Na Lisboa do século XIX havia mistérios que mais ninguém ousava investigar.
Quem é Benjamim Tormenta, o famoso detetive do oculto que se move na Lisboa do século XIX?
Benjamim Tormenta. Figura elegante e misteriosa, tanto é avistada nos salões luxuosos da capital como nas ruelas decadentes de Alfama, em palacetes de Sintra ou casas de ópio de Macau. Cruzando-se com figuras como o rei D. Luís, Fontes Pereira de Melo ou Eça de Queiroz, ele usa as suas habilidades na Lisboa secreta: a dos deuses negros convocados por burgueses ociosos, das aberrações vindas do outro lado do Cosmos, dos livros amaldiçoados e da mais perigosa sociedade secreta do império português: a Irmandade da Serpente Verde. O que poucos sabem é que também Tormenta esconde um segredo tenebroso. Preso no seu corpo pela magia de muitas tatuagens está um demónio milenar que se quer soltar e espalhar a destruição, primeiro em Lisboa e depois no mundo.
Luís Corte Real fundou a Saída de Emergência em 2003. Desde então criou a Coleção Bang! (que lança em Portugal os melhores autores de fantástico da atualidade e muitos clássicos) e a Revista Bang! (uma publicação semestral e gratuita dedicada à fantasia, FC e horror). Também editou autores como a Nora Roberts e Mark Manson, mas vocês não querem saber disso. As paredes de sua casa estão ocupadas por todo o tipo de livros, banda desenhada, manuais de Dungeons & Dragons e Call of Cthulhu, jogos de tabuleiro, action figures e mais caixas de Lego do que aquelas que consegue montar. O Deus das Moscas Tem Fome é a sua primeira obra — uma espécie de X-Files na Lisboa de Eça de Queiroz, com influências que vão de H. P. Lovecraft e Arthur Conan Doyle a Mike Mignola.
3,6⭐️ Um livro de fantasia como nunca vi em Portugal e que promete bastante, embora não entregue muito neste primeiro volume. Um livro que me acompanhou durante vários meses e no qual me deixei imergir aos poucos, deliciando-me com as ilustrações e tentando ganhar apego às personagens. Claramente um projeto que é muito querido ao autor, que amalgamou todas as referências literárias e cinematográficas de que gosta na (re)criação de personagens, espaços e tramas que povoaram o mundo de Benjamim Tormenta. Precisamente por se notar sobremaneira essa amálgama, a obra sofreu com alguma falta de identidade própria. Cada página trouxe o seu clichê conhecido, a sua trama repetidamente urdida e resolvida anteriormente e, no final, não foram muitas as vezes em que o estilo do autor e a originalidade das personagens tenham sobressaído. As histórias em si são todas relativamente interessantes, destacando “O que se esconde na cabeça seca” como a minha favorita, pela sua qualidade intensamente atmosférica e tenebrosa. De todas “O Feiticeiro da Torre Velha”, que penso ter outra autoria distinta, é talvez a história mais confusa do livro e escrita com um português tão rebuscado que é impalatável e apenas marginalmente compreensível. Falta alguma “afinação” nalguns pontos-chave da narrativa (nas personagens femininas falta MUITO trabalho), mas acredito que será um trabalho que este autor, pela forma como se dirige à sua obra, fará com genuína vontade e gosto pela criação e que me irá surpreender em volumes futuros que planeio ler.
