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Contra mim

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«Estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começámos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento.»

Na vida de alguns escritores tudo parece conspirar para a inevitabilidade da escrita. Cada detalhe, por mais errático ou disfarçado de desimportante, já é a construção do fascínio pelo texto, algo que se confunde com a sobrevivência, com toda a dificuldade e alegria.
Valter Hugo Mãe, num "ano introspectivo", como diz, regressa com a história da sua própria infância e a magia profunda de crescer fazendo das palavras alimento, companhia, lugar, espera ou bocados de Deus.
Este livro é uma criança às páginas. Um escritor em menino.

284 pages, Paperback

First published January 1, 2020

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About the author

Valter Hugo Mãe

67 books2,266 followers
valter hugo mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor.
Nasceu em Saurimo, Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, vive em Vila do Conde.
É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Vencedor do Prémio José Saramago no ano de 2007
É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação, (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004).
Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.

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5 stars
421 (35%)
4 stars
549 (46%)
3 stars
196 (16%)
2 stars
21 (1%)
1 star
3 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 129 reviews
Profile Image for Os Livros da Lena.
294 reviews320 followers
November 19, 2020
Review Contra Mim, de Valter Hugo Mãe
73/2020
4⭐️

Ter o privilégio de conhecer a pessoa por trás das palavras pode ser a mais bela ou a mais devastadora experiência.

Depois de ter lido seis obras do Valter, compreender de onde lhe começaram por vir as palavras foi belo.

Há sempre particularidades que nos prendem e fascinam na escrita dos autores de que gostamos muito. No caso do Valter, a sua prosa poética e a capacidade plástica de descrever a natureza das pessoas e das coisas sempre me fascinaram.

Senti que estava a uma mesa a ser servida das memórias dele. Da sua perspectiva de mundo. Do retorno de Angola aos dois anos e cinco meses e do peso que isso lhe foi nos primeiros anos, sem entender porquê.

Compreender o Valter e a sua sensibilidade, não é só compreender o seu fascínio pelas pequenas grandes coisas. É compreender a avó que matava coelhos como guerreira sem piedade, que o ensinou que o medo às vezes afinal não é medo, mas saudade. A Marisol tão linda que poderia casar a qualquer momento e ir viver para uma qualquer fotonovela ou telenovela.

Compreender o Valter é encontrar o menino que colecionava palavras e pirilampos. Que labutou 172 provérbios em troca de chocolate a saber a salário. As caxinas e o fim da primeira inocência. A melancolia de deixar ir o Chiquinho.

É bonito compreender o Valter. E compreender que o mundo não é só um. Que cada um de nós é e tem um mundo próprio que constrói colhendo o que lhe dão e o que procura. Ficando sempre a dúvida entre ser pirilampo ou louva-deus. E a solenidade de poder ver de melhor maneira.

Que bom foi conhecer o Valter e compreender de onde vêm muitas das personagens e problemáticas das obras que já lhe li.

E vocês, já leram? O que acharam?
Profile Image for Margarida Galante.
454 reviews40 followers
January 10, 2022
Neste livro, Valter Hugo Mãe conta-nos episódios, impressões e lembranças da sua infância ao início da sua adolescência, deixando pistas relativamente ao seu caminho até se transformar no escritor que nos tem dado livros maravilhosos.
Escrito na primeira pessoa, enquanto o lia, pareceu-me sempre estar a ouvir a voz de VHM, como se o próprio estivesse sentado comigo à lareira, a contar-me as suas recordações.
Recomendado principalmente para os que se maravilham com os livros deste autor.
Profile Image for Sofia.
1,026 reviews129 followers
February 8, 2021
Foi a minha estreia nos livros do autor e marcou-me pela positiva.
Um retrato quase poético da infância e do crescimento, que narra o percurso motivacional do autor para a escrita:
"Com os meus poemas, palavras pueris que se mexiam lentamente entre outras. Outras palavras mais terríveis, nem por isso inimigas. Contra mim seriam se não as pudesse escrever."
Sou um pouco mais nova, mas muitas coisas trouxeram-me também recordações:
"Guardavam-se as revistas em casa, os livros da escola, os cadernos. Liam-se os jornais diários nos cafés e as compras eram embaladas contidamente. Por mais que buscássemos desperdícios, desperdiçava-se menos, muito menos. "
Um autor para conhecer melhor, sem dúvida.
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
422 reviews212 followers
March 18, 2021
A minha estreia com Valter Hugo Mãe foi com "A desumanização", um livro que li em 2018 e que ficou como favorito. A escrita poética conquistou-me de imediato; no entanto não voltei mais a ler o autor, talvez por receio que nada fosse tão bom (aquelas incoerências).

