"O amor pelo ínfimo nunca me deixou ficar mal. Medes a vida pelos filhos que hão-de ficar E eu digo-te que nada fica - nem a eternidade.
E mesmo o até que a morte nos separe não está garantido, porque a morte é uma coisa que nos vai acontecendo várias vezes ao dia."
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"Deslizo o dedo pela cicatriz para a ouvir lentamente.
É na cicatriz que a pele é mais sábia."
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"Se é a minha vida, é a minha responsabilidade.
Imagina um deus que dorme enquanto um rio de lava destrói aldeias inocentes.
Eu sou deus, o vulcão e a aldeia."
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"Cada um lê no poema o poema que traz em si."
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Por vezes entusiasmo-me e compro mais livros do que aqueles que consigo ler - isto é, compro-os porque posso (ou porque numa determinada altura posso), e depois ficam uns meses sentados na prateleira a olhar para mim, à espera que tenha tempo para pegar neles. O livro do André Tecedeiro estava nesta situação, vivíamos em conjunto há meses, via-o apoiado noutros livros, e ele via-me chegar e partir. Agora que o decidi ler arrependo-me, confesso, de ter aberto este intervalo entre a posse e a leitura... mas sinto, ao mesmo tempo, que se calhar só o li mesmo quando tinha de o ler.
"Cada um lê no poema o poema que traz em si."
E cada um encontra nos poemas aquilo que tem de encontrar quando os lê... quem sabe se os excertos que seleccionei aqui me teriam "ferido" da mesma forma, abrindo fissuras na pele, se os tivesse lido quando me chegaram às mãos?
AMEI! AMEI! AMEIIIIII!!!!! QUERO MAIS E MAIS!!!! Eu que nem sou a maior apreciadora de poesia, mas este livro foi qualquer coisa de extraordinário! 5 estrelas não chegam!
Quanto mais urgente é a escrita Mais humilde o suporte.
Tudo o que realmente importa foi escrito em bilhetes de autocarro, guardanapos quase translúcidos, versos de sobrescritos, pacotes de pastilha elástica.
E ninguém o compreende porque quanto mais urgente a escrita mais ilegível a letra.
--- Se é a minha vida, é a minha responsabilidade.
Imagina um deus que dorme enquanto um rio de lava destrói aldeias inocentes.
Eu sou deus, o vulcão e a aldeia.
--- Ele perguntou-me: em que medida é que isso te marcou?
Eu perguntei-lhe: Como se mede uma raiz?
--- Eu usava uma armadura Que me traiu duas vezes:
Foi insuficiente para defender o golpe Foi eficaz a esconder a ferida.
--- Conheci-o E quando virei costas pensei Que foi um prazer conhecer-me
--- Eles vão pela vida fora, eu hei-de ir pela vida dentro
«Houve uma vez que me disseste que tu estavas comigo como quem está sozinho e eu senti isso como um elogio porque estar sozinha é uma das minhas sensações mais preciosas.»
É "apenas" um dos melhores livros de Poesia que li. Imprime mudança, altruísmo, pensamento sociológico, vontade, desilusão, garra, perda... São poemas que configuram o nosso mais ínfimo pensamento. São poemas de crescimento.
Para ler de uma assentada. E, depois, sentar num café, à beira-rio, em Portalegre ou em São Miguel, abrir uma página ao calhas e respirar.
André Tecedeiro é dos melhores poetas portugueses da atualidade. A profundidade da escrita é arrebatadora - e diz quase sempre mais do que demonstra. É preciso ler as linhas, as entrelinhas e saborear as pausas em branco.
já sabem como começam sempre as minhas opiniões sobre livros de poesia, não é? é difícil escrever sobre ela. sinto que não posso falar muito para não lhe faltar ao respeito, blá blá blá, essas coisas. também é difícil avaliar quantitivamente um livro de poesia: existe muita discrepância em cada poema que leio. sinto-me numa ambivalência constante de sentimentos: gosto muito, não gosto nada, gosto mais ou menos. é curioso como a poesia nos faz sentir, não é? ora sentimos no íntimo as suas palavras, identificamo-nos, ora apreciamos a sua estética, a sua possível musicalidade, ora somente não a compreendemos, custa-nos digerir, não nos sabe a nada, não nos faz sentir. ler poesia, para mim, é sempre um desafio.
agradeço ao paulo @diario_de_um_leitor_pjv por me ter dado a conhecer – através da sua partilha de poesia queer portuguesa – este artista, autor, poeta, pessoa. que bom foi conhecer andré tecedeiro: esta pessoa que só de ouvir (recomendo muito o episódio do podcast “a beleza das pequenas coisas”) me faz sentir banhada em luz e esperança.
ler a poesia do andré fez-me sentir em paz com o mundo. a diversidade é bonita demais para ser negada, é bonita demais para ser escondida, é bonita demais para ser maltratada. é bonita demais, e por ser bonita demais é um prazer lê-la nas entrelinhas destes versos que inspiram liberdade e amor.
a dor pode existir, claro. a falta de ser quem somos, a angústia do erro que se desconhece. mas a poesia do andré, carregada de sensibilidade, revelou-me a beleza do crescimento e o encontro de si mesmo. deslumbrou-me, e fez deste livro um favorito, algo que nunca acontece com a poesia. só vos posso recomendar!
acrescebro, ainda, o quanto adorei a parte final do livro, em prosa – “falar a pé” –, que é uma conversa entre andré e laura falé. foi ma-ra-vi-lho-so! quando/se o andré escrever prosa, serei a primeira a querer ter o seu livro nas mãos.
Depois da poesia da Sophia que li na adolescência nunca tinha lido poemas que me tocassem tanto. É absolutamente imperdível. Marquei tantas tantas páginas.
para quem já não lia poesia há algum tempo, este livro soube como um abracinho e deixou-me com um sorrisinho. não sei se foi por ter lido em abril, mas soube-me a liberdade e a coisas boas e leves.
não conhecia andré tecedeiro, mas foi um enorme gosto. senti-me representada em muitos destes poemas, e senti que outros tantos existem para outras pessoas se sentirem representadas. andré tecedeiro não deixa ninguém de fora, pelo contrário - parece ter na ponta dos dedos a inclusão que se pede neste mundo, no mundo da poesia, no mundo da literatura. não seria este um livro de poesia queer.
muitas vezes temos ideia que a poesia é demasiado intelectual ou só mesmo difícil de interpretar. aconselho ‘a axila de egon schiele’ a quem pensa desta forma. a escrita é simples e pede para ser lida compulsivamente, assim como o formato e paginação do livro.
ler quatro ou cinco páginas por dia deste livro fazia os meus dias. era aquela altura de relaxar, abrir a mente e tentar encontrar as mais variadas interpretações em cada poema.
é difícil falar de poesia, principalmente para quem não lê muito este género. mas posso dizer que será sempre uma das minhas recomendações ‘go-to’, para leitores ou não leitores de poesia.
de ressaltar ainda a parte final - um diálogo entre andré tecedeiro e laura falé (‘falar a pé’) - que me fez ter muita vontade de conhecer a prosa escrita pelo andré!
obrigada andré tecedeiro por partilhares connosco toda a tua sensibilidade e beleza que tens dentro de ti.