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Lola

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Lola anda à procura do seu lugar no mundo. Entre ataques de ansiedade que a deixam paralisada, à sua forma de olhar o outro através da lente da máquina fotográfica, ela vai deambulando pelas ruas do Porto sem, no entanto, encontrar o que procura.

Numa luta permanente entre aquilo que é, aquilo que gostaria de ser e aquilo que os outros esperam dela, Lola decide cortar as frágeis amarras que a prendem ao país e ruma a Madrid, capital alegre e mais aberta onde ela espera encontrar alguma paz.

Neste seu romance de estreia, a autora explora o género coming of age e algumas das questões que afectam o ser humano desde o início dos tempos - quem somos e para onde vamos misturando-as com os tempos modernos e as suas redes sociais, o Tinder, e outras universais como o feminismo e a busca pelo amor.

320 pages, Paperback

First published January 1, 2021

15 people are currently reading
515 people want to read

About the author

Cátia Vieira

1 book855 followers
Cátia Vieira graduated in Portuguese Studies and attended the PhD in Comparative Modernities at the University of Minho. In 2017, she created the Instagram Books Turn You On, which gathers more than 40,000 followers and in which she talks about her readings and her ideas about the world. In addition to writing, Cátia Vieira is also a creative director at Selafano.

LOLA is her first novel.

She lives in Braga, Portugal.

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Community Reviews

5 stars
63 (12%)
4 stars
177 (36%)
3 stars
161 (33%)
2 stars
70 (14%)
1 star
16 (3%)
Displaying 1 - 30 of 109 reviews
Profile Image for Beatriz Rocha.
85 reviews53 followers
May 14, 2021
É com imensa pena que termino este livro e sinto um vazio.

Sabem quando tinha tudo para dar mas perdeu-se pelo caminho? Este livro é a prova que não podemos empacotar todos os temas trendy numa história, sem qualquer contexto ou desenvolvimento, e esperar que funcione.

Entristece-me sentir que a Lola representa exatamente tudo aquilo o que eu abomino na sociedade: o individualismo e egocentrismo extremo, a falta de empatia com as pessoas que a rodeiam e um egoísmo desmesurado. E até aqui tudo bem. A grande questão é não existir qualquer tipo de desenvolvimento desde a primeira página à última, e este tipo de comportamentos serem normalizados.

A ansiedade foi o tópico com o qual me relacionei e, efetivamente, fez jus à realidade que vivemos. A dinâmica entre mãe e filha também teve algum lugar de destaque e um desenvolvimento interessante.

Apesar de gostar da atmosfera do livro e sentir que tinha imenso potencial, não consigo suportar o facto de existirem temas como relacionamentos tóxicos e abusivos abordados de forma leviana e quase descartados como se de um mero capricho se tratasse.

Gostava de ver o trabalho da Cátia noutro registo e vou certamente continuar a acompanhar a carreira da autora.
Profile Image for Lúcia Fonseca.
299 reviews54 followers
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May 12, 2021
DNF at 29%

Não tenho paciência para estar constantemente a ler que a protagonista mora na rua Faria Guimarães (Baixa do Porto) e que lhe faz "comichão" gente privilegiada quando ela própria o é.

Muito menos tenho paciência para ler sobre uma relação amorosa tóxica mal explorada e que só incha o ego da protagonista.

E reviro os olhos quando penso que uma personagem usa sapatos da marca X e uma mala da marca Y.

Para mim é inevitável não comparar este livro com o "Raparigas como nós" da Helena Magalhães (esse sim caí na asneira de o ler completo), uma vez que também é uma influencer do bookstagram. É do mesmo género. Quem gostou de um, vai gostar do outro. O melhor do livro é a capa, tal como no da Helena Magalhães.

Desejo a maior sorte à Cátia, mas fico por aqui quando a possíveis livros que venham.

This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Ana Rita.
3 reviews3 followers
May 13, 2021
apesar de ter alguns momentos ternos é um livro escrito sem qualquer consciência de classe e cheio de personagens estereótipo que contradizem a suposta modernidade que é prometida na sinopse

neste a violência no namoro é abordada sem tato ou empatia pelas vítimas, sendo que, a mulher que permanece numa relação abusiva chega a ser vilanizada e utilizada apenas para avançar a história da personagem principal privilegiada, egocêntrica e com um complexo enorme de superioridade

o livro é demasiado grande e tenta abordar o maior número de tópicos trendy possíveis o que acaba por lhe tirar valor e intencionalidade
achei desnecessário ter sido adicionado uma conversa duvidosa que existe a meio do livro sobre uma relação entre uma rapariga de 17 anos e um homem de 24 ou o constante queer bait

gostei da forma como foi explorada uma relação pouco convencional entre mãe e filha e do debate em volta da precariedade do trabalho jovem e da realidade dos estágios não-remunerados

não deixando de ser uma conquista, um livro onde o sofrimento de outras mulheres é utilizado como catalisador do crescimento da personagem principal enquanto estas são deixadas para trás por mais que aborde temas ligamos ao feminismo está longe de ser um livro feminista
Profile Image for Mariana.
564 reviews119 followers
Read
June 2, 2021
TW: Ansiedade, discussão de relacionamentos tóxicos e abusivos.

Já li este livro há alguns dias e confesso que ainda não sei o que sinto quanto a ele. Ainda não consigo precisar de forma clara a pontuação justa desta obra.

Primeiro que tudo, gostaria de referir que gostei da escrita. Através desta, a autora demonstra conhecimento, maturidade e muito potencial.

Adorei o ambiente deste livro: muito português e, atrevo-me a dizer, “cozy” (aconchegante). É muito agradável ler sobre uma jovem adulta numa cidade portuguesa a vivenciar as suas inseguranças e medos tão típicos desta idade.

Apesar de me relacionar com as inseguranças desta personagem (e de as compreender tão bem), confesso que não me consegui conectar completamente com a protagonista. Todos temos problemas e acho que lhe faltou um pouco de tato e reflexão quanto à sua posição nas suas amizades. Acredito que seja esta a razão que levou várias pessoas a considerarem esta personagem egoísta.

Algo que me causou um pouco de confusão foi o facto de eu não conseguir precisar qual é o objetivo do livro ou, até mesmo, a linha narrativa. São explorados vários temas importantes (feminismo, violência doméstica, política, etc), mas acredito que ficou tudo um pouco confuso, sendo que não existe uma linha narrativa explícita, nem algo que ligue todos estes acontecimentos.