PS: comprei este livro pela altura do meu aniversário, uma cópia autografada que a editora vendia em celebração do lançamento da obra. Essa cópia chegou com muito atraso a minha casa, vítima de um incêndio da carrinha dos CTT em plena autoestrada, completamente chamuscada, danificada pela água e com um cheiro vil a químicos e carvão. Contactei a editora que, indignada com a atitude dos CTT, prontamente me enviou uma nova cópia intacta, tal como a vários outros leitores que, como eu, foram brindados com encomendas danificadas. O livro novo não trazia autógrafo como o primeiro, contudo, essa página específica, na cópia impraticável mal tinha sido tocada pelo calor das labaredas. Destacou-se da espinha com surpreendente facilidade e restitui-a na minha cópia nova, entalada entre as páginas iniciais. Por alguma razão parece encaixar com o sentimento da obra em si, uma coincidência mística talvez. Só espero que não esteja tão amaldiçoada como os escritos traduzidos por Eça de Queiroz
Não consegui ler. O protagonista é detestável (é bonito, é forte, saber lutar artes marciais, é culto, onde vai todas as gajas gostam dele, etc etc.), o seu único defeito é que tem um demónio incel dentro dele que o incentiva a violar todas as gajas com as quais se cruza, e comenta se elas lavaram o pito ou não, o que faz o protagonista ficar teso (não estou a brincar) ou às vezes lança-se em monólogos de página e meia que se resumem a "a sério, eu sou mesmo mau, acredita" onde menciona as suas referências de emprego ou sei lá o que, fazendo name drop de outros demónios. A obra é claramente uma tentativa de ser o Witcher português (as personagens referem-se ao protagonista como "bruxeiro") e mete todos os clichés imaginários. O estilo de escrita em si não é mau e gostei, mas as personagens e a história são horríveis e previsíveis e eu não tive paciência. Fui à Fnac e devolvi.
Benjamim Tormenta era o personagem da literatura Portuguesa que precisávamos sem o saber. . O Detetive do Oculto que além de combater o sobrenatural e o maligno, alberga também dentro de si um demónio milenar com um sentido de humor retorcido e uma maldade fora de série. . Ao longo das suas aventuras, Tormenta tem de lidar com a sua maldição pessoal, enquanto percorre um lado negro no Império Português que só ele é capaz de combater. Com a ajuda de aliados misteriosos e desafios fora série que nos levam a folhear o livro em busca de mais respostas, até um final surpreendente que nos deixa ansiosos por mais aventuras. . Estamos perante uma obra que nos contagia e nos abre verdadeiramente um novo capítulo na literatura portuguesa. . Podia até dar-vos muito mais informação sobre a história, mas sinto que nenhuma descrição que faça, faz jus a Benjamim Tormenta e às suas aventuras. . Um livro que me deixou agarrado de uma ponta à outra e com "vibes" sombrias que nos conseguem colocar no centro da acção. Uma leitura que todos os amantes da fantasia e da banda-desenhada vão adorar ler.
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Um livro de contos sobre um detetive do oculto super enigmático e com uma personalidade que adorei! Estou muito entusiasmada por saber que vai haver continuação desta história fantástica!
então, o que é que aprendemos? o benjamim tormenta é um sigma male e não pode ver uma mulher (ou cadáveres de crianças, não eu não me esqueci disso) que fica com uma volumosa ereção. também temos um adoçante com a sexualização de relações entre mulheres o que é, evidentemente, sempre agradável de se ler. we’ll let it slide porque estamos em 1873. foi divertido e bastante interessante mas super custoso de se ler, então ya 2.5 e não se fala mais nisso
Do pouco que conheço do histórico de Luís Corte Real, as expectativas para este romance eram relativamente boas. O autor, que se lança neste périplo de um detective do obscuro por terras lusitanas, é editor e fundador da chancela editorial que melhores livros de fantasia se publicam em Portugal, e os seus artigos de editor sempre mostraram bons indicadores ao nível de escrita.
O Deus das Moscas Tem Fome alia dois mundos que me chamam bastante a atenção: de um lado o imaginário obscuro de demónios e criaturas do além, do outro a sociedade portuguesa do século XIX, com uma aura misteriosa que se adequa perfeitamente a este tipo de narrativas. O resultado só podia ser bom.
