Miguel Esteves Cardoso publicou mais de 13 mil crónicas. Estas são algumas daquelas que mais vezes foram fotocopiadas e coladas em cadernos ou roupeiros, as que motivaram mais telefonemas, discussões, namoros e até casamentos, as que vezes sem conta foram enviadas por e-mail e partilhadas nas redes sociais, por nos terem feito rir ou chorar - por, ao lê-las, termos sentido, como só MEC nos faz sentir, que «é mesmo isto».
Há quatro décadas que MEC escreve sobre ele e sobre todos nós, sobre o que Portugal é ou poderia ser, pondo no papel tanto o que nunca nos passaria pela cabeça, como aquilo que sentimos mas seríamos incapazes de expressar tão bem quanto ele, o nosso melhor cronista e aquele que foi o primeiro influenciador do país, antes mesmo de se falar em influenciadores.
Nestas páginas, estão os nossos sentimentos, da angústia ao amor, do espanto à saudade; está um universo próprio, cheio de ideias, entusiasmos, certezas, inquietações, ambiguidades e até contradições (no fundo, um universo como o de cada um de nós), mas estão também, e sobretudo, o talento, a inteligência e o humor de um dos maiores escritores que a língua portuguesa já conheceu.
Miguel Esteves Cardoso is a Portuguese writer, translator, critic and journalist. He's a well known monarchist and conservative.
Miguel was born in a middle class family in Lisbon. His father, Joaquim Carlos Esteves Cardoso, was Portuguese and his mother, Hazel Diana Smith, was English. He had a good education and the advantage of a bilingual and bicultural upbringing, helping him to develop an outsider's detachment from the culture of his birth country. In 1979, he graduated from Manchester University in political studies and four years later, in 1983, he received his doctorate in Political Philosophy. While there he made contact with some of the New Wave bands of the Factory records like Joy Division or New Order.
In 1981 Cardoso became the father of twin girls. One year later he returned to Portugal, where he worked as an assisting investigator of the Social Studies Institute on the Lisbon University. He later became a supporting teacher of political sociology in ISCTE and then returned to Manchester University for a postdoctorate in Political Philosophy oriented by Derek Parfit and Joseph Raz.
A minha introdução à escrita de Miguel Esteves Cardoso foi tardia mas não menos especial por isso. Uma das coisas que mais gosto quando leio é identificar a assinatura dos autores, um traço inimitável que desvenda quem escreveu aquele texto sem sombra de dúvida, e o MEC (como é carinhosamente apelidado) tem esse poder que é cada vez mais raro: ler um livro dele, ou uma crónica, é como ouvir. Não sei ler MEC sem o ouvir em cada palavra.
As 100 melhores crónicas é uma celebração do vasto e notório repertório do autor com a eleição das crónicas mais memoráveis para o editor, entre as milhares publicadas em livro, entre os anos 80 e 2019.
O livro reflete a variedade de temas que MEC escreve com tanta mestria, alguns muito cómicos, outros que instigam a reflexão, mas sempre com o humor acutilante, inteligência, entusiasmo e inquietação a que o autor já nos habituou — e com o qual nem sempre concordo, mas que me diverte e abre a mente. O comportamento humano, retratos de Portugal, tradições e até a dissecação das emoções está presente nesta edição que me parece a sugestão perfeita para quem quer introduzir-se à leitura de Miguel Esteves Cardoso — que melhor forma de começar que não um best of? —, mas também para quem quer uma compilação do que de melhor foi escrito por uma das figuras públicas mais carismáticas e interessantes que o nosso país já conheceu.
