A narradora de O PÁSSARO SECRETO, Aglaia Negromonte, é uma personagem complexa e perturbadora, e isso será percebido gradativamente pelo leitor ao longo do romance, com o relato da sua infância e adolescência em família, na escola e no sítio da avó. Aglaia, uma menina sensível e solitária, de rara inteligência, apaixonada pelas tragédias de Shakespeare, pelos poemas de Cecília Meireles e canções de Renato Russo, aos treze anos teve a sua vida virada de ponta-cabeça com a chegada inesperada de uma meia-irmã, filha do seu pai, cuja existência lhe era desconhecida. O surgimento da encantadora Thalie, além de desestabilizar a família, rompe o frágil equilíbrio psíquico de Aglaia. Dilacerada pelo ciúme e pelo sentimento de rejeição, uma vez que a meia-irmã acaba conquistando o afeto de todos da família, inclusive o da avó, com quem a narradora tem uma relação amorosa única, e, de forma especial, do primo Demian, por quem é apaixonada, Aglaia, em sua condição psicológica peculiar, em seu mundo particular, vê-se dominada pelo ódio, perdida num delírio de vingança que resultará numa série de acontecimentos impactantes que conduzirão a protagonista por caminhos sem volta. Uma história pungente e brutal, não apenas sobre conflitos familiares, mas, especialmente, sobre os subterrâneos de uma mente tortuosa e obsessiva.
Marilia Arnaud nasceu em Campina Grande, Paraíba. Escreveu quatro livros de contos, entre eles "O Livro dos Afetos" (7 Letras, 2005), e participou de várias coletâneas de contos publicadas por importantes editoras do país. Em 2012, publicou seu primeiro romance, "Suíte de Silêncios" (Rocco).
impossível começar essa resenha sem citar um pensador contemporâneo bastante famoso: "nossa, cara, q responsa, meu" - UK, Fi
a Aglaia é uma personagem muito quebrada. do meu ponto de vista, ela sofre de certos distúrbios além d'o fato de ser uma adolescente insegura (o que só piora tudo). ela é uma protagonista muito sensível, apesar de tudo, e que, durante boa parte do livro, vc quer ninar das carinho. o problema todo tá no último terço do livro. ela toma atitudes completamente questionáveis, atitudes que não dizem respeito somente à ela, o que torna esse livro todo um grande exercício de empatia. é difícil gostar e querer salvar a Aglaia o tempo todo, mesmo que seja esse meu desejo.
eu definitivamente não gostei do final desse livro. eu detestei o que acontece, detestei a redução da personagem, detestei absolutamente tudo relacionado ao final, mas, mesmo assim, não consegui diminuir a nota. O pássaro secreto, desde o começo, foi um livro que se propôs a falar "da vida como ela é" e o ponto em que a história termina é exatamente isso: a vida. não concordo, não gosto e, repito, mudaria completamente os últimos acontecimentos do livro, mas acho que faz sentido esse corte. a vida não espera por vírgulas nem faz parágrafos. a vida acontece e ela é um sopro. acho que ela fez bem em terminar como terminou.
a escrita da Marilia é uma das coisas mais lindas que eu já li na minha vida. agora, depois do término da leitura, sinto que vi uma uma tela em branco lentamente sendo pintada e, NOSSA, frases e metáforas INCRÍVEIS! meu livro tá todo rabiscado, de tão linda q eu achei essa escrita. esse, inclusive, foi um dos fatos pelos quais eu não consegui diminuir a nota. muito boa MESMO.
gatilhos: estupro, bullying, gordofobia e depressão
Eu dei 5 estrelas porque reconheço que o trabalho da autora foi totalmente concluído. Aglaia é a personagem mais complexa que tive o desprazer de acompanhar, e isso foi o mais incrível desse livro. Sempre prezo que um bom livro tem que ter bons personagens, mas isso não quer dizer personagens bons. Aglaia está longe de ser boa. E isso faz dela uma personagem mais humana.
Sempre gostei de livros que explorem a fundo um personagem. Fazendo aqui um comparativo com a literatura, algo bem auto referenciado em O pássaro secreto, Dom Casmurro não é flor que se cheire, mas, nas primeiras páginas, ele te fisga para colaborar com sua narrativa. Entendo a mente de Aglaia, eu me compadeci de todas suas angustias e dores, mas suas ações são o que fez a narrativa ter uma atmosfera de terror. O ponto alto do livro é sua escrita. Marilia Arnaud tem o poder de me hipnotizar numa espiral de eventos, narrados de forma poética, mas o melhor é que ela tem consciência que o leitor não é burro e não dá as coisas de mão beijada.