Apesar de ser um pequeno pormenor, também me fez confusão o facto de a protagonista usar o uber sempre que precisa de se deslocar. Ora, isto em si não me causa qualquer transtorno, o que me causa transtorno é este comportamento em conjunto com o facto de Lola estar sempre a mencionar que é estudante e, portanto, não tem muito dinheiro, conseguindo-se sustentar através de bolsas de estudo. Sendo eu também uma estudante a viver numa das maiores cidades de Portugal, considero esta conjunção inconsistente e irreal.

Tenho de acrescentar que esta é das capas mais bonitas que já vi em Portugal. Quero dar os parabéns à editora (por apostar numa capa deste género) e à ilustradora ( @sol_illustration no instagram).

Deixo também a nota que este livro não é um livro que vá agradar toda a gente, mas na dúvida, recomendo a sua leitura para que possam tirar as vossas conclusões.
Profile Image for Carolina.
166 reviews40 followers
May 14, 2021
Gostei do início, mas ler este livro deu-me ganas de o editar: cortando, reformulando, aprimorando, a good old edit, como as que os anglófonos fazem. Há alguns erros de estreante, como explorar temas através de diálogos em vez de usar a história como veículo para tratar esses mesmos temas. A maior parte dos problemas narrativos e de ritmo podiam ter sido evitados com um pouco de mais tempo e trabalho. Talvez por ter tido duas revisoras, há certas uniformizações que ficaram por fazer: às vezes o nome das personagens aparece com artigo, outras sem, à inglesa. Queria muito gostar deste livro e quase que li de olhos fechados para que passasse incólume... Mas tenho de ser honesta: é um meio-livro. Ficou a faltar a segunda metade do trabalho, não só da autora, mas também da editora.

O grande mérito de Lola é, sem dúvida, o de trazer para a mesa a grande epidemia do século XXI: a ansiedade. Muito ainda será escrito sobre o assunto, mas para já, este romance é pioneiro. Só por isso, os meus parabéns e profundo agradecimento.
Profile Image for Mariana Afonso | Books Of My Own.
225 reviews102 followers
May 6, 2021
ADOREI

Um livro que retrata uma geração, que questiona a forma como vivemos e nos relacionamos, o que queremos e como queremos.

Com uma escrita bela e descritiva, o livro leva-nos a questionar os recônditos do ser, a procura incessante por sabermos quem somos, descobrir o nosso caminho e entendermos o nosso lugar do mundo. Marcadamente existencialista, tudo isto é questionado, por uma voz jovem, a quem nos conseguimos facilmente relacionar.

O retrato da saúde mental e ansiedade na geração que procura respostas instantâneas e sentimentos claros, está espetacularmente bem feito.

A jornada de Lola intriga-nos, preocupa-nos em momentos, e deixa-nos de sorriso no rosto pelas respostas que encontra.

O Feminismo está presente em muitas partes do livro, seja o movimento em si e a constatação da necessidade do mesmo, ou a forma como encaramos o que é ser feminista, e as ideias pré-concebidas que daí advém (as nossas e as de outras pessoas), e como a nossa visão feminista, que se torna parte inextricável de quem somos, molda as nossas relações e perspetiva sobre as decisões de quem nos rodeia. Ao mesmo tempo, não me é possível não realçar a forma como as experiências femininas, nomeadamente as mais negativas, acabam por ser um grande catalisador da aproximação entre mulheres - algo que nesta obra está muito bem exposto.


Acima de tudo, é um livro sobre nos encontrarmos. Nós, uma geração por vezes tão perdida pela tamanha distração do digital, da procura por sentimentos de gratificação instantânea.

A voz da autora é uma voz que nos representa, pela garra do ser, pelas palavras bonitas, pelo incessante questionamento da nossa existência, pela sua esperança de uma sociedade melhor.

E Cátia, espero verdadeiramente que um dia tenhamos uma Beatriz por cá, e, claro, que possa ler as tuas palavras muitas mais vezes.
Profile Image for Bicho da Galáxia.
249 reviews231 followers
May 20, 2021
Comecemos pela sinopse:
Lola, é só mais uma rapariga à procura do seu lugar no mundo enquanto tenta controlar a sua ansiedade lutando por descobrir quem realmente é e o que realmente quer.
Entre o Porto e Madrid acompanhamos a vida de Lola e navegamos entre temas de grande importância para os tempos modernos como o feminismo, relações amorosas e redes sociais.

Na minha visão de leitora este livro tinha tudo para ser um favorito, um livro que ia focar em temas chave mas que ficou um pouco aquém daquilo que esperava. Pura e simplesmente, não é um livro para mim.
Gosto imenso da escrita, da descrição física dos locais por onde a acção se passava e da forma como a relação mãe-filha foi estruturada e desenvolvida.
Assim que comecei a ler percebi que não poderia procurar uma conexão com a Lola, ou qualquer outra personagem, porque seria um livro onde teria de me focar na história que estava a ler sem criar ligações e mesmo não existindo nada de errado com isso, foi um “problema” que tive de ultrapassar para ter a melhor leitura possível.

Como alguém que sofre de ansiedade, esperava um pouco mais da forma como o tema foi abordado, mas fiquei satisfeita com a representatividade e esforço por parte da autora para tratar este assunto da melhor forma possível dentro da ficção.

