se faz má, necessitando, apenas, que se adeque ao leitor e o que ele espera dela.
Em suma, o autor explora algumas questões que comportaram a eleição atípica de Bolsonaro, isto, é: a escolaridade, a classe, a região demográfica, a religião, o gênero, a idade, o impacto das redes sociais e evidentemente o fenômeno do antipetismo. Com o auxílio de gráficos, o autor dispõe de como o quadro geral se formou, assim como as premissas que garantiam a eleição no passado, não mais se fizeram eficazes na eleição de 2018.
Isto é, ter mais tempo na televisão, ter base de apoio em regiões chaves e um financiamento amplo, não mais garantem a elegibilidade do candidato, como foi demonstrado e causou uma confusão generalizada entre os cientistas políticos. Deste modo, analisando mais o eleitorado, do que as causas éticas, morais e antropológicas da eleição, a obra apresenta bons dados, mas sem aprofundamento nas questões sociais.
O autor Jairo Nicolau faz uma análise quantitativa dos principais dados relativos à Eleição Presidencial de 2018 no Brasil, em que Jair Bolsonaro, candidato da extrema-direita, saiu vencedor. Ele pontua que: 1. Bolsonaro venceu sem "respeitar" a máxima da política brasileira: financiamento, tempo de horário eleitoral e presença de palanques estaduais; 2. o voto em Bolsonaro é predominantemente: masculino, eleitor com escolaridade média, que mora nas cidades médias/grandes, evangélico e que utiliza as redes sociais; 3. a mudança em Minas Gerais, com a vitória de Bolsonaro depois de oito turnos presidenciais de vitórias seguidas do PT, "(...) talvez seja o resultado estadual de maior destaque em 2018."
Leitura rápida, objetiva e de fácil compreensão. O livro traz uma análise quantitativa muito interessante sobre a eleição de Bolsonaro quanto aos diversos aspectos da sociedade: religião, idade, região, escolaridade etc. Embora o livro tenha a finalidade de fazer apenas uma análise quantitativa, acredito que a inserção de uma análise qualitativa também seria benéfica. Senti falta de um pouco mais de profundidade e discussão dos dados apresentados. Disto isto, recomendo a leitura assim como também recomendo o livro Eleição Disruptiva de Maurício Moura, que tem uma temática semelhante.
“Um dos grandes desafios dos estudiosos das eleições no Brasil é tentar entender como, mesmo fazendo uma campanha na qual em nenhum momento moderou o seu discurso e tentou falar para um eleitor centrista, Bolsonaro conseguiu ter amplo apoio desse segmento”
Bolsonaro teve o menor tempo no horário eleitoral gratuito, gastou menos que Deputados Federais gastam em campanha e não moderou o discurso, e mesmo assim, conquistou o voto do centro, dos homens e dos evangélicos.
Objetivo: traçar o perfil da base eleitoral do Bolsonaro, utilizando dados do TSE e pesquisas de opinião.
Cap. 01 – As regras e a evolução da campanha eleitoral
- Dinheiro para financiar campanha - Tempo razoável de horário de propaganda eleitora - Rede de apoio nos estados
Novas regras: - Fundo partidário - 45 dias de campanha - 06 meses para filiação
Bolsonaro priorizou a mensagens via redes sócias, não participou de eventos públicos nem debates. Uma hipótese aceita foi o beneficio da “facada”, que manteve “escondido” de criticas e deu visibilidade em tv e rádio
Cap. 02 – A escolaridade
Fundamental: desemprego; segurança; saúde e corrupção Médio: corrupção; desemprego; segurança e saúde Superior: corrupção; segurança; desemprego e saúde
Bolsonaro teve uma alta votação na faixa de escolaridade média e superior
Cap. 03 – Gênero
Bolsonaro tem um apoio muito maior entre os homens do que entre as mulheres
Idéias bolsonarista – público masculino – interesses dos militares, corporação predominante masculina, flexibilização para a posse de armas, uso de políticas duras no combate ao crime organizado, critica aos direitos humanos.
Declarações misóginas – “fraquejada”; “único que votou contra a emenda constitucional que ampliou os direitos trabalhistas para trabalhadoras domesticas” e “jamais vou estuprar você porque você não merece”
Uma das alternativas para ele ter aumentando, perto do fim do primeiro turno, é entre grupos evangélicos.