Decidi que estava na altura de acabar com esse receio estúpido e peguei, sem qualquer pretensão, neste "Contra mim" e quando me apercebi tinha lido umas 50 páginas de seguida.

A escrita do VHM é realmente daquelas que ou se ama, ou se odeia e eu, felizmente, adoro. Sinto cada palavra como se pudesse ter sido eu a escrevê-la (caso tivesse o génio), fico encantada com a forma com que o autor usa e abusa da bela língua que é o Português. A sensibilidade que o Valter demonstra, e que sempre demonstrou para quem o ouve e vê em entrevistas, é ímpar. Inigualável.

Para mim, que cresci em Vila do Conde, que conheço as praias e as gentes das Caxinas, este regresso à infância do Valter foi também o regresso à minha infância. Adorei a forma como a gente do Norte é descrita e adorei toda a Portugalidade que se sente neste livro.

Sendo eu muito mais nova que o autor, as nossas infâncias foram bastante diferentes, mas ainda assim muita coisa que o Valter descreve, despertaram-me memórias. A inocência da infância, a descoberta dos livros, dos primeiros amores, das brincadeiras com os amigos. Este livro é, sem dúvida, como um regresso.

"Contra mim" é sentir que estamos sentados numa mesa de café à conversa com o autor. E é maravilhoso!

Sublinhei muito este livro, tem passagens lindas, mas esta foi uma das que mais me marcou: "existir é pura maravilha. Com o seu inesperado e tanto susto, a vida é a oportunidade da maravilha." Que este optimismo nunca nos falte!
Profile Image for Beatriz.
313 reviews97 followers
October 27, 2021
Este é um dos livros mais doces que já li - aliás, como o são todos os livros de VHM. No entanto, esta não é uma doçura isenta de certas violências, amarguras ou melancolias. É a doçura da infância, que tem tanto de colo quanto de empurrão.

E assim se fica a saber em detalhe como o menino se tornou escritor, até antes do tempo de se tornar homem...
Profile Image for Ana Bastos.
12 reviews3 followers
May 3, 2025
"Devia haver cadeiras que, vazias dos mortos, ainda assim não permitissem os vivos de sentar. Por estarem, ao menos no nosso afecto, sempre ocupadas"

"morrermos alguém são mil anos de leituras"
Profile Image for Ana Marinho.
595 reviews31 followers
October 29, 2022
Sinto que finalmente consegui entrar no mundo de Valter Hugo Mãe. Apesar de sempre ter adorado a sua escrita, só ao fim de alguns livros é que consegui gostar das narrativas. Neste caso em particular, sendo uma autobiografia, fiquei totalmente fascinada. Isto porque não considerei que fosse uma autobiografia normal, cheia de factos e acontecimentos densos por si só, mas sim um conjunto de situações adoçadas pelos pensamentos do escritor de forma cronológica, ou seja, quando liamos excertos de um VHM mais pequeno, sentíamos que era esse rapaz magrinho que falava connosco, com toda a sua inocência e magia de quem está a descobrir o mundo. Talvez por isso faça mais sentido classificá-lo como um livro de memórias. Sou muito agarrada a memórias, principalmente às de infância. Por essa razão, quando um autor percebe que é inevitável escrever sobre a sua vida e decide presentear-nos um livro destes, eu só consigo ficar feliz. Não há nada mais bonito do que a nostalgia da infância, as memórias precisas e as memórias algo distorcidas que completamos com outros contos e pontos. Gostei muito de conhecer esta versão jovem e inocente de VHM, pelo que recomendo a leitura deste livro.
Profile Image for Eunice.
70 reviews1 follower
March 17, 2022
Este foi o primeiro livro que li de Valter Hugo Mãe e encantou-me a escrita poética, se bem que nem sempre fácil, do autor.
Este livro é particularmente cativante pelo modo como nos mostra o mundo através dos olhos infantis, com toda a inocência e candura, de que só uma criança é capaz. É mais um livro de memórias do que uma autobiografia, não tem uma estrutura marcadamente cronológica e é, como o próprio autor afirma na "Nota do Autor", um conjunto de textos que foi escrevendo ao longo do tempo e que juntou para este livro.
Um livro para recordar a criança que foi, que ainda é, no mais fundo de si próprio: "Recordo esta criança como alguém que me morreu. Sou o seu túmulo, existe dentro de mim" (pág. 276)
Profile Image for Suellen Rubira.
950 reviews89 followers
March 3, 2021
À beira de seus cinquenta anos, o escritor português Valter Hugo Mãe se entrega à narrativa memorial e junta os pedaços de sua vida, indo da infância até a adolescência.