Talvez não seja um livro para toda a gente, contudo incentivo à sua leitura porque nem todos podemos gostar do mesmo e porque está ali muito trabalho por parte de uma autora - portuguesa.
Profile Image for Cláudia.
433 reviews38 followers
October 29, 2021
A primeira coisa que precisam de saber sobre a Lola é que ela adora apanhar ubers, seja no Porto ou em Madrid. Trabalhando a part time e sendo bolsista, é uma proeza impressionante, especialmente porque se sustenta a si mesma. Para além disso, tem problemas graves de ansiedade que a impedem de viver uma vida "normal".
Apresenta-se como uma pessoa intelectual, mostrando traços de narcisismo e egoísmo ao longo do livro. Quer ser aceite, mas recusa-se a aceitar as acções daqueles que a rodeiam, criando problemas sérios que a autora simplesmente ignora: para quê mencionar um ambiente de violência doméstica se o vai ignorar como uma mosca chata que anda à nossa volta? Para além disso, a personalidade da Lola não tem mudanças drásticas que justifiquem o seu comportamento inicial. Ela mantém-se a mesma, só mudou o rumo do seu futuro profissional.
Dou duas estrelas por respeito à estreia da autora, mas esta leitura foi adequada para a época do halloween: assustadora.
Profile Image for Vanessa.
25 reviews8 followers
June 4, 2021
Fico muito feliz por poder apoiar uma jovem escritora do nosso país, onde quem tem o monopólio literário ainda são os homens. Por essa razão, assim que tive conhecimento do lançamento do livro Lola, apressei-me a comprá-lo e a colocá-lo como prioridade na minha lista de leituras. Fiquei agradavelmente supreendida pela qualidade da escrita e por algumas reflexões quase poéticas que vamos encontrando escondidas ao longo dos parágrafos. Encontrei diversas frases que me fizeram parar e pensar: uau, que forma bonita de dizer isto. Contudo, e apesar de considerar que a escritora tem muito potencial, os méritos que encontrei no livro ficam por aqui. Não existe um enredo convincente ou envolvente, e a maior parte da história passa-se dentro da cabeça da Lola, algo necessário e interessante nas primeiras páginas do livro, mas que se torna cansativo quando nos apercebemos que isto se arrasta até ao final da história. Isto faz com que inevitavelmente olhemos para a Lola como uma personagem egocêntrica que apenas se preocupa consigo própria e com o seu umbigo, tornando-se pouco "likable".
Ao querer introduzir temas atuais, políticos e de crítica social, a autora caiu numa armadilha que, para mim, destrói o interesse de muitos livros e que por regra não suporto: diálogos artificiais e pouco credíveis, que acabam por ser condescendentes para com o leitor e um pouco moralistas. Isto fez com que as personagens não parececem pessoas reais, mas agentes pouco naturais que debitam discursos de superioridade, que me lembram de propaganda.
Na tentativa de abordar tantos assuntos importantes, nenhum deles ficou verdadeiramente explorado de forma profunda. Teria sido preferível escolher apenas um ou dois e incluí-los de forma mais integrada com o desenrolar da história, e menos como comentários sociais.
Isto não invalida o mérito da autora, apenas denota a inexperiência de quem escreve o seu primeiro livro. No futuro, gostaria muito de poder ler outro dos seus projetos e poder dizer que cresceu como escritora. Ficarei ansiosamente à espera!
Profile Image for Vanessa Funina.
88 reviews1 follower
Read
May 8, 2021
DNF at 50%

Não dá.. Infelizmente não deu.

Estava tão entusiasmada com este livro e fico realmente feliz por ver autoras jovens portuguesas a conseguir editar em Portugal. Mas a verdade é que este livro não é para mim.

Insisti até 50%, mas o revirar de olhos tornou-se constante, o prazer de ler um livro desfez-se. Acompanhamos uma personagem egocêntrica que não vê para além de ela própria, demasiado afogada em crises existencias que tornam os diálogos pouco naturais e exaustivos.

Não há química entre as personagens, há apenas ciscunstância. Uma relação abusiva é tratada com desprezo e superioridade. O feminismo é abordado, mas não defendido.

A intenção do livro é boa, mas sinto que ficou muito aquém.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Ana Leite.
118 reviews14 followers
August 9, 2021
Odeio-o tanto. A segunda estrela é só pelo bocadinho de potencial.

Até matemática básica com as datas e as idades das personagens este livro conseguiu errar.

Não quero deixar de mencionar a personagem Pedro, cujos únicos traços de personalidade são fumar e vestir-se de preto. Ele nem é bem uma pessoa, é fumarada no escuro.

Não que a personalidade da Lola seja melhor. Tudo o que ela faz é mandar vir Ubers e ter a mania que é boa demais para tudo.
Profile Image for Catarina Silva.
221 reviews37 followers
May 10, 2021
«Como podemos ser inteiros se toda a nossa vida está fragmentada?»

"Lola" é a história de uma jovem em busca de si mesma, perdida entre a ansiedade que a impede de avançar e o rumo que segue na sua vida. Trata-se do primeiro romance da autora, que coloca em evidência o sofrimento de uma geração e a luta constante por um propósito. Agradou-me a escrita do livro, embora os diálogos entre as personagens nem sempre me parecessem naturais. Na tentativa de incluir uma multiplicidade de temas importantes, como o feminismo, a política e o abuso, penso que se perdeu um pouco a autenticidade e não se explorou a história da forma mais pertinente, abordando-se muita coisa sem realmente a esmiuçar. "Lola" atira-nos a um mar de existencialismo, levando-nos a questionar-nos a nós próprios sobre quem somos, o que queremos, e o que estamos dispostos a fazer para isso. Apesar de uma primeira parte, a meu ver, demasiado longa, a história vai progredindo e melhorando gradualmente, acompanhando a jornada de autodescoberta e desenvolvimento da protagonista. O que mais me incomodou na própria Lola foi um certo complexo de superioridade em relação aos que a rodeiam e ao próprio mundo, parecendo que, em todo o livro, as demais personagens só existem para dar sentido à protagonista, constantemente atrás de significados mas raramente valorizando outras existências e vivências além da sua. Senti que a inclusão de alguns elementos, como os relacionados com a comunidade LGBTQ+, foram um pouco contornados e acabaram por ser deixados ao acaso, com pouco sentido e/ou representatividade. Contudo, esta história obriga-nos a pôr as nossas próprias cartas em cima da mesa, enfrentando semelhanças de sentimentos aos da protagonista, pelo menos em algum momento das nossas vidas. Gostaria de ler mais da autora no futuro, antecipando até um possível sucesso no mundo da não-ficção.
Profile Image for Elisa.
2 reviews1 follower
August 5, 2021
Gostei da capa aaannnd that's it.
Profile Image for Beatriz Testa.
112 reviews120 followers
June 29, 2021
TW: ansiedade, problemas familiares, depressão, relacionamentos abusivos, violência sexual entre outros.

Nesta obra acompanhamos a vida conturbada de Lola, uma mulher na casa dos 20 que sofre com ansiedade e tem de aprender a seguir o melhor caminho para si.

Podem ter a certeza de que "LOLA" não é um livro para toda a gente, decididamente atinge-nos de formas completamente diferentes consoante a nossa bagagem.

Posto isto, vamos começar por falar da escrita da Cátia porque eu fiquei encantada, a forma como ela trata as palavras é de uma perícia e de uma delicadeza que eu não sei explicar, diria que roça a poesia mas tem um cunho tão pessoal que não a descreveria como poética, parece que elas são suas amigas.