Somos convidados a conhecer Benjamim Tormenta, um figurão que deambula nos melhores círculos da sociedade, de Sintra a Alfama, do centro de Lisboa a Macau. A personagem não é fácil de agradar, tampouco o ente que o habita, preso pela magia das tatuagens: Lamashtu, um odioso e visceral demónio que funciona como uma consciência vil para a personagem.
A antipatia por Lamashtu é, no entanto, atenuada pelos horrores que Tormenta enfrenta, chegando ao ponto de desejarmos a presença do demónio nos momentos em que este se ausenta. Figuras como Fontes Pereira de Melo, os Távoras ou o rei D. Luís passeiam-se pela narrativa e Tormenta é uma personagem tão credível quanto elas.
Personagem que não gostei muito foi a Madame Wei, que achei estereotipada, mas por sua vez Eça de Queiroz foi muito bem desenhado pelo autor. O conto A Sombra Sobre Eça de Queiroz, em que homenageia H. P. Lovecraft, foi o meu preferido e teve influência na apreciação global.
A escrita de Corte Real não é fácil; o autor puxa dos galões para mostrar a sua erudição literária e homenagear a prosa queirosiana, o que compromete a fluidez narrativa e o entrosamento com o leitor. No entanto, quando nos acostumamos a ela, a riqueza dos detalhes é determinante para a compreensão do espírito – e intenção – do livro.
PS: Uma menção honrosa ao conto escrito por Anabela Natário. A história do mesmo não acrescentou nada ao enredo, mas o vórtice de leitura a que me obrigou entusiasmou-me.
Benjamim Tormenta é um herói ao mesmo tempo clássico e improvável. Passado na Lisboa do século XIX (com passagem por Macau), faz-nos sentir a cidade e os tempos com uma sensibilidade invulgar. Um detective do oculto, bem armado e com habilidades extraordinárias, pesquisa crimes sobrenaturais de uma crueza visceral, ajudado por um demónio sádico e cruel que é um seu infeliz prisioneiro. É um prazer seguir estas personagens estimulantes pelas ruas sujas e mal-cheirosas da cidade, pelos palácios perfumados e mal iluminados, recheados de festas de gala e de menos gala, interagindo com todo o tipo de seres interessantes, uns roubados da história, outros trazidos dos confins de uma imaginação perturbadora. Foi um gosto ler este livro. Luís Corte Real mostra-se um escritor talentoso e sólido, com muito ainda para dar. Venha o segundo.
5 estrelas!! Gostei muito deste primeiro livro do Luís Corte Real. Está estruturado através de contos o que para mim foi a melhor decisão que o Luís poderia ter tomado !! Digo isto porque é muito interessante para nós, leitores, acompanharmos o Benjamim Tormenta e o seu Lamashtu e vermos como é que reagem em circunstâncias diferentes umas das outras!
Escolhi o livro principalmente por ser uma fantasia portuguesa passada parcialmente em Portugal. A capa é cativante e o título deixa qualquer leitor curioso. Posto isto é natural que, quando comprei o livro, esperei uma história igualmente fascinante. Porém, durante toda a leitura, senti que estava a ler um primeiro rascunho de um adolescente de 15 anos.
O conceito é ótimo. No entanto, muitos dos diálogos do apêndice são uma mistura de cliché com o esforço desgastante de chocar o leitor. O próprio universo do livro trata Benjamin Tormenta, não como um herói complexo, mas como um imortal fanático pelo Batman e Sherlock Holmes. O melhor exemplo do plot armor de Benjamin Tormenta é todo o prologo, com especial atenção á última página, na qual a vilã dedica um monólogo inteiro a explicar que o protagonista sobrevive a uma queda de 10 metros porque tem um demónio dentro dele.
Se há alguma coisa de positivo que posso tirar deste livro seria: 1) A capa é cativante 2) O titulo do livro relembra-nos da obra icónica 'O Deus das Moscas' 3) A maneira como o autor decidiu diferenciar as falas do apêndice/demónio das restantes personagens e do protagonistas foi interessante
Talvez a escrita dele não seja para mim. Talvez seja um caso de um ótimo conceito, autor errado.
