Brutal e sincera, a nova edição do livro de poemas de Jarid Arraes conta com sete peças inéditas, além de novo projeto gráfico e ilustrações da autora. Com uma crítica social afiada, Arraes fala sobre o corpo negro feminino com precisão e maestria.Autora vencedora dos prêmios APCA e Biblioteca Nacional.Jarid Arraes se destaca como uma das maiores escritoras brasileiras da atualidade. Os temas de sua obra, sempre urgentes e igualmente atuais, colocam em evidência sujeitos preteridos, fora do padrão e das vistas da “eu quero ouvir/ sobre as pequenas vidas/ os pequenos instantes/ de vida/ que ainda resistem/ aí”.Nesta antologia, a autora de Redemoinho em dia quente vai em busca de “uma toca/ de paredes/ grossas// um abrigo/ que cesse/ a fome”, um refúgio em meio a campo aberto. Em um denso equilíbrio entre introspecção e crítica social, estes poemas se dividem em cinco ramos ? selvageria, fera, corpo aberto, caverna e poemas inéditos ? e recuperam a imagem da mulher e do corpo feminino negro, que se encontra desprotegido da loucura e das inúmeras opressões cotidianas.Um buraco com meu nome, reeditado agora pela Alfaguara, traz sete poemas jamais publicados pela autora, reforçando a vitalidade da “existo paralela/ e por dentro/ estou faminta”, diz Jarid.
Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 12 de Fevereiro de 1991, Jarid Arraes é escritora, cordelista, poeta e autora do premiado “Redemoinho em dia quente", vencedor do APCA de Literatura na Categoria Contos, e dos livros “Um buraco com meu nome", “As Lendas de Dandara” e “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis". Atualmente vive em São Paulo (SP), onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres e tem mais de 70 títulos publicados em Literatura de Cordel.
Li "Um buraco com meu nome" na velocidade de quem deseja esticar a leitura ao máximo, adiar seu fim com pena de que o livro acabe, mas encerrei a trapaça e aqui estou :) Já conhecia a prosa da autora e sua poesia em cordel, e como não sou leitor costumeiro de poesia, não sabia muito bem o que esperar dessa vez. Pensei que ia ser aquele gostar por admirar a técnica, a precisão das palavras, o ritmo, mas acabou que o livro me pegou de jeito em vários momentos.
"Um buraco com meu nome" é um livro de múltiplos temas e camadas, mas parando pra pensar um pouco, enxergo nele um fio em comum que é a nossa constante negociação com a vida e, por consequência, com a morte. Estamos sempre negociando nosso espaço, nossa medida de respeito, o valor do nosso trabalho, limites pessoais, nossa individualidade, negociando nossa sanidade diante de uma rotina corrida, diante de um mundo que nos parece absurdo, diante de amores correspondidos e não correspondidos. Vivemos negociando até as vontades mais básicas que às vezes parecem nos escapar, como o desejo de simplesmente estar aqui.
Acho que o que me pegou de jeito e me levou a ver essas coisas foi justamente o posicionamento da Jarid diante da sua poesia, um posicionamento de vulnerabilidade e exposição, sem disfarces, corajoso, o que permite uma conexão muito forte com o texto. E isso vale para poesia sobre amor, para a visão de uma escritora, mulher, negra diante de suas escolhas, ou questões mais sutis e ao mesmo tempo mais diretas sobre esse entrelaço indissociável de vida e morte. Assuntos que estão ali nas rimas não fonéticas e que, se também aderimos ao pacto de vulnerabilidade, ficam fáceis de enxergar.
Jarid faz poesia das coisas feias, do que não queremos ver - transtornos mentais, racismo, machismo, abuso sexual. E por esse processo difícil da leitura, com muitos dos poemas sentindo como um soco no estômago, acompanhamos a trajetória de um animal em busca de lugar, passando pela selvageria, tornando-se uma fera, deixando o corpo aberto até encontrar uma caverna, transformando-a em um buraco com seu nome. Para mim, os poemas ressoam como um animal ferido lambendo os cortes, em seu próprio processo de cura, sabendo que novas feridas virão e aprendendo que, mesmo com tudo, é possível encontrar um porto seguro.
um útero é um sarcófago de uma mulher é a máquina inquebrantável de uma mulher
Esse livro me salvou. Me pegou num momento tão difícil e tão solitário - eu também só queria encontrar um buraco com meu nome - e me mostrou que eu não estava sozinha. Juntou força e vulnerabilidade e potência e injustiça e dor, mas esperança também. O poder da poesia às vezes é subestimado. Mas não por mim, não senhor. E certamente não pela Jarrid.
ler poesia é como ingerir algo que o nosso corpo precisa muito, uma espécie de vitamina D. mas não um buraco com meu nome. não, não essa. essa não é vitamina, é ferro. e é porque tem gosto de sangue. uma poesia vermelha. jarid fala de mulheres, dores, mortes, corpos, órgãos, vísceras, mentes e mundos. a poesia de jarid é paupável, como um sonho que você sente que é de verdade. é um livro para se ler muitas vezes e em voz alta. porque poesia se lê em voz alta. poesia não é silêncio.