Sua relação com as palavras está sempre evidenciada nos episódios que nos conta, mas junto a isso, conflitos familiares, avós exilados na França, tios, primos espalhados por aí, a saída de Angola quando muito pequeno e um retorno idealizado, somado ao desejo de ser negro, como todos os habitantes de sua terra natal.

Dentro do universo desse menino absurdamente ingênuo, ocorrem coisas muito violentas - explícita o implicitamente. O atraso na escola resulta em bofetadas na cara. Colegas nem tão desobedientes assim levam surra de régua. A pré-adolescência permeada por uma ideia forçada de amor relacionada à pornografia (como é com todo mundo, imagine naquela época). O quase abuso sexual que o afastou do núcleo da igreja. Valter era o menino que seria santo em bandas muito mais afastadas.

É relato de vida, poético. Não é exatamente uma reconstituição a fim de juntar uma totalidade. É só para falar daquele miúdo que se enfiou nos livros, colecionou palavras, temeu os louva-deuses. Cresceu, virando túmulo dessa infância superada.
Profile Image for ☕️ Inês.
156 reviews79 followers
August 13, 2021
«Ando, a vida inteira, sobretudo à caça de satisfação para uma angústia constante que se prende a tudo, a ter e não ter, sentir que nunca nada está completo, que nunca tempo algum é suficiente. Falta-me tempo, quero mais, e quero gente e quero corresponder, pertencer genuinamente a cada lugar e melhorar os lugares e melhorar tudo, e ser um pouco feliz no meio de tanta coisa, tanta coisa que nem entendo, não chego a conhecer, não sou sequer inteligente o bastante para as aventuras todas. E digo angústia porque fica no ar um lado mais existencial e filosófico do que a constatação sempre tão violenta da tristeza, alguma tristeza, e a vida faz-se de andar entre alguma tristeza e procurar saída.» pg. 84
Profile Image for Margarida.
8 reviews2 followers
October 20, 2020
Gostei muito de conhecer um pouco da história de vida de Valter Hugo Mãe (escritor que admiro muito). Um livro que vale a pena ler. De escrita fácil de seguir e bastante poetica um deleite para a alma que nos faz pensar sobre a condição humana.
Profile Image for Sofia Teixeira.
605 reviews132 followers
August 15, 2021
Mergulhar na cabeça e infância de Valter Hugo Mãe tem muito que se lhe diga! Entre uma candura desarmante e uma subtileza que nos deixa em alerta, é com um certo fascínio que acompanhamos esta narrativa fragmentada, mas que ao mesmo tempo parece ter sido feita por inteiro. Opinião completa brevemente.

"Num ano introspectivo, em que todos nos vimos a medo e tantos padeceram ou não resistiram, convidados a uma heroicidade que passou muito por resistir à solidão, suportar nossas próprias consciências no bocadinho de nossas casas e famílias, acabou sendo perfeito regressar a estes fragmentos, exactamente como regressar a mim sem maior desejo do que aquele de encontrar a motivação mais antiga: a de que ainda haverá beleza. Nem que cresçamos sem casar. Ainda haverá beleza e poemas. Em todas as clausuras e adiamentos se colhem poemas. (...) E ainda sigo grato. Só se perdesse a vontade de agradecer me sentiria derrotado. Por isso, minha solidão é festiva."
Profile Image for Graciosa Reis.
527 reviews51 followers
May 7, 2023
Contra mim é um livro muito pessoal e intimista. Partindo de textos e apontamentos dispersos guardados durante anos e revisitando as suas memórias, o autor foca-se essencialmente na sua infância e parte da adolescência vividas em Angola, onde nasceu, e depois em Paços de Ferreira e Caxinas.