E entendo completamente quem detestou esse livro. Ele faz carinho na sua cabeça por 100 páginas para vir soco atrás de soco. Bulimia, bullying, negligência familiar, inveja, maus tratos a animais, estupro, muita coisa que é tabu está aqui. Sinto que parte de mim foi embora com a última página.
[Momento desabafo]: Enfim, quando encarrei ler esse livro dia 3/5/21 foi o dia em que meu psiquiatra me deu alta de meu remédio, e acho que encarrar esse livro foi um acerto estranho. Tive não só que enfrentar a mente de Aglaia, mas a minha mesma.
Livros são coisas maravilhosas mesmo, seja ficção, poesia, teoria, exatas, humanas, biológicas... Eles estão sempre nos mostrando coisas que de outra forma jamais saberíamos e isso aconteceu muito com os sentimentos devastadores presentes no livro de Marília Arnaud O Pássaro Secreto. Por mais que se estude psicopatologia e treine-se o ouvido para uma escuta atenta para assimilar as idiossincrasias de sentimentos turbulentos que tiram totalmente o centro do ser humano, nada é mais esclarecedor sobre esse tipo de sentimento do que a clareza em que é esmiuçado por um literato e aqui Arnaud se apresenta como tal para tal cerne. Claro, todos nós somos invadidos por pequenos ciúmes e invejas no nosso dia-a-dia, isso é próprio da nossa constituição narcísica natural, mas nem todo mundo transforma essas pequenezas em patologia como é o caso apresentado no livro, isso por si só me causou um estranhamento por nunca ter experenciado um fervor em relação à destruição do outro tal como apresentado aqui. Demorei a me conectar com essa personagem para que possa entendê-la, mas depois pude antever um mundo do que porque os chamados crimes passionais são tão comuns, e com crimes passionais me refiro aos perpetrados por mulheres, já que os pelos homens têm uma questão de gênero que os colocam numa ordem outra.
Achei curioso o fato de muitos leitores terem dado notas baixas a esse livro com a justificativa da personagem principal ser detestável ou não se identificarem com ela. Não acho que devamos ler um livro esperando gostar da pessoa que o personagem é. Do contrário, personagens como Cersei jamais existiriam ou teriam fãs, por exemplo. Mas no mundo, existem milhares de pessoas e, pasmem, pessoas ruins também! O fato de um livro ter como personagem principal uma pessoa horrível só é um detalhe que me faz admirar mais o escritor. Criar alguém tão diferente de si e entrar fundo nessa criação, reproduzindo sentimentos e vontades tão repugnantes, transmitindo isso ao leitor, só pode ser realmente algo a se admirar. Ainda mais se o personagem é tão bem construído que nos faz experimentar sentimentos como aversão, nojo... Isso é o que acontece com personagens como Humbert Humbert, Raskolnikov (ao menos pra mim, como detesto esse personagem e, no entanto, adoro esse romance!) ou a Aglaia de "O pássaro secreto". Sim, Aglaia é péssima, mas de forma alguma isso diminui o romance. Como não li sequer a sinopse antes de iniciar a leitura, o livro se tornou ainda mais surpreendente. Com certeza, Aglaia não é uma pessoa que gosto, mas é uma personagem que dificilmente esquecerei.
Sabe, talvez só não seja o seu tipo de livro e tá tudo bem. Mas só achar bons os livros em que admiramos, gostamos ou nos identificamos com os personagens é reduzir demais a literatura a esse espaço bonitinho, correto e confortável. Perdão, mas o mundo não é assim e nem deveria ser a literatura.
eu não vi avisos de gatilho por aí então já fica aqui: a personagem principal desse livro é bulímica, e a compulsão alimentar dela é bastante descrita. também tem violência contra animais, mas nada muito gráfico. quanto ao livro: achei a escrita muito envolvente e a história aquele acidente foda na estrada que tu não consegue desviar os olhos. tu sabe que só vai dar merda, mas mesmo assim precisa continuar olhando/lendo pra ver o que vai acontecer com a personagem principal. a autora soube conduzir muito bem o desenvolvimento da história e personagens, gostei muito de tudo ().
