Entre Banguecoque e Las Vegas, José Luís Peixoto regressa à não-ficção com um livro surpreendente, repleto de camadas, de relações imprevistas, transitando do relato mais íntimo às descrições mais remotas e exuberantes. O Caminho Imperfeito é, em si próprio, a longa viagem a uma Tailândia para lá dos lugares-comuns do turismo, explorando aspetos menos conhecidos da sua cultura, sociedade, história, religiosidade, entre muitos outros.
A sinistra descoberta de várias encomendas contendo partes de corpo humano numa estação de correios de Banguecoque fará que, com consequências imprevisíveis, a deambulação se transforme em demanda. Todos os episódios dessa excêntrica investigação formam O Caminho Imperfeito e, ao mesmo tempo, constituem uma busca pelo sentido das próprias viagens, da escrita e da vida.
A vida de um escritor tem de ser talhada por publicações de inúmeras obras Mas para que tal objectivo seja alcançado, ideias precisam de surgir e ser fermentadas pelas vivências de quem as poderá transpor para palavras. Nesse processo criativo, entre idas e vindas, muitas questões deverão surgir e, na tentativa de encontrar respostas, muitas outras deverão aflorar. A determinado momento, defronta-se com as derradeiras perguntas: Porque escrevo? Porque viajo? Para escrever este livro, José Luís Peixoto parece ter enfrentado um preconceito pelo desmérito inventivo do género de não-ficção, dado o pensamento erróneo que os aspectos autobiográficos não requererem uma imaginação mas tão só papel e caneta na mão. Como remédio para este período de bloqueio mental, aproveita uma viagem à Tailândia, como seu amigo e tatuador, Hugo Makarov. Mas, eis se não quando, uma notícia num jornal local para farangs despertou-lhe a atenção: um duo de americanos, tatuados, fora preso por alegadamente ter tentado enviar algumas partes de corpos para endereços precisos, transcritos, localizados em Las Vegas. Centrando-se na aventura que estava a partilhar e aproveitando a experiência já adquirida em “Dentro de Um Segredo” e nas crónicas publicadas na revista “Volta ao Mundo” aposta na literatura de viagem e relata alguns dos episódios que marcaram esta. Mas esses relatos não se findam em si mesmos e são associados a comparações, colocando frente-a-frente realidades tailandesas e portuguesas: do sexo proibido mas amplamente difundido nas ruas ao erotismo púdico de uma sala escura regida pelos bilhetes; da religião monástica privilegiada ao obscurantismo embotado; do hino emitido à hora certa àquele tocado pela banda em dia de festa. Desengane-se quem, no entanto, julgue que esta obra se resume a um mero diário de bordo espelhado. Peixoto decide, num impulso, entrecortar essas descrições fugazes com reflexões sobre os mais variados assuntos, as quais requerem tempo para serem digeridas e perfeitamente entendidas quiçá o mesmo que levaram a ser transpostas para o papel. Delas florescem os mais brilhantes pensamentos: o conhecimento debela a distância pois o que é distante deixa de o ser quando se conhece o caminho até lá; a tentativa de definição das nações, através das diferentes perspectivas, leva à fundação de novas culturas na mente de cada um; a imperfeição entre o que realmente se foi e aquilo que se recorda cria dois passados mutuamente exclusivos; se somos aquilo que sabemos e se só sabemos aquilo que escrevemos/lemos, no fundo, somos aquilo que escrevemos/ lemos. Para complementar o cuidado estético das edições da Quetzal desta quimera artística, destacam-se ainda as hipnotizantes ilustrações, a aguardarem uma pele para serem aplicadas, desenhadas por Makarov, artista que sigo por essas redes sociais afora, bem como a fantástica foto de capa, tirada pelo próprio José Luís Peixoto, com as costas nuas de alguém pejadas de tatuagens, essas metáforas perenes mas não imortais, numa lógica de tudo ser definitivo mas nada eterno. Foco ainda para as inusitadas referências a “Hangover 2”, um filme rodado em Banguecoque, e a Emmanuel Carrère, autor dos livros “Live Others Than My Own”, onde descreve a sua experiência como vítima do tsunami que assolou o Sudeste Asiático a 26 de dezembro de 2004, e “O Adversário”, outro não-ficção - à “Sangue Frio” - que narra a história de um psicopata que se faz passar por médico e “trata” da saúde da sua família (li e recomendo também). No fim, o autor apercebe-se que escreve para garantir uma herança palpável para as gerações vindouras e viaja para cumprir sonhos daqueles que não os puderam concretizar, num diálogo intergeracional. Já o leitor, na transmutação entre tempo e espaço, apercebe-se que a vida é um caminho, onde não é o fim que interessa mas o prazer de aproveitar os diferentes lugares visitados. E, depois de ter tido a oportunidade de expressar a minha admiração, fico a aguardar outra para testemunhar essa nova tatuagem!
