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Eu quero um Deus que me acompanhe o voo

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80 pages, Unknown Binding

Published January 1, 2019

11 people want to read

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Gal Galeotti

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Profile Image for calí boreaz.
Author 8 books11 followers
October 14, 2021
acabei o teu voo desacompanhado de deuses
e acabo de me lembrar do final do meu poema "janelitude" do tesserato
em que também falo de deuses que não nos prestam atenção
o que importa é que eu voei contigo
mesmo que digas que não estás mais neste livro
e ao contrário de ti sublinhei tudo que importa
e até escrevi a certa altura PORRA GALEOTTI!
porra galeotti, que coisa imensa
que imensidão em teus poucos anos

"vejas mas seja com meus olhos desta vez"
sim?

"ama as coisas como amam os poetas as palavras não ditas
não há outra explicação que não existir amor"
- mesmo que amar e não amar seja no fundo a mesma coisa
e eu ainda não saiba o que isso quer dizer mas
sei que quer dizer alguma coisa -

"tenho medo de perder esta tristeza e não mais escrever"
ah, galeotti, a tristeza sempre volta, eu te garanto
tudo que a ela foge só a está preparando mais refinada
e, depois, nem tenhas medo de não escrever
às vezes vai ser necessário ser terreno árido e tudo bem
escrever e não escrever às tantas deve ser a mesma coisa também

o que faltou nos nossos poemas e dentro dos nossos sapatos
me parece a melhor pergunta destes anos vinte

"ainda há de existir algo nas mãos"
e tomara que não sejam só as ausências
"tudo jaz, tudo jazz"
tu que inventaste a poesia pra morrer em paz
diz-me: é possível esquecer o próprio rosto se
ficarmos mais de seis dias sem o olhar no espelho?
um ano será suficiente como no meu conto "estendal"?
acho que vou precisar disso
estou no "silêncio do último vagão"
e tudo que não sei é porque ainda insisto
"acho que a maior tristeza de um poeta é quando não há
mais nada a ser dito"
pior é a do amante
mas pensando bem tu estás certa
o amor não existe e a poesia sim, essa é que é essa

"a vida me fez uma festa
mas eu não consigo acompanhar
são os meus pés ou os teus que foram rápidos demais?"

eu não sei, mas tu és uma festa, galeotti
tu és uma festa
e eu não consigo acompanhar-te

"o tempo já passou do tempo
quanto tempo até você notar que eu não volto?"

mas eu volto, sim
eu nunca volto mas desta vez eu volto.

"não lembrar a ordem das coisas
te levar para a viagem sem ouvir a tua voz
notar que algo está errado e ao mesmo tempo não perceber"

"não lembrar a ordem das coisas"
não lembrar a desordem das coisas
eu acho pior, eu acho pior

"porque eu apenas morria e morria e
ninguém estava inteiramente vivo para perceber"
foi exatamente isso, porra!
é por isso que eu preciso me desordenar
tirar os lugares das coisas
e as coisas dos lugares
urgentemente

"por que as palavras não acabam?
se ao começo deste poema eu já estava
no meu mais doce e trágico fim?"

eis que você acaba de inventar a técnica de não morrer:
escrever mais um poema.

lembrou-me a técnica de respirar
que lancei no outono azul a sul
naquele poema que fala de santa teresa e almodóvar

lembrou-me amália se fechando num quarto de hotel
em nova iorque para se matar e adiando o momento
porque queria ver mais um filme de fred astaire
e mais um, e mais um

quantas técnicas mais inventaremos
para continuar?

"não se pode atravessar uma palavra não dita"
(a tal que os poetas amam?)
e por isso às vezes até isso se inventa
uma palavra não dita
de tanto que se quer continuar
de tanto que se quer atravessar
de tanto que se quer respirar
de tanto que se quer
de tanto que

"definitivamente teus olhos perderam a cor e
a minha ausência foi o último momento em que
estaríamos a sós" - PORRA, GALEOTTI!

"esta é a hora do real desespero
quando um poema está no chão ao lado de um corpo
e você não sabe qual corpo sangra
mais"

eu estou caindo e não posso pensar em ninguém,
acredita em mim.

como vês não escrevi o conto que me pediste
mas foi porque precisava sublinhar-te toda

morremos, morremos
e ninguém está inteiramente vivo para perceber
mas nós estamos, eu tenho certeza que
nós estamos

assim como eu tenho certeza que eu volto
eu prometi isso ao posto 5 hoje de manhã
e uma copacabana não se acaba assim.

obrigada pelo voo,
calí
4:10:21
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