Preso à boca de um Canhão, prestes a ser executado por sodomia por soldados franceses, Tybyra, Indígena Tupinambá, relembra a própria vida e propaga suas últimas palavras como se, depois de relâmpagos, o som dos trovões saísse de sua boca. Dramaturgia de estreia do artysta Potyguar(a) Juão Nyn, uma ficção sobre o primeiro caso de TBLGfobia com um nativo, documentado no país.
"... A gente tá aquy farré tempo, desde quando o tempo não exystya, juruá... E eu não sou a únyca, nem a prymeyra nem a derradeyra... Como eu? Muyta... Muyta... Ygy... Ahhhh, muyta! A natureza não deu conta de anyquylar, causar nossa extynção, pelo contráryo... A gente se reproduz mesmo sem poder se reproduzyr. Quem dyrá vocês! Me matar só sygnyfyca que vocês falharam, que esse mundo que vocês trouxeram pra cá falhou... Nós somos a próprya natureza!"
"Eu não tenho pacto com o dyabo, eu não sey o que é o dyabo, se ele exyste, ele parece mays com vocês do que cumygo, pady..."
Li esse livro depois de assistir a um vídeo da youtuber Mayra Sigwalt do canal All about that book. UAU GENTE que leitura forte, impactante e carregada de significados. Me deixou bem reflexiva e me proporcionou diversos conhecimentos que nem fazia ideia em uma leitura tão curta. Leiam gente! Está disponível no Kindle Unlimited.
Queria agradecer a Mayra do All About That Book pois foi atraves dela que tive contato com essa peça maravilhosa!
Não sei como descrever o que senti lendo essa peça, me faltam adjetivos pra passar a importancia de se conhecer a história de Tybyra. Ainda mais com os acontecimentos recentes e votação "do marco temporal".
As imagens e a linguagem que o autor usa nos diálogos de TYBYRA com o "Sylêncio" de forma tão inteligente, é grandioso. A narrativa sempre tem algo acontecendo, e é gostoso de ler, de ouvir, de imaginar e até mesmo, atuar. O texto faz com que a história de TYBYRA ganha ainda mais forma, mas dessa vez com mais ousadia, força e resistência. Destaco o belo começo que é encantador, desde a primeira leitura... O "Psyu." me ganhou pela forma que foi colocado, dá pra imaginar ele de vários jeitos e formas. Ao mesmo tempo que é uma leitura gostosa, com o decorrer dos atos, a mesma vai nos dando também, um nó na garganta, que nos leva há uma reflexão da nossa realidade atual. Realidade que ainda se assemelha com o fato escrito. Imagino que "O vento forte" está aí, está aqui, escrevendo, lendo, resYstYndo, exYstYndo, descobrYndo, Vyndo e Yndo nos nossos corpos, nas nossas vozes, nas nossas artes. Obrigado e parabéns Juão Nyn e todes envolvides com o livro.
Eu estava com receio de ler essa obra e ser pesada demais. Mas apesar do contexto ser, sem dúvidas, bastante pesado, é bem diferente do que eu esperava. Me surpreendeu positivamente. Achei interessante como o autor conseguiu fazer com que tudo funcionasse na forma de monólogos, além da ortografia adaptada. Mas o principal, as falas de Tybyra, principalmente depois do cárcere, são de arrepiar
Tybyra reúne a oralydade e a tradyção, para cryar uma obra de dramaturgya que tende a ser apagada por todos os que acreditaram e aynda acreditam apenas no que veyo das caravelas.
Não me lembro exatamente de como ouvi falar de Tybyra pela primeira vez, mas assim que descobri a existência deste livro, eu soube que PRECISAVA incluí-lo entre as minhas leituras. Tybyra é uma peça teatral em forma de monólogo e resgata a história da primeira vítima de LGBTfobia do Brasil, um homem indígena cujo cruel assassinato é mencionado no livro “Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614” de Yves Devreux. Toda a peça é construída a partir das falas de Tybyra e de sua interlocução com o silêncio. Ficam explícitas as relações que ele mantém com homens brancos e, a partir de seus protestos nos atos seguintes, vão se construindo na mente de quem lê a sua prisão e execução. O texto é essencialmente coloquial, contendo a carcaterística de substituir as letras i de quase todas as palavras por letras y. Essa é uma posição política do autor em relação a colonização portuguesa que, no nosso país, se estendeu até mesmo no idioma, suprimindo as letras y inclusive em palavras de origem indígena. Li Tybyra em apenas uma tarde e não só me senti muito impactada com o texto, como também senti uma vontade imensa de um dia poder assistir a uma apresentação da peça como Juão Nyn a planejou.