É preciso ser genial para pegar numa redução de 'lonely plane', juntar umas reflexões epidérmicas e existenciais, mais uma macedónia criteriosamente picada de fait-divers de jornal, e fazer um livro, mais do que bom, excelente. Prenhe de palavras que são escolhidas e combinadas em imagens, que nos atravessam a mente, como em seu dia as projecções de diapositivos. São as metáforas, fascinantes, geniais, de JL Peixoto. Peguei no livro sem suspeitar de que iria gostar. Gostei muito.
Esperava que fosse bom, não contava que superasse todas as expetativas.
José Luís Peixoto leva-nos através do seu olhar a Banquecoque e a Las Vegas. Dividido em duas partes, a primeira parte centra-se nas cores e sabores da capital tailandesa. São revelados factos importantes sobre a cultura do país e os costumes do povo. A segunda parte é uma surpresa. Episódios vários vividos pelo autor numa tom de surpresa e admiração enchem as páginas do livro. Nunca deixa de ser interessante, nunca deixa de nos prender. São retalhos de viagens enriquecedoras.
Há uma entrega absoluta do autor, foi exatamente isso que eu senti quando terminei a leitura. É num tom intimista que começa a segunda parte, revelando dados em relação à diferença das gerações da sua família. Fala sobre si. As marcas da alma, as feridas, o amor, o desassossego.
"Incomoda-me quando alguém acha que sabe quem sou apenas porque leu um livro escrito por mim - como este - ou, até, porque leu uma frase mal citada ou viu a minha cara numa fotografia. Sinto-me agredido quando tentam reduzir-me a conceitos fechados e intransigentes, construidos por olhares que não se questionam a si próprios, que não admitem qualquer hipótese de falha no seu preconceito."
Estamos juntos! Esta passagem representa-me.
Tocou-me imenso a passagem sobre as dúvidas e as certezas dos outros sobre nós. São reveladas também as suas motivações para escrever. Não vos revelo porque gostaria muito que se deixassem tocar pelas suas palavras. Não tenho tatuagens, mas este livro marcou. Um lugar cativo no meu coração. Sobretudo por transbordar uma entrega absoluta evidente sobretudo na segunda parte.
Não fui até à Tailândia nem a Las Vegas, mas viajar através do olhar do José Luís Peixoto deixou-me cheia de vontade de fazer as malas. Foi especial. Ele é de uma enorme sensibilidade na forma como vê o mundo. E precisamente isso que gosto nos seus livros. São necessários mais livros destes. Realidades diferentes diante dos nossos rostos, para vermos o nosso tamanho ou a nossa grandeza. E desta forma, este titulo torna-se o meu preferido do autor.
"Não sou o meu corpo, não sou o meu nome, não sou esta idade. Não sou o que tenho, não sou estas palavras, não sou o que dizem que sou, não sou o que penso que sou."
E a capa? É do próprio José Luís Peixoto. Linda!
As diferenças tornam tudo mais fascinante. Numa viagem é esse o impacto que queremos sentir na pele. Respirar outra cultura. Sentir na pele. Se o meu fascínio pela cultura tailandesa era amena depois deste livro fiquei com muita vontade de estar. Ter mais marcas na alma.
