Ferréz (Reginaldo Ferreira da Silva) is a Brazilian author, rapper, cultural critic and activist from the Zona Sul (southern zone) favela of Capão Redondo in São Paulo, Brazil. He is a member and leader of the literary group Literatura Marginal (Marginal Literature) that emerged during the late 1990s and early 2000s (decade) from the urban periphery of São Paulo. His writings are notable for descriptions of graphic violence and the stark reality of individuals living on the margins of society. He has emphasized that his writings are for the youth of the favela, and that they feel a sense of pride in reading literature that reflects their reality and experiences.[2]
Não sei se "irregular" é a melhor palavra para descrever como avalio esse livro. Ela parece mais negativa do que positiva, quando talvez eu pense que os dois aspectos estejam presentes de modo inverso ou, no máximo, em iguais medidas. Esse é um livro importante, que há muito tempo eu queria ler. E ele não me decepcionou. A escrita de Férrez aparenta ser mais simples do que é - seu uso da oralidade; seus recortes temporais e espaciais abruptos (empregados de modo sagaz); sua visão aguda e completa da realidade a partir da perspectiva do homem periférico, que resulta em formulações de dureza cortante e também em formulações de ternura dolorosa. Há momentos muito bons na obra em relação à literariedade e à solidez do ponto de vista periférico a partir do qual o romance é desenvolvido - ponto de vista esse que deve ser lido. Entretanto, os momentos em que está presente a personagem Paula destoam em relação à habilidade demonstrada pelo autor e incomodam no que diz respeito à visão de mundo demonstrada pelo narrador. Desde o primeiro momento em que a jovem aparece, as formulações, por exemplo, perdem a precisão e resvalam para o clichê - é o caso, em especial, da adjetivação. A construção da personagem não conta com a complexidade oculta pela aparente simplicidade das personagens masculinas, mas permanece em um nível raso - Paula parece ser apenas uma femme fatale disfarçada de santinha - e uma bem "filha da puta", como diriam os amigos de Rael. Finalmente, as três cenas de sexo presentes no livro têm elementos de machismo e de abuso, embora apenas uma seja compreendida no romance enquanto estupro - a que não envolve Rael e Paula. Poderíamos pensar que essas cenas são apenas resultado da fantasia de um adolescente que cresceu em uma cultura de violência, de machismo, e que pouco ou nada sabe sobre sexo, sobre as mulheres... enfim, de um jovem que deve ser desculpado porque não sabe o que diz, o que faz. Poderíamos pensá-lo, talvez, se não fossem tantos os homens - periféricos ou não - capazes de ler, escrever e até realizar cenas semelhantes, entendo-as como naturais. Não pretendo com isso realizar um ataque pessoal ao autor. Acredito que esses elementos nos dão a oportunidade de refletir sobre essa questão a partir não apenas da sua relação com o homem de elite, mas também com o homem periférico. Do mesmo modo, não penso que esses elementos invalidem a importância positiva da obra de dar voz à periferia - penso apenas que eles não devem ser desconsiderados. Proponho que olhemos para a obra sem excluir nenhum dos aspectos positivos ou negativos, considerando-a em sua complexidade, a partir de uma perspectiva interseccional. Para concluir, é digno de nota que o próprio Férrez diz compreender hoje os aspectos que aponto como negativos de outra forma, o que é muito louvável. Adoraria ler uma obra sua em que essa nova compreensão esteja presente, se ela já foi escrita.
Rael é um jovem que nasceu sem muitas oportunidade no Capão Redondo, periferia de São Paulo. Acostumado as notícias de violência e cercado por problemas familiares, sua vida parece mudar quando consegue um emprego em uma metalúrgica, onde conhece Paula, a moça por quem se apaixona. O problema é que Paula é a namorada de um de seus melhores amigos. Capão Pecado é uma desconstrução do famoso "slice of life", a estética realista que representa um cotidiano dos personagens em uma trama onde o mais importante não é o que irá acontecer a seguir, e sim COMO a vida é retratada. O livro foi lançado em 1999. Segundo relatos do próprio autor, Ferréz escreveu Capão Pecado porque sentia falta de encontrar nas livrarias uma literatura que conversasse com sua realidade, onde pudesse ter fácil identificação. O resultado foi um livro que tem em sua prosa traços de um autor ainda em começo de carreira, com muita coisa a aprender. Apesar disso, o livro tem uma coisa que não se ensina a um autor: algo a dizer. Ferréz tem sim muito a dizer com Capão Pecado. Um história romântica na periferia ganha ares de cena de guerra no cotidiano dos personagens. Rael e Paula não precisam estar envolvidos no crime, em guerras de gangue, acerto de contas ou em qualquer coisa que traga os olhos da polícia para eles. Seu dia a dia já é o suficiente para testemunhar histórias das mais tristes e cruéis. Embora Rael esteja acostumado a testemunhar tiroteios ou quase tropeçar em corpos, a cena mais triste do livro envolve uma noite de frio em sua casa. Algumas cenas me incomodaram muito em relação a como Paula é tratada. Penso que havia uma forma mais interessante de retratar o machismo de Rael, sem desrespeitar a Paula como personagem. Quando se aproxima do final, o livro vai ficando mais ágil e mais cruel. Essa crueldade toda encerra um ciclo e quase justifica o tratamento dado a Paula, porque escancara uma realidade que praticamente empurra Rael para uma solução única. Capão Pecado mistura o brutal e o sensível, mas não inventa nada. Isso é um slice of life que não ignora a realidade das periferias, pelo contrário. Mergulha de cabeça. Estou ansioso para ler outros livros do autor.
