Numa coletânea de contos escritos após a morte de seu irmão Apeles, Florbela Espanca escreve sobre a liberdade e o isolamento, numa busca individual pelas respostas às grandes questões da vida e da morte.
A poetisa começa com o conto o aviador, transportando-nos a uma visão sinestésica mística da morte do irmão, fazendo uso de um tom melancólico e fatalista, típico do reflexo sensível e inteligente que confere à sua obra, e que lhe permite transformar e canalizar a sua dor pessoal numa forma de arte e beleza decadente.
Florbela Espanca (birth name Flor Bela de Alma da Conceição), a poet precursor of the feminist movement in Portugal, she had a tumultuous and eventful life that shaped her erotic and feminine writings.
She was baptized as the child of an "unknown" father. After the death of her mother in 1908, Florbela was taken into the care of Maria Espanca and João Maria Espanca, for whom her mother had worked as a maid. João Maria Espanca, who always provided for Florbela (she referred to him in a poem as "dear Daddy of my soul"), officially claimed his paternity in 1949, 19 years after Florbela's death.
Florbela's earliest known poem, A Vida e a Morte (Life and Death), was written in 1903. Her first marriage, to Alberto Moutinho, was celebrated on her 19th birthday. After graduating with a literature degree in 1917, she became the first woman to enroll at the law school at the University of Lisbon.
Between 1915-1917 she collected all her poems and wrote "O livro D'ele" (His book) that she dedicated to his brother. She had a miscarriage in 1919, the same year that Livro de Mágoas (The Book of Sorrows) was published. Around this time, Florbela began to show the first serious symptoms of Neurosis. In 1921 she divorced her first husband, which exposed her to significant social prejudice. She married António Guimarães in 1922.
The work Livro de Soror Saudade (Sister Saudade's Book) was published in 1923. Florbela had a second miscarriage, after which her husband divorced her. In 1925 she married Mário Lage (a doctor that treated her for a long time). Her brother Apeles Espanca died in an airplane crash (some might say he committed suicide, due to her fiancées death), which deeply affected her and inspired the writing of As Máscaras do Destino (The Masks of Destiny).
In October and November of 1930, Florbela twice attempted suicide, shortly before the publication of her last book Charneca em Flor (Heath in Bloom). Having been diagnosed with a pulmonary edema, Florbela died on December 8, 1930, on her 36th birthday. Her precarious health and complex mental condition make the actual cause of death a question to this day. Charneca em Flor was published in January 1930. After her death in 1931 «Reliquiare», name given by the italian professor Guido Battelli, was published with the poems she wrote on a further version of "Charneca em Flor».
In 1927, Florbela Espanca lost her brother. Apeles died in a plane crash, which marked the poet's life to the end. In her honour, she wrote a set of short stories in the book As Máscaras do Destino, published only in 1931, after the Portuguese woman's death.
“Nunca fora tão feliz nem se sentira tão desgraçado! Os dias que se seguiram foram um tormento delicioso, um inquieto inebriamento que o trazia como que pairando acima das realidades terrestres.” (pág. 55)
Livro todo escrito a gritar! Dedicado ao irmão (Apeles)... Saudade,dor e tristeza! Os mortos não voltam... Pois! Agustina Bessa Luís escreveu "Florbela foi infeliz com razões para a felicidade..." Será?
Este livro contém oito contos, escritos em prosa poética. É um livro para ser lido devagar, a apreciar cada frase. A morte está sempre presente nestes contos, aliás o livro foi escrito após a morte do seu irmão, Apeles Espanca, vítima da queda, no rio Tejo, do hidro-avião que pilotava. E é esse episódio, parece-me, que dá inspiração ao primeiro conto, O Aviador “deixem-no… talvez lhe doam as asas quebradas…” (…) E aquele que tinha sido filho dos homens ficou a dormir na eternidade como se fora um filho dos deuses.”
