SINOPSE: Em seu segundo livro, Dia Nobre desenterra, do mais profundo, as chagas íntimas e sociais das mulheres. Quantas mulheres são esculpidas pelas relações tortuosas com a família e a sociedade. Quantas tentam caber dentro de si mesmas e vão se tornando cada vez menores para que sejam encaixáveis e não deixem à mostra os desejos, o ímpeto de vida, o impulso de morte. Para que os abusos sofridos não sejam feridas visíveis. Dia nos conduz pela vida da mulher que, ainda pequena, aprende a perguntar as coisas difíceis. Este livro é talhado por histórias de filhas, mães, avós, mulheres que conheceram o peso de ser mulher muito cedo, que entregaram o fardo nas mãos das inocentes desavisadas e que formam, até hoje, o imaginário capaz de fragmentar uma vida. Apesar disso, ser várias, cada uma dentro de si, até a miúda versão protegida sob tantas camadas, é também um recurso de vida. No útero não existe gravidade faz das memórias poesia, transmuta dor em coragem. Decide que o enredo não será interrompido:“me enganar sempre foi uma maneira de sobreviver”. (Jarid Arraes)
"tenho certeza que meu primeiro ato de consciência na vida foi sentir medo. desde muito pequena eu já sabia que o mundo era assustador."
Temos uma protagonista refletindo sobre a infância, a relação com a avó, o abandono pela mãe. Ela aborda temas pesados como luto, depressão, abuso, automutilação, pensamentos suicidas, traumas. É uma prosa poética que te prende, te coloca dentro da cabeça da personagem, te faz refletir e tem passagens muito bonitas.
Esse livro é tão precioso. Em prosa poética, a autora constrói pequenas crônicas sobre temas relacionados ao ser mulher. Gostei muito da linguagem, do lirismo naquilo que à primeira vista pode até parecer banal, e de como temas tão sensíveis são mostrados sob uma ótica tão delicada.
Esse livro tem orelha assinada pela @jaridarraes então já adianto que nada que eu disser aqui vai ser mais poético ou completo, mas esse nunca foi o objetivo mesmo, então tudo bem. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Quando estava empilhando e organizando minha próximas leituras, resolvi dar uma olhada rápida em "No útero não existe gravidade" e duas horas depois ainda estava sentada no chão do quarto, ao lado da estante, imersa nas histórias desse livro. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Foi como acompanhar alguém remexendo uma caixa de relíquias de família , a gente vê umas coisas quebradas, camadas espessas de poeira, coisas muito familiares, como um certo conjunto de xícaras que deve ser idêntico ao da casa da minha avó e também encontra aqueles objetos únicos, raros que você nunca viu na casa de mais ninguém. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ As histórias acompanham a trajetória de uma mulher (ou mulheres) da infância à vida adulta, lidando com traumas, expectativas, frustrações, medos e perdas e como essas experiências afetaram a existência dessa personagem. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Uma das coisas que acho mais fantástica no texto dela é a habilidade de "congelar", "aprisionar" momentos da vida cotidiana e depois libertar isso no texto, como um sopro.
"tantas malas-bagagens-mudanças. vomitando coelhinhos em apartamentos amigáveis. outros nem tanto. diversas as camas em que deitei pensando em morrer suave."
Esse trecho remeteu nitidamente a “Carta a uma Senhorita em Paris”, do Cortázar. Aqui eu já estava capturada por toda minudência da Dia Nobre. Como aquelas poeirinhas que flutuam no ar, em qualquer ar, em qualquer lugar do planeta ou janela, contraluz.
Poeirinha que todas nós mulheres respiramos, vivemos entre. A poeirinha que, eventualmente incomoda e, por vezes prontamente, saímos da observação para agir, tentar fechar as cortinas ou faxinar para que parem pousar em nós, em nossas casas. Essas poeirinhas.
Intermináveis, cotidianas. Inevitáveis como a regurgitação dos coelhinhos de Cortázar. Um fardo.
Por fim temos um livro denso, de escrita muito fluida, prosa poética que favorece muitas reflexões a cada trecho. Recomendo.
What a painful book! The writing transmit a lot of anguish and frustration in an almost poetic way, but very explicit and violent. It has triggers for sexual abuse, self-mutilation, suicide, depression, among others.
