*Livro Semifinalista do Prémio Oceanos de 2022* Quantos silêncios e quantos sonhos cabem no peito de um homem? Nascido para ser pastor, Rodrigo viveu a infância com os seus pais e irmãos numa velha cabana isolada na montanha, tendo desde cedo aprendido o silêncio, bem como a dor e a saudade, pela morte do irmão mais velho na guerra do ultramar. Os seus melhores dias foram passados na montanha com o avô Josué, a quem chamavam Celtibero, e na escola primária, onde conheceu os primeiros amigos e se deixou enfeitiçar por uma moira encantada. Rodrigo sonhava para si uma vida diferente, o avô incentivava-o a contrariar um destino que parecia certo, incitava-o a partir e correr mundo. Ouviu palavras idênticas a um homem que apareceu na montanha a tocar um tambor para os ancestrais. Um homem que se viria a revelar primordial na sua vida, quando dilacerado pela angústia de ter de tomar uma decisão, foge de casa para viver na cidade grande, sem nunca mais dar notícias à família. Num mundo de cimento e rostos fechados, Rodrigo aprende que a solidão pode estar em todos os lugares, ainda que rodeado de gente. É salvo pelo amor que encontrou junto da rapariga que guardava no seu coração desde a infância. Volta à sua montanha, muitos anos depois, aquando da morte da sua mãe. Voltará a tempo do tão desejado perdão? Saberá a sua montanha dar-lhe a paz que tanto procurou? Num tom poético e intimista, este é um romance com personagens inesquecíveis, que nos fala diretamente à criança que já todos fomos, relembrando-nos verdades simples e preciosas.
Rui Conceição Silva nasceu em 1963, em Figueiró dos Vinhos, onde reside. É casado, tem dois filhos e dois netos, que fazem dele uma das pessoas mais ricas do mundo. Começou tarde no mundo da escrita, tendo aos 52 anos publicado o seu primeiro romance, no ano de 2015. Anos mais tarde, em 2022, foi um dos doze autores portugueses nomeados para o Prémio Oceanos, graças ao seu livro Deste Silêncio em Mim. Discreto por natureza, adora estar em família e viver na sua terra, na qual se sente completo, pelo convívio com a natureza e com as pessoas das aldeias e das pequenas vilas em redor, nas quais encontra muita da inspiração para os seus livros. Árvores Tombadas é o seu quarto romance, depois de Quando o Sol Brilha (2015), Dei o Teu Nome às Estrelas (2018) e Deste Silêncio em Mim (2021).
Depois de ter lido um livro da mesma editora, resolvi ver que mais tinham em catálogo e escolhi este Deste silêncio em mim. A história de um jovem pastor a viver com a família, praticamente isolado na montanha, pareceu-me interessante e foi-o, pelo menos no início. Gostei de ler a história do Rodrigo, uma criança que, na altura em que se inicia a ação do livro, teve a sorte de os pais o mandarem para a escola. Fez o exame da quarta classe e depois cumpriu o destino de ser pastor, mesmo não sendo isso que ele queria. A grande influência da sua vida foi o avô Josué, que lhe ensinou a magia e beleza da natureza e sempre o incentivou a ir ver do mundo. Rodrigo vai ver do mundo, mas foi aqui que este livro me perdeu um bocadinho, pois andava sempre à volta do mesmo, da maravilha da natureza, da vida de aldeia, do aproveitar o tempo que temos, do criar bons momentos com aqueles que amamos. São mensagens importantes, não há como pôr isso em causa, mas talvez seja demasiado repetitivo, pois cheguei a uma altura que só pensava "nunca mais acaba...", e isso não é bom. O nosso Rodrigo é um protagonista muito atormentado, a vida dele é sempre triste, solitária, vazia e vai viver sempre com um grande arrependimento.
Apesar de esta minha opinião não ser muito entusiasmante, este livro está bem escrito, tem uma edição cuidada e a Visgarolho é um projeto a que acho que vale a pena dar uma oportunidade. Se gostarem de livros mais introspetivos, com uma ação lenta, com uma vida menos citadina, em que a natureza é rainha, penso que esta obra é uma boa aposta.
"Talvez os caminhos da vida sejam assim, feitos de boas e de más coincidências. De destinos que esperam por nós, se tivermos vontade de percorrer os caminhos tortuosos da vida e se conseguirmos contrariar as solidões em que nos afundamos. Porque sempre haverá uma luz que nos aguarda, em cada dia que nasce, apesar das sombras que trazemos no peito."
