A editora Comix Zone orgulhosamente publica, pela primeira vez no Brasil, A Grande Farsa, obra fundamental das historietas argentinas. Esta edição integral compreende A Grande Farsa e sua continuação, O Iguana. Três décadas após seu lançamento, a obra-prima de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina segue mais atual do que nunca e continua a denunciar as ondas totalitárias que regularmente acometem os países latino-americanos. Em uma república das bananas não tão imaginária assim, um ditador sanguinário mantém uma relação incestuosa com sua sobrinha, que finge ser uma virgem milagrosa para toda a população. Por causa de uma chantagem envolvendo fotos comprometedoras, a falsa santa pede ajuda a um ex-policial alcoólatra para evitar o desenlace de um enorme escândalo. E todos esses personagens temem a presença do sádico Iguana, torturador oficial do regime ditatorial em vigor. A Grande Farsa é uma amostra da incrível riqueza gráfica de Domingo Mandrafina e das inigualáveis habilidades narrativas de Carlos Trillo que, em 1999, e com este trabalho, ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Quadrinhos de Angoulême, na França. A edição tem acabamento de luxo, com formato grande, capa dura com verniz localizado, lombada redonda e 224 páginas em preto e branco, impressas em papel offset de alta gramatura, além de um marcador de páginas exclusivo.
Carlos Trillo was an Argentine comic book writer. Trillo began a prolific career as writer already at the age of 20, writing his first story for Patoruzú magazine. Trillo created, together with Horacio Altuna, the strip El Loco Chávez, which appeared every day at the back of the newspaper Clarín from July 26, 1975 to November 10, 1987. After that, the strip was replaced by El Negro Blanco, which he wrote for the artist Ernesto García Seijas until September 1993. He married writer Ema Wolf and had two children. He participated on the creation of several comics including Cybersix in 1992, with Carlos Meglia, and the Clara de noche and Cicca Dum Dum series with Jordi Bernet. He has also collaborated with Alberto Breccia and Alejandro Dolina. In 1999, his work La grande arnaque won the Prize for Scenario at the Angoulême International Comics Festival. He died in London on May 8, 2011, while on holiday with his wife. (Source: Wikipedia)
Vencedor de um prémio Angoulême, A Grande Farsa apresenta alguns dos elementos que caracterizam a narrativa de Trillo, mas aqui acompanhados por um desenho detalhado, sombrio e expressivo.
A história
A narrativa é contada na perspectiva de um escritor de novelas que é mestre em criar personagens. Assim terá transformado a sobrinha de um sanguinário ditador numa figura nacional, uma virgem santa. Esta criação teria, como objectivo, elevar a condição de virgem e diminuir o crescimento da população.
Mas nem a suposta virgem é de ferro. Abusada pelo tio, procura num outro homem o carinho e a paixão de que precisa. Quando um terceiro homem, poderoso e ciumento, capta fotos deste seu deslize, a virgem é obrigada a recorrer à ajuda de um ex-polícia.
A narrativa
Algumas das personagens respondem a arquétipos redesenhados por Trillo. A virgem é uma jovem inocente sem escapatória numa ditadura que a brutaliza de várias maneiras. Mas nem por isso é totalmente casta e o autor irá transformar esta virgem numa simples mulher, usada por todos os da narrativa.
Já o ex-polícia é o herói. Alguém que, naquela ditadura, tenta usar a sua honestidade na profissão, descobrindo escândalos que não podem ver a luz do dia. Assim é remetido à condição degradada de bêbado, até achar um novo propósito – proteger e ajudar a virgem. Também esta figura é transformada pelo autor, conferindo-lhe desejos humanos e um desejo de vingança retorcido que irá servir (ironicamente) a narrativa.
Não falta, claro, o bandido. Um homem implacável que mete medo em todas as personagens com as quais se cruza – uma força da ditadura, capaz das mais inimagináveis infâmias. Trillo é bem sucedido em tornar esta personagem numa caricatura nojenta e odiável.
Partindo de clichés e transformando-os, Trillo sucede em criar mais uma história de humor negro, carregada de brutalidade e violência, onde não faltam as tiradas irónicas e sarcásticas. O mundo de Trillo é um lugar pesado, que, neste caso, nos remete para uma ditadura hipotética onde um simples homem manipula a sociedade e se mantém no poder perante uma resistência escondida e diminuta.
Encontramos os jogos de poder, os favores e, até, os estrangeiros coniventes que fazem fortuna nestas ditaduras disfarçadas de repúblicas. A polícia é corrupta, usa-se uma falsa moralidade religiosa para domesticar o povo, bem como esquemas noticiosos para espalhar falsas lendas e assim influenciar para um estilo de vida.
Conclusão
O estilo narrativo de Trillo não é para qualquer leitor – um humor negro e violento, onde não faltam as alusões à religiosidade como falsidade ou a falsa moralidade. Neste caso trata-se de uma história curta onde se reconhecem os elementos comuns a algumas das suas outras narrativas. A não perder para quem gosta do estilo de Trillo, aqui cruzado com o desenho detalhado de Mandrafina, dupla que é também responsável pela série Spaghetti Bros.
Originalmente publicado em dois trabalhos separados: **A Grande Farsa** (*Cosecha Verde*), e sua continuação, **O Iguana**. Reunidos em um volume único.
Se o primeiro volume assume um tom mais noir clássico. O segundo volume se destaca pelo realismo mágico.
É um bom quadrinho, de maneira geral. Não é exatamente uma HQ super agradável de ler. Como geralmente acontece em trabalhos noir, não tem um final feliz. Acho que a obra peca um pouco pela consistência na progressão da narrativa.
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