“Regressado com dois anos e meio de idade, eu esquecera quanto vira em Angola. Esquecera as pessoas, a cor das pessoas, esquecera as casas, os campos, o calor, os odores.
Durante um longo tempo, entusiasmado com ser criança, a minha consciência parecia fazer com que Paços de Ferreira fosse um lugar absoluto, um mundo absoluto, extenso e suficiente, incrível e até demasiado.” (p. 36)

De forma simples, directa, sincera e fascinante, o autor comove o leitor: primeiro, porque o remete para a sua própria infância/adolescência; segundo, porque vive as alegrias, as vitórias, as tristezas e as desilusões do protagonista e terceiro, porque acompanha o seu sonho, a sua criatividade, o seu interesse pelas palavras, pela poesia. Desde muito pequeno que juntava palavras num caderno para lhes dar o seu sentido e através delas crescer e criar o seu mundo.

“Sem saber ainda escrever, eu listava as minhas palavras no pensamento e pedia à minha mãe que me repetisse as que esquecia, não entendia ou queria ouvir como se as pudesse colher de novo, frutos da bela árvore que era a minha mãe. Frutos ou brinquedos. Meus melhores, fiéis e incorruptíveis brinquedos.” (p. 48)
e
“As palavras eram joias. Ouvir as minhas tias à conversa era apanhar dinheiro que lhes caía boca fora.” (p.49)

Valter, a criança imaginativa, o “miúdo carente, espantado, pacóvia e medricas” (p.83) relembra e partilha com o leitor a sua rotina em casa com a família, na escola, e com os (poucos) amigos; as suas descobertas de criança; a descoberta do seu corpo e da” rotunda pequenina entre as pernas das meninas”; os seus primeiros e tristes amores; o seu relacionamento com o “irmão horizontal” que morreu prematuramente; a sua crença particular em Deus.

“Eu acreditava em Deus porque estava grato e necessitava ter alguma figura a quem corresponder nesse sentimento arrebatado que vinha da oportunidade de existir. Que, por muitos anos, na minha timidez, se resumia a assistir. Talvez não existisse. Talvez apenas assistisse. Era, contudo, o bastante para uma gratidão sem reservas.” (p. 78)

É um livro lindo, com descrições ternurentas, aparentemente inocentes, com ideias claras, desconstruídas e muito interessantes.
Profile Image for Bárbara Fraga.
219 reviews28 followers
September 28, 2023
Gostei! A escrita de Valter Hugo Mãe nunca desilude e foi realmente prazeroso conhecer a história de vida deste autor, mais precisamente a forma como as vivências da sua infância e adolescência já indiciavam o papel que as palavras, a poesia e a prosa teriam na sua vida adulta.

Sendo natural da Póvoa de Varzim, apreciei especialmente as passagens que faziam referência à minha cidade e à zona das Caxinas.

Para além deste livro do autor, li o "Filho de Mil Homens" e acho que foi bom ter lido algum livro de ficção seu antes, visto que este acaba por ter um toque mais autobiográfico.