Este livro fez-me refletir sobre a importância do respeito pelas diferenças. No tamanho do mundo e na variedade, na grandeza de trazer na mala experiências. No conhecimento que os outros trazem à nossa vida. Deixou-me triste por ter começado a viajar tão tarde. Há anos que ando a perder o mundo. Refleti sobre a ignorância limitada pela cultura e a importância do contato com outros costumes.
Livro recomendadíssimo! Leiam, não se vão arrepender.
Gosto muito do autor José Luís Peixoto, mas este caminho imperfeito podia ter sido escrito por qualquer pessoa e continuava a ser tão bom de ler que dispensa opiniões.
Não tem princípio nem fim. Extravasa as páginas que o constituem e é muito mais do que a soma do seu todo.
Não recomendo. Há livros que se procuram e outros que nos encontram. Foi uma leitura perfeita porque foi lido no momento perfeito.
Se há algo que merece ser retido é que foi com esta obra que José Luís Peixoto me conquistou. É certo que dele li apenas três livros para além deste último, talvez não tenha começado pelos melhores, este foi especial.
"Porque escrevo? Escrevo porque quero que os meus filhos saibam quem sou. Tenho esperança de que estas palavras, misturadas com o que lhes mostro, sejam suficientes, sejam o máximo possível. Quero que me conheçam porque quero que se conheçam a si próprios. Quando eu já não possuir palavras, espero que regressem a estas e lhes encontrem significados que, agora, são inacessíveis. Espero que estas palavras os abracem. Escrever é a minha maneira de ser pai deles para sempre."
"O Caminho Imperfeito" é o regresso do autor à não-ficção, desta feita numa viagem até à Tailândia. O país é descrito através do olhar de José Luís Peixoto, que se terá deslocado por várias vezes ao país, e retratado através de ilustrações de Hugo Makarov. O livro está dividido em duas partes: a primeira sobre os sentidos e a cidade, numa evidente caracterização da cultura do país e dos costumes do seu povo, a segunda um registo autobiográfico através de vários episódios vividos pelo autor.
Não tem princípio nem fim, não é passível de descrição, é para ler devagar, saborear a viagem a Banguecoque, apreciar as passagens mais profundas.
"Não sei como vou morrer, não sei se vou ter tempo para pensar. Mas muitas vezes, quando tenho de fazer avaliações importantes, imagino como seria se estivesse para morrer. E estou. Quem está vivo, está para morrer."
Esta leitura levou-me a procurar outras obras do autor e a querer ler mais "literatura de viagem". Dos melhores livros que li em 2017.
«Viajar também é despedir-se muitas vezes - distinguir outras vidas, considerá-las, e ser obrigado a reconhecer que nunca se poderá vivê-las. Viajar também é perder.»
A escrita, as memórias, as viagens, o diferente e o igual, as reflexões e as questões filosóficas fazem deste livro uma conversa entre o escritor e o seu leitor, não há uma resposta que chegue do último ao primeiro, mas há imensas que se vão formando no seu âmago, em conjunto com outras tantas perguntas. Todos os livros provocam sensações no leitor, mas os de José Luís Peixoto provocam-me a sensação de estar em casa, onde nem tudo é maravilhoso, mas que, só por ser a nossa casa, é a coisa mais reconfortante do mundo. Não vejo este livro como um livro de viagens, mas antes um conjunto de ideias e sensações que as viagens proporcionaram no escritor, não são o foco, mas são o mote. Identifico-me bastante com os seus pensamentos acerca da vida, do tudo, da infância, das relações, do campo e da multidão. Nunca visitei os lugares onde ele esteve, porém, por meio da escrita, acho que estive lá por um instante. Concordo plenamente com a ideia de que o presente é para ser aproveitado, saboreado e tornado especial, à nossa maneira, mesmo que ele não seja aquilo que idealizámos como perfeito. "Estamos aqui, o caminho também é um lugar" - O Caminho Imperfeito.