*4,25 que livro profundo e pesado. difícil de engolir. eu torci tanto, mas tanto para que a Aglaia ficasse bem... ela obviamente não é uma pessoa *boa*, mas infelizmente me identifiquei em alguns pontos, principalmente se tratando da raiva que nos cega. escrita incrível da autora - não a conhecia, mas fiquei interessada em buscar ler mais obras dela.
Esse livro é uma explosão de dentro pra fora. É um mergulho na cabeça de uma pré-adolescente, como uma eterna penitência. É uma introspecção profunda pra sentir por e com ela seus medos e dores e invejas e agonias e desesperos.
Para adultos, é só uma fase. Mas para adolescentes, é tudo que eles têm. O agora é o mundo inteiro. Tem um trecho de conversa da Aglaia com sua avó que é mais ou menos assim: 'Vai passar". Sim, vai. Mas o que eu faço enquanto não passa?'
Como é perigoso (e absolutamente comum) os pais não enxergarem aquilo que muitas vezes está bem debaixo nariz deles. Em momento nenhum vemos Aglaia ser acolhida - a não ser pela avó, e as vezes nem por ela. Embora narradores em primeira pessoa não sejam confiáveis no sentido de representar friamente todos os fatos exatamente como aconteceram, o que Aglaia nos traz é sua verdade, afetada - sim e com razão - por todos seus julgamentos, inveja, sentimentos, dores. A narrativa é fiel à verdade de Aglaia e é a partir desse ponto de vista que acompanhamos essa história.
Ela sofre a cada página a dor da perda. A perda do amor dos pais, a perda da confiança e parceria dos irmãos, perda do melhor amigo e amor secreto. Toda culpa, na sua cabeça, colocada na conta de uma garota cujo aparecimento a desestabilizou completamente.
Aglaia é ma menina sensível cuja existência perpassa por dores e desamores. Tão nova, está à mercê de tanto, e se vê como uma personagem de Shakespeare, construindo sua própria tragédia. O livro inteiro, cada ação absurda, é puramente um grito por socorro, de alguém que quer ser compreendida e amada. Um grito por socorro que ninguém parece querer ou se importar em escutar.
O trabalho da palavra escrita nessa obra é notável e primoroso. Nenhuma descrição que eu puder fazer aqui chegará aos pés da imensa beleza que é esse livro. Corro o risco de parecer superficial e simplória ao tentar contar essa história sem a maestria que Marilia o faz. Ela mostra um domínio com as palavras que é como se elas dançassem em perfeita sincronia. Cada virgula está onde deve estar, cada adjetivo parece que foi pensado e repensado para estar ali, cada metáfora foi cuidadosamente construída.
Ler esse livro foi para mim conhecer as profundezas do pensamento de uma adolescente com problemas psiquiátricos, fazendo o exercício de projetar isso na convenção que temos como sociedade de desdenhar das dores inexplicáveis e irracionais dos jovens. Foi um aprendizado e um exercício de empatia completo.
E eu nem comentei das inúmeras referências literárias que tem nessa obra! Saí da leitura com uma pilha de livros pra ler!
abri o armário hoje, vi esse livro lá no fundo e me senti na obrigação de fazer um review tardio depois de quase 4 anos, porque eu não falei o suficiente sobre ele
assinei tag livros em 2021 e dei o azar de receber esse livro como o primeiro exemplar da minha coleção. acho que só preciso dizer que eu instantaneamente cancelei minha assinatura depois.
horrível, tenebroso. aguentei até metade e dei DNF. a protagonista desse livro é genuinamente a pior personagem que eu já tive o desprazer de ler os pensamentos em primeira pessoa. nada do que acontece com ela justifica a pessoa horrível que ela é, e o livro não traz (até o ponto onde eu li) uma mensagem interessante ou um arco de redenção ou qualquer coisa que justifique as N páginas de self-pity e maldade que vc leu.
"Minha avó Sarita costumava dizer que o casamento é uma espécie de caixa-preta de avião, as pessoas só têm acesso ao que passa lá dentro quando tudo vai pelos ares."
"Talvez exista um lugar de onde não se pode mais retornar, onde a vida não pode ser restituída."