Pretendo, sem dúvida, continuar a ler a obra do autor.
Profile Image for Manuela.
172 reviews
August 26, 2021
Escrever sobre a própria infância e adolescência, fazendo disso literatura, sem cair em "sentimentalismos" comuns é, parece-me, um ponto muito importante que Valter Hugo Mãe conseguiu com este livro. Uma "criança aos bocados" que se transforma num homem e escritor, sem a tal pureza e beleza, tantas vezes evocada, mas com um dicionário muito mais rico em palavras. Foram elas, no fundo, a base de construção de um "eu" artístico, devoto e maravilhado com a existência.
O livro é sublime em cada relato de um determinado episódio de vida, as ligações que o autor faz com o seu íntimo, com a construção de si mesmo e a percepção do mundo que o rodeia. O contraste do "eu" presente com essa memória de infância já filtrada, de certo modo.
Durante a leitura, estive sempre com vontade de sublinhar todas as frases, parece que tudo é importante e universal neste livro, ao mesno tempo que senti uma vontade imensa de abraçar cada "Valter menino" que nos é apresentado, nessa "humanidade" à espreita, própria das crianças.
E se aqui a infância é "contra" o autor e as palavras são elas que sempre salvam e ocupam silêncios, esta é também uma forma de deixar uma memória organizada, pela via das palavras. "Beleza e poemas", mesmo que não se chegue a casar.
Profile Image for Patrícia Simões.
54 reviews5 followers
January 11, 2025
Um relato de episódios da infância e início da adolescência do autor. Gostei bastante. Achei comovente todo o entusiasmo aquando da compra do primeiro livro, aos onze/ doze anos. Parece que agora tenho mais uma camada de entendimento sobre a obra de Valter Hugo Mãe.

Este livro fez-me recordar como gosto de ler (auto-)biografias.
Profile Image for Catarina Gomes.
Author 6 books151 followers
July 15, 2021
Uma delícia de memórias infantis, algumas comoventes, outras francamente cómicas (aconselho «A senhora empática»), mas sempre com a escrita frágil e cândida de Valter Hugo Mãe, que não deixa fora do seu escrever as suas hesitações («quero dizer») e tentativas de escrita («não há como explicar de outra forma»). A forma como abrevia as frases («comprava quase nada») condiz tão bem com este ser criança. O autor foi garimpar à sua infância e eis o que encontrou, o que reescreveu. Que pérolas semelhantes tem cada um de nós na sua meninice? Todas as temos, talvez nos falte é o talento para as pôr de pé desta maneira, tão doce e poética.
Profile Image for Joana Margarida.
171 reviews45 followers
November 13, 2021
A minha profunda admiração por Valter Hugo Mãe vai muito além da sua obra escrita. Ouvi-lo, à semelhança de lê-lo, é para mim um deleite. Acompanhar a sua voz, dicção e pronúncia funciona como um exercício de relaxamento para mim. Gosto de ouvi-lo em entrevistas e podcasts, em conversas mais ou menos informais, onde se dá a conhecer enquanto Homem. É alguém por quem nutro uma admiração mesclada de carinho. Comove-me a sua poesia falada e a escolha de palavras que pontuam as suas narrativas de ritmos melódicos e pacificadores.

Por ouvi-lo com alguma frequência, li este «Contra Mim», um livro autobiográfico, com a sua voz de fundo. O meu cérebro foi produzindo a sua voz na minha cabeça, entoando as frases e palavras da forma como acredita que o Valter o faria. Este pequeno (grande) detalhe tornou esta experiência de leitura única. De facto, é um livro especial, íntimo. O escritor ganha vida enquanto pessoa e o meu fascínio por esta personagem aumenta.

O autor abre-nos a porta de acesso à sua infância, contando-nos as suas experiências emocionais de menino cujo nascimento sucede o falecimento do seu irmão Casimiro, que morreu contando apenas um ano. Este «menino horizontal» fantasmou o seu imaginário de criança, guiando a sua conduta e pensamento. Ao longo do livro, Valter guia-nos pelas suas angústias pautadas por uma pureza e ingenuidade só encontradas na infância. Mesmo menino, o autor era profundo, sofredor, intenso: poeta.

Aconselho vivamente a leitura deste belíssimo retrato autobiográfico do jovem Valter. É um livro que não se lê somente – sente-se.

Obrigada, Valter, por mais este presente em forma de livro.