"Eu próprio, que sei mais do que fica escrito, tenho dúvidas imensas acerca de quem sou. Quanto mais tento conhecer-me, mais percebo o quanto falta para me conhecer. Quanto mais ilumino, mais consciência tenho das enormes distâncias que falta iluminar".
É por livros como este que José Luís Peixoto é o meu escritor favorito. 🧡
Vivendo eu em Banguecoque neste momento, não pude deixar de interpretar este livro duma forma muito pessoal, através duma perspectiva que acha certos locais e sentimentos descritos bastante familiares. No entanto, como José Luís Peixoto refere, cada pessoa conta uma história diferente acerca dos mesmos lugares e pessoas.
Não estava à espera de certos detalhes tenebrosos, que fazem a Tailândia parecer um país assombrado. O povo é supersticioso, passam-se cenas macabras de vez em quando, mas não mais nem menos do que noutro sítio qualquer.
Portanto, este não é um livro de viagens. Que se desengano quem vem à procura dum guia "what to do in... ". Como é costume, este livro é uma partilha da introspecção do autor, dos seus pensamentos soltos, das análises que faz ao seu caminho imperfeito, não especificamente em Banguecoque ou Las Vegas, mas na vida em geral, acerca do que ele pensa ser a motivação de cada um para viajar e das suas próprias razões.
Para quem trabalha ou vive no estrangeiro, há muitos detalhes e pensamentos em que há uma campainha a soar em concordância. Para todos os restantes leitores, este é um testemunho valioso sobre a vida enquanto nos sentimos deslocados, seja em viagens longas ou estadias longas em locais a que não pertencemos realmente.
No fim, cada um fará a sua própria leitura. Esta é a minha.
"Não sei como vou morrer, não sei se vou ter tempo para pensar. Mas muitas vezes, quando tenho de fazer avaliações importantes, imagino como seria se estivesse para morrer. E estou. Quem está vivo, está para morrer." Não-ficção não é, de todo, o meu género, mas não há como não gostar deste livro. Na primeira parte viajamos para Banguecoque, percorremos o trânsito de mototaxi, comemos street food, ficamos com dores de cabeça de tanta luz e ruído. Na segunda e terceira partes, o texto é mais intimista, com reflexões interessantes sobre a escrita e apontamentos da vida pessoal do escritor. Não é um livro para todos, mas foi um livro para mim. "O caminho também é lugar." Sem dúvida.
Comprei este livro porque havia críticas muito positivas sobre este autor. No entanto, comecei esta leitura sem grandes expectativas. Não consegui parar praticamente do início ao fim e não o li de uma só vez porque o tempo não me permitiu. Este livro excedeu todas as minhas expectativas pela escrita e pela experiências aos lugares mais exóticos da Tailândia e Las Vegas. As memórias de infância do autor é algo com que a maioria de nós se pode relacionar. Com as reflexões do autor, relembramos que é necessário por vezes, parar e apreciar o momento, nem que seja numa fila do aeroporto para entrar no avião.
Foi o meu primeiro livro desde escritor.Embora que tenha ouvido muito sobre ele nunca tinha lido nenhum livro e fiz a estreia precissamente neste livro. Interessante a forma como nos nos vai demonstrando o porque deste livro e o que o moveu ao longo de uma serie de relatos e experiencias culturais. O que mais me prendeu é a forma como consegue descrever situaçoes com um forte impacto atraves de descricoes simples e precissas.Faz sentir como se estivessemos presentes naqueles cenarios a seu lado. Muito bom.
Há qualquer coisa de péssimo na escrita de José Luís Peixoto: a sensação que dá, de que nunca na vida conseguiremos escrever como ele.
A mais recente obra de Peixoto é, ainda assim, como que um prémio de consolação para este "problema", já que é um livro que nos fala de caminhos; da individualidade dos caminhos de cada um de nós.
"Nesse momento, ainda não tinha percebido que o problema não eram as palavras, era o caminho." (página 91)
E, realmente, "O Caminho Imperfeito" contém várias viagens a decorrer em paralelo (Tailândia, Las Vegas, as memórias pessoais, a motivação para a escrita), com a premissa bem demarcada de uma das viagens à Tailândia ter sido o mote para a escrita deste livro.