Uma força inexplicável. Nunca imaginei que leria poesias assim na vida. Depois deste livro, pensei que precisava criar contas pra avaliar livros de mulheres, pois obras assim não poderiam passar sem que soubessem como elas me tocaram, me estraçalharam. Esse livro enfia mãos no fundo do seu corpo e tira de você coisas que você evita remexer e olhar. Misoginia, racismo, sofrimento, mas resiliência e encontro. Escrito com maestria. Realmente, Jarid Arraes escreve poesia com um ritmo evidente. Muitas vezes, reli alguns dos poemas em voz alta, pelo prazer da técnica de sua escrita. Que bom que comprei este livro.
A Jarid é uma força da natureza escrevendo prosa, mas as poesias não me cativaram. Achei a escrita lacônica, a forma muito livre e a melodia pouco presente.
O livro me chamou atenção pelo título, enquanto passeava pela livraria. Quase li a primeira parte inteiro em pé, naquele momento. Fui sugada por esse livro. Não consegui parar de ler e não consegui parar de pensar em cada significado, em casa figura, em casa imagem que os poemas me trouxeram. Muitas vezes confrontada, muitas vezes abraçada. Penso que somente uma grande poeta é capaz de fazer um livro com esse ritmo e essa relação humana.
Li esse livro com as mãos travadas, a respiração presa e a boca seca. Me senti atravessando as veias de Jarid por seu sangue. Enxergando a morte, demaiando com morfina. Cada verso pesa e fere. Mistura os sangues. As palavras engasgam, descem secas, ásperas, cortantes. No pulso e na garganta.
A poesia de Jarid não é de suspiro. É de resistência.
palavras metodicamente expressas com sentimentos profundos e incapazes de se controlar. de se rasgar qualquer convicção fraca que não acredite em profundidade.
Um livro viceral, mas ao mesmo tempo sútil. Nas coisas boas e ruins consegui me relacionar, Jarid é muito talentosa e foi o primeiro livro dela que li. Continuarei acompanhando!
Como a própria contra capa do livro fala, esta antologia reflete sobre ser, existir, sobre abuso, sobre olhar para si, sobre lutar, sobre ser mulher e sobre ser negra.
Mas vi tantas coisas a mais. São poemas tão lindos. Quando eu pensava que já tinha lido o mais belo e tocante, vinha o poema seguinte e me arrebatava.
Amei tudo o que li e destaquei 11 poemas como preferidos ou que mais mexeram comigo.
Esse livro é curto e tem umas ilustrações incríveis. Não é algo para ser lido rápido, confesso. Os poemas são densos, despertaram sentimentos controversos - algumas memórias que eu não queria lembrar.
Mas, ao mesmo tempo que eu queria ler com toda a calma do mundo, não consegui me conter. Devorei cada poema com uma fome imensa, com toda a minha sensibilidade aflorada e faminta no dia de hoje.
Esta é a terceira obra de Jarid que tenho a honra de ler. A primeira delas foi 'Corpo desfeito', que foi a minha leitura favorita do ano em que o li.
Recentemente, li os contos reunidos no livro 'Redemoinho em dia quente', também maravilhoso.
Agora, tive contato com a poesia de Jarid e reforço: ela se tornou uma das minhas autoras nacionais favoritas na vida. Queria muito que todos pudessem ler a obra desta autora. Não cansarei de panfletar, nunca.
Acho que esta leitura veio até mim num dia perfeito: um dia em que minha alma está aberta á poesia, um dia em que estou sensível, com meus sentimentos a flor da pele. E isso, só intensificou o poder da escrita que tem Jarid Arraes.
Por ter devorado esta obra, pretendo fazer várias releituras para ter certeza de que desfrutei de toda mensagem que ela carrega. Uma leitura só não é suficiente.
"periodicamente decido que cheguei ao fundo do poço
ah dessa vez sim atingi o chão mais baixo o nível mais sujo
periodicamente decido que agora o poço é mais fundo"
Eu nunca sei o que escrever sobre livros de poesia, este aqui é o meu lembrete de que a Jarid Arraes é uma das minhas autoras favoritas, seus versos são lindos e dilacerantes, assim como seus contos e seus cordéis. Estou muito curiosa para ler seu livro novo.
Um dos livros de poesia mais fortes e impactantes que já li. A escrita da Jarid Arraes é avassaladora e cortante como fio de navalha. Eu nem consigo expressar claramente minha experiência de leitura, porque me faltam palavras, fôlego e o chão.