Estamos nas cabeças de três personagens. São três filhos, mas são menos filhos que irmãos e são menos irmãos que pessoas e são um completo abandono, mas ainda não sabem. Na aridez de fato e naquela identitária, ouvimos o que nos contam Mosquito, Rita e Mirna.
A leitura é rápida, menos pelo conciso número de páginas, mas pelo ritmo que me faz pensar numa corrida ladeira abaixo, sem freio, até uma queda ou até a cara bater forte contra um muro que quebra dentes. Um faroeste em nome do único amor disponível na cidade: amor demarcado e não declarado. Um processo nauseante da aquisição inevitável e incontornável da loucura como forma de continuar a viver, como afago. Um testemunho da vertiginosa experiência de quem é ninguém, de quem está esquecido nos inúmeros pontos do país. São personagens com leis próprias.
Não é possível uma pausa em Terra Dentro. Vanessa Vascouto não nos dá tempo para respirar ou descansar durante a sua narrativa tão bonita e tão madura. Numa brevidade e com uma potência assustadora, observamos a terra parir desgraças e o abandono humano. Uma leitura que perturba e nos acorda da mesma forma que seduz. Não é para isso que serve a Arte?
Um romance fragmentado em três vozes de irmãos que nada têm; nem terra, nem amor, nem afetos. Um vislumbre sobre cenas cotidianas de lugares que ninguém quer ver ou falar, marcados por amores violentos e corpos nada domados. Muito bom. Escrevi sobre ele na página do Leia Mulheres https://leiamulheres.com.br/2021/02/t...
Eu sempre fui uma amante de calhamaços, mas, nesse ano de 2021, as novelas e noveletas ganharam o meu respeito e o meu coração.
Terra dentro, da Vanessa Vascouto, foi um desses livros. Eu nunca imaginei que coubesse tanta história e sentimento em tão poucas páginas, e que falar sobre seria tão difícil.
Três irmãos no interior da região Sul do Brasil, uma vida inteira na roça de batatas, trabalhando em uma terra que não lhe pertencem. O abandono social e emocional é marcante : Rita, Mirna e Mosquito, os protagonistas, são pessoas comuns, porém perdidas e esquecidas; ainda capazes de sonhar, mas incapazes de quebrar o ciclo.
As vozes alternadas , a cada capitulo, entregam pedaços de uma existência malograda, onde o fio de esperança se esvai a cada passo. Sim, é uma historia dura, intensa, onde o desamparo e o ódio são aparentes.
Vale a pena, mas prepare-se pra leitura.
Terra Dentro é vivaz e bem elaborado, capaz de provocar, com discurso imagético, sentimentos que marcam o leitor. Foram 91 páginas que me prenderam, que me assombraram, que me deixaram sem palavras.
Ótimo livro! Curto e penetrante. A voz de cada personagem entra no nosso corpo. Bonito sentir a linguagem certeira sendo tratada assim com tanto cuidado. Uma história forte e seca, na terra vermelha, daquelas que os personagens ficam com vc depois que a leitura termina.
Já tinha lido o primeiro da mesma autora, "Água Fria e Areia", que adoro tbm e tem um estilo completamente diferente. Recomendo muito também!
Comecei a ouvir num dia desses e imergi tanto que não parei até terminar.
É um livro curtinho, mas muito poderoso. A autora falou sobre a diferença entre classes sociais, luto, família e muito mais de forma potente.
O audiobook é incrível. Como são 3 pontos de vista, temos 3 pessoas diferentes narrando a história e isso deixou a experiência bem enriquecedora. Com certeza gostaria de ler mais coisas da Vanessa Vascouto.
"terra dentro" (assim com letra minúscula mesmo) é um híbrido interessante. Ele lembra uma peça de teatro, tanto pela forma como é escrito (com um prólogo introduzindo personagens e colchetes descrevendo as suas ações principais) como pela estrutura dos personagens. Seus três personagens-narradores são bem teatrais, caracteres no sentido de "aspecto distintivo" da palavra, cada um com suas idiossincrasias que os diferenciam um do outro tal qual um cavanhaque ou um monóculo. A autora, Vanessa Vascouto, é também dramaturga. E no entanto não é um texto que passaria incólume para uma adaptação no teatro. Não segue à risca as notações desse meio e sua linguagem é mais livresca do que cênica.
Neste tríptico, somos apresentados à Rita, Mirna e Mosquito. Cada personagem estrutura sua narrativa de forma diferente. Rita é como uma torneira que pinga, se repete a todo tempo e é insistente. Mirna fala entre lençóis, como que contando um segredo, e o seu texto é ininterrupto. Mosquito, em sua paranoia, ouve vozes e passos do seu passado. Todos eles contam uma mesma história, mas aqueles que a narram não são confiáveis e nem parecem fazer muita questão de nos dizer o que aconteceu de forma agradável ou coesa.
"terra dentro" é um título que lembra muito uma paisagem de clima árido (só que de forma bem mais exagerada). É uma região onde a poeira se deposita e precisa ser varrida constantemente. A "terra dentro" pode se referir tanto à poeira física quanto a uma lama metafórica que suja as almas dos personagens. Região estéril, onde tudo morre -- exceto batatas. As pessoas lá parecem ter passado várias horas expostos ao sol sem proteção alguma, torrando o juízo. É possível fazer uma associação com alguns recantos invisibilizados do país, mas esse cenário criado por Vascouto é um lugar por si só. A partir dele, os personagens nos contam seus dramas sem emoção alguma, indiferentes como o universo perante a nossa existência e o nosso sofrimento. A crítica pode ser social, mas é também um comentário sobre a condição humana.
Terra dentro de Vanessa Vascouto é um caminho viciante para a palavra. Não se consegue deixar de lê-la. Profusa, o seu romance onde a realidade literária é a pedra. Vanessa esculpe a pedra e transforma em romance.
Um pedaço de terra não-identificado, ela, Mirna e Mosquito existem na escrita literária de Vanessa como se não tivessem terra. Invisíveis? O romance dirá isso.
A presença do olhar de Vanessa para a oralidade da vida simples na terra emprestada entrega uma obra com valor popular é questionável sobre o valor humano.
Terra dentro é um hipocampo intimista onde tem que existir timidamente. O valor popular que Vanessa dá a construção da linguagem literária enriquecem a obra, pois os movimentos e espaços são populares, simples, e o desejo do leitor é não parar de ler Vanessa Vascouto.
Terra dentro é escuta ativa literária de. Vanessa, a composição da sua narrativa como poemas entregam ao leitor simplicidade das mãos na terra.
Ela coloca a mão na terra das palavras e diz: vou fazer um romance e ninguém vai me impedir disso.
O livro leva o leitor a um mergulho nos sentimentos e angústias dos personagens e cria em cada página uma conexão cada vez mais forte com a narrativa desenhada pela autora com muito talento e paixão.
O livro começa um pouco confuso, mas depois as coisas se alinham e nos é apresentada uma trama bem impactante e muito bem construída. Definitivamente, fui surpreendida por ele, vale a pena a leitura, além de ser curtinho.