Agora sobre a história, primeiro tenho de fazer notar que, pelo menos segundo a minha interpretação, este é um livro muito centralizado no ter de viver, no querer viver para além de existir e fazê-lo com ansiedade e, por isto mesmo acho que a Lola é das personagens mais bem construídas que já li, por muito que ela tenha os seus defeitos, que friso que para mim acrescentam dimensão à protagonista, a sua história, as suas escolhas e atitudes na minha cabeça fizeram 100% de sentido.
As escolhas narrativas e as descrições minuciosas da autora refletem na perfeição os pensamentos obsessivos de quem vive com ansiedade (grave), refletem todos os pequenos pormenores que só quem lida com o assunto conhece e esse foi o fator crucial para que este livro se tornasse um favorito, finalmente senti-me compreendida e mesmo que esteja consciente de que há muito nestas páginas que muita gente não vai entender, este livro preencheu-me de uma forma única... não abandona a minha mente. Esta é uma jornada de autodescoberta, nada mais, mas isso para mim já foi tudo.

Mesmo que a narrativa se tenha tornado mais apressada do que gostaria a partir da segunda parte, e mesmo que ache que o livro só por si não chega lá, eu gostei tanto da experiência que teve de ser...

As relações da Lola e a forma como elas evoluem para mim foram muito relatable, sinto que ela vivia num ampetro de toxicidade e que acompanhamos muito da sua jornada a sair de lá, de uma forma ou de outra. Também houveram claro relações bonitas, também elas com os seus altos e baixos e isso tornou tudo tão real e tão credível... Adorei o Pedro e a Simone.

Gostei muito de todas as discussões sobre arte, sobre o sentido da vida, sobre o que fazer com ela, sobre sucesso financeiro e profissional,  sobre amor, sobre poligamia, sobre amizade, sobre liberdade, sobre feminismo, sobre política, sobre relações familiares complicadas... Senti, mais uma vez, que todas estas temáticas foram abordadas da perspetiva da Lola e do mundo com que ela tem de lidar dentro da sua cabeça em acréscimo áquele em que ela vive.

Talvez tudo isto soe a egocêntrismo mas é o reflexo de alguém que está preso na sua própria cabeça e que luta para sair de lá.
Profile Image for Carolina.
328 reviews
October 22, 2022
Lola é uma jovem estudante de doutoramento, na casa dos 20, que vive no Porto e que se debate com as típicas questões de identidade que nos assaltam nesta fase da transição para a vida adulta. Sofre de graves crises de ansiedade, tem questões familiares a resolver, sente falta de inspiração para a sua tese, ..., em suma, luta para perceber o seu lugar no mundo e qual o caminho que quer seguir. E é esta sua jornada de autodescoberta e crescimento que vamos acompanhando.

Gostei muito que parte da ação se tivesse desenrolado no Porto, cidade que me adotou em 2014 e onde atualmente vivo. É sempre bom conseguirmos rever-nos no espaço e ruas que as personagens percorrem (e fiquei com vontade de voltar a Madrid, onde decorre outra parte da história).

Tirando isso, não me consegui conectar muito com a protagonista e algumas das suas atitudes... Acho que não é um livro para todos e depende muito das nossas vivências e carga emocional. Por outro lado, não acho que retrate de forma muito fiel a minha geração (sobretudo nas relações), no entanto, acredito que muita gente se consiga rever e identificar com as questões e dilemas enfrentados pela protagonista. Desde política, feminismo, relações tóxicas, sentido da vida, sucesso, amor e amizade, muitos são os temas abordados, conversas que facilmente poderiam ser as nossas com os nossos amigos, mas que senti serem pouco desenvolvidas no livro (tal como vi em algumas reviews, sinto que a autora quis falar sobre muitos temas atuais com que os jovens lidam no dia a dia, mas perdeu-se um pouco na mensagem a passar e foi tudo muito disperso).

Precisei de algumas tentativas para ler o livro, já o tinha começado várias vezes e só consegui retomá-lo e mergulhar verdadeiramente na leitura num sábado chuvoso, em que me sentia mais nostálgica: acho que é um bom mood para esta leitura e, nesta última tentativa, acabei por conseguir retirar algumas reflexões interessantes, pelo que o terminei com um sentimento positivo. Um bom romance de estreia que me deixa curiosa com o que a Cátia ainda nos vai trazer!
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
428 reviews219 followers
June 26, 2021
"Lola" é um romance extremamente actual, um coming of age escrito para esta geração e é um livro onde me senti muito representada. Feminismo e ansiedade são os dois temas principais abordados pela autora, mas também podemos ler aqui sobre a importância da amizade, a violência no namoro, a relação entre política e os jovens, o auto-isolamento e a descoberta do nosso lugar no mundo.

Assim como muitos leitores, também senti que a enorme variedade de temas cortou um pouco o ritmo de leitura. Pareceu-me que a autora quis abordar tanta coisa que acabou por não explorar nenhuma em profundidade.

No entanto, gostei muito da escrita da Cátia - o meu livro acabou todo sublinhado e cheio de post-its - e gostei da personagem Lola. Não é uma personagem fácil de se gostar, não é nenhuma heroína mas que é muito bem escrita. É uma personagem complexa e são este tipo de personagens que me cativam.

Adorei também todas as referências literárias e identifiquei-me muito com a Lola que também se refugia nos livros. "Era difícil identificar um caminho para mim, mas sabia que não me sentia em território estrangeiro quando navegava pelas palavras dos outros." ❤

Este foi o primeiro livro da Cátia - convém não esquecer isto - e eu já encontrei aqui uma qualidade e um respeito pela língua portuguesa que merecem louvor. Para primeiro livro, gostei imenso e, sem dúvida, que vou querer continuar a acompanhar a carreira de escritora da Cátia (assim como a bookstragammer)

"Cada um procura por si onde pode e sabe."
Profile Image for lana.
204 reviews42 followers
May 9, 2021
O que eles não entendiam é que cada um procura por si onde pode e sabe.

LOLA conta-nos a história de uma mulher que navega pela vida na cidade do Porto. Lola sofre de ansiedade e sente-se presa a isso, tudo enquanto tenta trabalhar no seu doutoramento e vive com uma colega de casa bastante diferente de si.

Eu nem sei bem como articular os meus pensamentos. É definitivamente uma ótima surpresa ler um livro tão bem escrito e tão bem pensado na minha língua materna. Este livro era exatamente o que eu precisava neste ponto da minha vida.

Embora eu faça parte da Geração Z, eu revi-me imenso em certos aspetos deste livro. A necessidade de escapar, o agarrar-me aos livros com tudo o que tenho, a intensidade com que são defendidos os direitos das mulheres, LGBTQ+, etc. Achei que foi um retrato completamente realista.