As Máscaras do Destino de Florbela Espanca "é uma obra totalmente dedicada ao seu irmão Apeles - A meu Irmão, ao meu querido Morto (Florbela Espanca, dedicatória de «As Máscaras do Destino») -, e inspirada pela tristeza e dor que a perda do irmão causa em Florbela. Escrito no final de 1917, o mesmo ano da morte de Apeles e altura em que Florbela não consegue editor, «As Máscaras do Destino» reúne uma série de contos muito sentidos, a saber: «O Aviador», «A Morta», «Os Mortos não Voltam», «O Resto é Perfume», «A Paixão de Manuel Garcia», «O Inventor», «As Orações de Soror Maria da Pureza», «O Sobrenatural».
Como o demonstram os títulos dados aos contos, «As Máscaras do Destino» vem reforçar o pendor funesto da obra de Florbela, que, ao tempo, muito por causa do desaparecimento do irmão, já se sente uma mulher morta, a aparência de um espaço vivido, como diz Agustina Bessa Luís, segundo a qual este livro tem de ser lido como se de um diário de uma adolescente se tratasse, em que certa mediocridade talentosa anuncia desejos evitados. É a altura em que a arrogância e o capricho deixam de fazer parte de Florbela (Agustina Bessa Luís, prefácio de «As Máscaras do Destino»)."
Dos oito contos deste livro, o que mais me agradou foi «As Orações de Soror Maria da Pureza», isto porque fala de um amor que resiste à morte, da devoção imensamente profunda que se pode ter por alguém sem a materialização de um amor carnal e sensual e de como um amor pode ser meramente espiritual.
Algumas obras desta Coleção 120 anos JN tornam-se aborrecidas de ler, mesmo quando o autor em questão é interessante. Consequência do tamanho da letra ser bastante pequena e dificultar a leitura. Não é das melhores edições, apesar de ter sido uma ótima iniciativa dar aos leitores variadas obras de grandes autores portugueses.
O livro que eu li trata-se duma compilação de todos os livros da Florbela Espanca, mas como esse não está no goodreads decidi submeter os meus pensamentos debaixo deste que é o título que aparece primeiro na coletânea que li. O impactante do livro é que ele mete-te a ler watpad stories de primeira guerra mundial e depois mete-te a ler poemas escritos passados uns anos. O poema Rústica. Revela uma inocência evidente, mas revela ainda mais o desesperante desconsolo permanente que a autora sente perante a vida. E mais tarde poemas como O Meu Impossível demonstram nitidamente o estado irreversível que nem a poesia ajuda a sossegar. Eu considero a Florbela uma grande escritora. As máscaras do destino e o Charneca em flor principalmente são duas grandes compilações cada um pelos seus motivos. Porém, o que dói e faz o livro ficar contigo é conseguir perceber a evolução dos momentos na autora. Como o estado agonizante em que ela se encontra evolui, como as perspectivas sonhadoras de romance passam a obsessão, como a paixão pelos elementos da natureza resultam em mero deleito para distrair da constante presença da morte. O aviador, o inventor, Panteísmo, Rústica, ?, A um moribundo, são uns dos quantos títulos que dou por mim ainda a revisitar. Acho que nunca senti algo assim por um livro.
" Os mortos são na vida os nossos vivos, andam pelos nossos passos, trazemo-los ao colo pela vida fora e só morrem connosco. Mas eu não queria, não queria que o meu morto morresse comigo, não queria! "
A Meu Irmão, Ao Meu Morto (página 5)
" - É mais um filho dos homens?- pergunta uma, estendendo o braço como uma grinalda de açucenas. Mas a de cabeleira mais fulva, onde o oiro foi mais pródigo e se aninhou mais vezes, responde num sussurro: -Não, não vês que tem asas? -É então um filho dos deuses?- pergunta outra. Não. Não vês que sorri?"
O Aviador (página 10)
" Não, Robert, os mortos não voltam e é melhor que assim seja... Que vergonha se voltassem! Onde há por aí uma alma de vivo que se tivesse mantido digna de semelhante prodígio?... Eles vão, e a gente fica e ri e canta e deseja e continua a viver! Mutilados, amputados, às vezes do melhor de nós mesmos, a gente é como estes vermes repugnantes que, cortados aos pedaços, criam novas células, completam-se e continuam a rastejar e a viver! É uma miséria, é, mas é assim! "
Uma reflexão extraordinária sobre a brevidade da vida e a contextualização da Morte. Tendo os contos presentes sido escritos em memória do falecido irmão, Florbela discute um tema brutal numa escrita meiga e carinhosa, numa prosa poética capaz de fazer desvanecer a dor em melancolia. Delicado, uma relíquia da escritora.
