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O livro de poemas Só foi descrito pelo seu autor, em 1892, no ano da sua primeira publicação, como "o livro mais triste que há em Portugal".

A coletânea de poesia rememora uma infância feliz no norte de Portugal, marcada por sentimentos de nostalgia e de exílio, num perfeito equilíbrio entre subjetivismo, ironia e rutura com a estrutura formal do género poético da época em que se insere.

Foi a única obra de António Nobre publicada em vida, constituindo um dos marcos da poesia portuguesa do século XIX.

176 pages, Paperback

First published January 1, 1892

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About the author

António Nobre

20 books21 followers
António Pereira Nobre (Porto August 16, 1867 – March 18, 1900) was a Portuguese poet. He died of tuberculosis in Foz do Douro, Porto, in 1900, after trying to recover in a number of places. His masterpiece (Paris, 1892), was the only book he published.

His verse marked a departure from objective realism and social commitment to subjective lyricism and an aesthetic point of view. The lack of means aggravated by his father's death, made him morbidly reject the present and the future, following a pessimistic romantic attitude that led him to denounce his tedium. However excessive, this is a controlled attitude, due to a clear aesthetic mind and a real sense of ridicule. He learned the colloquial tone from Almeida Garrett and Júlio Dinis, and also from Jules Laforgue, but he exceeded them all in the peculiar compromise between irony and a refined puerility, a fountain of happiness because it represents a return to his happiest of times - a kingdom of his own from where he resuscitates characters and enchanted places, manipulating, as a virtuoso of nostalgia, the picturesque of popular festivals and of fishermen, the simple magic of toponyms and the language of the people.

Source: http://en.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B...

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Displaying 1 - 30 of 52 reviews
Profile Image for Luís.
2,372 reviews1,369 followers
November 30, 2023
I tried to discover why the poet called it 'the saddest book in Portugal.' I like the style, particularly the sonnets, a great reference in Portuguese literature.
Profile Image for Sérgio.
111 reviews31 followers
March 28, 2019
Publicado no Literatura à Solta, disponível em
https://literaturaasolta.blogspot.com...

A lírica comporta uma liberdade expressiva de sentimentos, emoções, estados de espírito e devaneios que a tornam particularmente difícil de glosar quando se trata, não apenas de um poema, mas de um livro de poesia. A origem dessa liberdade remonta, estou certo, ao próprio nascimento da lírica, poesia composta para ser declamada ao som ritmado da lira, na Grécia antiga (consultar a crítica anterior para um comentário mais aprofundado). Em nenhum outro poeta português do século XIX se sente mais a fruição dessa liberdade, delicadamente musicada aos nossos ouvidos, do que em António Nobre. A atestá-lo está a opinião de personalidades tão díspares como Sampaio Bruno, que elogia o seu “fulgor divino” (Despedidas, p.VI); e Fernando Pessoa, que considera Nobre como o “primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas”, isto é, da corporização dos espíritos e da humanização dos seres vivos e dos seres inanimados, partindo dele, assim, “todas as palavras com sentido lusitano que de então para cá têm sido pronunciadas” («Para a Memória de António Nobre» in Textos de Crítica e de Intervenção, p.115).

[Imagem]
António Nobre (1867-1900), nascido no Porto, na Rua de Santa Catarina

Começando a escrever aos catorze anos, Nobre foi publicando poemas avulsos em jornais e revistas literárias. De longa data preparava já um livro que reunisse a sua poesia, sucessivamente adiado por imprevistos pessoais e por pruridos da sua estética ainda em metamorfose. O será simultaneamente o culminar desse projecto e a única obra publicada em vida. Lançado na cidade de Paris, em 1892, a sua edição foi levada a cabo por Léon Vanier, o editor dos poetas do movimento simbolista: Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé. Não é por acaso. Nobre tinha rumado a França, em 1890, para frequentar o curso de Direito na Sorbonne. Habitando no Quartier Latin (Bairro Latino), próximo da universidade, trava conhecimento com os protagonistas deste novo movimento literário, que tanto o influenciará. De Verlaine, absorve a imagética simbólica da fatalidade, das forças inconscientes e dos fenómenos irracionais, como o sonho e o delírio tísico, deixando de lado a obscenidade. Bem assim, apreende-lhe, tal como a Mallarmé, a nova estética da musicalidade e do ritmo do canto lírico.

[Imagem]
Paul Verlaine (1844-1896)

Paralelamente, persistem em Nobre reminiscências do satanismo poético de Baudelaire, filtradas através de Antero de Quental, poeta acerca do qual foi o primeiro a prestar culto, “quero/mas é ir à Ilha orar sobre a cova do Antero” (, p.167). As influências anterianas não se findam aqui. Câmara Reis aponta o soneto «A Alberto Teles», particularmente o verso “Só! – Ao ermita sozinho na montanha” (Sonetos Completos, p.106), como a inspiração para o título da obra de António Nobre.