A propósito do Miguel Esteves Cardoso, escreveu o Cardeal josé Tolentino Mendonça que todos julgamos o MEC como uma raposo no verso do poeta grego Arquíloco “A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma grande.” Mas conclui que a capa de raposa é apenas uma aparência que "disfarça bem: um sólido e obstinado ouriço" por Portugal e os Portugueses. E as suas crónicas "constituem, como que a brincar, como se não o quisessem, uma das ensaísticas mais sérias e originais sobre o que somos." Totalmente de acordo.
comecei a ler este livro num domingo solarengo ,em casa da minha tia. esqueci-me do meu livro em casa e ela deixou-me escolher um dela para ler. decidi escolher este porque não era uma história que demorasse dias a ler,mas sim uma coletânea de crónicas que se lêem aqui e ali.
li-o durante toda a tarde até à hora de jantar. li-o numa manhã sentada na faculdade de letras enquanto observava o ambiente em meu redor . li-o numa viagem de comboio para leiria para ir visitar uma amiga e ,nessa mesma visita, não o larguei .
sinto-me um pouco o meu pai ou um senhor de 50 anos por ler este livro,e por vezes senti que não estava a compreender partes de certas crónicas,mas ainda assim posso dizer que adoro a forma como o autor escreve sobre as coisas mais banais e triviais da vida ,gosto de como descreve as suas vivências e experiências pessoais ,os seus pensamentos ,mas o que me mais me fascinou e me fez gostar da sua escrita descreve detalhada e precisamente certas situações da vida pelas quais todos passamos ,é como se estivesse a descrever uma memória minha, fazendo-o melhor do que eu própria o faria. MEC faz uso da ironia em quase todos os seus textos, e ri à gargalhada com muitas das suas piadas escondidas entre linhas.
a minha crónica favorita foi sem dúvida a "primavera pede desculpa (2006) " . devo ter lido a sua introdução umas boas vinte vezes e fascina-me sempre a cada leitura.
acho impressionante como muitas das suas crónicas , mesmo as de há 40 anos se mantém tão actuais,por mais que os tempos mudem e se alterem os vícios,continuamos sempre os mesmos. achei também muito interessante o conceito de coletânea das suas melhores crónicas, algumas com 40 anos de diferença, o que nos permite ver como evoluiu a escrita do autor , e comparar o que escreveu ao longo desse tempo.
4,5 // Ler Miguel Esteves Cardoso não é só essencial, como benéfico para a minha saúde mental. Muitas risadas me tem provocado ao longo dos anos, e esta colectânea das suas melhores crónicas foi uma excelente companhia entre mergulhos este verão.
Queria ter a escrita fresca e o olhar acutilante de MEC em todas as suas crónicas. Este livro é uma boa companhia para qualquer ocasião. Para se ir lendo ou para ler tudo de uma vez. Para ler antes de dormir, para ler nos transportes, no sofá, no carro enquanto se espera ou onde calhar. É impossível não ouvir a sua voz enquanto se lê. O sentido de humor é das suas maiores características distintivas, MEC vai-se rindo próprias piadas. E apesar dos anos que já passaram os temas continuam atuais.
📚 (mixed feelings) 📚 "Percebi que a felicidade também se pode roubar. Eu tinha roubado um almoço com o meu maior amigo. A grande alegria é descobrirmos que, em larga medida, somos nós os autores das nossas vidas. Podemos ser mentirosos, podemos ser tarados sexuais, podemos ser alcoólicos, podemos fugir dos problemas, podemos ser sempre frívolos ou tristes. Podemos ser inconsistentes. Num dia podemos ser pessoas de confiança e, no dia seguinte, não. E se, por acaso, quisermos ser boas pessoas, temos o grande prazer de sermos bons porque fomos nós que decidimos ser assim. É essa a liberdade que antecede todas as outras. Muito antes de haver liberdades oficiais, já os seres humanos podiam ser egoístas ou rancorosos. Antes de haver liberdade de expressão, qualquer pessoa podia dizer o que lhe apetecesse. Mesmo que o matassem depois, a coisa tinha sido dita e tinha sido ele a decidir dizê-la. As pessoas esperam que sejamos sensatos, saudáveis e bondosos. Mas isso é apenas o que elas querem; é um desejo, é uma opinião. Mas, por muito sentido que faça, nós não só não somos obrigados a viver como eles querem, como somos livres de fazer o que quisermos. (...) A libertação daquele momento em Londres não foi estar-me nas tintas para aquele emprego: foi ter podido escolher." (Miguel Esteves Cardoso, "As 100 Melhores Crónicas")
Este livro obtive-o de forma imprevista, e livros … são sempre bem-vindos, claro está. Terei lido apenas uma ou outra crónica de MEC ao longo dos tempos, mas recordo-o, especialmente, do programa de televisão em que participou, que constava de uma crítica e mal dizer do que se passava no nosso país, A Noite da Má Língua.