Cap. 04 – Idade
16 anos – facultativo 18 a 70 anos – obrigatório
Entre homens, Bolsonaro é o preferido entre todas as faixas e entre as mulheres, ele recebe amplo apoio a partir de 45 anos
Cap. 05 – Religião
Bolsonaro é católico. Por que ele teve um apoio tão expressivo entre os evangélicos?
Hipótese 1 – Afinidade em relação ao conservadorismo no campo comportamental. “Defesa da família tradicional”
“Em 1989, as principais lideranças evangélicas se engajaram na eleição de Collor”
Cap. 06 – Petismo e antipetismo
O antipetismo está associado, sobretudo, ao conservadorismo comportamental e a corrupção. “O PT é um partido de corruptos, que ameaça as famílias tradicionais e quer transformar o país numa enorme Venezuela”
Uma idéia de antipetismo foi a principal razão da vitória de Bolsonaro e uma das razoes para eleitores com maior escolaridade terem votado no Bolsonaro.
Cap. 07 – As redes sociais
As eleições de 2018 ficarão conhecidas com uma das maiores difusoras de fake news.
Sempre houve o uso de boatos em campanhas eleitorais, um exemplo usado pelo Collor:
“Se o PT ganhasse, as famílias teriam que dividir suas casas com outras, o governo tomaria a poupança das pessoas (ironia ou previsão?!), milhares de empresários fugiriam do país”
Na era digital, as fake news ganharam além do boca a boca, a utilização de vídeos velhos com novas informações acrescentadas e fora do contexto, fotos adulteradas, noticias inventadas, teoria da conspiração.
Cap. 08 – Regiões e Estados
“O bolsonarismo tem um forte componente urbano e metropolitano. Os moradores das grandes cidades, em média mais escolarizados e com amplo acesso as redes sócias, constituíram a base de apoio de sua vitória”
Rio de Janeiro e Minas Gerais foi importante na vitória do Bolsonaro. Ele foi vitorioso em favelas e bairros populares, onde antigamente era dominado pelos candidatos do PT.
Cap. 09 – Municípios
Municípios com até 50 mil habitantes o PT se manteve em alta.
Considerações Finais
“A vitória de Jair Bolsonaro rompeu com um padrão observado em eleições anteriores” “Preferido nos três níveis de escolaridade – fundamental, médio e superior” “Bolsonaro é sobretudo um candidato dos eleitores masculinos, porém teve um desempenho melhor entre as mulheres mais velhas” “Em 2018, ser antipetista significou ser bolsonarista”
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"Nas eleições presidenciais americanas de 2016, Trump teve uma votação maior nos municípios menos escolarizados, enquanto sua adversária, Hillary Clinton, ganhou onde residem os eleitores de alta escolaridade - justamente o inverso do que aconteceu no Brasil, onde Haddad venceu nos municípios menos escolarizados". A leitura de "O Brasil dobrou à direita" não explica, por completo, o fenômeno Bolsonaro, mas definitivamente abre caminho para futuras pesquisas nesse âmbito. Comparar a eleição dele com a de Trump mostra-se leviano, em termos técnicos, e o cientista político demonstra brilhantemente que Jair Bolsonaro se trata de um fenômeno brasileiro, com suas especificidades. Recomendo a leitura.
Livro excelente para leigos e criticamente interessados no tema Bolsonaro, me surpreendeu e conquistou na leveza da leitura e qualidade das informações
Esta obra parece ter o mesmo objetivo de "A eleição disruptiva": buscar dados científicos dm pesquisas sobre a tendência eleitoral dos brasileiros nos últimos anos. Aparentemente o autor é uma figura bastante conhecida e respeitada em relação à ciência política. Porém, acredito que o livro fica aquém das expectativas. Os dados são em sua maioria quantitativos. As análises psicológicas e sociológicas do eleitorado e dos meandros políticos definitivamente não são tão aprofundadas quanto em "A eleição disruptiva". No fim, acabou servindo como uma obra complementar em relação ao outro livro citado.
Que belo apanhado de estatísticas Jairo traz nesse livro! Recheado com causos e evidências anedóticas aqui e ali, esse é um bom exemplo de como hipóteses podem ser testadas apenas com o uso inteligente de estatísticas descritivas.