Já disse mais que uma vez que não leio muita literatura do meu país (Vergonha das vergonhas!), mas de vez em quando lá acontece.
Ora este livro estava por aqui à mão de semear e eu resolvi lê-lo. Não me arrependo nadinha.
'As Máscaras do Destino' é um livro soturno e com uma atmosférica maravilhosamente melancólica e envolvente, que nos convida à reflexão sobre uma multitude de tópicos, especialmente sobre o amor, a morte, a perda e a dor.
Todos os contos deixam passar até nós uma tal intensidade de sentimento, que é impossível ficar indiferente.
Os meus preferidos foram, sem dúvida 'A Morta' e 'A Paixão de Manuel Garcia', por traduzirem tão bem o desespero que nasce de um amor não correspondido, não consumado e esquecido.
Uma compilação de contos de Florbela Espanca, autora da qual nunca tinha lido nenhum livro. Fiquei fã! Uma ótima escritora, que faz prosa quase poética e que dá para uma leitura muito agradável. Recomendo!
Ler Florbela Espanca é sempre um prazer. Há partes deste livro que apreciei imenso, outras no entanto, não muito, nada que desmereça a grandeza da poetisa, tem a ver com meu gosto.
Título: As Máscaras do Destino de Florbela Espanca
Resumo: As Máscaras do Destino é uma coletânea de contos onde Florbela Espanca transforma a dor em literatura. Escrito em memória do seu irmão, Apeles, o livro atravessa temas como a morte, o amor, o destino e a fragilidade da vida. Cada conto traz consigo um tom melancólico, quase confessional, como se cada palavra fosse um gesto de resistência contra o esquecimento.
Revisão: As Máscaras do Destino é uma coletânea de contos que Florbela Espanca escreveu em homenagem ao seu irmão, Apeles Espanca, falecido num trágico acidente de avião. A prosa aqui apresentada é tão intensa e visceral quanto a sua poesia, revelando a profundidade com que Florbela vivia e sentia.
Na dedicatória, a escritora confessa: "Os mortos são na vida os nossos vivos, andam pelos nossos passos, trazemo-los ao colo pela vida fora e só morrem connosco. Mas eu não queria, não queria que meu morto morresse comigo. Não queria! E escrevi essas páginas..." Estas palavras traduzem o coração da obra: a luta contra o esquecimento, o desejo de perpetuar o amor além da morte.
Quando alguém que amamos parte, permanece vivo em nós. O amor tem essa força, sobrevive à ausência física. Mas Florbela queria mais do que isso: desejava que o irmão sobrevivesse não apenas na sua memória, mas também no tempo. A literatura foi o caminho que encontrou para o imortalizar.
Assim, se o amor sobrevive à morte, a arte sobrevive ao tempo. E neste livro, amor e arte entrelaçam-se para que Apeles viva para sempre. Florbela conclui a dedicatória de forma pungente: “Este livro é de um morto, este livro é do meu morto. Que os vivos passem adiante.”
Conclusão e Classificação: Por esta fusão rara de dor, lirismo e transcendência, As Máscaras do Destino merece a nota máxima: 5/5. É uma obra que não só nos comove, mas que prova o poder eterno da literatura em vencer a morte e o esquecimento.
"Vocês compreendem, um morto é um temível rival, um competidor seriíssimo que tem por si as mil vantagens que a ausência e a saudade lhe emprestam." Pág. 24
Que fascinante mosaico de leituras da nossa ultra-romântica Florbela; surpreendente e envolvente nos seus mistérios simbólicos e com um perfeito e belo domínio da língua portuguesa.
Suspensa (quase) de respirar lia enlevada estes magníficos contos: adorei "O Aviador" (como não?) e também "A Paixão de Manuel Garcia" e "A Morta".
"…que os vivos passem adiante" e a verdade é que a obra perdura. Florbela vive na sua escrita.
