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588 pages, Hardcover
First published October 1, 2013
“ – A minha mãe, Sr. Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, para onde iam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. E também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareceram debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
– E já sabe? – perguntou Fazal Elahi.
– Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.”
"- Posso continuar cristão?Frequentemente as ideias são-nos transmitidas através de aforismos (que o autor designa como “Fragmentos Persas” e que aparecem compilados em apêndice), que encaixam na narrativa de uma forma quase sempre exemplar:
Fazal Elahi coçou a barba e condescendeu:
- Podes, desde que sejas um bom muçulmano.”
“Somos mais pesados quando fechamos os olhos. Isso acontece porque o nosso mundo interior é maior do que exterior, pensava Fazal Elahi. A nossa dor não existe fora de nós, o mundo não suportaria esse peso, seria impossível, imagine-se a dor de todos os homens a existir no mundo exterior. Seria uma calamidade e não haveria gravidade capaz de fazer os planetas andar à volta das estrelas. Nós somos muito mais pesados do que o universo que nos rodeia. Temos a dor.”
“A liberdade está morta Sr. Elahi. Até lhe construíram uma estátua. Se chegar a aterrar nos Estados Unidos, poderá tirar umas fotografias dela em Manhattan”
“57. Quanto menor é a alma de um homem mais espaço ela ocupa. Não há espaço para ninguém ao seu lado.“Para onde vão os guarda-chuvas” é um livro esteticamente apurado mas carregado de humanidade, no qual a forma nunca se sobrepõe ao conteúdo. O final poderá ser inesperado e desconcertante, mas talvez se entenda à luz das palavras de Fazal Elahi:
Ninguém se senta ao lado do mulá ou de Vassilyevitch Krupin sem se sentir apertado.”
“…perguntava-se como seria possível que a tradução daquilo que se passava dentro dele fossem apenas umas quantas lágrimas. Que coisa tão mal feita, pensava. Com tanto sofrimento, com licença, deveríamos chorar estrelas, para mostrar como tudo o resto é pequenino comparado com tudo o que nos dói.”ou simplesmente:
“65d. Não estamos a fazer a pergunta certa se a nossa pergunta tiver resposta.”