What do you think?
Rate this book


Paperback
Published January 1, 2013
Pois uma concepção abstrata do cinema se opõe a uma concepção fotográfica, marcada pela tecnologia; por isso não gosto quando se fala da fotografia como percursora ou pioneira do cinema; a fotografia está aparentada com o cinema só mecanicamente; a antecessora poética do cinema, sua pioneira pensante, é muito mais a literatura que a fotografia; não há nada de intrinsicamente fotográfico no cinema, o cinema é tão abstrato quanto a literatura, e tão opaco, e tampouco a fotografia é concreta; nada humano é concreto, ou transparente, tudo humano é predicativo, mostra ocultando, inclui excluindo, entende ignorando, pensa dispensando; pensar consiste nesse processo de dispensar, e não em qualquer 'mostrar fiel' da fotografia agora em movimento. Péssima essa ideia de o cinema ter algo de concreto, de 'direto', de reprodutor; algo de fiel, de 'mais fiel que a literatura'. Trata-se apenas de entender a específica infidelidade do cinema.
Infidelidade a quê? Bom, podemos dizer ao Real; necessária infidelidade ao real. (...)