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Diálogo | Cinema

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"A ilusão do cinema pode ser mantida no diálogo filosófico? Não se quebra o encanto? A arte que pode emocionar, alegrar, distrair, ensinar, denunciar... quando posta sob o olhar que interroga perderia sua terceira dimensão? Segundo os autores, o cinema não se presta a ser mera ilustração de pensamentos. Ele é mais e está além de uma única interpretação, ou então seria pura propaganda ideológica.
Logo, a magia não se quebra; ao contrário, se enriquece, pluraliza, expande o olhar ou o aprofunda. Como já disse Jean-Claude Bernardet, a história do cinema é em grande parte a luta constante para manter ocultos os aspectos artificiais do cinema e para sustentar a impressão de realidade, e é, também, o esforço constante para denunciar esse ocultamento e fazer aparecer quem fala. "

Paperback

Published January 1, 2013

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About the author

Marcia Tiburi

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Márcia Angelita Tiburi (Vacaria, 6 de abril de 1970) é uma artista plástica, professora de Filosofia e escritora brasileira.

Graduada em filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1990), e em artes plásticas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996); mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) com ênfase em Filosofia Contemporânea. Seus principais temas são ética, estética e filosofia do conhecimento.

Publicou livros de filosofia, entre eles a antologia As Mulheres e a Filosofia e O Corpo Torturado, além de Uma outra história da razão. Pela editora Escritos, publicou, em co-autoria, Diálogo sobre o Corpo, em 2004, e individualmente Filosofia Cinza - a melancolia e o corpo nas dobras da escrita. Em 2005 publicou Metamorfoses do Conceito e o primeiro romance da série Trilogia Íntima, Magnólia, que foi finalista do Prêmio Jabuti em 2006. No mesmo ano lançou o segundo volume A Mulher de Costas. Escreve também para jornais e revistas especializados, assim como para a grande imprensa. Márcia Tiburi também se apresentava, semanalmente, no programa de televisão Saia Justa, do canal por assinatura GNT. Em 2012 publica o romance Era Meu esse Rosto pela Editora Record e os livros Diálogo/Dança eDiálogo/Fotografia pela editora do SENAC-SP.

É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Profile Image for Pedro Vinicius.
10 reviews
October 3, 2023
Conheci o Cabrera na graduação como um dos nomes centrais, quase únicos, na discussão do cinema com a filosofia no Brasil, e depois de ler muitas vezes o início do livro na época, agora reiniciei e finalizei a leitura. Ainda bem que fiz pois foi um ótimo livro, me reviveu um gosto pela filosofia, especialmente por ser uma não-fria, mas criativa, ousada, inovadora. Tanto o Cabrera quanto a Marcia Tiburi são vozes que fogem àquele formato acadêmico especializado insuportável. Ambos têm tanto conteúdo quanto forma muito criativos, fora da curva, autênticos, repleto de estilo.

Muito bom ele ser escrito em cartas, torna a coisa toda mais dinâmica, imprevisível, artesanal, pois é feita com duas vozes, surgindo discordâncias e incompreensões, o que dá uma naturalidade à discussão. Lendo uma das cartas ficamos sempre imaginando o que o outro vai pensar e responder na próxima; a coisa toma forma, parece, de uma maneira orgânica.

O livro tem como que duas partes, na primeira metade uma discussão mais conceitual do cinema, mais geral, onde são abertos vários possíveis caminhos para o livro; e na segunda metade ele foca nos filmes, discutindo algumas obras específicas e depois desenhando, a partir de comparações, o que seria um filme ideal, que explorasse totalmente a linguagem do cinema.

Eu gostei e me envolvi mais com a primeira parte (fui, voltei, sublinhei, anotei muito mais, mesmo ela sendo talvez mais densa em comparação com as segunda parte). Uma das ideias centrais discutidas é a de que o cinema pensa, reflete, e, por outro lado, a filosofia "afeta", usa de imagens assim com o cinema. Esse é, de maneira resumida, o conceito de logopatia, "logos" de razão e "patos" de paixão, imagens-conceitos, um pensamento que tem afeto e um sentir que tem pensamento. Não existiria filosofia sem imagens (sendo o exemplo mais clássico Platão e a caverna), e o cinema, por outro lado, seria um dos meios no qual podemos achar filosofia, não apenas como um ilustrador ou reprodutor de pensamento, mas uma maneira própria de pensar a partir de uma linguagem única da imagem em movimento. Essa dependência da filosofia e das imagens e a do cinema e palavras é um dilema interessante que o livro discute.