O nosso narrador, Rodrigo, vive com a família numa velha cabana isolada da aldeia onde aprende a crescer muito rápido e a ver os seus sonhos a esfumarem-se. Através de uma narrativa intimista, Rui Conceição Silva, leva-nos até à montanha para conhecermos a infância de Rodrigo que foi duramente marcada pela morte do seu irmão mais velho Carlos na Guiné em plena Guerra do Ultramar, a relação mágica que tinha com o avô Josué que lhe ensinava a escutar os pássaros e a "escutar" o silêncio da montanha, os anos que passou na escola primária onde aprendeu a ler e a escrever, e onde se apercebeu que a leitura é a porta para novos mundos e finalmente leva-nos até ao dia em que um acontecimento extremamente traumático leva Rodrigo a virar as costas à família e à sua aldeia e partir para a cidade grande em busca de uma vida melhor . Este é um livro sobre afectos, amizade, relações familiares, morte e sobre a enorme diferença entre a vida na aldeia e a vida na cidade e como por vezes não conseguimos apagar completamente o nosso passado e as nossas memórias, mesmo as mais dolorosas. Deste Silêncio Em Mim tem uma escrita soberba, melancólica e muito poética que me encantou e me emocionou, um livro lindíssimo!
Temos cá bons escritores e não sabemos! Este livro foi uma grata surpresa e é prova disso! Foi-me enviado pelo autor e aguardava a sua vez na estante que é como quem diz, aguardava vontade minha. Não leio por obrigação. Quando assim é, nunca resulta e já sei que a leitura se vai arrastar. Por isso prefiro sentir este apetite e deixar que a vontade seja dona e senhora das minhas leituras. Por vezes nada leio da sinopse e nada espero. Assim, deixo-me surpreender e, neste caso, foi com muita satisfação que me envolvi na escrita e na história narrada por este autor.
É pela voz do narrador que, ainda em criança, nos conta como foi a sua infância no meio da serra, bastante longe da aldeia mais próxima, no Portugal de Salazar. Muito perspicaz mas também muito inocente, Rodrigo vive muito a solidão e o isolamento, mas faz-nos sorrir amiúde com as suas "descobertas" ou suposições que explicam o mundo segundo os seus olhos. Uma ironia fina, um toque de mestre numa escrita que faz o leitor sentir-se em casa mesmo quando as experiências vividas pelo pequeno narrador não correspondem às suas, nem são, tampouco, similares às recordações que possuímos.
O retrato de Portugal dessa época está muito bem conseguido. A pouca literacidade, a pobreza extrema, a ignorância e as baixas expectativas de todo um povo estão espelhados nas palavras do autor. O "salto" para França, a ida para a grande cidade na busca de uma vida melhor de tantos portugueses. O retrato de um Portugal que muitos desconhecem (e ainda bem!) que me deu muito prazer em visitar e relembrar.
Depois, a tristeza de todo um povo quase que se pega ao leitor numa segunda parte em que essa criança é obrigada a crescer (mais depressa que o que é habitual hoje em dia) e sente-se essa melancolia nas palavras do autor.
Um livro belíssimo, daqueles para se ler devagar e degustar as palavras, muitas vezes poéticas. Um livro especial e único, de uma editora também ela especial e única.
É um livro de afectos, intimista, que fica a ecoar dentro de nós. Um livro nos fala das relações familiares, da amizade, da dicotomia cidade/campo, da solidão, de nos reencontrarmos connosco próprios.
É também um retrato real do país naquela altura: o trabalho (duro) no campo de sol a sol, a solidão e o isolamento das aldeias, o analfabetismo, a pobreza extrema, a imigração para a grande cidade ou para outros países na procura dos sonhos (à custa do quê?) e a consequente desertificação do interior.
Os meus parabéns à editora Visgarolho pela coragem de assumir este projecto em tempos de pandemia e também pelo inegável amor aos (bons) livros.
Parabéns também ao Rui Conceição Silva, um autor que não conhecia, mas que vou agora seguir com atenção.
Rodrigo estava destinado a ser pastor. Frequentou a escola primária mas cedo teve que assumir o ofício que lhe foi passado pelo pai. Cresceu na montanha, numa cabana isolada, onde vivia com os pais, os irmãos e o avô Josué. Apesar da pobreza, a família era um pilar, que sofreu um abalo com a morte do filho mais velho na guerra do ultramar.
Mas Rodrigo sonhava com uma vida diferente, queria conhecer outras realidades, e era incentivado pelo avô. A morte do seu avô vai impeli-lo a trocar o silêncio da montanha pelo bulício da cidade grande, fugindo de casa e não voltando a dar notícias à sua família. Mas afinal, o silêncio e a solidão que existem na montanha também existem na cidade repleta de gente e luzes.
Esta é uma história bonita mas triste e cheia de sofrimento. Retrata muito bem a realidade rural de Portugal nos anos anteriores ao 25 de Abril, a pobreza e as dificuldades da vida no campo, mas também a solidão e os sacrifícios daqueles que iam procurar melhores condições nas cidades. É também uma história sobre os laços que nos ligam aos outros, o amor, a amizade, a família, sobre o luto e a dor do arrependimento.
