Racismo em Portugal? Uma resposta positiva a esta pergunta provoca, ainda e demasiadas vezes, reações de espanto e escândalo. Contudo, em Portugal, a consciência de que o racismo é incompatível com a democracia é bem mais recente do que no resto da Europa. Como se explica a legitimação, entre nós, de comportamentos de discriminação ou violência racial, ora escondida, ora aberta? Como reagem as vítimas e com que estratégias?
Este ensaio propõe‑se combater o silêncio demasiado longo sobre estas questões, a reduzida investigação empírica e a falta de informação e categorias mentais para as discutir. É um contributo importante, em dados e reflexão, para o debate premente sobre a norma do anti‑racismo ou a necessidade de políticas públicas pró‑igualitárias.
Coordenação e autoria
Por Jorge Vala
Doutorado em Psicologia Social pela Universidade de Louvain, Jorge Vala foi Professor Catedrático do ISCTE‑IUL e é Investigador Emérito do ICS da Universidade de Lisboa. A sua pesquisa focou inicialmente a aprendizagem da violência, depois, os conflitos entre grupos organizacionais e, posteriormente, centrou‑se no estudo da identidade e dos sentimentos de justiça e legitimidade associados aos conflitos decorrentes do racismo, do preconceito e das migrações.
JORGE VALA é licenciado em Psicologia, pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (1971) e doutorado em Psicologia, pela Universidade de Louvain (1984), com uma tese intitulada La Production Sociale de la Violence. Foi Professor Catedrático do ISCTE de 1996 a 2006 e é investigador no Instituto de Ciências Sociais desde 2006, do qual foi director, entre 2009 e 2014. Tem trabalhado em Psicologia Social dos processos socio-cognitivos, nomeadamente no campo das representações sociais e das identidades sociais. Os projectos que tem em curso articulam estes processos com vista ao estudo do racismo, da imigração, da justiça social e da validação do conhecimento quotidiano. Recebeu o Prémio Codol da European Association of Social Psychology e o Prémio Carreira da Associação Portuguesa de Psicologia.
Um ensaio interessante sobre o racismo, a sua evolução, as formas mais ou menos explicitas como ele alastra e se transmuta. Embora um bocadinho tendencioso, vale a pena ler para expandir a visão que, na pressa dos dias, tantas vezes fica aprisionada à notícia-espectáculo, ao sectarismo das redes sociais e ao enviesamento dos comentadores televisivos.
um excelente ensaio para compreender as dinâmicas raciais e étnicas em contexto português. A desmistificação do conceito de raça é sem dúvida um ponto importantissímo neste livro e ainda bem que está logo no começo. Excelente ensaio e inclusive um grande auxiliar para artigos que escrevi.
Um belíssimo readers digest dos muitos estudos sobre racismo, nas suas diversas dimensões, e do reconhecimento social/cultural dos nossos comportamentos no sentido da integração da mudança. Com conteúdos muito objetivos, será um bom ponto de partida para outras leituras s/ integração.
Uma introdução clara e bem articulada ao estudo do racismo nas ciências sociais quantitativas. Desmistifica o conceito absurdo de raça que frequentemente encontramos nos apologistas do "racialismo" ou racismo "científico" e cobre de maneira eficaz alguns dos conceitos chave sobre racismo e os seus efeitos e contextualiza-os no contexto europeu/ocidental. São cobertos estudos que visam a compreender as motivações e justificações do racismo nos seus praticantes, a sua legitimação do ponto de vista social e o seu efeito em quem sofre desta prática arcaica e incoerente com uma sociedade que preze por um qualquer conceito de justiça.
Para além disso, é um livro que denuncia a triste realidade portuguesa que teima em existir no seu lusotropicalismo, algo que se reflete nos poucos estudos que são realizados sobre o impacto e motivações do racismo em Portugal - muitos dos estudos citados que cobrem Portugal acabam por ser iniciativas internacionais, algo difícil de compreender se por um momento nos enganarmos e acharmos que Portugal é um país que leva a sua herança colonial a sério.