História simples, algo clichê porque verdadeira, porque comum e repetida por todos os cantos periféricos deste Brasil. Tem na linguagem seu poder, crua, natural e expelida com sinceridade, como uma letra de rap ou de MPB, se fosse escrita trinta anos atrás. O retrato fiel de um Brasil que não aparece nas novelas, nem nos jornais, cujo principal mérito foi ter realmente chegado ao seu público alvo, marcando toda uma geração que cresceu nos anos 90 e deu impulso à emergência irresistível do rap nacional.
O livro serve como janela para uma realidade que não é a minha, mas está a poucos quilômetros. O autor usa uma linguagem simples e direta, pela qual aborda alcoolismo, violência e drogas em uma narrativa permeada por questões de gênero e conflitos entre classes. O texto é fácil e rápido de ler. A pequena seção "Participações" vale tanto quanto o resto da obra.
eu amo ler livros de autores nacionais, não sou capaz de explicar muito bem mas eu me sinto acolhida, me sinto como se estivesse lendo o livro de um amigo muito próximo. Capão Pecado é um livro extremamente violento, mas a sua violência deriva do fato de o leitor saber que aquilo não fica só na ficção, é algo que acontece, dia após dia, que pode estar acontecendo agora, enquanto eu estou no conforto da minha casa e você, provavelmente, também. a 1 estrela "descontada" da minha avaliação, vem das cenas de sexo presentes no livro, que me incomodaram muito. na verdade, das 3 cenas, 2 me incomodaram. porém a última eu entendo que, apesar de se tratar, explicitamente, de um estupro, é pra retratar ao leitor o quanto aquela realidade é violenta, e a que níveis essa violência pode chegar, porém, tem mais uma que envolve o protagonista da narrativa que me incomodou DEMAIS em virtude de algumas atitudes que, além de serem machistas, são nojentas e que, ao meu ver, podem, sim ser consideradas como abuso, mas aí vai da interpretação de quem leu. apesar desses pontos negativos, é um livro muito importante, deem uma chance, eu gostei muito.
A tempos queria ler Ferréz, escolhi começar por Capão Pecado e me arrependo de não ter lido antes.
Com cortes de cena rápidos ao ler Capão Pecado me senti vendo um filme. A história de Rael guia a narrativa com aparições pontuais de cada personagem secundário com suas próprias histórias. Histórias de amor, amizade, trairágem e violência, como tudo no capão para a maioria deles o final da história é sempre o mesmo, a morte. Ferréz narra de forma sensível, detalhada e veloz, de maneira que o leitor se mantém entretido e preso ao livro até a última palavra.
Ao final do livro, de forma extremamente sensível temos mensagens de personagens reais do Capão Redondo, que mostram a importância da obra de Ferréz e reforçam o dia a dia do bairro retratado na obra.
Capão Pecado foi minha porta de entrada para a Literatura Marginal e tenho certeza que não vou me arrepender de encontrar outras narrativas excelentes escritas pelas periferias.
Acachapante é a sensação ao terminar capão pecado.
Ferréz nós entrega uma realidade cruel de maneira tão real e palpável, mesmo para quem não é de quebrada, que mergulharmos nas vidas dos personagens, aceitando e entendendo nuances e porquês. Sem falsos moralismos.
Brutal, incômodo, absurdo e muito real ao mesmo tempo. Tive o prazer de poder ler esse livro por conta de uma disciplina na faculdade e foi uma excelente experiência.
Leitura fluida, um uso muito perspicaz de diálogos, cortes narrativos que lembram os cinematográficos, linguagem oral, concisa, explícita. Ferréz demonstra uma maestria em compor esse quadro miseravelmente triste e violento do Capão Redondo, que é tão parecido com outros tantos quadros pelo Brasil. Lido da minha posição extremadamente confortável frente a tudo isso, dói, machuca, incomoda e faz pensar um tanto.