I was fortunate enough to grow up in Portugal, in a town by the sea a short distance from Lisbon. As a result I spent literally years wandering and meandering through the streets of Lisbon. Its neighborhoods, hills, monuments, cafes, markets and riverfront the background to my youth. I went to the theatre with friends or visited a tavern to have a "petisco" and listen to live music; the energy of the city and its people in the air. The funny thing about Portugal in general and Lisbon in particular is than no matter when or what you do, you can never escape the history. Whether you're walking through Rossio, stopping to sip a ginja, or you head to Cascais, Sintra or Boca do Inferno (The Mouth of Hell), the air is rich with history, legend, lore and stories. Here's where "O Deus das Moscas Tem Fome" got me! I knew right away that this was the perfect intersection of the world I lived in and the fantastic world of mystery and the occult that so sits over Lisbon's landscape like a fine mist enveloping the Convento do Carmo.
Speak with anyone in Lisbon or neighboring towns and you'll be told of Roman soldiers, Visogoths, Phoenicians or sailors from the Orient, Goa and Africa. You'll hear of Moors, curses, demonic possessions, ghosts and spirits but also politics, intrigue, family names, etc. Benjamin Tormenta, takes us along on a first person experience of this hidden world. Landmarks and background items like Bugio become a part of the story, they aren't just monuments or scenery. The Bugio comes alive with vivid descriptions of the soldiers stationed there, the Praca do Comercio is bustling and you can almost smell the Mercado da Ribeira. The interplay between Benjamin and his ummm..."guest" is complex, thought provoking and actually rather funny. The connection to actual events make the stories more real and relatable. You find yourself cheering for the hero but not really sure if he will actually prevail and, even if he does, what will be the cost? The suspense is as a real of as scents and sounds of the city the author describes so well. Frankly, my only regret was getting through this book as fast as I did and thinking to myself "soube a pouco!"
I can't wait for the author to finish and release the next volume of our hero's adventures. I'm sure the serpent will have many creative ways to insult, cajole and push Benjamin just as much as Benjamin will push back. A great read and I cannot recommend it enough.
O Deus das moscas tem fome As aventuras de Benjamim Tormenta de Luís Corte Real
É um livro com seis contos, literatura fantástica de terror, mas que devem ser lidos pela ordem em que nos são apresentados no livro, pois há um sentido cronológico para serem lidos assim..
Benjamim Tormenta é detetive do oculto, bruxeiro, mas também oculta um segredo, o demónio que habita dentro dele, Lamashtu.
O primeiro conto é emocionante e cheio de acção. E logo neste conto se fica a saber p à frente. É neste conto que se conhece Madam Way. No segundo conto sente se um anti-climax. Pois não possui tanta acção. Mas para quem está a ler não desistam neste, pois vale muito a penas os restantes quatro.
No fim deste segundo conto consegue entrever a maldade do Lamashtu para com o seu hospedeiro. Conhecendo o Benjamim em pensamentos e sentimentos tenta sempre tirar lhe o que deseja.
Desde de um verme que se aloja no cérebro, devorando o e tomando conta do corpo do hospedeiro, artefactos mágicos, entidades subnaturais, este livro vai viajando por todos eles.
No último conto, o autor resgatou a vilã do primeiro, Madam Way. E com este conto o livro encerra em alto.
Ao longo do livro adorei as falas do demónio, das descrições, que nos fazem imaginar como se foce um filme o que nos é descrito, e a acção rápida de cada conto.
Gostei de que apesar do Benjamim ter o demónio dentro dele, continuar a ter um código de conduta e um certo controlo sobre o demónio.
Existe também o Rasmanujan, o mordomo, ex-assassino indiano, que é mais uma figura mistério em todo o livro.
Este livro é uma caixinha de surpresas. Desde personagens que existiram na nossa história, como Eça de Queiroz e o rei D. Luís, até ao enredo que cada conto desenvolve.