Uma narrativa confusa, sob o ponto de vista de uma garota que se sente rejeitada por todos que ela ama, e que busca, na violência, o resgate de si mesma.
sei lá... 2,5? "As histórias do meu pai pareciam um bolo no qual eram colocados os ingredientes mais ricos, mas que não cresciam porque o fermento fora esquecido. Faltava-lhes a verdade, a verdade do coração de quem conta" Essa citação, retirada do próprio livro, definiu bastante a minha experiência de leitura durante a primeira metade. Palavras bonitas, personagens verossímeis e complexos, enredo coeso, mas... totalmente sem alma? Totalmente pretensioso até, levando em conta as páginas e páginas que eram pura menção a escritores, a peças teatrais, filmes, tudo de um ponto de vista muito Por Favor Olha Como Sou Muuuito Intelectual. De tão exagerado chegava a ser, juro... bobo. Artificial. Como analogias a peças shakesperianas fossem fazer os leitores pensarem: uau deve ser bom isso mesmo, então, se ela tá dizendo😳" Pra alguns deve ter surtido esse efeito, tem gente que é facilmente impressionável. Enfim. Pensei que fosse essa a minha impressão final: um livro feito de fórmulas muito bem pensadas pra perfeição e comoção mas que fica muito longe delas por não ter alma nenhuma. Só que a segunda metade do livro (na real acho que o terceiro terço, talvez) passou a me convencer. Em partes? Li muito rápido, muito ávida para o final. Eu sempre me impressionei com a fragilidade humana, e acho que esse romance capta isso. Como uma sucessão de acasos cruéis fazem alguém se afundar cada vez mais num poço de tristeza e insanidade. Como pequenas atitudes, pequenas sensibilidades poderiam tê-la salvo de chegar ao nível que chegou, mas nunca ocorreram... achei estranho quem não se compadeceu pela personagem, pra mim ódio dela foi a coisa mais compreensível de todas. Daí veio o final. Que eu odiei. Completamente. Foi como jogar no lixo a história inteira????? Nem sei o que dizer do final, sinceramente.
3.5 não sei muito bem o que sentir ou o que eu realmente achei desse livro. tenho algumas criticas a escrita, embora a autora escreva muito bem e saiba jogar palavras bonitas para coisas simples. o uso repetitivo de exemplos das coisas que a autora tem conhecimento (e por isso, os personagens também) faz ficar bem cansativo. em algumas partes por exemplo: se ela for falar sobre cinema, ela cita dez diretores que ela conhece em uma so frase, o que me faz pensar que ela só quis mostrar todo conhecimento cultural que ela tem. fica meio pretensioso, não? e outra coisa que me incomodou foi o final. o final triste não me surpreendeu mas sim o que aconteceu. a cena de estupro me pareceu nada condizente com o resto da história. sendo apenas mais um motivo de choque de tristeza no leitor. mesmo Aglaia sendo uma personagem difícil, me peguei torcendo para que ela aprendesse a lidar com a vida. ela tinha tudo para ter um futuro brilhante e eu fiquei com o sentimento de que a autora simplesmente não quis com que ela o tivesse. apesar de tudo isso que falei, gostei de várias frases e momentos do livro. ainda acho que valeu a leitura. me deu vontade de conhecer saudade.
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Antes daria 2 estrelas, não gostei da personagem principal e mesmo com a escrita bonita não me prendia. Porém comprrendo que não preciso gostar dela, que mesmo ela sendo um personagem quebrado e quase nada empática, entendi e apreciei a narrativa dessa história. Minha alma ficou triste com tudo, mas não por empatia e sim por pura agonia e egoísmo meu. Algumas coisas são fáceis de imaginar no meu contexto e tudo que eu pensava durante a leitura é que eu esperava não ser vista e feita como Aglaia, que pelo menos algo bom exista em mim.
3,5 - A passagem de tempo me confundiu completamente. - Aquele final é mesmo o final da vida de Aglaia? (ligado ao tópico anterior). - Pode ser a construção de personagem, mas as citações de diversas obras e autores quebrou o meu ritmo de leitura e passou a me irritar antes da metade do livro. - O ritmo de leitura passou de rápido a extremamente lendo, diversas vezes. - Aglaia claramente tinha distúrbios alimentares, ela era mesmo gorda ou tão gorda quanto dava a entender?
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Minha avaliação se justifica exatamente pelo fato de que é impossível ler O Pássaro Secreto e não ser tocado. Positiva ou negativamente. Parece que não dá para ser indiferente a esta leitura. Ao mesmo tempo em que lia, lia também os diferentes comentários e impressões de outros leitores. Alguns amando, outros odiando, outros tendo enxaqueca e reações emocionais e físicas ao livro. As reações alheias complementaram minha leitura e isso fez desse livro algo poderoso, ao meu ver. Algo digno de ler lido com cuidado.