"Faltava-me algo que não sabia o que era - a pior coisa que pode faltar a alguém." (página 102)
Sejamos claros: por muita Tailândia que contenha (e é um excelente retrato de paragens distantes), o mais recente livro de José Luís Peixoto não é "apenas" um livro de viagens. Ou melhor, é um livro de viagens, sim, mas aditivado com tudo o resto que costuma vir em doses bem mais moderadas neste tipo de literatura: viajar não se trata só de ver o outro, o exterior, mas também de atentar ao impacto que isso tem no eu, no interior. Viajar, do meu ponto de vista pessoal, acrescenta-nos algo que não sabemos o que é - e que pode ser a melhor coisa que alguém pode ganhar.
"Quem insiste que tudo está visto tem um 'tudo'muito pequeno." (página 159)
E, sim, a escrita de José Luís Peixoto continua límpida como um mar cristalino, com as palavras a encaixarem-se e a sucederem-se de uma maneira exata e, ao mesmo tempo, natural. Eu não sei se "O Caminho Imperfeito" foi o meu livro preferido deste autor - provavelmente, não foi - mas não encontro um único motivo para aqui marcar menos que as cinco estrelas.
Há qualquer coisa de fabuloso na escrita de José Luís Peixoto: a sensação que dá, de que embora a vida seja um caminho muito imperfeito, ainda há livros que rasam a perfeição.
Vaya narrador es Peixoto. Sin duda me voy a zambullir en su obra, y de momento ya tengo El cementerio de pianos a la vista. En este camino imperfecto un viaje a Tailandia genera conexiones poderosas, intertextuales, filosóficas, y lo mejor de todo es que no necesita florituras y aspavientos académicos, casi todo parte de vivencias propias, de recuerdos y el libro termina alimentándose magistralmente del propio viaje. Y todo va de la mano con esa prosa genial y esa intensidad propia de Peixoto que sube y baja pero se mantiene. Siempre hay sorpresas en los capítulos o minicapítulos en los que divide el libro.
José Luis Peixoto é sempre um daqueles autores a que recorro quando quero ler um livro que sei que será ao meu género. Tendo já ido à Tailândia, um pouco por acaso, quis perceber como seria a sua Tailândia, e se seria muito diferente da minha. Acabei por descobrir um livro muito bem escrito, recheado de momentos, reflexões, curiosidades, motivos para me fazer pensar em muitos temas para lá das viagens, e sobretudo ficar com vontade de voltar.
Aconselho a todos os que gostam de viagens, do Zé Luís, de livros bem escritos, e de pensar sobre o que fazem.
O autor apresenta-nos uma obra dividida em três grandes blocos e cada um desses blocos é constituído por pequenos textos que nos levam a embarcar numa viagem entre Banguecoque e Las Vegas, com alguns pormenores sórdidos.
“Numa das caixas de plástico estava a cabeça de um bebé. Noutra caixa estava o pé direito de uma criança, cortado em três partes. Havia ainda duas caixas de com pedaços de pele tatuada e, na última, estava um coração humano.”
“Ao jantar a família estava a apreciar as salsichas. A senhora Krod grelhou-as e era também ela que estava a servi-las. Foi quando estava a cortar a terceira que, com a ponta da faca, sentiu algo mais duro. Remexeu um pouco e, entre a carne picada, distinguiu os olhos e o focinho. (…) Apesar desse contratempo, a senhora Krod guardou o corpo mutilado do gatinho.” Acho que poderei dizer que é um outro olhar sobre Banguecoque; enquanto destino paradisíaco. Uma abordagem sobre costumes, religião, monumentos, pessoas e lugares.
Nas entrelinhas destas duas viagens, o autor vai partilhando e recordando algumas memórias pessoais sobre a sua infância, a sua família e os filhos.