Gostei de todo o livro é já me arrependi porque não o li mais cedo. Mas aqui tenho uma ou duas desculpas... Primeiro foi que quando comecei a ler o segundo conto não fiquei muito interessada em continuar a ler, devido ao anti-climax. A segundo é que eu estava a guardar este livro mais para o ler mais no fim do ano.
📌 muito bom muito bom ler autores portugueses é fantástico 📌
Hoje trago a opinião sobre esta novidade da Edições Saída de Emergência, um livro de fantasia inserido na colecção Bang!.
Este livro é uma novidade de Abril e escrito por um português habituado ao mundo dos livros. Pois é um dos fundadores da editora que agora o edita.
Quando vi que este livro ia sair fiquei curiosa, uma vez que, em Portugal não se conhecem muitos livros deste género e com a temática do oculto tão marcada.
A editora Edições Saída de Emergência disponibilizou-me simpaticamente este exemplar, para que pudesse lê-lo e dar a minha opinião.
E é isso que trago hoje. Como a própria sinopse diz, o personagem principal da trama é Benjamim Tormenta, um detective do oculto. Este livro, está dividido em vários contos e Tormenta é o protagonista de todos eles. À semelhança de muitos personagens do género detectivesco, Tormenta é um homem - perdoem a redundância - atormentado. Dentro deste detective vive um demónio que partilha a existência física com Tormenta.
Seria fantástico ver estas estórias adaptadas para televisão; Ficheiros Secretos em plena Era Vitoriana. Foi uma bela surpresa o formato em novelas separadas. Gosto de escrever contos de vez em quando e já tenho fan-fiction em mente para Benjamim Tormenta, mas com certeza que não será em pleno século XIX, pois, escrever como se o próprio Eça de Queirós tivesse criado a personagem do detetive do oculto, é necessário uma certa dose de talento. A escrita de Luis Corte Real é fenomenal e leva-nos numa viagem literária no tempo.
Um agradável surpresa. É raro encontrar literatura de fantasia escrita por portugueses e foi muito interessante percorrer uma Lisboa mística e misteriosa.
Primeiro de tudo: não é um livro para qualquer pessoa. Não basta gostar de fantasia. Tem de gostar de humor negro, de lascívia (na literatura, pelo menos), de descrições gráficas. Não há "paninhos quentes" neste livro. Posto isto, o Benjamim Tormenta é uma espécie de herói amaldiçoado, com uns laivos de malícia e quase potencial para vilão. Mas o nosso detetive do oculto não está só. Tem a companhia de Lamashtu que tem falas que me fizeram corar. Este demónio é um prato que me fez rir dezenas de vezes. Numa Lisboa de Eça de Queiroz (que também faz a sua aparição num dos contos), seguimos vários casos que requerem os serviços do bruxeiro. O meu único "senão" a este livro: não consegui gostar do conto da autora convidada. Sinto que me cortou o ritmo da leitura. Para concluir: não é um livro de leitura compulsiva, é um livro de contos para saborear. Em breve, partirei para o segundo volume.
Gostei bastante do livro. Adoro a atmosfera, sabe tão bem ver coisas fantásticas num local que se conhece bem (eu vivo nos arredores de Lisboa). As várias histórias (o livro é composto por várias histórias, cada uma um caso diferente para o Benjamim lidar), foram boas, excepto o Feiticeiro da Torre Velha. Pelo que percebi essa é escrita por um autor diferente e percebe-se. Isso em si não é mau, mas o estilo não era para mim. Acabei por não perceber grande parte dessa história. També não entendo o uso da palavra "bruxeiro" no texto. Não deveria ser bruxo?! Ou era assim que se dizia no final do século XIX? O mesmo com a palavra "chino" em vez de chinês. Gostei muito numa das histórias, contar o nascimento e crescimento de Lisboa da "perspectiva" de uma oliveira. Achei muito giro, gostei bastante. Aviso que este livro não é indicado para quem não gosta de linguagem forte (Lamashtu é perito em asneiras criativas), gore (há bastante) e algum sexo (não há muito). Hei-de adquirir o segundo livro.