O contém seis grandes composições poéticas, nomeadamente «António», «Lusitânia no Bairro Latino», «Entre Douro e Minho», «Lua-Cheia», «Lua Quarto-Minguante», «Males de Anto» (entenda-se, António), bem como duas colecções, uma de sonetos, outra de elegias. Toda a obra denota uma vincada tendência para a exploração de temas autobiográficos, associando as suas atribulações de espírito aos males de Portugal – então a atravessar a crise final da monarquia proveniente do Ultimato britânico de 1890 e da bancarrota de 1892 – Nobre afirma “queixa-se o meu editor e todos que falo só de mim. Mas não sou eu o intérprete das dores do meu país?" (, p.55). Deste modo, são temas recorrentes os desgostos que sofreu em Coimbra, com as praxes académicas a importuna-lo particularmente devido ao aspecto byroniano da sua indumentária, e as reprovações que o levaram à emigração para Paris, de modo a concluir a licenciatura em Direito. O sentimento de exclusão, que o faz entender a emigração como um exílio, foi apenas agravado pelas dificuldades económicas por que passou em França, acabando por desenvolver um desânimo pungente. Paradoxalmente, este exílio reaproxima-o do país. A distância leva-o a amar a pátria, dando origem a um saudosismo muito característico, apologético do Portugal provinciano, das festas e romarias e da sabedoria popular. Fundado num redescobrir do Garrett das Viagens na Minha Terra, nome que dá a um dos poemas do , este saudosismo lírico será a grande inspiração de Teixeira de Pascoaes.

[Imagem]
Teixeira de Pascoaes (1877-1952)

Dá-se em António Nobre o consubstanciar de uma máxima de Oscar Wilde, “a literatura antecipa-se sempre à vida” (Pensamentos, p.133). Em conjunto com os contratempos vividos, Nobre versa sobre os desgostos amorosos de que se imagina alvo, concebendo de si próprio uma imagem de eterno menino e moço, ao qual estão vedados o matrimónio, a felicidade conjugal e a completude da sua personalidade. Devido a uma certa sensibilidade latente, a sua poesia está atenta às figuras mais desgraçadas da sociedade, os cegos, os estropiados e os tísicos, com quem se identifica. Estabelece, assim, toda uma genealogia de presságios, partindo do berço, que intui sob um signo funesto, até à sua condição de excluído, do país, da sociedade, da vida. A realidade viria a confirmar a lírica. Em 1895, António Nobre descobre que sofre de tuberculose, sem dúvida devido à penúria experienciada em Paris, a tísica que tanto glosou no . Como consequência da doença, que, na época, representava uma sentença de morte, dá-se a ruptura do noivado que mantinha com Margarida de Lucena. Acaba por falecer em 1900, tinha apenas trinta e dois anos.


Referências

NOBRE, António (1902) – Despedidas: 1895-1899. Prefácio de José Pereira de Sampaio (Bruno). Porto: s.n. Disponível online em: https://www.gutenberg.org/files/27535... [Consultado a 27-03-2019].

PESSOA, Fernando (1980) – Textos de Crítica e de Intervenção. Lisboa: Ática.

NOBRE, António (1989) – . Lisboa: Ulisseia. (Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, n.º 29).

QUENTAL, Antero (2002) – Sonetos Completos. Lisboa: Ulisseia. (Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, n.º 48).

WILDE, Oscar (2011) – Pensamentos. Lisboa: Relógio D’Água Editores.
Profile Image for David.
1,684 reviews
January 10, 2025
When in a melancholic mood, poetry can be the cure. But what if the poetry one reads is melancholic. What mood can one avoid? Gloom perhaps.

What if one reads about a Portuguese poet of Oporto and Trás-os-Montes, born to a rich family, failed law school twice, drifts to Paris, meets fellow Portuguese author now diplomat Eça de Queiros, but more importantly meets Paul Verlaine and his Symbolist group, inspired and changes his tune and writes about the moon, of failed loves, his homeland, saudades, fado, religion, God and of course, death in the one and only book to his claim to fame, and call that book, Só which means alone, and you fill the one and only book with sonnets, elegies and poems gravitating to Almeida Garrett and Júlio Dinis in language and style but always pondering those French poets, and perhaps a little Shakespeare too, nothing like animating a coffin, and then he sails across the Atlântico to New York, to return to Oporto and die of tuberculosis at the tender age of 32. Alas.

Does this cure your melancholy? Does the grey winter day lend itself perhaps to your mindset? Perhaps. Yet the words flow through one’s veins like water or is that the moon talking?

…………………………….Só!
Ai do Lusíada, coitado,
Que vem de tão longe, coberto de pó,
Que não ama, nem é amado,
Lúgubre Outono, no mês d’Abril!
Que triste foi o seu fado!
Antes fosse pra soldado,
Antes fosse prò Brasil…
(“Lusitânia no Bairro Latino)

*******************
Meninas, lindas meninas!
Qual de vós é o meu Ideal?
Meninas, lindas meninas
Do Reino de Portugal!
(Purinha)

*******************
Saudades, saudades! E ouvide que canta
(E sempre a bordar)
Que linda! «Quem canta seus males espanta
E eu vou-me a cantar…
(Saudades)

*******************
Ó Portugal da minha infância,
Não sei que é, amo-te a distância,
Amo-te mais, quando estou só…
Qual de vós não teve na Vida
Uma jornada parecida,
Ou assim, como eu, uma Avó?
(“Viagens na Minha Terra)

*******************
“— Ó minhas figueiras, ó minhas figueiras,
Deixai-o falar!
Oh! vinde de i ver-nos, a arder nas fogueiras
Cantar e bailar…
(Os Figos Pretos)

*******************
O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte.
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de veludo
Flandres gentil, pinho do Norte…
(Balada do Caixão)

*******************
Vou sobre o Oceano (o luar de lindo enleva!)
Por este mar de Glória, em plena paz.
Terras da Pátria somem-se na treva,
Águas de Portugal ficam, atrás.

Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
António, onde vais tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o Vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.

Ó Lusitânia que te vais à vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ela)
Na minha Nau Catarineta, adeus!

Paquete, meu Paquete, anda ligeiro,
Sobe depressa à gávea, Marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!
(Sonnet 14, Oceano Atlântico, 1890)

*******************
E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.

Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva… essa que traz.

Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz!
(Sonnet 18, Paris, 1891)
Profile Image for misael.
392 reviews33 followers
June 16, 2019
Falar de António Nobre é falar de um poeta grande da Língua Portuguesa. É, contudo, falar também de um poeta não tão pouco lembrado que pertença à galeria dos poetas esquecidos, como um António Reis; mas não tão celebrado, também, que se reúna com o rol dos poetas célebres que vivem na língua dos estudantes e na memória do povo, como um Fernando Pessoa.

Curiosamente, identifico, profundamente, António Nobre com os valores nortenhos. Diria até que António Nobre é indissociavelmente do Norte, poeticamente falando. E é-o de facto. Nobre, como o Norte e os seus filhos, canta a saudade, a melancolia, a desventura e a tristeza, com o estilo saudável da candura, da ingenuidade e da ligeireza.

Enquadrado na sociedade dos finais do século XIX, não escreve com a pompa, a magnificência sublime (e exagerada, por vezes) do início desse século mas não redige, ainda, com a liberdade quase que despreocupada (mas belíssima, ainda assim) com que alguns poetas do início do século XX viriam a escrever. Escreve com um estilo próprio, juntando o savoir-faire da alta poesia, do simbolismo a que se ligou, com a liberdade festiva das canções e dos ditos populares.

Por tudo o que acima disse, é um dos poetas mais invejáveis da nossa língua e não é, por outro lado, um dos que mais me agrade. Não é, definitivamente, o meu estilo predilecto de poesia.
Profile Image for Raquel Silva.
222 reviews18 followers
October 18, 2017
Gostei muito de conhecer a poesia de António Nobre. Um livro considerado pelo próprio autor "o livro mais triste que há em Portugal". Sim achei um livro melancólico e nostálgico. Achei que o li na altura certa pois o autor faz imensas referências ao Outono:

"Hoje, delícias do abandono!
Vivo na Paz, vivo no limbo:
Os meus Amigos são o Outono,
O Mar e tu, ó meu Cachimbo!"
O Meu Cachimbo pág.71

Devido à sua doença saiu de Portugal para procurar a cura e nota-se muitas vezes a saudade do nosso país, sendo essas partes/versos tocantes para mim por viver igualmente fora do meu país.

"Ó Portugal da minha infância,
Não sei que é, amo-te a distância,
Amo-te mais, quando estou só..."
Viagens na minha terra pág. 58

Vemos bem a desilusão em relação à vida e o facto de ela ser efémera, pois encontramos diversas vezes o lamento de tempo passar e não voltar a trás e que a vida passa.

"Mas tudo passa neste Mundo transitório.
E tudo passa e tudo fica! A Vida é assim
E sê-lo-á sempre pelos séculos sem fim!
Na Estrada da Beira pág.130
Profile Image for Sandra Dias.
834 reviews
April 2, 2021
António Nobre tem uma voz própria cheia de compostos.
Não é uma voz singular.
Tem muitos timbres diferentes.

Ora melancólico.
Ora depressivo.
Ora espiritual.
Ora irónico.
Ora apaixonado.
Ora...

E a sua escrita traduz esta multiplicidade.
Ora estrofes de 2 versos, de 4, de 10, ou mais, muito mais...

Não há uma receita na poesia de Nobre.
Não uniformidade na forma.

Mas há muito pensamento melancólico e depressivo.
Profile Image for João Barradas.
275 reviews31 followers
January 1, 2019
Desde o berço, previa o fim penoso,
Um lusitano pejado do mal alheio:
Do mar revolto ao Portugal religioso,
Com tísicos funestos em devaneio.

A vontade de retornar à sua infância,
Um época em que ainda era amado,
Deixa-a patente pela sua errância
Entre viagens e o pensamento estacado.

Fazendo premonições, sem o saber,
Em versos, que não seduzem qualquer um,
Vai do conhecer estudantil ao "savoir faire".