Li esse livro em live juntamente com a Ju do @juandbooks em recomendação pela Mayra do All About That Book, agradeço muito a indicação pois permitiu que eu tivesse contato com a história nativa que talvez nunca fosse ter contato, principalmente levando-se em conta do quando dessa história foi apagada. Me falta palavras pra descrever todo cuidado que essa edição tem, enfim, LEIAM LEIAM LEIAM LEIAM
Livro importantíssimo, uma demarcação literária e linguística necessária, e o Juão consegue isso com uma narrativa riquíssima e genial de uma história trágica e verdadeira, colocando uma rosto e uma personalidade por trás do personagem cujo único retrato existente foi feito pelos olhos sujos do colonizador.
É uma leitura curta e muito potente. A grafia do potiguês, a presença do Tupy Guarany e a sequência dos atos trazem um estranhamento que coloca a gente no lugar de outro e nos mostram como somos intrusos. É o tipo de leitura que pede pra ser repetida.
+ Falas que condensam uma sabedoria e críticas histórico-sociais imensas em poucas e acessíveis palavras; + Uma excelente dramaturgia que é objetiva quanto aos fatos que apresenta ao mesmo tempo que se desenvolve de forma demasiadamente artística, estimulando cenas detalhadas e vívidas através de meras linhas de fala; + Possui um prefácio completo que contextualiza os conteúdos da obra sem confusão e também já educa les leitores quanto parte das questões que discute; + Ilustrações distintas e com um bom foco em ações que acaba por enriquecer a carga emocional das cenas; + Demasiadamente relevante à questões sociais modernas, assim como discute uma parte tão frequentemente negligida da nossa história. Ouso dizer, que faz o seu papel tão bem que deveria ser ajutada a. grade de literatura do ensino médio
Sobre o primeiro caso de TBLGfobia com um indígena no Brasil, em qual Tybyra foi retirado de sua casa, preso e exposto a situações periclitantes e foi executado por sodomia. Pontos positivos: 1 o texto anterior a história dá um contexto para o que está para vir, que acredito necessário, pois a estrutura do livro é pouco convencional e a forma com que se desenvolve também; 2 o uso da linguagem e a explicação das vogais na língua tupy-guarany; 3 a voz de Tybyra sendo a única em meio a história toda e mesmo assim ser possível compreender o que está acontecendo ao redor. Pontos negativos: 1 leva um tempo para entender [e não tenho certeza se entendi tudo até agora].
Tybyra é mais que um texto teatral. É um grito de existência. Juão Nyn faz mais que lembrar a primeira condenação e morte por lgbtfobia no país. O seu texto é uma homenagem e uma lembrança de que colonialistas não possuem poder sobre os nossos sexos, sexualidades e existências. Nós espalhamo-nos como sementes. É sem dúvida um texto poderoso em toda a sua forma. Nyn busca na sua cultura e ancestralidade uma forma para não apagar a história indígena e não deixar que sua a subjetividade permaneça sendo construída pela branquitude. Tybyra é resistência e manifestação.
É um texto que eu gostaria muito de ver sendo encenado. A experiência, com certeza, seria ainda mais impactante.
Texto curto mas muito impactante. Dá ódio e tristeza ver que o que aconteceu com Tybyra segue acontecendo, é um ciclo sem fim de dor e violência. É um livro muito importante para o resgate dessa história, para que a gente nunca se esqueça. Isso já seria o suficiente para que a narrativa fosse potente, mas toda a experimentação que Juan faz com o texto, em termos de estrutura, deixa genial. Espero um dia poder ver essa peça nos palcos.
Uma narrativa extremamente dolorosa, de uma total falta de comunicação entre o povo invasor e o povo invadido, em especial no que concerne à sexualidade e à homoafetividade. Embora se refira ao século XVII, este história continua se repetindo, nem sempre de forma tão visível, mas sempre presente nos discursos transfóbicas, homofóbicos, racistas e misóginos da extrema direita em diversos lugares do mundo. Tive algum dificuldade de ler por causa da grafia, mas gostei bastante.
Um livro curto, único e poderoso. Desde como a língua permeia o livro, outros conceitos são desafiados nessa peça, como a questão TLGB junta ao contexto crítico da colonização no Brasil. Fiz várias marcações de trechos fortíssimos na narrativa, que verdadeiramente me emocionaram. Uma leitura esplêndida.
"- Quem fundou essa terra não foy português... - Quem fundou essa terra não foy francês... - A gente tava aquy, muytos estavam aquy, antes de vocês... - De vocês, não espero compayxão, não espero myserycórdya... - Amém, amém... Que teu Deus me lyvre, de tu tudym..."
"- Eu não tenho pacto com o dyabo, eu não sey o que é o dyabo, se ele exyste, ele parece mays com vocês do que cumygo, pady" Mayra do All About That Book fez um vídeo muito legal que dá uma ideia do que essa leitura é.