Algumas pessoas não tinham pudor em afirmar que estudos de investigação no campo das ciências e engenharias têm fundamento, mas que o mesmo não se pode dizer da minha área, que não tem qualquer utilidade direta na sociedade. Outras, para justificar a minha escolha, associavam-na à minha paixão pelos livros, tratando-a como uma forma de capricho. No fundo, também acabavam por encarar os meus estudos como uma opção inútil.

Este pequeno excerto do livro aproximou-se muito do meu coração, pois, desde sempre que tive uma paixão enorme pelas áreas de humanidades. Decidi ingressar no ensino superior num curso (Direito) que a sociedade aprova e que considera ser útil. No entanto, rapidamente me tornei infeliz, pois estava a desperdiçar toda a paixão que sempre tive pelas línguas e literaturas. As partes do livro onde Lola se questionava sobre o seu doutoramento e falava sobre a sua área tocaram-me imenso e, de certa forma, fizeram com que eu tivesse ainda mais a certeza de que mudar de curso superior (para Línguas e Literaturas Europeias) é a escolha certa.

A amizade entre Lola e Simone foi, também, das minhas coisas favoritas deste livro. Adorei o quão as duas mulheres se adoravam. Claro que não podia deixar de referir Pedro, o companheiro de Lola. Adorei imenso o romance neste livro!

A história da mãe de Lola partiu-me completamente o coração e fez-me entender que há tantas dinâmicas diferentes entre mãe e filha. A maneira como toda a situação foi lidada pela autora foi simplesmente perfeita!

Em geral, adorei as personagens, adorei a escrita e adorei o tema. Por isso, cinco estrelas!
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Yumi Kaioh.
55 reviews21 followers
June 22, 2021
Contorço-me toda para escrever isto.

Não quero deitar a Cátia abaixo de maneira nenhuma - seguia-a no Instagram durante algum tempo e sempre a admirei. É muito corajosa, simpática e uma leitora excepcional, muitos dos livros que ela partilhou são alguns dos meus favoritos. Cátia: obrigada por te teres colocado "out there", porque o lugar da escrita é sempre um lugar de crítica e de recepção. É sempre importante partilharmos a nossa visão e aquilo que queremos contar, pois todos temos uma voz, mas sinto que faltou verdade e, sobretudo, uma boa quantidade de crítica feroz daqueles que estão próximos da Cátia - quer num contexto pessoal, quer num contexto profissional.

Estava empolgada por comprar este livro e lê-lo. Uma leitora incrível que adora Miller e Bukowsky, entre outros, haveria de escrever muito bem, pensei eu. Logo nas primeiras cinquenta páginas, quase berrei de fúria ao ler isto, sobretudo a partir do segundo capítulo. Comecei a prestar atenção a cada parágrafo, cada palavra, cada diálogo, os quais me levavam a concluir que faltou uma revisão e um desejo de escrever. Aqui conta-se uma história, a história de Lola, mas não se escreve. Senti que a escrita apenas auxiliava a ânsia de contar a história, pelo que não tive prazer nenhum em ler e acho que isto é muito grave. Ler com dor de estômago, com asco, com tristeza até: não me lembro de experienciar isso nos últimos tempos da minha vida. Sei que não é apenas um problema meu, pois li algumas partes em voz alta ou partilhei com amigos próximos e parece que é uma situação que tem vindo a acontecer com mais pessoas.

Então: se não estava a gostar do livro, porque é que continuei a ler? Bom, leio porque busco palavras dóceis e que me acariciam o céu da boca, mesmo quando se contam histórias menos bonitas, mais mórbidas, mais lentas, menos politicamente correctas. Pensei: talvez o livro volte a um ponto interessante, talvez a escrita melhore, talvez aquilo que nos foi dado no primeiro capítulo surja de novo, talvez as personagens se desdobrem, monstrando.se mais sumarentas e surpreendentes. Mas não.

Os factores que me afastaram deste livro:
1) As personagens que me irritaram e pareceram "pão sem sal" (Como eu vi Lola: trata-se de uma snob que adora livros, vive com ansiedade e quer ser defensora dos pobres e oprimidos - acho muito bem, concordo com essa visão, mas parece que colocou todos os temas e mais alguns neste livro e fez dele uma omelete - e quando fala nos diálogos ou na narração, que é feita na primeira pessoa, explica tudo e mais alguma coisa, retirando o espaço para o leitor imaginar ou concluir, portanto quer é ser pedagógica e ensinar os outros. É uma personagem ainda muito sonhadora e imatura que diz que é "fragmentada" com os seus quase trinta anos. Sim, a sua história de vida é infeliz pela ausência dos pais, a morte da avó e a incapacidade de lidar consigo própria e com as suas desarmonias emocionais, mas é só isso: uma premissa interessante que não funcionou na prática. Gostava de ver outro tipo de escrita para descrever os seus sentimentos, algo mais natural e que se parecesse menos com uma tese académica ou um artigo, ainda que perdido ou ansioso. Não gostei mesmo nada desta personagem, infelizmente. Também não achei piada às personagens Simone e Ángel).

2) Várias palavras usadas constantemente que me deitaram numa poça de lodo, num charco, num lugar desconfortável, palavras como "arremessar", "paleio", "constatar", "galhofa", "esvaíra", "passarinhar" e expressões como "disse para os meus botões", "deu carta-branca" e por aí fora. Infelizmente, escrevi numa das páginas iniciais todas as palavras que eu detestava e que foram usadas por não aguentar mais - é uma questão de gosto pessoal.

3) Alguns episódios que parecem ter influência de outros escritores (Lola em Madrid isola-se e tem o seu pequeno momento do estilo "ano de descanso e relaxamento", pun intended, onde passa por uma metamorfose emocional... Eu senti que essa metamorfose foi forçada pela própria narração. Não senti nada em uníssono com a personagem e achei pouco original).

4): No fundo: os diálogos soaram forçados, as gargalhadas/sorrisos/risotas que as personagens lançam e libertam constantemente são bastante irritantes e a narração em si explica tudo em demasia, sendo que, por vezes, não é possível interpretar o que as personagens dizem, pois já foi tudo interpretado pela autora.

Os pontos que considerei positivos:
1) Gostei da personagem Dulce Gaspar, achei-a interessante, e a dinâmica com a filha também pareceu visceral e com muito potencial. Também gostei de Celia e Paula e do jantar na taberna com Lola onde se falou de uma relação poliamorosa - achei muito interessante e até surpreendente.