Durante muito tempo limitei a minha leitura de fantasia à língua inglesa. Sempre presumi que retratava melhor a grandeza e heroísmo do setting. Mas posso dizer que o Benjamin Tormenta me conseguiu converter. Não com a grandeza de high fantasy, nem com o heroísmo de personagens infalíveis, mas com um homem que tem falhas, e vive numa Lisboa escura e assombrada. Leva-nos a uma viagem surpreendente entre becos e palácios, entre a vontade de fazer o bem, e o mal terrível que alberga dentro de si... deixa-nos intrigados sobre o seu futuro e que aventuras lhe esperam, e também curiosos sobre o passado. Onde aprendeu Benjamim os truques e artes marciais obscuras? E onde arranjou ele este demónio que o assombra? Escusado será dizer que mal posso esperar pelo próximo!
Li algures que faltava um livro assim em Portugal - está completamente errado, faltam vários, e das aventuras do Benjamin Tormenta pelo menos um por ano. O livro contém seis aventuras do detective do oculto que podem ser lidas de forma independente - aconselho, no entanto, a leitura sequencial do livro pois permite conhecer melhor as personagens.
Benjamin Tormenta é a figura a que se recorre para resolver casos que racionalmente seriam impossíveis de solucionar. Tormenta conta com a "ajuda" de Lamashtu, um demónio que o habita - uma relação bastante tóxica. Lamashtu ajuda Tormenta por uma questão de sobrevivência, e Tormenta aproveita-se de Lamashtu para resolver casos que, muito provavelmente, sem Lamashtu seriam impossíveis de resolver/sobreviver sozinho. Tormenta transmite ser um homem sério, justo e com valores bem definidos debatendo-se constantemente com a presença de Lamashtu na sua mente. Por outro lado Lamashtu é uma existência caótica, maligna, que procura corromper Tormenta; usa uma linguagem que não entra no politicamente correto, mas que confere um carácter único à personagem.
Há muito ainda por descobrir sobre Benjamin Tormenta e Lamashtu pois sendo um livro de "aventuras" não é desvendado muito sobre o passado das personagens - com mais aventuras certamente teremos mais informação.
É um livro com muita ação, os momentos com luta estão muito bem escritos e permitem ter uma noção visual do seu desenlace.
Também é de salientar as excelentes ilustrações do autor que estão presentes ao longo do livro.
Estou a adorar!!! É um romance para se ler quando se tem um pouco de tempo livre porque é difícil de pousar o livro. A história é cheia de mistério e acção! É extremamente cativante logo desde o primeiro conto, a introdução das personagens, as ambiências espaciais, a narrativa e descrições transportam-nos para a Lisboa Oitocentista. Exímio trabalho também de pesquisa desta época, desde pormenores de acessórios, costumes, tradições e linguística à própria arquitectura e limites da cidade.
Um livro envolvente com mistérios sobrenaturais solucionados por um extraordinário detetive, Benjamin Tormenta. Cada conto prende-nos na descoberta da complexidade de Benjamin, um herói poderoso mas que vive assolado pelos seus demónios. Escrita bem estruturada que nos transporta para o domínio do oculto e provoca calafrios. A não perder!
Raras são as vezes em que uma obra literária consegue superar as expectativas quando estas já são elevadas à partida. Neste caso, no entanto, foi o que aconteceu. Os contos que Luís Corte Real nos apresenta transportam-nos para uma Lisboa de sombras, mas também de tonalidades luminosas e hipnóticas onde, guiados por Benjamim Tormenta, somos convidados a partilhar as aventuras e desventuras deste e de Lamashtu. Parabéns ao autor por criar uma obra que não só é inovadora como conjuga de modo harmonioso as várias influências que o próprio assume, entre elas a de Eça de Queiroz. Que venha o 2º volume e vários depois desse.