Não é uma leitura exatamente prazerosa, não há garantia de que você irá ter empatia com Aglaia, personagem principal. Eu tive, mas terminei a leitura com uma certa anestesia, sem saber ao certo o que sentia. Tenso e intenso. Cheio de referências e com uma linguagem que encanta a alguns e revela-se enfadonha a outros.
Eu recomendo a leitura e a reflexão: o que sua reação revela sobre você e a Aglaia que te habita?
Um dos livros mais pesados que eu já li!!!! Que soco no estômago foi esse…. Enfim, senti cada parágrafo desse livro, que escrita surreal. Tava com saudades de ler autoras brasileiras e essa foi uma ótima escolha, amei todas as referências e conhecer cada um dos personagens pela lente do Brasil dos anos 80/90 na primeira metade do livro. Vi alguns reviews falando mal da personagem principal, mas assim…. Estamos falando de uma personagem com SÉRIOS distúrbios psicológicos, não dá pra simplificar ela e muito menos esperar coisas bonitas. Tem que ter estômago mesmo pra ler, compreender a relação entre a Aglaia e “A Coisa”, se questionar mesmo… enfim, gostei, mas é bem pesado! TW!
Vi que esse livro tem reviews bem distintas. Uns amam e outros odeiam. Quis gostar dele, mas não me atravessou. O livro conta história da jovem Aglaia e a chegada de uma meia irmã fruto de um relacionamento extraconjugal do pai, o que acentua a rejeição familiar sofrida pela personagem. Daí pra frente é só sofrimento. Há uma beleza e fluidez na escrita dedicada aos momentos de ação e suspense, mas entre reflexões aparentemente cultas e reações violentas ao evento central da narrativa, não consegui me conectar à Aglaia como muitos aqui. Talvez isso diga menos sobre o livro e mais sobre mim e o momento em que decidi lê-lo.
ARREBATADOR - Este termo é constantemente utilizado para denominar algo que nos deixa maravilhado, extasiado. Não consigo pensar em outro termo para denominar a obra enviada pela TAG Curadoria no mês de Maio de 2021, arrebatador em tantos sentidos, desde a beleza da construção da protagonista narradora até o gosto amargo que fica no fundo da garganta a concluir a leitura. Aglaia Negromonte é um indivíduo que habita em todos nós (mesmo que nós nos envergonhemos e nos recusemos a admitir), ela é nossa Coisa obscura que nos consome e nos determina. Sim pois não somos apenas o que fazemos de nós, somos também o que a sociedade no faz, diferenciados por pequenos pontos, quase imperceptíveis, porém determinantes. Sim, sou uma leitora condescendente, dificilmente dou menos de 3 estrelas em alguma obra indicada por alguém pois sempre busco no cerne daquela obra algo (o que será que aquela pessoa queria que eu visse aqui?) e acabo encontrando, nem sempre a real intenção do curador, mas algo perdido dentro de mim que encontrei na literatura. Me identifiquei com Aglaia logo de cara, o seu distanciamento com a sociedade pelas suas características tão próprias e tão estigmatizadas e a sua tentativa de proximidade com a sua família, com os livros, com a avó…. Sim, me senti Aglaia… mas até que ponto? Encontrei o ponto de divergência entre nós na externalização do descontentamento de Aglaia: ela busca impor sua posição por meio da força bruta, ela se perde dentro de si por não saber domar a Coisa e não sabe domar a Coisa por não ter conhecido o amor, a segurança do amor tranquilo e da aceitação: Sua mãe a amava, mas buscava mudar sua aparência física, seu pai a amava, mas somente no seu ponto em comum(os livros) e sua avó a amava, mas teve e atenção arrebatada pela nova neta, a neta perfeita, esse parece ser o estopim de descontrole de Aglaia. Nosso papel de leitor é julgar, mas viajando por essa obra de carona com os pensamentos da protagonista, não sou capaz de tecer julgamentos mais cruéis. Ela não é pura maldade, ela é, simplesmente, fruto de seu meio, fruto da incompreensão, fruto do desamor.
Esse livro me arrebatou! Arrebatou meu corpo e minha alma que agora está em frangalhos por tantas Aglaias que (sobre)vivem por aí, num mundo de desamor e desesperança.