Deixa uma leitura de apanágio letal
Que, longe de reunir quorúm,
Se torna a "mais triste de Portugal"!
Profile Image for Maria.
151 reviews1,028 followers
Read
December 14, 2024
Had to take breaks from reading this, from the sheer sadness and loneliness that exudes from his poetry. I also read this during a particularly sad time, so I don’t associate the best memories to this book, which is a testament to how vivid and painful his work is. I wish we had more from him.
Profile Image for Eduardo Gameiro.
21 reviews10 followers
October 1, 2018
“ (...) Considera o que hás sofrido, O
que sofres e o que ainda sofrerás, E vê,
depois, se acaso é permitido

Tal medo à Morte, tanto apego ao Mundo: Ah !
fora bem melhor, vás onde vás, António, que o
Paquete fosse ao fundo! ”
Sonetos, nº 15 (excerto)

Sempre que volto a casa, meu pai me trata mal e faz-me sentir inúlti. O que dizer a alguém que não ama e nunca amou, mas quer ser amado? “Eu vos amo, pai”, serei assim eu tão inútil? ... “Deixe-me em paz”, seria talvez o mais correto a dizer.
Este livro de mágoas é exatamente isso, um poeta que em paz quer ser deixado, deste “maçador” mundo de “lama”. Os poemas poderão parecer muito repetitivos, pois todos se referem ao sofrimento do poeta, sofrimento esse que o poeta raramente tenta explicar, ao invés disso vai ao mais elemental desse sofrimento que é o de querer desistir da vida, morrer: “Dorme (...) Depois, a Morte não te custa nada”.
Na minha opinião, apesar de bastante do que se lê em literatura ser acerca de sofrimento, esta forma ultra-romântica de escrever que pergunta “porquê eu?” e em que o narrador sente vontade de se parodiar a si próprio, acaba por fazer um livro demasido “choramingas”. Livro sem grandes poemas, sem grande mestria, apenas uma coleção de sentimentos.
Penso que grande parte do sofrimento é absurdo. Não existe forma de em cada quilómetro quadrado das nossas cidades existir tanto sofrimento — não fosse existirem bastantes pessoas com patologias mentais que acabam por formar sofrimento nelas próprias e noutras.
Qualquer um pode mostrar uma imagem de uma pessoa sem membros, e com esperança de vida reduzida, mas que não obstante é feliz, e dizer “também podes ser assim”. Mas porque é que essa pessoa sem membros não é infeliz? Essa é a questão. Não haverá escárnio e troça à volta dela? Terá melhores genes? Não sei responder a isso ... Mas sei que o pai de Bruno Schulz está cada vez mais longe dele, contente em praticar heresias, sei que Drohobych vai ser destruída por um enorme cometa, sublime cometa, que afinal não é mais que um cérebro. Sei, também, que Humberto Peñaloza está a ser aprisionado pelas destras mãos das velhas mulheres que saco após saco cozem. Humbero Peñaloza, homem a quem fora retirada a voz, cortados os testículos, e retirado o espaço, num mundo onde apenas os homens que aprendem a rapidamente pôr e tirar a máscara do gigante conseguem encontrar algum pedaço de alívio.
Tal é o absurdo do sofrimento nas quantidades existentes hoje em dia. Sofrimento, sentimento contraproducente, que leva a um humano querer abnegar-se de comer quando devia de estar a tentar arranjar mais comida. Suicídio, caso formos ver os X’s e Y’s que se suicidaram, completamente absurdo.
Acho, por último, que já houve melhor que “Só” em literatura. Citando John Cowper Powys: Porque é que há poetas de vicária vanglória, que masoquistamente nos enchem com os seus leões e águias? Quando o verdadeiro leão é "uma inofensiva fera — come para satisfazer a fome e depois cresce amável, sonolento, pacífico."

“Hirtos e altos, Tayllerands dos montes !
Tendes a linha, não vergais as frontes Na
exigência da Corte, ou beija-mão !

Voltais aos Homens com desdém a face ...”
Sonetos, nº 11 (excerto)
Profile Image for Filipa Ribeiro Ferreira.
470 reviews15 followers
November 26, 2020
Daqueles clássicos que toda a vida ouvi falar mas nunca tinha pegado. Única obra publicada em vida de um autor de final do século XIX, que morreu muito novo de tuberculose. Transmite um sentimento de melancolia muito acentuado, são as saudades da infância quando está em Coimbra, as saudades de Coimbra quando está em Paris, saudades do que ainda não viveu mas não vai chegar antes da morte. O próprio autor diz que é o livro mais triste de Portugal. Quem sou eu para o desdizer?
Profile Image for Mariana.
49 reviews
December 5, 2019
Favoritos: "Memória" e "Ladainha"

"De alma de bronze e coração de menina!
Em vão corri mundos, não vos encontrei
Por vales que fora, por eles voltei. "
(memória)
Profile Image for Bárbara Reis.
223 reviews25 followers
April 1, 2021
O autor diz que este é "o livro mais triste que há em Portugal", talvez seja, não sei, mas acho que este foi o autor mais triste que li. Parece que cada frase foi escrita com um sofrimento atroz, com uma dor dileracerante. É tristemente bom! É pesado sim, mas como sou normalmente pessimista, senti que estava no meu mundo. Estão a ver aqueles dias que parece que nada esta certo, que nada devia ser assim e que não há remédio ou cura para esse estado? Este livro faz o retrato fiel de muitos desses dias, parece que conseguimos sentir a dor do autor a escrevê-lo e isso é angustiante. E muito bom! Porque sentes que cada palavra nasceu da dor e sofrimento de alguém e sentes empatia por ele. O António Nobre já faleceu, mas só me apetecia abraçá-lo no final do livro, dizer-lhe que o entendo, que percebo a sua dor. É um livro que se lê quase de uma vez, ficamos presos à sua escrita logo na primeira página. Confesso que estava a precisar de um livro assim, triste, doloroso, estava num limbo de emoções, muitas coisas ao mesmo tempo, sem saber para que lado ia cair, assim fui ao fundo e voltei tranquila e só.
Profile Image for Cláudia.
433 reviews38 followers
March 30, 2017
4,5