2) Relativamente aos episódios: gostei muito do primeiro capítulo, do primeiro passeio com a Olympus, a forma como Lola pede a umas pessoas fora do restaurante para serem fotografadas e da descrição da masturbação no fim desse capítulo. Também gostei da descrição da "festa do sexo" e do momento em que Lola fotografa o antes e o depois da festa, pareceu-me poético e surpreendente no meio de um livro cuja acção se tornara bastante aborrecida.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Mariana.
98 reviews11 followers
May 14, 2021
2,5 estrelas

Queria tanto ter gostado deste livro mas, infelizmente, não aconteceu.

Inicialmente, senti muita dificuldade em entrar na história devido à escrita ser muito "aos soluços", especialmente nas partes mais descritivas - embora este ponto vá melhorando com o desenvolvimento e com a introdução dos diálogos na narrativa, tornando a leitura mais fácil de processar.

Quanto aos temas abordados, louvo a tentativa de introduzir tópicos importantes e que são bastante atuais, no entanto, a execução não funcionou. A grande maioria dos temas foram abordados de forma muito abrupta, sem grande contexto, o que me fez sentir que o propósito da história fosse compactar o maior número de assuntos tendência possível, sem o devido desenvolvimento e consolidação. Por vezes, menos é mais.

O elemento que realmente contribuiu para que esta não se revelasse uma experiência de leitura tão prazerosa foi a personagem principal, Lola, com a qual não consegui sentir a mínima conexão. Trata-se, na minha opinião, de uma personagem narcisista e auto-centrada com um complexo de superioridade que se reflete em (quase) todas as suas atitudes.

Contudo, existem também pontos que destaco como positivos.
A essência e o ambiente da cidade do Porto foram muito bem retratados, sendo frequentemente a alavanca que me puxava de novo para a história. Do mesmo modo, gostei da forma como o tema saúde mental foi preponderante na narrativa, em particular a forma como aborda a ansiedade e o impacto que pode ter na vida diária.

Embora tenha muita pena de não ter gostado, fico curiosa e expectante para ver qual será o próximo passo da Cátia na sua carreira de escritora :)

Trigger-warnings/Avisos de conteúdo: Relacionamentos abusivos, ansiedade, violação (brevemente mencionado).
Profile Image for Amélia Pinto.
71 reviews32 followers
October 5, 2024
É um livro coming of age, focado na geração millenial e no tema da ansiedade. Para uma debut novel, a escrita surpreendeu-me positivamente. Acho que a escritora tem imenso potencial.
Quanto ao plot, acho que tinha tudo para ser melhor explorado. Como já vi numa review aqui, quis abordar muita coisa ao mesmo tempo e isso acabou por prejudicar o rumo da história.
Não deixa de ser uma história relatable em muitas coisas e essa sensação familiar é muito boa. Apesar da Lola me ter enfastiado algumas vezes...
Tal como Normal People, acho só que este tipo de livros não é propriamente o meu cup of tea.

2024: venho aqui reconhecer que eu menti. Tive compaixão pela autora porque a sigo no instagram mas cada vez que me lembro deste livro só penso que é mau. Muito mau. 0 originalidade e escrita muito muito meh.
Profile Image for Sofia Costa Lima.
Author 4 books127 followers
Read
July 9, 2023
Contexto: tentei ler o livro na altura em que saiu e não consegui acabar porque não estava a gostar da história. Entretanto tinha uma amiga a dizer para dar outra oportunidade, ouvi alguns podcasts em que a Cátia participou e achei que, pronto, se calhar podia dar outra oportunidade. Meh.

Aquilo de que não gostei da primeira vez continuei a não gostar agora: demasiados temas-sensação num só livro.

A escrita é boa, embora eu ache que beneficiava de alguma revisão extra.

Não gostei propriamente das personagens, mas acho que também não era para gostar.

Gostava de ter tido mais detalhes sobre a questão do doutoramento, porque acho que perder o rumo durante um doutoramento é comum e nunca tinha lido sobre isso nem sobre simplesmente perceber que é um percurso que deixa de fazer sentido.