Acabei de o ler e foi muito bom rever a Lisboa onde o Benjamim Tormenta viveu. As personagens e os lugares que são descritos estão bem documentados, o Luís Corte Real fez um óptimo trabalho. Até me fez pesquisar sobre os fogões a gás, pois pensava que tinham surgido anos mais tarde 🙂. O Luís Corte Real referiu que as aventuras do Benjamim Tormenta ficavam bem numa BD, e estou de acordo. Fico à espera de novas aventuras e quem sabe de uma BD com desenhos do mestre Jorge Coelho.
Luís, por favor lança o segundo livro que estou à espera. Andava há bastante tempo sem pachorra para ler fantasia. Era sempre a mesma lengalenga. Uma enorme lufada de ar fresco, impossível de largar. O Benjamim Tormenta tem mais um fã!
Este livro tem aquela particularidade singular de alguns manuscritos, serem lidos de um sopro!! Ambiente denso, soturno e intrigante mas sempre com o bom critério de rasgo fantasioso. Adorei!
O livro “O Deus das Moscas tem fome” é o primeiro do autor Luís Corte Real e traz-nos um conjunto de contos, predominantemente passados na Lisboa do século XIX. Não é um livro de leitura fácil para todos os leitores. Inicialmente, custou-me a entrar no livro, mas depois fluiu bem. Gostei muito do Benjamim Tormenta, mas percebo que não seja um personagem consensual. O contributo de Lamashtu, um demónio milenar, que habita dentro de Tormenta é, por vezes, incomodativo e, outras vezes, cómico. O humor negro que injeta nos textos, principalmente no terceiro conto, é uma lufada divertida neste mundo tão obscuro e tenebroso. O conto “O que se esconde na cabeça seca” foi o que me custou mais a ler, tanto pelo tema, como pelo mais perverso e macabro. Este conto deixa-nos enojados em algumas partes, mas penso que será esse o objetivo, transmitir ao leitor as particularidades do intenso “ambiente” literário. O conto da autora Anabela Natário foi o que menos apreciei. Achei muito confuso e pouco compreensível e, como se seguiu ao conto mais impactante, enquanto leitores sentimos nele a quebra de adrenalina e a falta da escrita de Luís Corte Real. O meu conto preferido foi o do Eça de Queiroz. A caracterização do conto, a construção dos personagens foi de um cuidado sublime. O conto é muito gráfico, muito rico nas descrições e permite-nos, enquanto leitores, sentir os cheiros nauseabundos e o temor que aquela casa assustadora desperta. O que faltou para mim? Uma visão mais cuidada e diferente das mulheres. Penso que as personagens femininas podem ser aperfeiçoadas. Outro aspeto que senti falta foi da explicação para a vida simbiótica do Tormenta-Lamashtu. No geral gostei muito do livro. A escrita é clássica, muito rica e pormenorizada, bem ao jeito de Eça. As referências a figuras como Eça de Queiroz, Fontes Pereira de Melo, os Távoras, o Duque de Aveiro ou o rei D. Luís estão muito bem enquadradas no enredo e são uma mais valia para os contos.
Gostei das descrições dos lugares onde se passavam os contos, permitindo uma leitura mais imersiva. O demónio, apesar de terrível, é uma personagem bem construída e que nos causa impacto. Também gostei de Ramanujan, o fiel empregado de Benjamim Tormenta.
O que não resultou tão bem para mim no livro foi a estrutura, pois achei que o conto que foi escrito por outra autora não conseguiu transmitir tão bem a essência das personagens e gostei mais dos primeiros contos, achando que os dois últimos foram menos surpreendentes.
Foi uma excelente entrada à Lisboa oitocentista para a qual o autor nos quer levar, a data em que escrevo esta review. Estou a meio do segundo livro, e recomendo vivamente.