“Ando, a vida inteira, sobretudo à caça de satisfação para uma angústia constante que se prende a tudo, a ter e não ter, sentir que nunca nada está completo, que nunca tempo algum é suficiente. Falta-me tempo, quero mais, e quero gente e quero corresponder, pertencer genuinamente a cada lugar e melhorar os lugares e melhorar tudo, e ser um pouco feliz no meio de tanta coisa, tanta coisa que nem entendo, não chego a conhecer, não sou sequer inteligente o bastante para as aventuras todas. E digo angústia porque fica no ar um lado mais existencial e filosófico do que a constatação sempre tão violenta da tristeza, alguma tristeza, e a vida faz-se de andar entre alguma tristeza e procurar saída.”
Profile Image for Pedro Valente.
2 reviews1 follower
August 25, 2021
"Na vida de alguns escritores tudo parece conspirar para a inevitabilidade da escrita". Numa simbiose entre o traço autobiográfico e a prosa poética tão característica de Valter Hugo Mãe, "Contra mim" é a coleção de memória da juventude do autor e torna-se uma obra essencial para melhor entender a sua afinidade com as palavras.

"Contra mim" nasce da coleção de vários trechos perdidos que num ano de introspeção ganham finalmente um lugar e um sentido. Refletir no passado é recordar uma inocência da alma que invariavelmente irá dissipar quer seja porque uma seitinha nos obriga a conhecer o prazer carnal ou porque um abraço pode conter múltiplas camadas de intenções. No fundo, Valter Hugo Mãe recorda-nos do amor por pirilampos e do medo dos louva-deus e como findados vários anos ficamos à beira de ser um pouco de cada um dos dois bichinhos.

"A minha palavra preferida foi pirilampo, porque significava um bicho absurdo, e significava a luz própria contra a escuridão, e significava o levantamento desse milagre a partir da terra mais imunda, significava que o Casimiro poderia acender-se por mais morto que estivesse, e significava a celebração daquela bondade, como significava o esplendor do Brasil, e significava Portugal inteiro por libertar de uma vez por todas, como significava ambulância. As ambulâncias, como os pirilampos, acendiam em corrida pelo caminho."
Profile Image for Joana Gouveia.
13 reviews
November 18, 2024
“Depois, ela disse: as coisas de pensar. Tu tens de aprender a guardar as coisas de pensar. Se souberes escrever, as folhas de papel serão caixinhas onde podes arrumar com palavras tudo aquilo que não queres esquecer.
E as folhas de papel, tão planas e aparentemente vazias, adquiriam fundura, uma imensidão inesperada, porque, se eu soubesse escrever pirilampo, para sempre um pirilampo estaria ali, talvez até de cauda acesa, à minha espera. Meu. Sem ir embora. Eu disse: é a minha palavra preferida.”
Profile Image for Melissa Carvalho.
14 reviews
March 31, 2025
"No sonho, como nos livros, é fácil crescer pessegueiros e rostos novamente vivos e não há razão para sonharmos pequeno ou escrevermos o que nos desimporta. Também nunca serviriam os poemas para diminuir, sua natureza é a de aumentar."

Que privilégio conhecer melhor um dos meus autores favoritos.
Profile Image for Sandra Santos.
2 reviews1 follower
December 6, 2020
Adorei!!
Deliciei-me com cada expressão, com a delicadeza, os detalhes, o olhar de menino mestre!
Pena ter que esperar pelo próximo!!
Profile Image for Cátia Madeira.
89 reviews18 followers
July 25, 2022
É-me impossível ler um livro tão bonito de memórias sem que faça uma viagem no tempo para a minha própria infância. Para os tempos bons e os maus, para as dúvidas sempre constantes.
Gostei muito de ler este livro, tão honesto, sem florear aquilo que a vida tinha de ser e a forma como se conseguia perceber o mundo com um décimo da informação de que dispomos hoje.
Valter Hugo Mãe gostava em criança de jogar com as palavras e tornou-se um mestre nisso mesmo e é tão bom assistir a forma como joga.
Profile Image for Artur Silva.
51 reviews2 followers
January 4, 2024
Gostei muito deste livro. Autobiográfico e com uma escrita infantil e inocente, mas ao mesmo tempo tão representativo de uma vida… Torna-se muito leve, pela característica da escrita e o “avançar” da vida. Não desilude, venha o próximo!
Profile Image for Carolina Ramos.
102 reviews4 followers
February 23, 2021
Primeiro livro que li do Valter Hugo Mãe, e fiquei deliciada com a sua escrita poética (várias citações se avizinham, portanto). Sendo este um livro autobiográfico, percebemos como foi surgindo esta forma de escrever tão linda, e acessível, do autor. É encantadora a forma como em criança, construía teorias e histórias na sua cabeça para justificar tudo o que observava em seu redor, e como conseguiu transpor para palavras a sua imaginação, criatividade, ingenuidade e sensibilidade infantil. A sua relação com a escrita e as palavras é tão bonita, e a franqueza com que partilha os seus pensamentos e experiências é maravilhosa.