Talvez seja 2,5/5, nem sei bem.
Profile Image for Joana Oliveira.
90 reviews5 followers
June 12, 2021
Este livro…
Eu já estive a ler algumas reviews deste livro e algumas pessoas disseram que a estória se perdia a dada altura, que não tinha um rumo definido. Eu não acho que se tenha perdido, porque o aspeto principal deste livro foi sempre o facto de a Lola andar perdida pelo mundo e não saber o que raio anda a fazer. Isso manteve-se consistente durante o livro quase todo. O problema, na minha opinião, está na pressa deste livro de avançar para o momento seguinte, sem saborear aquele que está a acontecer. Isto aconteceu com todas as conversas importantes entre a Lola e as restantes personagens. Aconteceu na conversa em que a Catarina revela que está a ser vítima de violência no namoro, na conversa em que a Lola conta ao Pedro que vai para Madrid, na conversa em que a Catarina a confronta com a ida, na primeira e na segunda conversa com a mãe, e certamente em mais que não me estou a lembrar. Estes são dos momentos mais importantes para o desenvolvimento da estória e dos personagens, mas não lhes é dado tempo suficiente (páginas ou diálogo) para se desenvolverem. Qualquer pessoa que já teve conversas difíceis com pessoas próximas sabe que tendem a durar muito, e até a estenderem-se a algo recorrente durante um período de tempo. Há conversas que são muito difíceis de ter e este livro constrói estória e personagens para algumas, mas depois não consegue concretizar o momento de libertação de tensão. Fá-lo em poucas páginas, só para arrumar o assunto e avançar. Eu até senti que a conversa com o Vasco foi mais bem desenvolvida do que as que mencionei. O final do livro… mesma coisa. Teria sido tão mais interessante se a própria Lola decidisse que se iria dedicar à fotografia profissionalmente e vê-la a lutar por isso; criar a vontade no leitor de a ver a fazer uma exposição sua. O que aconteceu foi que a Lola simplesmente teve exatamente aquilo que precisava, assim como teve o que precisava quando a mãe finalmente lhe contou o que lhe aconteceu, ou quando recebeu a bolsa, ou quando conheceu o Pedro. Isto foram tudo coisas que aconteceram e que calharam de ser mesmo aquilo de que ela precisava e não sabia.
A revelação da mãe foi previsível, mas neste aspeto talvez tenha mais a ver com a minha profissão que me põem alerta a situações destas do que culpa do livro em si. Mas, ainda assim, a forma como isto foi abordado ficou aquém.
Em relação à ideia que se criou de que este livro e esta personagem são relatable para a geração dos millennials, posso dizer que eu não me revi na Lola, ou em qualquer outra personagem. A única personagem de quem eu até estava a gostar era o Pedro, mas aquelas últimas 30 páginas e o final estragaram-no para mim. Mas sobre o livro supostamente representar a geração jovem adulta atual, em partes isto está lá, em outras não. Nas primeiras podemos incluir o facto de ela estar a viver de uma bolsa de doutoramento, a exploração que existe do trabalho de estagiários, a ansiedade que ela sente. Eu também me revi na romantização que por vezes ela faz da cidade onde vive, porque same. O uso das redes sociais foi importante para estabelecer esta conexão entre a realidade atual e a ficção do livro. O insta, o tinder, a uber. A dificuldade em encontrar apartamentos a bons preços e ter de dividir casa quase até aos trinta. Tudo isto achei que foi bem realizado e que capturou a essência de cada coisa. As partes que para mim estragaram um pouco o que foi conseguido com isto têm mais a ver com a Lola em si, com a privilégio que ela claramente tem com um pai arquiteto e uma mão feminista super conhecida. Eu percebo que ela tenha muitas dificuldades nas relações com os pais, mas a verdade é que se realmente estivesse entre a espada e a parede, ela tinha retaguarda e não era uma retaguarda pobrezinha. Acho que durante todo o livro, a Lola se faz transparecer como uma “coitadinha”, como alguém a quem coisas desfavoráveis acontecem e alguém que não sabe como lidar com elas. De todos os momentos em que achei isto, o pior foi na relação com a Catarina e o facto de a Lola criticar e julgar a decisão de a Catarina ficar na relação abusiva. Aqui eu não sei o quanto isto é suposto ser uma falha de caráter da Lola (o que é muito possível, tendo em conta que a maior parte das pessoas não sabe como funcionam as dinâmicas abusivas em relações violentas e pode realmente achar que a pessoa que tentou ajudar está só a ser fraca e ingrata) ou o quanto foi uma falha na escrita das personagens e da estória, mas achei que toda esta situação da violência podia ter sido abordada de uma forma muito mais consciente. Eu sei que não é o trabalho da autora tornar a sua estória numa campanha de sensibilização, mas a verdade é que isso foi feito com outros temas, como a questão da ansiedade e do feminismo, por isso não percebo como é que o tema da violência doméstica não é abordado de forma mais adequada. E acho que isto foi uma oportunidade perdida deste ponto de vista, porque da mesma forma que a Lola aborda certos livros feministas a ler e a possibilidade de psicoterapia para o seu problema da ansiedade, poderia ter abordado a existência de recursos de apoio à vítima. A forma como a Lola “lidou” com a situação de violência da Catarina não foi a melhor e claramente não a ajudou a sair daquela relação a longo prazo… Eu gostava muito de saber se esta foi a intenção da autora, de mostrar este lado mais egoísta da Lola, em que as dificuldades da amiga em abandonar uma relação abusiva (algo que é muito difícil de fazer) são quase como uma afronta à Lola e à sua tentativa de ajudar.
Uma outra coisa que me custou a ler foi o uso constante de “termos” de psicologia, como complexo de inferioridade e ter muita bagagem, e as menções ao Freud… Não consegui lidar com isto. Eu vou deixar aqui o nome Aaron Beck, só para o caso de a autora vir parar à minha review.
A última crítica que tenho mesmo que referir é a escrita do livro. Várias pessoas apontaram que era muito bem escrito e eu concordo. Mas a real questão é se a forma como está escrito é apropriado ou não para vibe do livro. Vamos relembrar-nos que é suposto representar a vibe das pessoas da idade da Lola, mas em mundo nenhum a gente no mundo real fala assim. Eu percebo que é um livro e é um mundo fictício, por isso a linguagem tem de ser mais construída e aprimorada, mas o resultado final foi demasiado. Houveram tantas passagens em que eu só consegui rir-me porque nunca na vida aquela frase sairia da boca de alguém. Várias vezes, as falas eram demasiado extensas e serviam apenas para explicar em vez de mostrar, para que o leitor soubesse como a personagem se estava a sentir, sem que a autora tivesse de mostrar essas emoções com descrição. Para que se perceba bem o que eu quero dizer, eu vou ter de fazer uma comparação com o livro Lunário. Eu sei que é injusto para a autora compará-la com este livro, mas eu não estou a comprar a estória, nem a qualidade da escrita, apenas estou a comparar o quão bem um certo estilo de escrita se encaixa com a estória e a vibe da estória a ser contada. Nesse livro, Lunário (de Al Berto), a escrita é muito construída, muito embelezada, muito eloquente, até excêntrica em partes, mas funciona bem porque todo o livro é assim, a estória é assim e as personagens também, por isso encaixa. Mas em Lola, a forma como o livro foi escrito não encaixa com a estória, nem com as personagens. Existe uma desconexão e é impossível entrar por completo na estória por causa disso. Durante quase todo o livro, eu tive dificuldade em ultrapassar o facto de a escrita (descrições, falas, conversas) não bater certo com o contexto. Ainda por cima num livro que é suposto ser representativo de dinâmicas e dificuldades atuais…
Okay, ia-me esquecer, mas afinal tenho mais uma coisa a apontar: a quantidade de temas que a autora meteu neste livro. Saúde mental, política, feminismo, questões de género, sexualidade e de orientação sexual, viajar, academia e precariedade na investigação, romance, amizade, família, artes (literatura, música, cinema, fotografia), violência doméstica. Tentar abordar isto tudo só contribuiu para que o livro parecesse apressado e superficial. É impossível abordar todas estas questões numa única estória e conseguir chegar ao cerne de tudo.
As duas partes que mais gostei foram a hibernação e a festa do sexo. Ambas me fizeram imenso sentido, especialmente quando temos em consideração que a Lola já não está satisfeita com a sua vida académica e começa a pensar em mudar de vida. A parte da hibernação foi apenas um capítulo e foi demasiado curta. Esses momentos de introspeção são tão bons para desacelerar uma estória, para permitir que o leitor acomode toda a informação que tem vindo a assimilar e comece a pensar no que ainda há por vir. Eu queria ter visto ao pormenor as dúvidas da Lola com a sua carreira e a vontade de partir para uma carreira profissional em fotografia a começar a emergir, como se com o descanso, a sua mente começasse a ficar aborrecida e acabasse por criar novas ideias para combater o aborrecimento e vir à tona. A Lola poderia ter tido um momento de flow criativo intenso no final ou durante essa hibernação, mas tudo o que fez foram autorretratos… Adorei esta parte anyway.
Outro aspeto que achei muito positivo foi o uso das cenas com sexo e para ilustar isto vou fazer outra comparação, desta vez com Sally Rooney. Eu só li o Conversations with Friends e não gostei. Uma das coisas que me aborreceu nesse livro foi o uso constante de cenas de sexo, mesmo quando já não acrescentavam nada de novo. Em Lola, a autora esteve muito bem neste aspeto porque apenas as usou quando realmente acrescentaram algo e complementaram a cena a decorrer, as personagens e a relação entre as personagens.
Em geral, acho que foi um bom primeiro livro. Mas a minha opinião vale o que vale. Apesar de todas as críticas (que são sempre mais fáceis de fazer do que de ouvir) e de todas as coisas de que não gostei e que me faziam ter um momento de *cringe*, este livro cativou-me bastante e, mesmo não estando a gostar de algumas partes, fez-me querer continuar a ler (tirando as últimas 30 páginas, que me fizeram querer atirar o livro ao mar) e eu acho sinceramente que essa vontade veio do facto de a personagem principal ser uma pessoa com idade próxima da minha que habita num mundo parecido com o meu. Apesar de tudo aquilo que me impediu de me rever nesta personagem, essas duas coisas foram o suficiente para me manter.
Não é um livro incrível, mas talvez seja um bom livro para começar, se o dermos a um pessoa na adolescência ou início da idade adulta que ainda não tenha lido muito.
De qualquer forma, acho sinceramente que esta autora pode ser uma voz muito importante no panorama nacional porque claramente ela não quer saber se agrada ou não e não me parece ter receio de abordar temas que ainda assustam muita gente no nosso país, como sexualidade e feminismo.
Profile Image for Mariana Machado.
1 review
May 7, 2021
É uma lufada de ar fresco ver um livro escrito em português, por uma autora portuguesa, que representa tão bem a geração dos Millennials.