Nunca me irei cansar da poesia de fin de siécle. Existe qualquer coisa na poesia mais técnica do que sentimental que me cativa de uma maneira inexplicável.
Dá para perceber perfeitamente por que motivo Sá-Carneiro e Pessoa admiravam tanto António Nobre. Apesar de o próprio dizer que este "é o livro mais triste que há em Portugal", um leitor atento percebe que essa afirmação é extremamente irónica, tal como o seu poema "Canção da felicidade ideal dum parisiense".

Conselho: nunca comprem nada da "Coleção Klássicos". O livro está cheio de erros (alguns completamente chocantes) e a estrutura de alguns poemas está incorreta, o que afeta imenso a maneira de ler o poema.
Profile Image for Concha.
45 reviews3 followers
July 23, 2025
poema favorito:
Lua-cheia: Da influência da Lua
Profile Image for Tempo de Ler.
729 reviews101 followers
January 2, 2014
"Mas tende cautela, não vos faça mal...
Que é o livro mais triste que há em Portugal!"
Memória,p.8

...sê-lo-á, em certa medida. Não apenas pelas palavras que chegaram ao papel mas, e especialmente, pelo que elas nos deixam adivinhar sobre os sentimentos que viviam em quem as escreveu.
Triste, melancólico e nostálgico, é um daqueles livros com capacidade para me tirar o fôlego com uma só frase certeira, criando contextos que me lançam numa exploração de mim mesma. Por vezes desesperado, por vezes cansado, António Nobre revela neste livro um assustador desprendimento à vida, um tipo de ideologia sinistramente interessante para quem lê.
"Ao Mundo, vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver:
Vi o que ele era, estou maçado,
Vi o que ele era, estou maçado,
Não batas mais! vamos morrer..."
Fala ao Coração,p.97

A angústia de certos versos e a explícita desilusão em relação à vida tornam a leitura de pesarosa e meditativa. Pessoalmente, apreciei sobretudo a sua essência saudosista; o lamento pela implacável passagem do tempo, pela perda de tudo o que foi e já não é, nem poderá voltar a ser.
"Oh! grande vida, mas que ilusão!"
Canção da Felicidade,p.39

"E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!"
Sonetos - 18,p.120
Profile Image for Cristiana de Sousa.
305 reviews23 followers
July 11, 2017
Primeiro contacto com a poesia de António Nobre e fiquei admirada. Adorei a subtileza da sua escrita e o poder das suas palavras. Aconselho!
Profile Image for João Cruz.
358 reviews23 followers
March 20, 2021
Mergulhado na tristeza e depressão, é no poema "A ares numa aldeia" que, na minha opinião, António Nobre melhor expõe a debilidade da sua saúde física e mental.
Profile Image for Zagalo.
12 reviews7 followers
January 5, 2021
está mais perto do 3.5 que do 4 para mim, mas tendo em conta o seu status como revolucionária, na altura, fica 4. há muitos pontos fortes na escrita de António Nobre, sobretudo a sua visão, acreditando cegamente que o único propósito da vida é simplesmente morrer. é uma poesia triste, fatalista e reducionista da condição de humano a animal triste e prático. para ele só há dois eventos distintos, os primeiros anos depois de nascer, e os últimos antes de morrer, como se o resto da vida fosse um nada irrelevante, mas simples. quando Nobre está no seu melhor, a sua poesia é sucinta, é condensada, é insuportável da brevidade que correlaciono o tamanho dos seus poemas, com o tamanho da (sua) vida. esta visão da condição de humano, da tristeza e angústia, de cada passo ser mais uma pazada da cova cavada, esta obsessão impulsiva com o sofrer, ser coberto por um manto de nada, onde finalmente sentirá algo mais confortável é urgente durante toda a obra, e está directamente correlacionado, para mim, com o inerente peso de existir, e viver.
posto isto, acho que, por vezes, alguns poemas se arrastam demasiado e começo-me a perder, não de complexidade de escrita ou do mecanismo de contá-la, mas mesmo porque algumas das descrições, parecem mera palha para o leitor, como se o autor quisesse mesmo gastar a vida do leitor a lê-los. este conceito, apesar de ser extremamente interessante para mim, tem algumas falhas de execução, que tornam muitos dos mecanismos de António morosos de acompanhar.
acho que, actualmente, muitos muitos portugueses têm um pouco de Nobre em si, e podem nem sabê-lo, mas penso que é algo mesmo impresso na nossa alma, enquanto ser humano português
Profile Image for Ana Cecília da Cruz.
12 reviews11 followers
December 14, 2023
António Nobre emprega um tom notoriamente depressivo, melancólico e soturno, para descrever a sua realidade, numa obra que se revela profundamente autobiográfica. Portanto, torna-se impossível analisar a obra sem a correlacionar com vida do seu autor. É, precisamente, através da sua vida marcada pela falta de saúde física, que o leitor é conduzido por entre momentos de dor, desgosto, angústia e desespero; sempre na ténue esperança de melhores dias.