É um livro introdutório que nos expõe para várias questões importantíssimas sobre racismo e alguma da psicologia por trás.
Para quem quer um livro muito aprofundado, não recomendo. Aqui a linguagem é simples, tudo suportado por estudos, mas não se fica a refletir num estudo muito tempo, coisa que gostei, já que era exatamente o que eu estava a procura.
Gostei, porque primeiro de tudo, faz algo que considero bastante importante, que é desmistificar o conceito de "raça", e é importante que todos se lembrem que "raças" dentro da espécie humana como somos hoje, não existem. Ponto.
Algo mais a salientar está na dedicação a cerca de 80 páginas para dar um background dos estudos de psicologia e sociologia por detrás da identificação do racismo, e faz uma selecção de autores que me considero até surpreendido, e até agradecido, não ter pegado em certos autores populares e contemporâneos.
Porém, continua a pecar em dois pontos muito simples:
Primeiro, após desmistificar os conceitos de "raça" e "etnia", o resultado final acaba sendo por sugerir de alguma forma a hierarquização positiva das mesmas, para o efeito de reparar injustiças e equalizar a dinâmica de poder. Pelos vistos só vamos ter "color blindness" como MLK queria daqui a mais 50 anos. O que leva ao segundo ponto.
Em segundo lugar perpetua a noção que um "branco" não pode ser racista contra qualquer outra etnia considerada uma minoria. Reconhece que outras minorias podem ter preconceito, como todos os grupos podem ter perante outros grupos, mas atribui-lhes no máximo um preconceito racial e não racismo (até porque quando se fala de racismo, assume-se sempre que é também sistémico, alegadamente impossível quando os "brancos" têm a maioria política e sistémica).
Considero isto uma valente ginástica para mudar os conceitos de racismo, e dar uma palmadinha nas costas dos realmente privilegiados, para se sentirem bem e se calhar mais motivados para mudar alguma coisa. No entanto parecem esquecer-se do impacto que isto terá eventualmente nas classes sociais mais abaixo (média, média-baixa) e também na forma como comunidades internacionais que são minorias nos seus países (como cristãos no médio oriente), também apanham por tabela com este tipo de conversa feita no conforto ocidental.
O ensaio tem uma bibliografia que vale a pena dar uma olhada, e tem dados que convém dar outra, ainda que tenha algumas críticas a esses dados. Algumas das perguntas que vi nos inquéritos parece mesmo que estão à procura de um resultado específico, e não de uma simples resposta para avaliar. Mas enfim...sei o suficiente do que se passa por dentro dos inquéritos para não os levar a sério demais. Tiveram a sua utilidade.
Reconheço que Portugal ainda tem o fantasma do ultramar, com veteranos com pouco ou nenhum apoio psicológico, e com problemas deixados à deriva, incluindo alguma xenofobia. Bairros negligenciados e partidos extremos que trazem certas etnias para primeiro plano como objecto político em nada ajudam.
Infelizmente os métodos para os resolver, chamados de "anti racistas", são tudo menos liberais, colocando o racismo como pecado original, sem qualquer margem para redenção, e tornou-se a sua própria máquina de marketing.
Gostei muito, embora, no fundo, não tenha aprendido quase nada que já não soubesse.
"Quando estão em causa estereótipos relativos a grupos com poder social desigual, aqueles desempenham um papel de justificação dessas desigualdades sociais. É nos estereótipos que residem, em boa medida os fundamentos que legitimam as desigualdades "
Bastante interessante, um resumo onde se podem encontrar as várias dimensões do racismo, referências a alguns trabalhos em que estas são medidas, tudo numa linguagem simples. Gostava que o Jorge Vala fizesse uma reflexão destas, mas maior, mas este é um bom começo.
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