actual rating: 4,5/5 comprado por 5€ no Museu do Aljube, no dia 25 de abril. ensinou-me tanto sobre a história de resistência feminista que teimam em silenciar. que bíblia antifascista (podia apenas estar melhor escrito e organizado).
Não me agrada nada a ideia de não haver qualquer autoria identificada em todo o livro, ou tão pouco a inacreditável inexistência de quaisquer referências a estudos sobre as mulheres durante o fascismo em Portugal - e nos últimos 30 anos, tantas (e tantos) se têm dedicado ao tema. Além do mais, apesar de usar uma linguagem acessível, não está particularmente bem escrito.
Não obstante, e por isso as quatro estrelas, o livro tem imenso valor documental pela lista das mulheres presas (quem vem com data de nascimento, profissão, residência, data de prisão e saída). Há que louvar a sua publicação, que é uma fonte imprescindível para quaisquer estudos futuros.
Resumindo, não leiam enquanto estudo estudo sobre as mulheres no fascismo, mas enquanto fonte documental.
Elas é uma obra que narra a não tão fictícia viagem pela vida das mulheres no Estado Novo, com ênfase nas mulheres trabalhadoras precárias.
Organizado pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses, este livro esclarece a dimensão da opressão tentacular do regime salazarista, particularmente no tocante às mulheres que se expuseram corajosamente contra o fascismo, organizando manifestações, boicotes, trabalhando na clandestinidade para produzir jornais e textos subversivos, entre outras frentes de luta, ao mesmo tempo em que eram estranguladas por leis patriarcais abusivas - o lar deveria representar o espaço de poder da mulher, mas essa demonstração de força estava limitada ao trabalho reprodutivo não remunerado, já que ao homem cabia a chefia e a tomada de decisões.
ELAS é um guia sobre os direitos e deveres da mulher sob o fascismo em Portugal. Enlenca inúmeras organizações femininas antifascistas, assim como as lutas sociais das mulheres em áreas como têxteis, corticeiras e enfermagem. A mulher marcou sempre presença, durante o Estado Novo, no combate à exploração da carestia de vida: “Temos fome! Queremos comer!” - ouvia-se nas Marchas da Fome. Bateu o pé por melhores condições de trabalho. Um exemplo foram as 50 mulheres do Bairro dos Pescadores de Portimão, que se uniram contra o dirigente da junta e o impediram de prosseguir com os despejos. A par disso, este livro traça a história dos combates das mulheres pela democracia durante o regime, nomeadamente nas eleições, contra a guerra colonial, pela democratização da cultura e do ensino, etc.
O momento mais complexo da leitura irrompe quando mergulhamos na atuação da polícia política em relação às mulheres revolucionárias, longas páginas que culminam numa lista de +1755 mulheres presas pelo fascismo.
Naquele regime que, durante 48 anos, "governou" os nossos destinos, as mulheres podiam, grosso modo, eleger e ser eleitas se fossem chefes de família (!!) e se tivessem o ensino secundário ou superior concluído. Aos homens bastava saber ler e escrever! A isto, somava-se o servilismo social e financeiro imposto à mulher, e que para o antigo regime era sinónimo de família tradicional e de bons costumes. Nas prisões, a tortura, a injustiça e a humilhação podiam ser para a vida devido ao conceito de "medidas de segurança" que permitiam que um prisioneiro político fosse mantido cativo indefinidamente mesmo depois de ter cumprido a pena decretada pelos tribunais (e que tribunais...).
Este livro é um documento interessante, fala sobre a prisão de mulheres durante o Estado Novo, incluindo informações sobre as principais cadeias e cartas que algumas reclusas conseguiram escrever, para transmitir à comunidade internacional, na altura. Na minha opinião, o livro merecia uma valente melhoria a nível de texto, já que a sua escrita é francamente fraca. Se a URAP pensar em reeditar, deverá ponderar ter realmente um autor para escrever o livro, assim como um bom editor. Sinto que este livro poderia ser uma boa base para uma obra mais completa sobre a condição da mulher no Estado Novo, culminando claro no destaque às presas políticas. Ainda assim, foi só 5€ e é interessante na mesma, para que nunca esqueçamos os tempos negros que este país já viveu.
Março foi o mês escolhido para ler este livro. Um livro sobre ELAS, as mulheres que estiveram nas prisões do fascismo.
E que livro... uma verdadeira homenagem às mais de 1755 mulheres que foram presas pelas polícias políticas da ditadura ao longo de 48 anos. Mas também uma fonte de informação sobre a situação e estatuto das mulheres naquele tempo.
Para com todas elas, eu e as mulheres que nasceram pós 25 de abril só podemos estar gratas, pela resistência, a coragem, a firmeza e por nunca deixarem de acreditar que um dia a liberdade chegaria.
Um livro que deveria ser lido por todos, para todos terem o conhecimento do que estas mulheres passaram, do que sofreram, para hoje podermos ler e viver em liberdade.
Mulheres que estiveram nas mãos da polícia junto com os seus filhos, que escreveram cartas às organizações femininas e democráticas do mundo inteiro, a relatar o que estavam a passar, mulheres enquanto mães que caminharam para as prisões.
E finalmente quando abril chegou: “Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. (...) Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. (...) Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. (...) Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. (...)”
“Tudo era feito com o objectivo de quebrar a firmeza das presas e a solidez das suas convicções democráticas e para que denunciassem os seus companheiros de ideias e de luta: desde espancamentos e outras agressões físicas e psicológicas praticadas por grupos de agentes que se revezavam, até à tortura da «estátua» proibindo as presas de se sentarem e obrigando-as a estarem de pé e com os braços pela altura dos ombros e à tortura do sono (proibição de dormir por períodos que chegaram a muitos dias e noites) que, a partir de certa altura, provocavam alucinações visuais e auditivas.”
Elas estiveram nas prisões do fascismo é uma obra que celebra a Revolução de Abril de 1974. Uma obra que celebra os anos em democracia depois de uma ditadura fascista que durou quase meio século, em que as mulheres foram aprisionadas numa condição inferior, remetidas ao lar, ao analfabetismo, a condições de trabalho indignas, privadas de direitos sociais e políticos. Uma obra que reflete os percursos de resistência e luta das mulheres durante o fascismo, nomeadamente o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP)(1914-1947) e a Associação Portuguesa Feminina para a Paz (APFP) (1936 – 1952), ambas encerradas compulsivamente pelo regime de Salazar. Mulheres com uma extrema importância na luta anti-fascista portuguesa.
No final do livro podemos ainda consultar uma lista com as 1755 mulheres que estiveram nas cadeias do fascismo português.
Leitura obrigatória sobre o papel das mulheres na luta pela liberdade até 1974 e uma homenagem a todas as mulheres que viram o interior das prisões da PIDE durante o Estado Novo.
Este livro só peca por ser uma amálgama de textos e documentos de várias fontes que precisavam de alguma edição/revisão de texto.
Um livro que destaca o espírito combativo e as lutas travadas pelas mulheres portuguesas a bem da liberdade de um povo e de um país. Os testemunhos de algumas delas são o principal atractivo deste livro-memória.