A ciência é infinda, mas limitada. Alguns limites são internos: as regras, leis, princípios, teoremas, etc., que a própria ciência produz. Outros, impostos pelas técnicas e instrumentos de medida, são provisórios. A língua (matemática) e a linguagem científicas também podem ser obstáculos à comunicação. Os verdadeiros limites da ciência são, porém, de natureza ética, política, económica e financeira. Neste ensaio são analisados os quatro CC da ciência: o seu carácter (nomeadamente a serendipidade da descoberta científica), as crises causadas pela censura e pelo mau comportamento científico (erro, plágio, fraude), o papel do capital (financiamento e administração da ciência) e as catástrofes (naturais, como a erupção da Krakatoa, em 1883; ou devidas a falha humana, como Bhopal, Chernobyl e Golfo do México). São também discutidas as ameaças vinda do espaço, os sobressaltos do bioterrorismo e das nanotécnicas e o destino do lixo nuclear. Numa época em que a guerra se trava já no ciberespaço, o leitor é alertado para os perigos latentes da (super)inteligência artificial.
Jorge Calado, Químico e professor do Instituto Superior Técnico até 2007, é conhecido pela sua capacidade de ligar a arte à ciência e pelo seu papel na crítica musical e na fotografia. Cientista Português dedicou-se à termodinâmica de líquidos moleculares, tendo gerado mais de 100 doutoramentos (diretos e secundários).
Neste ensaio, escrito sob o cunho da Fundação Francisco Manuel da Santos, o autor apresenta a sua visão sobre os limites da ciência, conta-nos a história das ciências: da alquimia à filosofia, e as suas sucessivas divisões por temas até às atuais nanociências e neurociências.
Calado faz acérrimas críticas ao atual papel da ciência na nossa sociedade, a desacreditação crescente da ciência e do cientista: - a generalização, massificação e banalização dos temas que passaram a ser considerados como científicos, não passando de meras especulações; “O perigo, em tempos de austeridade, é que os governos reduzam o apoio à investigação básica, motivada pela simples curiosidade intelectual, iludidos pela gratificação instantânea proporcionada pela investigação aplicada”.
- o cientista por encomenda, que altera variáveis, esconde resultados, omite conclusões para responder corretamente aos objetivos impostos da “pessoa” que lhe encomendou o serviço. “A urgência em produzir resultados, etc., gera uma competição desenfreada e estimula a fraude” (pag.118). Recorre-se ao cientista porque este detém o conhecimento sobre os processos metodológicos da investigação, e não para que este descubra nada de novo. “A forma tornou-se mais importante do que o conteúdo”
- refere os parcos recursos que os governos afetam à ciência, para resolver problemas como os da saúde, da fome e a excentricidade de financiamentos para a ciência bélica.
Por fim dá-nos conta das catástrofes provocadas pelo "homem cientista" que colheram milhares de pessoas, contaminaram rios, lagos, provocaram mutações genéticas, etc., em prol da “ciência”. “Hoje, os desafios são de outra ordem: terrorismo, sem dúvida; mas também ameaças naturais como o aquecimento global, a probabilidade de a Terra ser atingida por um meteoro, ou ainda a investigação associada a certas áreas: da engenharia genética à Inteligência Artificial.”(p. 121)
Calado escreve bem, parece ser um homem sensível, mas como cientista mostra-nos uma visão muito negativa do papel da ciência no nosso quotidiano, não por culpa do objeto da ciência, que em si visa entender e melhorar o mundo e a humanidade, mas porque apresenta a nossa espécie como pessoas muito pouco tolerantes, gananciosas, cuja ética e a moral tem vindo a desaparecer.
Deixo as duas maiores tragédias ocorridas devido a fatores humanos e a falhas da ciência que estão descritas no livro.
Written by a retired professor of Chemical Thermodynamics and an active opera and photography critic well known in Portugal for his regular columns about these subjects in the weekly press, this book is an essay about the nature, limits, practices and malpractices, financing, and impact of Science and Technology. It is an interesting reading, connecting many apparently disparate issues and topics. The only thing that displeases me a bit is a matter of writing style: the author overuse of parenthetic phrases.
Fácil de ler por não ter muitos pormenores. O autor sendo cientista tem a humildade de reconhecer alguns dos defeitos da investigação ( ou os supostos resultados de alguma da investigação/aldrabice dos nossos dias). Por outro lado demonstra um pouco da arrogância dos "Ungidos" tão bem descrita por Thomas Sowell quando sai do âmbito da ciência. Por isso 2 estrelas será já uma boa classificação