Se posso fazer alguma ressalva é em relação aos retratos das figuras femininas no livro. A forma como a mulher aparece é por demais lateral, secundária, simplória e clichê demais. Quem sabe Ferréz não ultrapassou o campo do que lhe cabia dizer, ou ainda foi mesmo um artifício narrativo que eu não soube interpretar tão bem.
De qualquer forma, grande experiência de leitura que vale muito seu tempo.
"da trairagem, nem Jesus escapou" A trama principal é muito interessante e bem contada. O que prejudicou a leitura do livro para mim foram os incontáveis pequenos causos paralelos e os momentos de discurso politizado que surgiam quase qua aleatoriamente. Acho que costurando um pouco melhor essas duas coisas na trama principal (ou simplesmente reduzindo elas) teria sido uma leitura bem melhor.
Uma obra que retrata uma comunidade onde tudo é precário, inclusive as próprias relações.
Nessa história o que acontece é que se sobrevive, como se consegue, as vidas mostradas são precárias de diferentes formas. A violência é banalizada no decorrer da história, o que impressiona nas primeiras ocorrências facilmente habitua-se com ela, impressão perfeita de como é a vida das crianças nessa situação. O consumo de drogas seja lícita ou ilícita é escancarado, e as consequências de suas dependências geralmente são a destruição das famílias e suas relações por essa exposição. O vício mais impactante no livro creio ser o abuso do álcool, inclusive faz parte da vida do narrador da história.
As entidades que mais estamos acostumados a associar a esses locais, tráfico, milícia e violência policial estão presentes, mas este não é o foco da narrativa. Estão ali pois fazem parte da vida dos moradores, e mesmo que a história não gire em torno delas, sua influência existe e é evidenciada. Bem como o descaso do governo em suas competências.
Mas não ache que este livro é só desgraça, acompanhamos a vida do narrador Rael, que em sua infância se mudou para o Capão. Ali ele criou suas amizades e relações, e a obra foca em um momento de sua vida em que ele se apaixona pela namorada do seu melhor amigo. Portanto temos cenas de um amor quase adolescente.
Ler esse livro é frustrante, não pelo livro em si, mas por saber que existem inúmeras pessoa vivendo em situações semelhantes. Viver sem perspectivas de um futuro melhor só adoece a sociedade, causa perdas, dor e sofrimento, de maneira cíclica e sem fim. Os campeões desse jogo brutal são os que conseguem se livrar desse ciclo, para os outros só resta o esquecimento.
Este livro completa 20 anos de publicação, a história e o governo não fizeram o seu trabalho de torna-la datada. Tirando o fato de existirem outros aparelhos eletrônicos, a realidade social continua a mesma. Esta é uma obra que merece ser relida de tempos em tempos, principalmente pelos que não vivenciam essa realidade.
"Capão Pecado" de Ferréz é uma leitura arrebatadora que me deixou profundamente impactada, quando mais jovem. Ferréz consegue pintar um retrato vívido e autêntico da periferia de São Paulo, revelando as dificuldades, as lutas e a resistência dos moradores do Capão Redondo. Sua escrita é crua e realista, trazendo à tona a complexidade das vidas de seus personagens com uma honestidade brutal que é ao mesmo tempo comovente e esclarecedora.
O livro é uma verdadeira imersão na realidade das favelas brasileiras, abordando temas como a violência, a desigualdade social, a esperança e a sobrevivência. A narrativa de Ferréz é repleta de paixão e indignação, oferecendo uma voz poderosa e necessária aos marginalizados. Seus personagens são profundos e multifacetados, cada um com sua própria história e luta, tornando impossível não se envolver emocionalmente com suas jornadas.
"Capão Pecado" não é apenas um livro, mas um grito de resistência e um chamado à reflexão. Ferréz nos desafia a enxergar além dos estereótipos e a compreender a verdadeira essência de uma comunidade frequentemente estigmatizada e negligenciada. Recomendo fortemente esta obra a todos que buscam uma leitura significativa e transformadora. Este livro é uma prova incontestável do poder da literatura em dar voz aos silenciados e iluminar realidades que muitos preferem ignorar.
Meu primeiro contato com a chamada "literatura marginal" não foi nada surpreendente. Pra quem escuta Racionais dia sim, dia também, a maioria dos quebradas e das fitas retratadas no livro já são conhecidas. A narrativa é muito bem montada e é tão repleta de personagens que você chega a esquecer alguns nomes, acredito que um artifício proposital do autor. O livro descreve um beco sem saída, retrata um ciclo no qual seus personagens vivem enclausurados, absolutamente sem saída ou perspectiva de melhora, chega a ser sufocante. Há também a constante companhia da morte: a certo ponto da leitura se você não anotar, vai perder as contas de quantos personagens morreram, das maneiras mais variadas e pelos motivos mais estúpidos possíveis. A constante presença da morte é uma marca visível e a forma como os personagens lidam com ela dá o tom da realidade vivida. Mas, mais uma vez, pra quem escuta Racionais, nenhuma surpresa: afinal, a morte não estava presente em praticamente todas as suas letras -- Incluindo as que falam sobre paz?