Uma escrita poética, melancólica e sensível, que gostei de saborear devagar e que me comoveu. Uma história com personagens que não vou esquecer e que me fizeram recordar histórias dos meus avós e da infância dos meus pais.
"Nós éramos pobres de terras, apenas possuíamos aquela velha cabana,aquele lar triste onde nasci e onde cedo aprendi a força da solidão. " Deste silêncio em mim de Rui Conceição Silva Nascido num meio rural com o destino de ser pastor Rodrigo viveu a sua infância numa velha cabana na serra com a sua família , cedo teve de aprender a viver com a dor ao perder o irmão no Ultramar . Com uma narrativa intimista o autor da-nos a conhecer Rodrigo, que vai perdendo os seus sonhos naquela montanha onde só a sua relação maravilhosa com o avô Josué lhe dá alguma alento . Anos mais tarde já na cidade a solidão não deixou de o acompanhar . Este livro fala-nos de afetos amor, morte e abandono, mas também de esperança e amizade das diferenças de viver na aldeia ou na cidade e como podemos sentir-nos tão sós numa cabana isolada na serra como numa cidade cheia de gente . Um livro maravilhoso escrito de uma forma poética, com muita melancolia com muitos momentos que me emocionaram bastante Um livro muito bonito , com uma escrita Irrepreensível, que merece muita divulgação e destaque . Infelizmente não faz parte dos livros da moda, que os grupos das editoras grandes impingem e que levam muitos a falar maravilhas deles,com a desculpa que em portugal não se escreve bem, mas está aqui a prova que afinal há excelentes livros no nosso cantinho, e que só precisamos estar atentos ao que se publica de bom no nosso País, não ir em modas e ler o que realmente nos apetece sem fazer fretes a ninguém. Parabéns para as pessoas da Editora Visgarolho pela coragem de apostar em autores portugueses sem receios , fazem um excelente trabalho e nós que gostamos de ler agradecemos . Leiam vale mesmo muito a pena ...
É um livro cheio de metáforas, também com alguns lugares comuns, mas com uma escrita belíssima, que transparece bem a ruralidade do nosso país. Quando Rodrigo procura libertar-se do silêncio da serra, compreende que esta perceção não é exclusiva daquele lugar, por isso, esta obra é sobre escolhas, sobre as consequências dessas escolhas e sobre a maneira como temos de as aprender a gerir. Por outro lado, é uma história sobre família, sobre afeto e sobre amizades; é sobre a solidão que manifesta quando temos tantas pessoas à nossa volta - e acho que esta solidão é a mais dilacerante. Por fim, mas não menos importante, é um livro sobre sonhos.
Uma boa descoberta. Fiquei assoberbado de natureza, família, amor e vidas simples, rurais que infelizmente extinguem-se num ritmo assustador. Prosa bem cuidada, com veios poéticos, para ser lida de forma lenta, combinando com as personagens. Autor que merece mais conhecimento e despertou-me interesse por outras obras.
Eu nem sei bem por onde começar a escrever. Ou o que escrever. É uma leitura tão linda, tão meiga e tão dura ao mesmo tempo, tão terra a terra, tão tudo. Rodrigo o protagonista leva-nos numa maravilhosa narrativa da sua vida desde tenra idade, e ambicionando muito mais do que ser pastor numa Montanha isolada de tudo (tempos em que estudar era um luxo e desde tenra idade o destino era trabalhar para sobreviver) segue o caminho que passo a passo lhe vai sendo indicado tanto pelo avô , um sábio senhor conhecido como o Celtibero como por um misteriosos homem que encontrou na montanha a tocar um tambor de forma diferente. Como todas as crianças, cria laços na escola primária com um grupo de rapazes e vive aventuras mágicas e conhece uma rapariga que o encanta como mais nenhuma. Com apontamentos místicos e de seres ancestrais, de vida após a morte, da morte em si e da tragédia que o Ultramar trouxe a tantas famílias, sendo que Rodrigo perde o irmão mais velho para essa guerra (o meu pai e o meu tio dos quais sou cuidadora são ambos ex combatentes e voltaram vivos mas com histórias horríveis para contar e outras tantas que guardam só para eles), retirei desta narrativa que só sabemos aquilo que é realmente importante e nos faz feliz quando perdemos. E o Rodrigo, tanto quis sair da Montanha, mas na realidade a Montanha nunca saiu dele e a felicidade encontra-se onde nos sentimos em casa, onde nos sentimos em paz. Rui Conceição Silva, OBRIGADO por esta história linda, mais uma vez a qualidade dos autores nacionais a destacar-se e queria mesmo muito que cada vez mais lhes dessem voz e o reconhecimento devido. Mais em bibliotecamil.wordpress.com