Com este livro percebe-se que a nossa infância pode ser um período rico, cheio de bondade, que vale a pena ser recordado. Essas memórias e a saudade que temos de episódios dessa altura não têm de significar a vontade de lá voltar, mas podem permitir conhecermo-nos melhor e refletirmos sobre aquilo que mantivemos e aquilo que foi alterado com o nosso crescimento.

O livro, divido em pequenos capítulos, é uma compilação de várias histórias de infância que seguem uma linha contínua e coesa. Os meus dois capítulos favoritos foram: "As árvores eram óculos de submarinos" e "Salário, fruto de trabalho, engenho, sustento, mantimentos, gesto para a sobrevivência, saúde, futuro". Para aproveitar a escrita fui lendo paulatinamente (palavra que aprendi com este livro), mas sempre deslumbrada.

Extras: recomendo a entrevista que o Rui Unas lhe fez no Maluco Beleza (https://www.youtube.com/watch?v=MArue...), e o discurso do Valter Hugo Mãe no festival Flip, no Brasil, que também está disponível no youtube (https://www.youtube.com/watch?v=euD46...) - ambos relacionados com este livro.


Demasiadas citações lindas:

"Soube sempre que o meu mundo era afectivo. Quero dizer, o que eu sabia era sobretudo gostar de alguém. Aquilo que o meu avô valorizava na criança que ali via, o empenho colocado em gostar de alguém. Toda a sabedoria deveria resultar na pura capacidade de amar e cuidar de alguém. Não era o mais esclarecido dos meninos mas, àquele tempo, ainda tinha o mais limpo dos corações. Coisa que se suja pelos anos."

"Estávamos nas nossas carteiras e o mapa pendurava-se diante do quadro de lousa. Eu abria muito os olhos, impressionado com o tamanho do mundo, porque afinal Portugal era um pedacinho tão pequeno que quase não servia para nada e nem sequer dizia onde era Paços de Ferreira, o lugar absoluto."

"a minha mãe perguntou se eu não gostaria de aprender a guardar as coisas de dentro da cabeça. Ainda hoje me fascina o modo como ele entendeu o meu mundo. Pensei primeiro que teríamos tripas na cabeça, peles e órgãos feios como havia nos bichos que eram cozinhados. Depois, ela disse: as coisas de pensar. Tu tens de aprender a guardar as coisas de pensar. Se souberes escrever, as folhas de papel serão caixinhas onde podes arrumar com palavras tudo aquilo que não queres esquecer. E as filhas de papel, tão planas e aparentemente vazias, adquiriram fundura, uma imensidão inesperada, porque, se eu soubesse escrever pirilampo, para sempre um pirilampo estaria ali, talvez até de cauda acesa, à minha espera. Meu. Sem ir embora. Eu disse: é a minha palavra preferida. A minha mãe respondeu: eu sei. Aceitei ir à escola porque aceitei ser torturado em troca da ciência deslumbrante de aprender a guardar a fortuna das palavras."

"A professora, creio que ali pela terceira classe, disse-me admirada que aquilo era um poema. Fiquei ofendido. Sabia nada sobre poemas e não aceitaria fácil que alguém pudesse dar um nome desconhecido a algo que só eu fazia, que fazia de modo íntimo, sem quase nunca mostrar aos outros. Afirmei: é uma colecção de palavras. São as minhas palavras preferidas. Se as juntar, dizem coisas que não estavam a dizer quietas. è como mexerem-se. Mexidas para um sentido ou outro, mudam. Gosto de brincar assim."