A forma como está escrito, faz com que não se consiga pousar o livro.
Desde os temas que aborda, à relação entre personagens, até ao ambiente que descreve, este livro prendeu-me desde o primeiro capítulo.
Profile Image for Beki.
41 reviews5 followers
July 2, 2021
À medida que ia lendo o livro, várias vezes me perguntaram o que estava a achar e se o livro valia a pena, e das várias vezes respondi que "ainda não sei", até que de repente já tinha chegado ao final da história e continuava sem conseguir responder.

Se por um lado a premissa é boa - um livro que abre uma janela sobre a geração millenial, sobre todas as dificuldades por que passamos (sim, também eu pertenço a este grupo), desde as casas partilhadas, ao trabalho precário, e à (falta de) saúde mental - sinto que o problema do livro é mesmo a Lola, a personagem principal.

Não consegui gostar desta personagem, que tantas contradições apresenta. Por um lado, a falta de dinheiro causa-lhe ansiedade, mas não há uma saída que faça que não tenha um uber à mistura, e quando se muda para Madrid recusa-se, por pura arrogância e colocando-se num abismo financeiro, a morar num apartamento que o pai tinha disponível para lhe ceder. Diz-se feminista ao mesmo tempo que abandona uma das melhores amigas a uma relação abusiva e acusa a mãe - a mãe e só a mãe - de todos os problemas familiares existentes, com esta premissa que me roeu por dentro: "o ressentimento de uma mãe é mais difícil de aceitar do que um pai incompetente." Foi pena porque, assumindo-se como um representante de toda a nossa geração, caiu em todas as coisas de que a geração anterior nos acusa: de sermos mimados e não sabermos o que são problemas reais, de defendermos ideais só porque é moda, sem acreditar realmente neles.

Apesar de tudo, é um livro pioneiro sobre este nosso modo de vida moderno e que talvez abra espaço para que, de futuro, mais se escreva sobre o assunto.
Profile Image for laura ᥫ᭡。.
247 reviews11 followers
July 25, 2021
nunca sequer me passou pela cabeça estar a dar uma estrela a um livro, especialmente por ser uma jovem autora portuguesa. mas quanto mais penso neste livro mais furiosa fico. uma (curta) passagem a defender o feminismo interseccional não muda o facto de este livro ser a definição de white feminism. enquanto uma adolescente, a afirmação de que sexo entre uma rapariga de 17 anos e um homem de 24 anos não é, de maneira nenhuma, abuso, deixa-me repugnada. além disso, a única coisa que o interesse amoroso soube fazer durante o livro inteiro foi fumar, fumar e fumar. por amor de deus, 320 páginas e o gajo tinha sempre um cigarro à mão.
Profile Image for Filipa.
38 reviews6 followers
Read
November 1, 2021
"Lola" apresenta-se como um livro moderno, aborda temas muito atuais e até certo ponto acho que a autora pretendia que fosse uma obra interventiva. Tanto pelos temas como pelas personagens que os personificam. Violência no namoro, depressão, ansiedade, atualidade politica e feminismo são tudo temas muito discutidos e relevantes nos dias de hoje mas que para mim acabou por não funcionar. A maior critica que tenho a fazer a esta obra é a sua falta de profundidade, talvez por serem tantos temas acabou por se perder tudo um pouco. Depressão e ansiedade são o tema dominante do livro e isso é óbvio desde cedo para o leitor, acompanhamos a Lola na sua jornada desde os seus momentos críticos até começar a sua fase ascendente que coincide com o inicio da sua terapia. Para mim achei importante a presença deste sinal de procurar ajuda, a importância dos profissionais e a demonstração de uma maneira positiva dos seus efeitos. No entanto para um livro que aborda tantos temas, eu esperava algo mais profundo, mais revoltante e acima de tudo que levasse o leitor a reagir. O contexto está lá, as situações existem mas depois fica a sensação que é tudo muito superficial. A conversa que a Lola tem com a mãe que deveria ser o expoente máximo de redenção e arrependimento acaba por ser um momento de "ok isto aconteceu mas agora tenho de ir apanhar o avião". Eu, como leitora, queria um livro mais longo e com mais detalhes. Desejava algo que tivesse ido até às entranhas de cada personagem. Acabo com um sabor amargo porque acho que tinha tudo para dar certo, para ser um livro muito bom mas acabou por ficar num "ok". Talvez numa próxima oportunidade a autora consiga nos voltar a trazer este mundo, eu gostaria particularmente de um livro sobre a Dulce, acho que seria uma vida igualmente prazerosa de se entrar.
Profile Image for Teresa Vassalo.
132 reviews
March 1, 2025
2,5/3 ⭐️

Este livro desiludiu-me.

Comecei por gostar mas do nada percebi que a autora pegou em todas as problemáticas existentes e foi enfiando no livro ao ponto de se tornar cansativa a sua leitura.
Displaying 1 - 30 of 109 reviews

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