Eu não tenho problema em detestar personagens, mas com a Aglaia eu só consegui sentir pena. Ela é uma criança, é gorda, sofre bullying na escola, não se sente amada pelos pais, nem pelos irmãos, então descobre que tem uma irmã que o pai escondeu por anos e que ainda por cima é magra, linda e francesa e ela não vai se sentir mal com isso? Claro que vai! Ela tem inveja, claro, mas também se sente rejeitada pela família, trocada pelo único amigo, traída pelo próprio pai. O livro todo é um grande pedido de ajuda que ela não consegue verbalizar e que ninguém se esforça para entender, é frustrante. Ela toma decisões terríveis, se afunda cada vez mais em raiva e amargura, se perdendo em si mesma, não conseguindo se ver livre de seus pensamentos ruins. A história vai e volta no tempo, de um jeito confuso às vezes e várias passagens parecem sem sentido no meio, fora o tanto de referências (ok, já entendi que você manja de tudo). Criar uma personagem cheia de problemas, complexa, fazê-la sofrer o tempo todo, com a vibe "A vida é assim mesmo, as pessoas sofrem", de forma que ela não encontre nenhum personagem para ajudá-la, é válido e nos faz sentir muitas coisas, mas para terminar daquele jeito feito para chocar, mostra mais da autora do que da vida em si.
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Certa noite, ao acordar de sonhos intranquilos, eu me vi em minha cama, metamorfoseada em uma Aglaia monstruosa.
Isso não é tanto uma review, mas mais um desabafo de ter lido esse livro que roeu a própria alma e me forçou a assistir. Eu saio dessa leitura perturbada e sequelada, e com vergonha do recém-adquirido liricismo que reprogramou o meu padrão de pensamento e do qual eu vou levar pelo menos uns dois ou três dias para conseguir me desentoxicar totalmente.
Aglaia Negromonte é ao mesmo tempo desamparada na sua condição mental, e uma criatura perversa que tenta botar a culpa de suas perversidades em todos, menos em si mesma. A paráfrase kafkiana parece uma brincadeira, mas é para ser lida de maneira literal. Cochilei lendo o pássaro secreto e acordei confusa e perturbadíssima, tomando os pensamentos de Aglaia por meus, com a Coisa me pisando o peito desconfortavelmente.
A escrita é muito linda, impressionante mesmo, mas não consigo dar nota, muito menos recomendar o livro a ninguém.
Parece que passaram com um trator por cima de mim, e que eu não só deixei, como me fiz ansiosa pelo atropelamento. Preciso tentar esquecer que esse livro existe, boa noite
Pra ser sincera eu não tenho certeza dessa nota kkkk. Eu gostei absurdamente da escrita e da complexidade da personagem, além do fato de ela ser uma narradora não confiável, então por isso as 4 estrelas. Também sinto que a proposta da narrativa e o conceito que dá título ao livro são interessantes e me mantiveram focada na história. Apesar disso, achei algumas coisas bem confusas, principalmente o final, que como disseram em outras resenhas aqui, parece que foi corrido ou mal explicado. Eu realmente não entendi qual fim levou Aglaia kkkk. Sério se alguém souber explicar pf comente abaixo eu seria mto grata.
Outra coisa que comentaram que é incômodo e eu concordo é como a autora fica jogando nomes de autores/cantores/etc considerados “cults” sem necessidade, de uma forma meio pretensiosa. Realmente é um saco e não acho que precisava, no começo até fez certo sentido pra mostrar que o pai dela era um metido insuportável mas se repetiu tantas vezes que perdeu o sentido.
No geral eu gostei, amo ler personagens insuportáveis e que tomam decisões horríveis porque acho de certa forma fascinante, então esse livro deu certo pra mim, mas entendo que não é pra todo mundo.
Como começar falando desse livro? Uma leitura que me prendeu do início ao fim, uma ótima escrita cheia de frases impactantes acerca saúde mental, relacionamento com os pais. Me identifiquei em partes com a Aglaia, mas pelo fato da relação com a avó, e claro senti empatia para com ela, porém chegando no final do livro tem atitudes que me incomodaram muito, tipo, matar o cavalo??? Sei como a adolescência é difícil, mas ela nem deu abertura para a Thalie, talvez pudessem ter se dado melhor, no fim ficou a impressão que ela só tinha inveja da Thalie. E o final? Entendi nada... Mas mesmo com todas essas questões gostei do livro.
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