A morte é o tema fulcral e a sua constante inquietude. E que forma soberba de a descrever.
Resgata também o íntimo da mulher retratando as fantasias e o imaginário feminino, a sua intrepidez, volúpia, inconstância, embora, curiosamente, o oposto também é descrito, a sua pureza, virtuosidade, religiosidade.
Está coleção de contos de Florbela Espanca foi escrita em homenagem ao seu irmão, morto em um acidente aéreo. O livro pode ser considerado mórbido e muito melancólico mas a qualidade da escrita e o seu dom com as palavras é inegável. O texto da dedicatória já nos dá o tom da obra. Como na sua outra coleção de contos “O Dominó Preto”, temos uma escrita intensa, que pega o leitor de jeito. Os contos “O Aviador” e “O Inventor” são em memória do irmão. O primeiro conta a sua morte e o segundo foca-se na vida dele mas sempre com a sombra a morte por perto. Já os contos que mais gostei no livro foram “A Morta”, “A Paixão de Manuel Garcia” e “As Orações de Soror Maria da Pureza” que falam sobre o amor com o estilo intenso (e diria inconfundível) de Florbela.
O livro merece 3,5/5 mas a escrita de Florbela faz com que a nota seja arredondada para cima.
Nunca tinha lido nada da Florbela Espanca. Ouvia falar do seu talento e que merecia muito mais reconhecimento. Nunca tinha dado muito importância a esse tipo de comentário até ler este livro. A maneira como a Florbela retrata um assunto tão pesado (a Morte), com uma simplicidade e beleza de outros mundo, deixou-me sem palavras. A escrita dela é deliciosa e foi uma bonita forma de homenagear o irmão. Agora posso dizer que concordo com os que dizem que a Florbela Espanca merece muito mais reconhecimento!! Mal posso esperar para ler mais obras da mesma!
Eu adoro autorAs transtornadas, don’t get me wrong. Mas neste caso todos os contos seguiam as fórmulas mais que típicas do romantismo trágico, não me convenceu. E no entanto, que fantásticas as descrições feitas por Florbela. Devia ter apostado mais no seu genial insano e não no produto literário da sua época
Ninguém consegue invocar a Morte de forma tão delicada e paradoxalmente intensa como Florbela, que preenche cada frase de subtons eróticos e sombrios tornando a sua leitura, como sempre, inebriante.
Uma coletânea de contos que não têm nada para dizer, com premissas que variam de ligeiramente interessantes a completamente estapafúrdias e uma escrita que está mais interessada em parecer culta e estrambólica do que no seu conteúdo.
Espero que a poesia da Florbela seja melhor do que isso.
Deve ser sincera está é a review de um livro diferente que ainda não está no Goodreads. Uma coletânea de 10 episódios chamada: "He Hum Não Querer Mais Que Bem Querer".
Embora escrito após e em razão da morte do seu irmão, Apeles, em 1927, num acidade de aviação, As Máscaras do Destino só viria a ser publicado postumamente, em 1931.
Espanca não nos engana e explica logo de início a quem a leia que aquele é um livro dedicado ao seu morto, o seu irmão. O primeiro conto, inteiramente ficcionado em torno de Apeles e do acidente que o arrancou à vida.
Podemos achar, à partida, tratar-se de uma leitura mórbida. Não é, não é em absoluto. É triste, mas é bela. Para quem já leu Espanca, não se admirará com a riqueza poética da sua narrativa, com a beleza intríseca das palavras e das ideias, com um certo romancear nas construções frásicas. Florbela Espanca é uma romântica, ainda que não tenha integrado nenhum movimento literário.
Estes contos têm todos uma mensagem um pouco negra e pessimista - a escrita apresenta vários traços que a sua vida pessoal lhe dera. Alguns mais suaves do que outros, o livro é como que uma viagem pelo tempo trazida pelas personagens.
É uma leitura um pouco pesada, não conseguia ler o livro em locais públicos como o metro pois precisava de estar completamente concentrada. Apesar deste factor e da sua linguagem excessiva, gostei bastante da leitura. A estrutura é encantadora e,por vezes, como que poesia prosaica. Aconselho vivamente a leitura deste livro!