Nesta única obra publicada em vida, António Nobre tem tendência a usar metáforas e comparações nos seus versos para dar corpo aos espaços geográficos e momentos que pautaram, sobretudo, a sua infância, a sua época de estudante em Coimbra, as “gentes” do Porto (onde nasceu), as suas paixões e quem o acompanhou durante a doença - a disseminada tuberculose, em finais de século XIX. A sua factual vulnerabilidade física e emocional e, no entanto, a sua obsessão em se exprimir sobre a morte nos seus versos, faz dele um poeta único. De facto, Nobre relata a sua realidade.

Em suma, esta obra acaba por se tornar, no fundo, um tributo à capacidade de gestão do sofrimento e um lembrete de que um fio de esperança tem de estar sempre presente, até nos momentos em que a dor toma conta de nós.
Profile Image for Maria Inês.
28 reviews
March 15, 2025
“Manoel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,
Foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,
A cuja influência a minha alma não resiste.
Queres notícias? Queres que os meus nervos falem?
Vá! dize aos choupos do Mondego que se calem
E pede ao Vento que não uive e gema tanto:
Que, enfim, se sofre, abafe as torturas em pranto, Mas que me deixe em paz! (…)
Bem me dizias tu, como que adivinhando
O que isto para mim seria, Manoel, quando
O ano passado, vim contra tua vontade
Matricular-me, aí, nessa Universidade:
«Anto não vás...» dizias tu. Eu, fraco, vim.
Mas, certamente, é natural, não chego ao fim.
Ah quanto fora bem melhor a formatura,
Na Escola-Livre da Natureza, Mãe pura!
Que óptimas prelecções as prelecções modernas, Cheias de observação e verdades eternas,
Que faz diariamente o Prof. Oceano!
Já tinha dado todo o Coração Humano,
Manoel, faltava um ano só para acabar
Meu curso de Psicologia com o Mar.
Porque troquei pela Coimbra de avelã
Essa Escola sem par, cujo Reitor é Pa?
Talvez... preguiça, eu sei... A cabra é a cotovia:
As aulas, lá, começam, mal aponta o dia! (…)
Vamos! Dá-me o teu braço e vem daí comigo:
Olha... São os Gerais, no intervalo das aulas.
Bateu o quarto. Vê! Vêm saindo das jaulas Os estudantes, sob o olhar pardo dos lentes.
Ao vê-los, quem dirá que são os descendentes
Dos Navegantes do século XVI?
Curvam a espinha, como os áulicos aos Reis!
E magros! tristes! de cabeça derreada!
Ah! como hão-de, amanhã, pegar em uma espada!
- E os Doutores? - Aí, os tens, graves, à porta (…)”
Profile Image for tiago..
464 reviews135 followers
March 12, 2022
Poesia do século XIX não é, começo a perceber, a minha praia; e se Antero de Quental constitui aqui uma exceção notável, lamento informar que o caso de António Nobre já não é dos que escapa à regra. Não discutirei o mérito que teve na inovação formal e no desenvolvimento de um estilo muito próprio, e até lhe louvarei o sentido de humor mórbido; mas também não me coibirei de dizer que o achei muito superficial em conteúdo. É esta melancolia, esta dor e este sofrimento, que está por todo o lado sem que ninguém saiba muito bem porquê; dor sem justificação e sem explicação, dor só em nome da dor. É esta poesia prosaica que desenvolve histórias que por muito que se eternizem parecem que não vão dar a lado nenhum. É a literalidade e a imediatez do significado, a completa falta de ambiguidade, pecado capital em poesia. É tudo isto, e sabe-me a pouco.
Profile Image for Cláudia Azevedo.
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October 30, 2025
quando me disseram que este é o livro mais triste de Portugal, não estavam a mentir.

simplesmente uma obra de arte que... é indescritível e de partir o coração mas de uma forma tão poética, tão bonita... tão portuguesa.

simplesmente maravilhoso.

obrigada ao P. por me apresentar este livro que é um dos livros da sua vida.
Profile Image for Cristina Torrão.
Author 9 books24 followers
December 11, 2017
Não sou a melhor pessoa para falar de poesia. Li esta obra por curiosidade em relação ao autor, que só conhecia de nome, e também numa tentativa de me forçar a ler poesia, de vez em quando. Não sabendo discutir o impacto que a obra de António Nobre teve nos poetas que se lhe seguiram, limito-me a descrever as minhas impressões deste livro.

Achei interessante que muitos poemas fossem narrativos, principalmente, com recordações da infância e da juventude, assim como hábitos, festejos e paisagens portugueses. Aliás, a saudade da pátria é notória neste poeta, que viveu em Paris, embora, por vezes, se torne sentimental e dramático em demasia, servindo o cliché de que não há nada como o nosso Portugal, nomeadamente, no que diz respeito às mulheres, tão lindas e modestas, a rezarem as suas novenas. Enfim, sentimentalismos à parte, António Nobre dá-nos uma excelente imagem do nosso país, em fins do século XIX.