Adorno e a industrial cultural são muito citados, na questão da produção de uma cultura alienante, vazia de pensamento, presentes no cinema comercial, por exemplo (o livro é de 2013, mas não chega a comentar no fenômeno dos filmes Marvel, o ápice da produção automatizada de filmes). Mas o cinema não se reduz a isso, ele é uma linguagem muito mais ampla que pode ser crítica e reflexiva, experimental, inovadora. Mas o interessante é que o livro não afirma apenas isso, mas aponta como a filosofia, também, profissional e acadêmica, se tornou algo tão alienante e vazio de pensamento quanto essa indústria comercial do cinema pode ser. Não há nada, portanto, inerente a um texto ou a um filme que os tornem reflexivos, críticos ou alienantes, "há filmes comerciais que refletem e livros de filosofia que alienam".

Um ponto interessantíssimo muito abordado e central também é esse de que o cinema não é uma linguagem dependente da filosofia, nem mesmo uma tentativa de copiar a realidade, ele não reproduz, mas cria algo único. O Cabrera propõe inclusive que ele estaria nesse sentido mais próximo da literatura do que da fotografia. Os filmes mostram ocultando, uma linguagem inventiva, com características únicas.

Pois uma concepção abstrata do cinema se opõe a uma concepção fotográfica, marcada pela tecnologia; por isso não gosto quando se fala da fotografia como percursora ou pioneira do cinema; a fotografia está aparentada com o cinema só mecanicamente; a antecessora poética do cinema, sua pioneira pensante, é muito mais a literatura que a fotografia; não há nada de intrinsicamente fotográfico no cinema, o cinema é tão abstrato quanto a literatura, e tão opaco, e tampouco a fotografia é concreta; nada humano é concreto, ou transparente, tudo humano é predicativo, mostra ocultando, inclui excluindo, entende ignorando, pensa dispensando; pensar consiste nesse processo de dispensar, e não em qualquer 'mostrar fiel' da fotografia agora em movimento. Péssima essa ideia de o cinema ter algo de concreto, de 'direto', de reprodutor; algo de fiel, de 'mais fiel que a literatura'. Trata-se apenas de entender a específica infidelidade do cinema.

Infidelidade a quê? Bom, podemos dizer ao Real; necessária infidelidade ao real. (...)


Chega-se a falar na ideia de que o cinema existia mesmo antes dos filmes, que sua linguagem seria algo para além de sua descoberta histórica, quase (comparação não feita no livro) como a ideia dos números e da matemática como algo não inventado, mas descoberto. É por esse caminho, inclusive, que o livro se direciona a partir do fim da primeira metade até seu fim, discutindo essa ideia de cinema contra os filmes, uma linguagem do cinema antes e independente de seus produtos, dos filmes. Ele entra nisso para então depois, na segunda parte, propor essa ideia ousada de um "primeiro filme", um filme que ainda não foi feito que de fato explorasse todas as potencialidades da linguagem cinematográfica, podada pelo avanço da tecnologia, pela comercialização e até mesmo pelo foco em narrativa do cinema arte. Se as primeiras ideias, de aproximação da filosofia com a imagem e do cinema com o pensamento, são ousadas para quem é da filosofia, creio que essa segunda seja atrevida para quem é do cinema. É uma proposta bastante exigente, focada na exploração dos limites da linguagem, e incluindo aqui até os filmes mais artísticos (como Bergman ou Haneke) como "filmes sem cinema", sendo obras-primas, ótimos filmes, mas mais focados em seu conteúdo e deixando de lado a experimentação com a linguagem cinematográfica.

Bom, eu gostei, é um livro muito provocativo, tanto para filosofia quanto para o cinema, e independente de concordar ou não com tudo as discussões abertas são muito boas. Achei lindo especialmente como um expoente de uma filosofia com estilo, que tem sido morta pela academia e sua profissionalização. Além de tudo é um prato cheio de menções de bons filmes ou bom cinema.
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