Iniciei a leitura e fui conquistada de imediato pela primeiríssima crónica narrada, Alcatifa. Quem se lembraria de escrever sobre tal banalidade? Mas a verdade é que o efeito foi amplamente conseguido porque me pôs de sorriso pateta para as páginas de um livro; fiquei certa de que iria gostar da jornada.
O seu espírito acutilante, atento e sarcástico sobre tudo e sobre nada em particular, cativam; reconheço que alguns temas se encontram datados, mas ainda assim valem a pena.
Algumas das suas divagações são absolutamente hilariantes; controversas claro, tolas, excessivas, mas com um fundo de verdade que nos gera o incómodo de considerarmos uma afronta sem o ser porque… bem lá no íntimo… se (por vezes) pudéssemos mandar todos às urtigas… lá para as tantas, bem o faríamos sem pensar duas vezes.
Este livro foi uma jornada inesquecível, andou comigo no metro, no avião, na praia, na piscina, no quarto… Fez-me rir, deu azo a muitas risadas e conversas com as minhas amigas, e ao mesmo tempo conseguiu invocar os temas da morte, da vida, da essência da amizade, portugalidades. Andei a matutar dias e dias a fio. Foi um dos melhores livros que li, porque cumpriu o seu objetivo. 🩷 “Antes a tal sorte” foi uma das minhas crónicas favoritas, mas existem tantas outras entre estas 100, muitas que só pelos títulos mostram a seriedade deste livro como a crónica “Os caras de cu” que pelo título ninguém acredita que é uma crítica ao jornalismo da RTP. A língua portuguesa é a minha pátria, como os que tudo sentem já compreendiam.
O que dizer deste livro? Que já me apeteceu menos lê-lo? E do autor? Que trabalha muito bem? Ou talvez armar-me em pantomineiro com a mania dos adjectivos: brilhante, único, memorável. Aliás, pensei em listar os títulos dos textos sublimes, inexcedíveis, para a eternidade, mas são mais do que 30, é uma tarefa impraticável.
Um retrato definitivo, elegante e tocante da alma portuguesa, do essencial da maneira de ser que nos define, e um conjunto de reflexões inesquecíveis sobre a natureza humana e o valor da vida.
Um maravilhamento para guardar religiosamente e ir desfrutando de vez em quando.
Este é um livro de crónicas e, a meu ver, uma autobiografia de Miguel Esteves Cardoso, que dá tanto de si em cada uma delas. Que escreve de forma absolutamente transparente sobre ele e sobre todos nós, e que põe em cada palavra e em cada vírgula uma pitada da sua personalidade irreverente.
As crónicas que mais me tocaram: Arranjar; A Aventura de Começar; Gostar (acima de tudo); Lembrar; Uma carta de amor para Portugal; Já tenho saudades; O prazer de esquecer.
Fico feliz por me terem referenciado um cronista nacional tão bom quanto este.
Até as crónicas mais antigas são um aconchego, de tão familiares. São uma viagem no tempo a Lisboa dos anos 80; Emergem-me numa nostalgia pelo que nunca vivi, e de repente todas as ideias que tenho desse tempo, provenientes de contos de família, filmes, ou fotografias, tornam-se meras reminiscências do meu passado. E cada canto de uma rua portuguesa passa a ter um valor cada vez mais especial para mim.
O nosso melhor escritor a escrever sobre nós. Interessante ver a evolução do discurso, sendo que, curiosamente, as crónicas mais recentes parecem menos importantes e marcantes.