Uma grande tristeza perpassa todo o livro, o próprio autor o definiu como o livro mais triste que há em Portugal. Mas António Nobre também consegue ser irónico, como no poema À Toa, um dos meus preferidos, quando os mortos falam:

Séculos tombam uns sobre os outros, como blocos,
E nós dormindo sempre, eternos dorminhocos.


Ou no poema A Vida:

Olha o artista a ler, soluçando, uma crítica…
Olha esse que não tem talento e o julga ter
E aquele outro que o tem… mas não sabe escrever!


Nota-se também uma atração pela morte, por cemitérios, pelo lúgubre, enfim, uma marca romântica, mas dir-se-ia que António Nobre sabia que não viveria muito tempo.

Já que a secção de que mais gostei foi a dos Sonetos, numerados de 1 a 18, passo a transcrever o número 2, em que o poeta, por uma vez, critica o país que normalmente elogia:

Em certo Reino, à esquina do Planeta,
Onde nasceram meus Avós, meus Pais,
Há quatro lustres, viu a luz um poeta
Que melhor fora não a ver jamais.

Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideais,
À falsa-fé, numa traição abjecta,
Como os bandidos nas estradas reais!

E, embora eu seja descendente, um ramo
Dessa árvore de Heróis que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo Ideal:

Nada me importas, País! seja meu Amo
O Carlos ou o Zé da T’resa… Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal!



Nota: li a versão ebook, gratuita, publicada pelo Projecto Adamastor.
Profile Image for Cristiano Jesus.
12 reviews2 followers
May 10, 2018
Um poeta que foi destinado à desgraça e à miséria da qual não pode escapar. Apesar de tudo olha sempre com tom sarcástico o seu fado e nessa visão consciente do que lhe espera é possível encontrar uma espécie de humor que também é visível em muitos poemas do Mário de Sá-Carneiro. Acredito que Sá-Carneiro veio beber muito a António Nobre. Poder-se-ia dizer algo como: 'Se estou condenado à desgraçada ao menos que caminhe para ela com dandismo e alguma nobreza'.

O tom dos seus versos é solene mas ligado ao real. Não tem neles aquele ultra-romantismo exacerbado que às vezes encontramos noutros poetas e escritores capazes de nos deixar muito sentimentais, no sentido pejorativo. As rimas que apresenta são discretas que apresentam fluidez e melhor ainda quando António Nobre as faz com estrangeirismos.
Profile Image for Gonçalo Pinto.
2 reviews
August 13, 2021
Um livro cujas interpretações poderão variar consoante a fase da vida dos leitores. Se é, como o autor afirma, "o livro mais triste que há em Portugal", deixá-lo-ei à consideração de cada um, mas é inegável o sentimento melancólico e de apatia que um jovem (à época) como Nobre foi capaz de transmitir para a sua obra, embelezando a desgraça e a doença de forma única.
Recomendo.
Profile Image for Ana Machado.
22 reviews
January 29, 2022
Ouvi-os vós todos, meus bons Portugueses!
Pelo cair das folhas, o melhor dos meses,

Mas, tende cautela, não vos faça mal...
Que é o livro mais triste que há em Portugal!
Profile Image for Vera Gonçalves .
4 reviews4 followers
May 11, 2023
"Mas, tende cautela, não vos faça mal... / Que é o livro mais triste que há em Portugal!"
Profile Image for Lakshmi.
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July 22, 2017
A Vida
Ó grandes olhos outonais! místicas luzes!
Mais tristes do que o Amor, solenes como as cruzes
Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor
Da capa d’Hamlet, das gangrenas do Senhor!
Ó olhos negros como Noites, como poços!
Ó fontes de luar, num corpo todo ossos!
Ó puros como o Céu! ó tristes como levas
De degredados!

Ó Quarta-feira de Trevas!

Vossa luz é maior, que a de três Luas Cheias
Sois vós que alumiais os Presos, nas cadeias,
Ó velas do Perdão! candeias da Desgraça!
Ó grandes olhos outonais, cheios de Graça!
Olhos acesos como altares de novena!
Olhos de génio, aonde o Bardo molha a pena!
Ó carvões que acendeis o lume das velhinhas,
Lume dos que no Mar andam botando as linhas…
Ó farolim da barra a guiar os Navegantes!
Ó pirilampos a alumiar os caminhantes,
Mais os que vão na diligência pela serra!
Ó Extrema-Unção final dos que se vão da Terra!
Ó janelas de treva, abertas no teu rosto!
Turíbulos de luar! Luas Cheias d’Agosto!
Luas d’Estio! Luas negras de veludo!
Ó Luas negras, cujo luar é tudo, tudo
Quanto há de branco: véus de noivas, cal
Da ermida, velas do iate, sol de Portugal,
Linho de fiar, leite de nossas Mães, mãos juntas
Que têm erguidas entre círios, as defuntas!
Consoladores dos Aflitos! Ó olhos, Portas
Do Céu! Ó olhos sem bulir como águas-mortas
Olhos ofélicos! Dois sóis, que dão sombrinha…
Que são em preto os Olhos Verdes de Joaninha…
Olhos tranquilos e serenos como pias!
Olhos Cristãos a orar, a orar Ave-Marias
Cheias de Luz!
Olhos sem par e sem irmãos,
Aos quais estendo, toda a hora, as frias mãos!
Estrelas do Pastor! Olhos silenciosos,
E milagrosos, e misericordiosos,
Com os teus olhos nunca há noites sem luar,
Mesmo no inverno, com chuva e a relampejar!
Olhos negros! vós sois duas noites fechadas,
Ó olhos negros! como o céu das trovoadas…

