Alma viva não seria capaz de desenvolver a um adulto barbado a crença em criaturas esquecidas na primeira infância. O diabo peludo, o lobisomem, a mula sem cabeça, tudo isso era coisa de criança, perdida no amadurecer enrugado da face, e então Benjamim sopra novamente vida a esses seres, vida e medo. Histórias de terror baseadas no folclore nordestino, amplamente difundidas pela literatura oral e publicadas no bem sucedido livro 'Maldito Sertão', do autor Márcio Benjamin. Os contos do livro foram livremente adaptados para o formato de HQ.
Márcio Benjamin nasceu em Natal (RN), em 1980. Autor de romances, roteiros e livros de contos de horror rural e folclóricos (Maldito Sertão, Fome e Agouro), também já se aventurou no teatro (Hippie-Drive, Flores de Plástico, Ultraje) e trabalha como advogado. Figura constante em projetos do Sesc (Arte da Palavra, Mostra Sesc de Culturas, Mostra Sesc Carri, Flipelô), participou de eventos nacionais como a Bienal do Livro do Ceará e de Recife, e internacionais, como a Primavera Literária de Paris e Nova York e a Feira do Livro de Paris. Márcio também é roteirista de séries, curtas-metragens e longas-metragens. Ganhador dos Prêmios Moacy Cirne de Ficção de 2019 e do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica Narrativa Curta de Horror 2020.
Nascido e criado no sertão paraibano, Shiko é ilustrador, grafiteiro, roteirista, diretor de curta-metragem e autor de quadrinhos. Já expôs em galerias de Portugal, Itália, Holanda, França e Brasil. Como autor de quadrinhos produziu Marginal Zine, Blue Note, O Quinze, adaptação do romance de Rachel de Queiroz. Em 2013, publicou pelo projeto Graphic MSP a HQ Piteco: Ingá e lançou O Azul Indiferente do Céu, pelos quais recebeu os prêmios Angelo Agostini e HQMix de Melhor Desenhista 2014, além do HQMix de Melhor Álbum de Terror/Aventura/Fantasia. Voltou a receber esse prêmio em 2015 pela HQ Lavagem. Em 2019, lançou o quadrinho Três Buracos. Suas obras mais recentes são Carniça e a Blindagem Mística – É Bonito Meu Punhal (2020) e Carniça e a Blindagem Mística Parte 2 – A Tutela do Oculto (2021). Saiba mais em seu instagram @chicoshiko.
Melhor jeito que encontrei de explicar aos contos desse livro foi: "histórias de terror contadas ao redor da fogueira". O autor pega casos folclóricos dos mais diversos - tem lobisomem, tem mula sem cabeça, e outros tantos a mim desconhecidos - e os transforma em narrativas curtas de terror.
O grande diferencial pra mim foi o Márcio preservar no texto escrito toda a oralidade da tradição que transmitia e transmite essas histórias até hoje. Por conta disso, o texto ganha um jeitão de prosa poética que permite ao autor te levar a imaginar o que estaria acontecendo sem que ele precise explicar diretamente. O dito no não dito. O que sempre conta pontos quando se pretende criar uma atmosfera envolvente para o leitor.
uma nota técnica: li em e-book (03/2021) e precisei colocar a fonte no mínimo para o texto caber na tela.
Quando você pensa que é só mais uma história de lobisomem, eita que Márcio Benjamin nos presenteia com esses contos de terror cujos seres horripilantes são personagens da nossa lenda rural. Os contos são muito bem construídos, dignos de um bom contador, com uma linguagem que mais parece que você está ouvindo que lendo. Alguns trazem críticas ao comportamento humano, aos sentimentos e vivências. Muito bom!
Assim que soube da existência desse livro, precisei lê-lo imediatamente. Sou apaixonada por terror, e ainda mais vidrada em histórias de assombração, visagens de interior. Ler esse livro escrito com o jeitinho interiorano de falar é delicioso. A escrita de Benjamin é envolvente e a gente se sente no alpendre da casa dos avós, tentando não demonstrar medo, enquanto escuta histórias Arrepiantes, olhando para a escuridão, torcendo para ela não te olhar de volta.
"Um universo onde se misturam mito, ficção, poesia e linguagem regionalistas." As palavras de Thiago Gonzaga, na introdução desse livro de contos, resume bem a experiência de leitura de Maldito Sertão. O apuro literário de Márcio Benjamin transforma o terror em palco para uma reflexão maior sobre a condição humana. O que cativa o leitor é a maneira como são retrabalhadas a cultura e as lendas sertanejas, especificamente, do Rio Grande do Norte, terra do autor. Respeita-se a tradição, mas o texto é ágil, sutil, imagético, cinematográfico. O autor mostra um incrível poder de síntese, dizendo muito em poucas páginas. Mas há também uma boa dose de entrelinhas, de silêncios e coisas não ditas, nem explicadas. Aliás como explicar o inexplicável?, muitos diriam. O mais importante é perceber que Márcio se alimenta da tradição popular para criar suas próprias histórias. Não há um ranço de coisa já contada, e sim um frescor, mesmo que nos deparemos com figuras e causos de vasto conhecimento popular. Deve-se ressaltar também o belo trabalho da editora potiguar Escribas com a versão física do livro. Maldito Sertão é uma nova maneira de ver a cultura sertaneja pela via do terror.
Simplemente excelente. Lendo me sentia uma criança escutando uma daquelas histórias que a avó da gente conta pra fazer a gente se comportar e não ficar na rua até tarde. Recomendo pra qualquer pessoa que goste de terror, e mais ainda pra quem cresceu no nordeste. E ai? Tu se garante?
Varias criaturas diferentes mas todas as estórias me pareciam iguais? Uma ou duas não entendi. Não entendi a menção de estupro sem motivo na estória A Mata. Gostei quando a linguagem usada com o estilo de narrativa era a voz de uma pessoa do sertão. Gostei das estórias Rio Abaixo e Casa de Fazenda.