There are chapters that I was shocked by the naked way the author wrote certain events with the character. In the end, the author repeatedly describes the day to day of the character with depression and who just watched the days go by, not knowing what was happening. She left me very intrigued as depression was not mentioned, but when repeating the words in each paragraph, the dull and isolated routine of the character is noticed.
I find this type of book very interesting, because sometimes there are things we go through as a woman that we find so normal, so routine, that we don't see it as a "problem" and this type of writing makes us, it made me, reflect a lot.
é um bom livro e aborda temas bem pesados e necessários, o livro retrata bem como é nascer mulher em uma sociedade machista e cheia de esteriótipos, em que a mínima recusa de uma mulher já é vista como errôneo e desnecessário, como se as mulheres fossem obrigadas a simplesmente aceitar as ações de um homem, mesmo que sejam apenas crianças, o livro também explora a dor da perda de alguém para a morte, e realça que até as pessoas que mais gostamos erram e que com o passar do tempo temos que nos atualizar com o mundo, e como ele evolui, quebrando pensamentos atrasados.
“libertar-se é pulverizar o que há pela frente até não sobrar mais reflexo da criança que fui.”
o tipo de história que consegue carregar a profundidade da vida em uma prosa poética leve. gostei muito da experiência de leitura e da escrita da autora - que me remeteu bastante ao estilo da Aline Bei - o qual particularmente acho que combina bem com esse tipo de narrativa.
✍️" Os cuidadores atuam na forma de influenciar a criança através da chantagem emocional. uma vez instalado o jogo, a indivídua orientará suas ações para a submissão gerada pelo sentimento de culpa. você me ama? você não vai me abandonar? sem você eu vou morrer. você é uma decepção. você nunca vai conseguir nada. um dia você vai voltar rastejando e implorar"
"arquiteta dos meus próprios caminhos, deixei de desenhar labirintos e passei a construir estradas. como a via romana. com pedras cordiformes e muitas árvores ladeando as margens. me percebi outra. água decantada de uma nascente. não preciso mais procurar uma saída"
Gostei muito do estilo de escrita da autora. Comecei achando que ia se tornar um favorito, mas foi me perdendo no decorrer da narrativa. Ainda é um livro bom, só é um pouco confuso às vezes (mas talvez até fosse a intenção).
Dia Bárbara Nobre escreve sobre todas nós. E escreve sobre o todo. Que talento! Tanto esse breve livro, quanto Boca do Mundo devem ser usados inclusive para Educação Formal, e merecem ser divulgados com entusiasmo!
〝 dezenove anos depois, sigo sobrevivendo à virada do milênio, minha avó já não existe. o sol ainda brilha e a presença da morte é tão comum nestes dias que se tornou um lenitivo. 〞
O útero é proteção, tranquilidade, vida livre de gravidade. Os traumas começam na primeira entrada de ar nos pulmões e continuam – na mãe que gostaria de ter uma filha diferente; na avó que é companhia, mas também julgadora; nas vozes da cabeça que ficam sempre sempre sempre falando que o melhor é se livrar logo dessas amarras e desses martírios, se tornar um gato e ter 7 vidas para que cada uma seja diferente da outra, cada uma mais livre da hereditariedade afetiva que carregamos e não sabemos distinguir dos nossos próprios sentimentos.
Foi sobre todo o parágrafo acima (e muito mais) que No útero não existe gravidade me fez pensar.
Um livro pesado, mas real; realismo mágico que, na verdade, é metáfora. São sentimentos personificados, concretizados para enviar a imagem exata para a cabeça do leitor. E se escrever fizesse com que asas crescessem em suas costas para que você pudesse, então, voar? E se aquele seu romance preferido, aquelas suas escritoras preferidas, fossem vozes na sua cabeça que lhe diziam para continuar e desistir ao mesmo tempo? Como escolher que caminho seguir para ficar em paz?
Simultaneamente difícil e primoroso, No útero não existe gravidade é também candidato forte aos meus livros favoritos do ano.
Tem bons momentos, mas não parece ser um livro em si, parece escritos aleatórios dos momentos mais traumatizantes de uma vida. Não tem desenvolvimento, grandes insights. Me fez pensar em “Trauma dumping”