Mas dize, meu Amor! ó Dona de olhos tais!
De que te serve ter uns astros sem iguais?
Olha em redor, poisa os teus olhos! O que vês?
O Tédio, o Tédio, oh sobretudo o Tédio! O mês
Em que estamos, igual ao mês passado e ao que há-de
Vir.
Ódios, Ambições, faltas de Honra, Vaidade,
(Quasi todos a têm, isso é o menos) o Orgulho
Insuportável tal o meu, e o sol de Julho!
Jesus! Jesus! quantos doentinhos sem botica!
Quantos lares sem lume e quanta gente rica!
Quantos Reis em palácio e quanta alma sem férias!
Quantas torturas! Quantas Londres de misérias!
Quanta injustiça! quanta dor! quantas desgraças!
Quantos suores sem proveito! quantas taças
A trasbordar veneno em espumantes bocas!
Quantos martírios, ai! quantas cabeças loucas,
Neste manicómio do Planeta! E as Orfandades!
E os vapores no Mar, doidos, às tempestades!
E os defuntos, meu Deus! que o Vento traz à praia!
E aquela que não sai por ter usada a saia!
E os que soçobram entre a vaidade e o dever!
E os que têm, amanhã, uma letra a vencer!
Olha essa procissão que passa: um torturado
De Infinito! Um rapaz que ama sem ser amado,
E para ser feliz fez todos os esforços…
Olha as insónias duma noite de remorsos
Como dez anos de prisão maior celular!
Olha esse tísico a tossir, à beira-mar…
Olha o bébé que teve Torre de coral
De imensas ilusões, mas que uma águia, afinal,
Devorou, pois, ao vê-la ao longe, avermelhada
Cuidou, ingénua! que era carne ensanguentada!
Quantos são, hoje? Horror! A lembrança das datas…
Olha essas rugas que têm certos diplomatas!
Olha esse olhar que têm os homens da Política!
Olha um artista a ler, soluçando, uma crítica…
Olha esse que não tem talento e o julga ter
E aquele outro que o tem… mas não sabe escrever!
Olha, acolá, tantos Estúpidos, meu Deus!
(Morrendo, diz-se, vão para o Reino dos Céus…)
Olha um filho a espancar o pai que tem cem anos!
Olha um moço a chorar seus cruéis desenganos!
Olha o nome de Deus, cuspido num jornal!
Olha aquele que habita uma Torre de sal,
Muros e andaimes feitos, não de ondas coalhadas,
Mas de outras que chorou, de lágrimas salgadas!
Olha um velhinho a carregar com a farinha
E o filho no arraial, jogando a vermelhinha!
Olha, lá vai saindo o paquete Dom Gil
Com os nossos irmãos que vão para o Brasil…
Olha, acolá, no cais uma mulher como chora
É o marido, um ladrão, que vai «p’la barra fora!»
Olha esta noiva amortalhada, num caixão…

Jesus! Jesus! Jesus! o que i vai de aflição!

Ó meu amor! é para ver tantos abrolhos,
Ó flor sem eles! que tu tens tão lindos olhos!
Ah! foi para isto que te deu leite a tua ama,
Foi para ver, coitada! essa bola de lama
Que pelo Espaço vai leve como a andorinha,
A Terra!

Ó meu Amor! antes fosses ceguinha…
Profile Image for Sara Portela.
275 reviews46 followers
December 2, 2021
2 stars

Tinha altas expectativas relativamente a este livro, visto que li que influenciou os meus escritores favoritos portugueses na sua escrita, incluindo Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e a rainha do meu coracão, Florbela Espanca, mas infelizmente não cumpriu com o que esperava.

António Nobre é muito parte da sua geração, na minha opinião, e visto que eu não aprecio minimamente a escrita e movimentos literários da sua época, infelizmente este "clássico" soou-me seco e vazio.

A sua poesia é, na sua maior parte, composta por um sentimento nacionalista da qual não me revejo (Fernando Pessoa também o tem, é facto, mas expressada de outras formas, e também não compõe as minhas poesias favoritas dele), um sentimento melancólico que a meu ver é vazio, nada mais que os wonderings de uma pessoa que nada fez na vida mas que se queixa de muito, sem motivo aparentes, e de weird "mommy issues" que nunca são explorados de uma forma interessnte e devida, sempre associada a mitos greco-romanos e no geral, executado de uma forma muito desinteressante.

Nunca iria descrever este livro como o "livro mais triste de Portugal" a não ser que estivessemos a mencionar na forma de não saber escrever poesia, então aí sim. Felizmente, talvez, a sua existência tenha apenas servido de inspiração para aqueles que iriam verdadeiramente saber o que fazer neste ramo.

Para aqueles que, como eu, não apreciam poesia de século XIX, podem passar diretamente para os bons, que mencionei acima.
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