"Não fazia grande ideia do que seria dos meninos deitados sob a terra, mas, com aquela expectativa, pensava neles como sementes. Algures no macio do corpo existiria um caroço que deitaria tronco para crescer por sobre a terra. Como nos pêssegos. Um menino era já um pêssego que levava dentro um caroço, e talvez o nome do coração fosse família dos caroços da fruta."
"Nas minhas experiências com algodão molhado e grão-de-bico, recordo bem a estupefacção. Se não parassem de crescer, as plantas podiam devorar o mundo com o pé assente unicamente num ridículo pedacinho de algodão ao fundo de um copo vazio de iogurte da Longa Vida."

"Certamente funcionaria se boiássemos pequenas ervas acabadas de arrancar, ainda verdes e convencidas de estarem vivas. Seria muito provável que cada pouco de erva mudasse para o corpo de um peixe, a engordar de carnes e escamas, ganhando boca e guelras e nadando. Assim fizemos outra vez. Muito rápidos, porque a vida se inventaria às mãos dos rigorosos nos gestos e nos tempos. Quando espreitámos, boiavam as ervas molhadas, a água nenhuma, aquele cavado vazio, sem um bicho novo. Nada."

"Quando os rapazes se encorajavam nas escuridões mais perigosas, eu recuava e assistia fascinado. O fascínio era toda a minha bravura."

"Pensei que a espiritualidade poderia ter mais corpo. Ser mais física. Que os pecados não podiam ser tantos. Seriam demasiados pecados para coisas tão naturais. Como se Deus inventasse a natureza e depois a considerasse errada. Como se Deus humilhasse a natureza."

"suspeitava que as próprias plantas adiante olhavam e conspiravam, talvez passando a palavra. Havia algumas carnívoras, isso sabia eu, e comer um rapaz tão magrinho até as flores de cemitério, cabisbaixas, haveriam de o conseguir."

"o meu pai jurou que havia uma cidade chamada Maputo. Eu não poderia acreditar. Tão próxima de ser uma palavra mal-educada. Como se a cidade inteira disfarçasse um palavrão no seu próprio nome e os adultos, absurdamente, nem sequer o tivessem entendido. Juntei às minhas colecções. Não me escandalizava. Divertia-me. Imaginei que só viveriam em Maputo pessoas com muito sentido de humor. O meu pai viria a assegurar-me de que ali seria um dos lugares mais bonitos do mundo. Tive a certeza que sim. Escrevi no meu caderno. Subiu às minhas preferidas. Era uma das minhas palavras preferidas. Sonhei que haveria de ver pirilampos de Maputo."

"Uma vez, recebi uns marcadores franceses que a família do meu pai trouxera. Eram mais capazes de pintar, tinham folia nas cores, faziam desenhos vívidos. (...) Escritas no grito da cor, as palavras prometiam parir o seu significado, consumando diante de mim os amigos que inventava, o laranjal da casa dos meus avós, um Toyota, o Caetano Veloso inteiro, um cão mimado para andar comigo a escavar pirilampos. Tudo. Tudo o que pudesse imaginar e reduzir a escrito ficava prometido à realidade."

"as árvores podem ser óculos de submarinos que andam enterrados ao invés de afundados no mar. (...) óculos de nos espiarem para saberem o que fazemos e informar os governos, se calhar, governos inimigos com presidentes da república." - melhor teoria da conspiração!

"Cresci inclinado para ser como meu avô Alves, pai da minha mãe, subitamente mudei para ser rosto do meu pai. No mirabolante de se inventarem caras e identidades, eu passeara por um lado da família para ir acabar noutro. A piscina genética é líquida, mutante, espirituosa, até burra."

"A saudade não é imediatamente essa vontade de regresso. Esta saudade é sobretudo a oportunidade de filtrar, perante outra coragem, o que nos define, o que nos domina e aquilo que passamos a dominar. Esta saudade é bravura e serve inteira para apaziguar o presente e magnificar o futuro."
Profile Image for Adelaide Silva.
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September 19, 2022
O autor tem grande destaque no estrangeiro, mas confesso que este é o primeiro livro dele que leio, e, segundo me disseram é o livro mais intimista e pessoal.
Nele o autor narra como num diário a sua vida de criança e adolescente.
Uma narrativa em prosa, quase poética de como o menino vindo de Angola, mas a quem lhe faltava a negritude, se tornou escritor.
Um livro delicioso, que recomendo vivamente
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