Capão Pecado é uma leitura curta e brutal - tão necessária para entender São Paulo, sua periferia e sua classe média que come mortadela e arrota caviar. Tendo eu nascido em uma família que me proporcionaram imensos privilégios, como um dos próprios personagens menciona os playboys “que tão lá, estudando todo dia, se preparando, evoluindo” - e tendo eu passado minha adolescência e vida adulta praticamente colado ao Capão, em outro bairro mais afortunado, não pude evitar de traçar paralelos da minha vida com a dos personagens. Pegamos os mesmos busões “Valo Velho” e “Terminal Capelinha” pra voltar para lares muito diferentes - apesar de tão perto, separadas por um universo implacável, e subimos nos vários “Terminal Bandeira” pra irmos trampar em empregos, novamente, muito, muito diferentes que nos levariam para futuros muito distintos.
Capão Pecado é mais que um livro, é uma reflexão e um apelo à uma reforma interna extremamente necessária pra todos nós, esses playba alienado do caralho.
O livro é construído em cima das histórias de moradores do Capão Redondo, bairro periférico de SP, e retrata a vida renegada a estas pessoas. Ferréz tem conhecimento de causa, e mostra agilidade nas cenas, entrecortadas com dilemas e disputas. Mas que achei de certa forma panfletário. Cumpre seu intuito, tem seu poder e qualidade, porém em certos pontos explica mais do que mostra. A conclusão é um jorro, intencional certamente, mas que soou em mim como um corte (representando a vida e morte abruptas de quem por ali vive).
O livro traz temas muito fortes e desconfortáveis e a oralidade do texto aproxima muito os personagens do leitor. Mas sinto que as poucas personagens femininas de destaque (a mãe do Rael e a Paula) tem menos complexidade em comparação aos personagens masculinos, sendo resumidas à uma mãe cuidadosa e cansada (com uma breve reflexão sobre seu trabalho) e à uma santa do pau oco. Tirando isso, o livro se faz relevante ainda mais por contar histórias que, se chegam à grande mídia, são esquecidas rapidamente.
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Um dos grandes clássicos da chamada literatura marginal. Um relato cru e crível sobre a realidade das periferias brasileiras. Achei curioso como o Ferréz entrelaça violência, descaso do estado, miséria, estupro, vício em alcool e droga com amizade e amor. Em alguns momentos, precisei dar uma pausa pra respirar - em especial nas cenas de violência.
O curioso é que eu conhecia o rap do Férrez, mas não a sua literatura. Curti muito essa leitura! Me impactou de muitas formas. O mais difícil é saber que 20+ anos depois, a realidade segue semelhante.
Ferréz entrega um livro completo. A vida de dois amigos que se cruzam, uma estória de amor, e a realidade da periferia de São Paulo. Sabe dosar partes de fácil leitura (incluindo uso de gírias da quebrada), com partes com uma poética ímpar e singular. Isso sem contar uma parte picante que me causou ereções involuntárias. Mas acima de tudo é muito bom ver meu bairro retratado num livro — ver as ruas, as vielas, a Cohab, o Comercial, entre tantos outros locais aqui do Capão Redondo.
Tinha potencial pra ser ótimo, tem umas partes muito boas principalmente no início. Mas os personagens (muitos pra um livro tão curtinho) são bem jogados na história sem muita contextualização. A trama do Rael com a Paula depois de um tempo passa a ser uma fanfic de wattpad criada por uma pessoa de 13 anos, com momentos de 4bus0 jogados lá como se nada fosse...O final é extremamente jogado.
Este livro não tem igual. Nos leva para os fundos da favela paulista e retrata uma vida muito distante na sua brutalidade, mas também muito perta geograficamente - um mundo paralelo de sofrimento, com o qual nós convivemos e que nos causa muito sofrimento também. Não é todo dia que temos a chance de ler um livro escrito por uma pessoa crescida na favela!
Livro excelente no seu propósito de literatura marginal, muitoo bom. No entanto, por vezes a crueza com que assuntos tão pesados são abordados fez com que eu ficasse me sentindo mal, portanto fica a dica de evitar em caso de pessoas em momentos ruins ou jovens demais
O autor retrata a realidade de um bairro pobre. Parece ter muito a dizer, mas se perde em clichês. Literariamente, lembra minhas redações de quando eu tinha 10 anos, ou seja, muito ruim. Se estiver lendo pelo ativismo social, vá em frente. Mas se estiver em busca de boa literatura, não recomendo.
O livro mais forte e real que li em toda minha vida. Mostra perfeitamente como é a vida dos moradores dos guetos de São Paulo e as dificuldades que passam.