Rosangela e Sergio Moro se conheceram nas salas de aula: ele, professor rigoroso que punia as faltas; ela, aluna que se sentia injustiçada. Reencontraram-se pouco depois da formatura de Rosangela e estão juntos desde então. São mais de vinte anos de casamento, dois filhos e inúmeros momentos difíceis vividos pela família em função da carreira do ex-ministro. Em Os dias mais intensos, Rosangela abre o coração e recorda situações que preferiria esquecer. Afinal, a família precisa de proteção especial desde os tempos em que o então juiz ia atrás de traficantes de drogas. Em uma narrativa emocionante, ela conta alguns momentos marcantes da Operação Lava Jato como o dia em que Lula foi preso e a notícia do vazamento do telefonema entre o ex-presidente e a então presidenta Dilma. No capítulo “Tchau querida”, descobrimos que Moro estava jogando basquete com os filhos enquanto o Brasil parava na frente da televisão. “Ele toma Morotril”, diz Rosangela, referindo-se à calma do marido. Tensa, mesmo, foi a passagem do então juiz no governo de Jair Bolsonaro. Como ministro da Justiça e da Segurança Pública, Moro acumulou frustações e frituras, relembradas em detalhes por Rosangela. Em um primeiro momento, ela achava que Bolsonaro poderia ser o regente de uma orquestra em que o marido e os demais ministros atuariam, mas comenta no livro que existiam divergências entre eles. Os dias mais intensos oferece um olhar privilegiado sobre a história de um dos personagens mais importantes do Brasil, alguém que foi fundamental na luta contra a corrupção e teve a coragem de enfrentar empresários todo-poderosos e políticos de esquerda e de direita.
Nos últimos dias, tenho estado com a febre de acompanhar o noticiário diário, o que me despertou a vontade de ler qualquer livro de politica brasileira ao alcance.
Publicado em 2020, ano em que Moro foi enxotado do governo Bolsonaro, o livro traz aspectos autobiográficos -- como o fato de Rosângela ter votado no PT em 2002 --, apesctos "casalbiográficos" e aspectos de crítica ao Governo Bolsonaro quanto à postura ante a pauta anticorrupção e a pandemia de Covid.
Apesar de extensos elógios a Moro, não chega a ser um mero panfleto político, então a leitura contém algum valor.
Conforme o esperado, uma tentativa óbvia de tentar manter a imagem de família perfeita, justificando até o que não pode ser justificado com base no que era o certo a ser feito (certo conforme a visão da autora). Por muitas vezes, superficial e subestima a inteligência do leitor. Entretanto, a autora transparece ser uma pessoa bastante sensibilizada com causas humanitárias, e faz um belo trabalho junto à APAE. É possível que em seu lugar muitas pessoas também teriam escrito esse livro.
Livro curto, com leitura leve e fluida de pontos de vista de diversos episódios da vida pessoal e de momentos políticos. Sempre bom conhecer o lado “comum” das pessoas, principalmente aquelas que lutam por uma causa nobre no que diz respeito às pessoas com doenças raras. Recomendo!