O livro é enriquecido com três ilustrações de Hugo Makarov que já tinha ilustrado a edição especial d’O Principezinho distribuída com o jornal “Expresso” com anotações do José Luís Peixoto.
Gostei imenso deste novo livro, acho que para quem aprecia a sua escrita é difícil ficar indiferente. Quer às descrições pormenorizadas que são feitas, que nos fazem marcar – inevitavelmente – presença naqueles lugares especiais; quer pelas memórias pessoais partilhadas que nos fazem suster a respiração. José Luís Peixoto recorda neste livro o seu pai (já falecido) e são tão intensas as recordações e a falta que esta parte de si lhe faz que acaba por quebrar quem está a ler.
Um livro de escrita irrepreensível e de conteúdo simplesmente incrível que não podem deixar de ler. Leitura imperdível!
Como o próprio autor o referiu "É um livro que fala sobre diversos caminhos, todos eles imperfeitos". O fio condutor do livro é a viagem que o autor realizou com o ilustrador Makarov à Tailândia, e que, de forma minuciosa, nos apresenta o seu olhar, a sua percepção sobre a cultura, a história e os costumes deste país. Não se pode, no entanto, concluir que se trata de um livro de viagens, no meu entender é um livro de reflexão pessoal e intimista. Nas três partes que compõem o livro, o autor apresenta-nos fragmentos dessa mesma viagem, de uma outra viagem a Las Vegas e da sua vida pessoal e familiar. É através da sua memória que o autor procura conhecer-se e encontrar-se naquele que é o caminho imperfeito da sua vida, convidando o leitor à partilha dessa descoberta. Confesso que foi um prazer viajar com o José Luís Peixoto pelos caminhos imperfeitos que nos proporcionaram estas páginas.
“Para entendermos as nossas certezas e assim as fortalecermos, é importante questionar a nossa experiência. Duvidarmos do que nos parece evidente é, também, uma forma de viajar.”
Parte relato de viagem, parte memórias de infância, parte caderno de curiosidades… É difícil definir “O Caminho Imperfeito”, o primeiro livro que leio de José Luís Peixoto. Pelos caminhos da Tailândia, de Las Vegas e do Portugal da sua infância e juventude, o autor faz confissões, comenta notícias de jornal, descreve atrações turísticas ou encontros com desconhecidos e sentimos que estamos juntos nesta viagem. Teria gostado que algumas das histórias que partilhou tivessem tido mais “desenvolvimento”, mas uma leitura muito interessante, mesmo assim.
Uma das coisas que mais gosto num livro é da sua continuidade da história. Uma narrativa contínua. Neste livro acontece o contrário. O autor vai saltando de sítio para sítio, ora Tailândia, ora Portugal e ainda Estados Unidos. A cada salto que dá fala das suas memórias e experiências e isso não me fascinou. Nunca gostei muito deste tipo de livros, talvez por isso é que não consiga dar uma pontuação mais alta. No entanto, adorei as reflexões mais pessoais de José Luís Peixoto. Aquelas reflexões que não existem ora na Tailândia, ora em Portugal, ora nos EUA, mas sim dentro de nós onde quer que estejamos. Concordei com muitas dessas reflexões sobre a morte e as viagens e sei que ficou muito por dizer... mas certamente será para outro livro.
Não é bem um romance, o gėnero é mais narrativa de viagens. Mas é bem mais do que isso e só não surpreende quem ja conhece a versatilidade deste escritor. As viagens passam-se maioritariamente na Tailândia mas nas descrições conseguimos encontrar a marca e as reflexões do escritor. Interessante a alusão entre episódios ocorridos na distante Tailândia e outros que geralmente descreve de seguida, vividos em Portugal, seja em Lisboa ou na sua aldeia natal. Gostei.
A viagem que acompanhamos ao longo das páginas deste livro é essencialmente de conhecimento de si próprio acompanhados pela belíssima escrita de José Luís Peixoto e o seu olhar intimista e profundo a que já nos habituou.
"Escrevemos o que sabemos e somos. Mais tarde, no mesmo texto, os outros leem o que sabem e são"